Do giz ao powerpoint



Do giz ao PowerPoint

 

Houve tempo em que o professor era uma pessoa que sabia muita coisa e por isso ensinava. Houve uma época em que, para ensinar, o professor contava com seus conhecimentos, quadro, giz e a atenção dos alunos. Houve tempo em que o universo escolar era diferente do que é hoje.

Mas as coisas mudaram. As ciências evoluíram; as filosofias proliferaram as perspectivas de vida e de compreensão do mundo, produziram novas posturas no mundo. Graças aos conhecimentos acumulados construíram-se tecnologias, tão maravilhosas que nos fazem pensar que não houve um tempo em que tudo era diferente e as tecnologias não existiam.

Mas houve um tempo em que tudo era diferente.

Mas ainda bem que tudo mudou.

Melhor dizendo: ainda bem que muitas revoluções aconteceram, trazendo as conquistas que melhoraram o mundo. E assim podemos viver num mundo de avanços tecnológicos que nos permitem coisas incríveis e facilitam nossa vida.

É claro que ainda hoje o professor conta com uma sala de aula. Em muitas escolas públicas ainda estão presentes o quadro e o giz. Em algumas o quadro passou a ser branco e o giz perdeu espaço para o pincel, ou canetão, como o chamam em algumas regiões. Mas isso também foi um avanço: a escrita, no quadro, pode ser colorida, com um colorido vivo, diferente daquele embaçado do giz colorido e desconfortável; além disso, higienizou o ambiente: não há mais aquele horrível pó de giz... embora ninguém comente sobre a possível toxidade da tinta do pincel usado no quadro branco.

Ainda hoje o professor conta com um grupo de alunos aos quais dirige seu ensino. Aliás, é para isso que existe o professor: para ensinar (mostrar o sinal; evidenciar a sina). Só que, nos dias de hoje, manifestam-se alguns problemas: os alunos (os sem luz, que dependem da luz do professor para se desenvolver!?) nem sempre estão atentos; na maioria das escolas quase a totalidade dos alunos perdeu a capacidade da atenção e não ouve os ensinamentos do mestre.

E por que os alunos não se concentram? É a eventual pergunta de quem tem algum filho na escola e – coisa rara em nossos dias – ainda deseje ver seu filho aprendendo.

Pois respondo: a atenção dos alunos se concentra, não mais no que o professor ensina, porque quem mais ensina não é o professor, mas em outros pontos; quem mais cativa a atenção dos alunos são a TV, o computador, os games... as salas de bate papo, Orkut, MSN... e toda a parafernália de espaços que formam esse universo virtual ... e que  não está presente na sala de aula.

Mas também ocorre outro agravante. Esse diz respeito a alguns professores... de algumas escolas.

Tem alguns professores, em algumas escolas que usam a maravilha da informática neste maravilhoso universo que é a sala de aula. São dois mundos, dois universos que se encontram produzindo um novo universo, o do saber. Mas na intercessão do universo escolar com o universo virtual e todos os recursos da informática para facilitar o ensino, alguns professores tropeçam. Infelizmente aprenderam a usar o quadro e o giz e aplicaram bem essa técnica ao quadro e pincel. Mas tropeçaram no universo das tecnologias da informática disponíveis para o ensino.

Ocorre que nalgumas escolas em que as salas de aula podem contar com os recursos das tecnologias da informática e das mídias de informação, os professores deixaram de usar o quadro e do giz – que é bom. Mas não desenvolveram a habilidade de transmitir as informações usando as tecnologias. E fazem mau uso de algumas ferramentas.

 Se é verdade que houve tempo em que o professor era uma pessoa que sabia e ensinava, com a chegada dos modernos recursos de informação e da informática ele passou a usar inadequadamente esses recursos. Pode até saber o quê, mas não sabe mais como ensinar. Prende-se nos slides sem se ater ao conteúdo presente no slide. Coloca algumas frases desconexas nos slides, com cores que, ao invés de chamar a atenção, dificultam a visualização. Pior, disponibiliza esses slides aos alunos que se prendem ao mínimo como se isso fosse o máximo.

E assim, o recurso que era para ser uma maravilha passa a ser um elemento que aumenta a dificuldade de aprendizagem. E a escola, que tinha tudo para sair do quadro e giz dinamizando o aprendizado na era da informática, continua sem saber como efetivar um maior aprendizado, pois tropeça nas tecnologias que vieram para ajudar.

Ainda precisamos aprender o caminho que nos ajude a sair do quadro e giz atravessando o PowerPoint.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO

 


Autor: Neri P. Carneiro


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