A kombi dos estudantes de mantenópolis e a redemocratização do país



 

A KOMBI DOS ESTUDANTES DE MANTENÓPOLIS E A REDEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS Estávamos em processo de redemocratização do Brasil quando me ingressei na faculdade de direito. O ano era 1985 e tinha assumido a presidência da republica o vice Jose Sarney, em razão da morte de Tancredo Neves, que vencera a eleição indireta no Congresso Nacional, derrotando o candidato da ditadura militar Paulo Maluf. A luta para frequentar a faculdade foi dura. A estrada entre Mantenópolis e Pancas era de chão e ônibus da Viação Pretti levada até três horas para percorrer o trecho. No segundo ano, 1986, a estrada foi asfaltada, melhorando um pouco a situação. O município de Mantenópolis deu uma ajuda fornecendo uma Kombi para nos transportar para Colatina. A capacidade de lotação é de 10 pessoas. Para a antiga FADIC seguiam os alunos Ione Chaves, Elizabete de Paula, Edmar dos Reis, Gilson Vilaça e eu. Os estudantes que frequentavam as faculdades FAFIC/ FACEC eram Sueli Benisio, Silvia Amaral, Meirilene Arantes e Vânia de Souza. Apesar do cansaço as viagens eram muito alegres, com cantorias para todo o gosto. Na época a musica sertaneja estava na crista da onda. Chitaozinho e Xororo, João Mineiro e Marciano, Trio Parada Dura, Milionário e Jose Rico vendiam mais de um milhão de álbum por ano. O jovem pode não acreditar mais quem mais vendia LP era Amado Batista, perdendo apenas para Roberto Carlos. Este, chamado de rei, perdeu fôlego nos últimos anos, mas estima-se que já vendeu cerca de 100.000.000 de discos. As canções mais cantadas na Kombi dos estudantes eram fio de cabelo, telefone mudo, ainda ontem chorei de saudade, detalhes, emoções, etc. Vibramos com o plano cruzado e nos frustramos quando a inflação voltou galopante. Os assuntos relacionados aos direitos constitucionais eram recorrentes. A Constituição de um país deve conter os princípios basilares de uma nação, mas o trauma da ditadura levavam os constituintes a querer colocar tudo na Carta Magna. O professor Esdras Leonor chegou a dizer que só faltava botar na Constituição a quantidade de bolas que deveriam ter os sorvetes. Na verdade, por causa do excesso, muitas regras constitucionais nunca saíram do papel, como, por exemplo, juros anuais máximos de 12%. É por esta razão que as emendas constitucionais foi e é a forma usada por todos presidentes para retirar direitos concedidos, porem impraticáveis. Sem as mudanças eu já estaria me aposentando. Logo começaram as discussões a respeito da sucessão do Sarney e o retorno de eleições diretas para presidente. Na Kombi este assunto esquentavam os ânimos. A principio o sindicalista Lula era o favorito para ganhar as eleições. O Lula à época era como o Flamengo, ou se gostava muito ou odiava. Os adversários de Lula sempre usavam como arma o fato dele não possuir curso superior e de que a esquerda iria acabar com o Brasil. Pregavam que um governo Lula seria um desastre. Quando veio a campanha eleitoral, na Kombi, certamente Lula contava com o apoio da Sueli Benisio e o meu. Gilson Vilaça era o mais ferrenho adversário de Lula. Fazia ele apologia ao Ronaldo Caiado, ruralista, conhecido opositor ao MST e outros movimentos sociais. Sabendo que a Sueli Benicio odiava o Ronaldo Caiado, na rua em Colatina, sem que ela percebesse, colei um cartaz do ruralista nas costas de Sueli, que ficou rodando fazendo propaganda involuntária para ele. Na Kombi é que a nossa amiga percebeu que havia algo em suas costas. A mulher ficou brava quando eu disse que ela era Lula por dentro e Caiado por fora. Surgiu o fenômeno Fernando Collor de Melo e na Kombi o movimento foi sentido. As pessoas pareciam enfeitiçadas por Collor de Mello e as verdades mostradas pela Sueli e por mim, referente à corrupção que existia em Alagoas, do Governador Collor, de nada serviam. O primeiro presidente eleito após a ditadura militar não foi apenas um político, mas um astro no estilo hollywoodiano. O tempo mostrou que tínhamos razão, mas já era tarde. Hoje, gostem ou não, Lula não foi o bicho papão e após oito anos no poder continuou com a popularidade altíssima, o que é raro no meio político. Também hoje não são apenas dez estudantes que partem de minha cidade natal para as faculdades. Penso que deve haver centenas de estudantes.
Autor: Creumir Guerra


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