Causa e Efeito: discussão entre Kant e Hume (part II)



1. Hume diz na Investigação Sobre o Entendimento Humano que “todos os objetos da investigação humana podem naturalmente ser divididos em dois tipos: relações de idéias e questões de fato”. E seguida afirma: “Todos os raciocínios referentes à questões de fato parecem fundar-se na relação de causa e efeito”. Depois continua a investigação afirmando que “todo efeito é um acontecimento diferente de sua causa”. A partir daí, entra a questão fundamental da experiência, ou seja, que as conclusões tiradas da experiência não serão baseadas no raciocínio ou outra função do entendimento. Para explicar melhor como a natureza atua na explicação da causalidade – esse é o ponto - ele afirma que essa mesma natureza mantém muito bem afastada de nós alguns dos seus segredos, concedendo-nos o direito de perceber apenas umas poucas qualidades superficiais dos objetos, “mantendo ocultos os poderes secretos”. Isto significa que nenhum objeto revela pelas qualidades que aparecem aos sentidos, tanto as causas que o produziram como os efeitos que surgiram dele. A visão desses princípios naturais ocultos nos faz supor que sempre que observarmos qualidades semelhantes de um objeto, a experiência vai esperar encontrar efeitos semelhantes. Ora, Hume então dirá que “admite-se unanimemente que não há conexão conhecida entre qualidades sensíveis e poderes secretos, e conseqüentemente, que a mente, ao chegar a uma tal conclusão sobre a sua conjunção constante e regular”, não chegará ao resultado de saber sobre algo a natureza dessas qualidades. Então, diante dessa falta de explicação natural, desse ocultamento, não há outra forma de explicar essas inferências causais a não ser pelos efeitos do hábito. O hábito sustenta as inferências. Sem o hábito a imaginação corre solta. “O hábito, através da memória de experiências passadas, é o fundamento de todas as inferências causais, é o único fundamento de nossa crença de que o futuro será semelhante ao passado”. É o hábito que sustenta as inferências (na experiência). Para Hume, a crença de que eventos semelhantes provêm de efeitos semelhantes significa apenas que “objetos idênticos sempre foram colocados em idênticas relações de contigüidade e sucessão”, mesmo que tal identificação seja essencial para nossa “sobrevivência”. Por que a experiência sozinha só multiplica objetos. Ele conclui, então, que desse modo “jamais podemos descobrir qualquer idéia nova e apenas podemos multiplicar, mas não aumentar, os objetos de nosso espírito”. O mero produto da imaginação é um ato voluntário, mas o hábito é que modifica e qualifica os produtos da imaginação e que determinada o caminho a seguir (o hábito é determinante).


Autor: Aroldo Da Cruz Lara


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