Pré-vestibular comunitário: angústias e desejos



Pré-Vestibular Comunitário: angústias e desejos

 

 

 

 

                                                                                               Eloísa Cristhiane Dias Antunes[1]

Norônia Rosa Silva

Raissa Bela Ferreira de Moraes

 

 

 

 

 

 

Resumo:

 

Neste trabalho expomos os resultados de um projeto desenvolvido, junto aos alunos de um pré-vestibular comunitário. O projeto foi desenvolvido entre os meses de Agosto a Novembro do ano correnteem uma Instituiçãopública de Ensino Fundamental denominada Escola Municipal Luigi Toniolo. Como referencial teórico, utilizamos as contribuições de estudos, que tratam da orientação profissional e da motivação para alunos de pré-vestibulares. Para coletarmos os dados e montarmos o projeto, em um primeiro momento, observamos a dinâmica do cursinho comunitário. Em um segundo momento, realizamos questionários com os alunos e entrevista com a coordenadora responsável. Conseguimos também algumas informações por meio de conversas informais. No decorrer do trabalho analisaremos a realidade encontrada e relataremos a intervenção feita pelo grupo na realidade encontrada. Concluímos que os cursinhos de pré-vestibular devem ser cautelosos não só na transmissão dos conteúdos programáticos, mas também dar suporte aos alunos no sentido de orientar e motivar para a escolha de suas profissões.

 

 

 

Palavras Chave: Cursinhos pré-vestibulares, orientação profissional, motivação.

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

          Este trabalho apresenta o resultado de várias atividades as quais foram planejadas e desenvolvidas na Instituição Escola Municipal Luigi Toniolo na região Noroeste, do município de Belo Horizonte. O surgimento do pré-vestibular comunitário não é uma idéia da escola, há cinco anos, ela foi readaptada do projeto da Igreja Santa Terezinha. A idéia surgiu em uma reunião do colegiado da escola que queria oferecer mais cursos à noite e aos sábados integrado à escola aberta.

          Em um primeiro momento o pré-vestibular era destinado às pessoas realmente carentes do bairro. Para a seleção era necessário levar uma série de documentos para a comprovação da impossibilidade de pagamento da taxa simbólica que era cobrada. Já em um segundo momento, depois de uns dois anos desde sua implementação, devido à demanda os critérios para o ingresso no pré-vestibular foram ficando mais flexíveis. Hoje as pessoas interessadas em se preparar para concursos e vestibulares e que podem pagar a taxa mínima conseguem ingressar neste cursinho.

           Os professores são voluntários, geralmente alunos da UFMG ou educadores que já trabalham em outras instituições. Os alunos são em sua grande maioria pessoas mais velhas que decidiram voltar aos estudos e almejam melhores colocações no mercado de trabalho ou até mesmo desejam conseguir um bom emprego.

           Diante da realidade observada, foi possível perceber que os alunos do pré-vestibular comunitário tinham a necessidade de serem orientados na escolha profissional. De acordo com a pedagoga os alunos sentiam-se carentes de informações e principalmente inseguros diante da proximidade do vestibular.

           O presente trabalho traz como objetivo facilitar o momento da escolha profissional, bem como motivar os alunos no sentido de que são capazes de enfrentar maiores desafios. Ao longo deste projeto foram desenvolvidas condições que permitissem aos jovens optarem por uma profissão na qual se identifiquem preparando-os conscientemente para sua inserção no mercado de trabalho.

            Para desenvolver tal trabalho, na próxima seção falaremos do desenvolvimento do projeto, bem como a metodologia utilizada pelo grupo. Promovemos uma discussão entre as respostas dadas pelos alunos nos questionários, a intervenção feita pelo grupo e com a pesquisa teórica realizada. Concluímos com a percepção e opinião do grupo sobre a realidade encontrada e a intervenção executada.

 

DESENVOLVIMENTO

           

Para o desenvolvimento deste projeto, realizamos visitas periódicas na Escola Municipal Luigi Toniolo. Para tanto, o método de pesquisa utilizado foram conversas informais com discentes e docentes, além das observações. Utilizamos também um roteiro de questões que nos orientou no esclarecimento sobre a dinâmica da Instituição investigada. Tal roteiro foi respondido pela coordenadora pedagógica da Instituição, devido ao fato da mesma ser a profissional responsável pela coordenação e acompanhamento do desenvolvimento do pré-vestibular comunitário.

Para a realização de coleta de dados junto aos alunos, utilizamos o questionário, no qual abordava questões que tinham como objetivo sondar as principais dúvidas dos alunos. Conforme Marconi e Lakatos (2007) podem-se extrair dos questionários alguns elementos que consolidam tal técnica de pesquisa:

 

Questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao informante, pelo correio ou por um portador; depois de preenchido, o pesquisado devolve-o do mesmo modo. (MARCONI; LAKATOS, 2007, p.203)

 

 

O Projeto de Extensão realizado na Escola Municipal Luigi Toniolo possibilitou aprendizado para o grupo acadêmico e para a comunidade. Ambos tiveram ganhos significativos uma vez que os acadêmicos favoreceram informações necessárias para sanar as dúvidas dos alunos e os mesmos contribuíram com seus saberes individuais.

Considerando que

 

A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. (...) No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, terá como conseqüências a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. (SESu/ MEC, 2000, 2001).[2]

 

 

A partir da concepção de que a extensão universitária é uma via de mão dupla na troca de saberes entre o grupo acadêmico e a comunidade, direcionamos nosso projeto para o alcance desta perspectiva. Ao longo do projeto buscamos a todo o momento considerar a história de vida dos alunos, bem como suas opiniões sobre o trabalho que estávamos desenvolvendo. Por outro lado tentamos passar a idéia de que não éramos as únicas detentoras do saber e que aprenderíamos junto com eles.

 O surgimento do pré-vestibular comunitário não é uma idéia da escola, ela foi readaptada do projeto de uma Igreja da região de Belo Horizonte. A idéia surgiu em uma reunião do colegiado da escola que queria oferecer mais cursos à noite e aos sábados com a escola aberta.

Os alunos são em sua grande maioria pessoas mais velhas que decidiram voltar aos estudos e almejam melhores colocações no mercado de trabalho ou até mesmo desejam conseguir um bom emprego. Neste sentido foi necessário dar um suporte aos mesmos devido à sua insegurança para a escolha profissional. 

 

Já a escolha profissional, pela complexidade de fatores envolvidos, bem como pela angústia, medo e sofrimento que pode gerar a proximidade do vestibular, requer que o jovem seja assistido e apoiado pelos pais, educadores e orientadores profissionais. Essa escolha "não é algo que acontece de um instante para outro na vida das pessoas. Ela é parte de todo um processo de crescimento e reflexão pessoal bem como do conhecimento das profissões e de uma atividade profissional que se insere no social" (SOARES, 2002, p. 92).

 

Nas conversas informais que tivemos com os alunos podemos perceber a insegurança que os mesmos apresentavam em relação a determinados cursos e profissões, além do medo da reprovação no vestibular e da expectativa da realidade que encontrariam nas Instituições de Ensino Superior. Como nos traz a fala de uma das alunas “a gente tem medo de não conseguir passar no vestibular porque ficamos muito tempo sem estudar e vamos competir com pessoas mais preparadas.” [3] Devido a essa angústia retratada pela aluna e citada por Soares (2002), baseamos nossa primeira intervenção formal, em uma visita técnica ao campus Aimorés do Centro Universitário UNA oferecendo palestras de cunho explicativo, que forneceu informações necessárias para sanar as dúvidas relatadas pelos alunos ao longo da nossa investigação.

 

Quanto mais informações você conseguir sobre determinada profissão, mais elementos para a escolha você terá, aumentando, assim, a probabilidade de a escolha ser a mais acertada. É isto...a escolha certa é a que foi baseada no maior número possível de informações. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2006, p. 322).

 

Baseando nos autores acima, buscamos promover nossa intervenção focando em informações que tornaria o momento das escolhas para o vestibular algo menos complexo para estes alunos que tinham em suas trajetórias escolares pouca bagagem conteudista, como também um despreparo para a tomada de decisões concretas.

Procuramos ir além das dúvidas que os alunos nos apresentaram e investimos em questões que se fazem necessárias quando se pensa em escolher um curso superior. Neste sentido investigamos algumas instituições mais conceituadas do município de Belo Horizonte para conhecermos e mais tarde repassarmos aos alunos. Nossa investigação apoiou-se em conceitos tais como, cursos oferecidos, localização dos Campus, investimento financeiro, bolsas de estudos e financiamentos, além das datas e locais das provas para o vestibular.

Após concluirmos essa intervenção, percebemos que algumas das preocupações e indecisões apresentadas pelos alunos além de terem sido esclarecidas possibilitou que alguns se inscrevessem para a prova do vestibular da UNA.   

Para darmos seguimento ao trabalho junto aos alunos, planejamos nossa segunda intervenção formal, na Escola Municipal Luigi Toniolo, de modo que a mesma resgatasse a auto-estima adormecida pelo tempo e desgastada pela rotina. A mesma se deu fora do ambiente da sala, para que promovesse uma descontração e interação dos alunos. Neste sentido, promovemos uma dinâmica motivacional acompanhada por uma música[4] cuja letra nos traz um sentido incentivador para não perder a esperança em alcançar os objetivos almejados. Dessa forma, esta intervenção buscou resgatar em cada aluno sua identidade.

 

 

Para fornecer o suporte psicológico necessário frente a essa demanda especifica e no sentido de auxiliar na apropriação das escolhas, o trabalho com o conhecimento de si é fundamental, na medida em que possibilita ao sujeito conhecer suas características, interesses, aptidões, habilidades e respeitar o que está disposto a declarar e a compreender sobre si e sobre os outros naquele momento (SOARES et al, 2007, p. 751).

 

 

 

Portanto, além de um suporte de ordem prática, procuramos utilizar nesta segunda intervenção caminhos que proporcionassem aos sujeitos envolvidos uma reflexão pessoal. Esta reflexão deveria nortear para que o caminho da escolha profissional fosse a mais acertada e possibilitasse o conhecimento de suas subjetividades.

Ao longo do nosso projeto percebemos que os alunos mencionavam a importância da educação em suas vidas, uma vez que a mesma contribui como instrumento de ascensão social e “de profissionalização (...) dessa forma, os sujeitos passarem (sic) a acessar outros espaços da sociedade que, em momentos anteriores, permaneciam inacessíveis” (D’AVILA, 2006 apud SOARES, 2007, p. 754). Assim, concluímos que as intervenções neste sentido em que abordamos, vão além de uma orientação profissional, elas englobam outros aspectos, como a busca por sonhos e projetos de vida.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Com a realização deste trabalho foi possível conhecer e analisar, pelo menos inicialmente, como funciona a dinâmica de funcionamento de um pré-vestibular comunitário. Em nossa concepção, o trabalho desenvolvido nessas Instituições devem ter especial cuidado na hora de dar suporte para seus alunos no sentido da orientação vocacional. Porém, admitimos também que tal intervenção não é fácil de ser feita, justamente por lidar com os desejos e angústias de pessoas que naturalmente são diferentes umas das outras. Não basta, somente, viabilizar visitas às Instituições de Ensino Superior, como por exemplo, a mostra de profissões da UFMG, sem que com isso tenha uma explicação aprofundada sobre as dúvidas que assolam seus pensamentos.

Na Instituição visitada, observou-se que apesar da coordenadora afirmar que o pré-vestibular dava subsídios para que os alunos tivessem acesso às informações da esfera do Ensino Superior, e que mais, dava suporte psicológico aos mesmos, percebe-se que as atividades não tinham muita relação entre si, além de se mostrarem apenas em alguns momentos esporádicos. Podemos comprovar isso nas conversas com os alunos, estes se mostraram desanimados e desmotivados para continuar suas trajetórias escolares.

Em nossa visão, tais intervenções com os alunos devem ser cuidadosamente pensadas para que não “percamos” futuros universitários no meio do caminho. Acreditamos que capacidade para passar em um vestibular e dar continuidade nos estudos são capacidades inerentes a estas pessoas, porém, como se trata de um momento conflituoso para as mesmas os cursinhos preparatórios devem se desligar em alguns momentos dos conteúdos programáticos para se atentarem em cuidar dos alunos incentivando-os e esclarecendo suas dúvidas, quando as dúvidas surgirem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIA:

 

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.

 

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1838 p, 1986.

 

FORÚM DE PRÓ-REITORES DE EXTANSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS. 2000/2001. Natal. Plano Nacional de Extensão Universitária. Edição atualizada. Rio Grande do Sul, 1998.

 

NÚCLEO DE TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO. Manual para Elaboração de Trabalhos Acadêmicos: normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) Metodologia Científica. Belo Horizonte: Centro Universitário UNA, p. 50, ago. 2006.

                   

SOARES, Dulce Helena Penna, et al. Orientação Profissional em Contexto Coletivo: uma experiência em pré-vestibular popular. Psicologia Ciência e Profissão, Santa Catarina, p. 747-759, 2007.

 

SOUSA, José Nilton, et al. A Universidade e o Pré-Vestibular Popular. Segundo Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Belo Horizonte, set. 2004.

 

 


[1] Alunas regularmente matriculadas no 5° período de Pedagogia do Centro Universitário UNA. Paper realizado no ano de 2008.

[2] Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Plano Nacional de Extensão Universitária. Edição atualizada 2000/2001.

[3] Resposta dada pela aluna Maria Helena (nome fictício), 42 anos, do pré-vestibular comunitário quando questionada sobre as expectativas sobre a prova do vestibular.

[4] Trecho da música: “Nosso dia vai chegar, teremos nossa vez, não é pedir demais, quero justiça, quero trabalhar em paz, não é muito o que lhe peço, eu não quero trabalho honesto, em vez de escravidão.”

Renato Russo. Fábrica. In: As quatros estações. São Paulo, EMI-odeon, 1989.

 

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