Que valor tem a filosofia



QUE VALOR TEM A FILOSOFIA?

José Marcus Baptista1

[email protected]

 

Resumo Este artigo tem a pretensão de analisar o baixo índice de procura do curso de filosofia em relação aos outros cursos do processo vestibular 2012 da Universidade Federal do Espírito Santo. A reflexão será realizada pela orientação de Richard Rorty em sua obra “Contingência, ironia e solidariedade”, em especial no capítulo 4 – ‘Ironia privada e esperança liberal’, e a presença do pensamento de Karl Jaspers na obra Introdução ao pensamento filosófico, no tocante à importância que se deve dar à filosofia diante do mundo.

           Palavras chave contingência, hermenêutica, filosofia.

            Abstract This paper purports to analyze the low level of demand for the course of philosophy in relation to other courses in the process of vestibular 2012 Federal University of Espírito Santo. The discussion will be held for the guidance of Richard Rorty in his book "Contingency, irony and solidarity", in particular Chapter 4 - 'Private Irony and Liberal Hope', and the presence of thought in the work of Karl Jaspers “Introduction to philosophical thought” regarding the importance that should be given to philosophy to the world.

            Keywords contingency, hermeneutic, philosophy.

          

Decerto, para o autor deste artigo, há uma grande frustração, quando observando o mural de avisos do Colegiado de Filosofia na UFES- Universidade Federal do Espírito Santo, quando de uma relação de candidatos por vagas, o curso de Filosofia aparece com uma paridade de 1,3 (um vírgula três) candidatos por vaga.

         Frustração porque sendo mínima a procura pela Filosofia, não se deve concluir que os calouros terão facilidades para serem aprovados, ou que possa haver considerações quaisquer. Também não é certo de que não se podem perder esses candidatos e o curso de Filosofia venha a se esvaziar. Há um campo enorme para discussões mesmo sabendo que o mercado de trabalho absorverá a todos quando

_______________________

1-     Graduando do curso de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo.                                          

da conclusão dos mesmos, porém pode-se fazer variadas leituras dessa informação.

         A Filosofia, por ter as qualidades de questionar e de responder o mundo e o pensamento humano, por que sua baixíssima procura? Vale a pena realmente ir à busca dessa verdade? Não seria melhor conduzir-se pelo “senso comum”, e de fazer parte do seleto grupo dos cursos/profissões mais procuradas nos vestibulares e satisfazer-se nos prazeres do corpo e da alma, mas justamente nas questões passageiras da vida?

          As questões acima nos arremetem a uma contingência que está instalada no mundo natural e humano: do pobre ao rico, do analfabeto ao doutor, do imbecil ao cientista, mas quem a percebe? Quem a questiona? Quem se percebe nesse “sofrer” contingente e se insurge com um novo devir? Talvez um profissional “formado” pelos outros saberes? Pelos saberes finalistas? Talvez pouquíssimas mentes tenham essas perspicácias. Assim, para “grosso modo” e de forma rápida, trago a figura de Karl Jaspers para nos orientar sobre a filosofia.

 

             O filósofo da existência Karl Jaspers (1883-1969) já nos chama a atenção no prefácio de sua obra Introdução ao pensamento filosófico (1953), que

 

“A filosofia é universal e que nada existe que ela não diga respeito. Quem se dedica à filosofia interessa por tudo. Mas não há homem que tudo possa conhecer. (...) O saber é infinito e difuso; dele se valendo, procura a filosofia aquele centro a que fazíamos referência. O simples saber é uma acumulação, pois a filosofia é uma unidade. O saber é racional e igualmente acessível a qualquer inteligência. A filosofia é o modo de pensamento que termina por constituir a essência mesma de um ser humano.” (pg. 12)

            

             Para Jaspers, o modo de enxergar o mundo ainda é muito ofuscado pela procura incessante dos padrões de conforto e imediatistas que eliminam nossas responsabilidades para com o outro, e que

 

“A filosofia nos conscientiza dos horizontes do futuro, abrindo portas para o aumento do sentimento de responsabilidade. Este sentimento é fundamental para nos dar a consciência da possibilidade de nossa realidade manifestar-se no tempo. (pg. 41)

 

             Jaspers aclara nossas idéias a respeito do que o pensamento filosófico nos dá quando adentrarmos nesse mundo, esse conhecimento deve, antes de tudo, “ser capaz de surpreender-se com o óbvio.” (pg. 41)

            No pensamento deste nosso filósofo, parece que apenas 1,3 % (um vírgula três por centos) dos candidatos inscritos é que teriam essas condições anunciadas e preparados para uma vida melhor para si e todos ao seu redor.

             Mas é interessante que possamos ler com outros olhos, outra leitura que se faz na atualidade desses momentos. Vejamos então Richard Rorty.

 

             Segundo Rorty, como pensador do movimento pragmatista norte americano e divulgador de uma filosofia da hermenêutica vêem de outro modo essa “não escolha” da Filosofia, e priorizando as outras escolhas.

Em “Contingência, ironia e solidariedade” (1989) e em especial no capítulo 4, ‘Ironia privada e esperança liberal’, mostra o outro lado da filosofia que ainda não foi contada, pois mesmo que seja rigorosa em seus conceitos e em busca de valores para a sociedade de um modo geral, ainda assim, fica muito a desejar enquanto um bem coletivo.

 

               As ciências particulares mesmo que incidam suas preocupações em si, ainda assim, pode harmonizar-se com o individual e o coletivo, colocando-se a serviço de todos. 

               Para um pragmatista, a Filosofia deve partir de que as idéias não devem ser consideradas como válidas em si mesmas, mas para uma boa ação.

Porém Rorty pensa além desse pensar e inclui os pensamentos de Nietzsche, de Heidegger e de Wittgenstein, apoiando-se então em bases que privilegiem uma nova hermenêutica, novos vocabulários, a instauração dos momentos do devir, a toda contingencia que se instala nas sociedades. A isso se chega “a uma boa ação” que é a proposta de validade das idéias filosóficas, que é um aproximarem-se de todos com uma verdade finalística.

 

               Rorty trata como ironista a todos os que preferem e insistem em usar vocabulários que sejam finais em suas vidas. Insiste em dizer que esse vocabulário é final “no sentido de que, se for lançada uma dúvida sobre o valor dessas palavras, seu usuário não disporá de nenhum recurso argumentativo que não seja circular. Tais palavras são o mais longe que podemos ir com a linguagem;” (pg.133).      

 

            Rorty critica de forma contagiante a toda Filosofia que procura se estabelecer como ordenadora do mundo e consequentemente como reguladora dos valores humanos, porque certamente esta mesma filosofia estabelecerá valores para determinados grupos.

            Na análise desses dois filósofos, pude constatar que as populações estudantis capixaba, que se inscreveram para o vestibular 2012 da Universidade Federal do Espírito Santo, já trazem de dentro de suas bases familiares, os pareceres que estão grafados no senso comum. Atender ao mercado de trabalho e continuar situado no “status quo”.

            Um alerta que se deve fazer à clientela filosófica é de que a contingência, sendo um devir de mudanças hermenêuticas, pode ser mudada..., mas que seja para melhor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências

 

JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. CULTRIX . São Paulo. e-book.

 

RORTY, Richard. Contingência, ironia e solidariedade. Trad. Vera Ribeiro. São Paulo: Martins, 2007.

Download do artigo
Autor:


Artigos Relacionados


Tema I: O Que é A Filosofia?

Autonomia E Solidariedade Em Rorty: Excludentes Ou Compatíveis?

Textos Traduzidos (parte Iii)

Filosofia No Ensino Médio: Obrigatoriedade, Relevância E Perspectivas.

Na Sua Opinião Os “símbolos” (abstratos Ou Concretos) São Iguais, Para Todos? Sim Ou Não? - Ii

Um Pouco Da Filosofia De Henri Berson

Filósofos E "filósofos"