Nicodemos foi salvo?



NICODEMOS FOI SALVO?

 

Muitos já empreenderam discursos e escritos a respeito de Nicodemos, afirmando NÃO ter sido ele salvo pela Graça do Senhor Jesus Cristo.

E a afirmação desses pregadores é estribada tão-somente no fato de ele ter sido fariseu.

Realmente, naqueles idos a seita farisaica engendrou, juntamente com a casta sacerdotal, os piores inimigos de Jesus Cristo. Tão algozes eram, que o Senhor Jesus dirigiu-lhes as seguintes Palavras: “Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?” (Mt.23:23)

Mas não é por essa razão que devemos descartar a possibilidade de um fariseu ser salvo. “Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt.19:26)

O Apóstolo Paulo foi fariseu (Fl.3:5), mas alcançou “fé igualmente preciosa na Justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pd.1:1), e tornou-se, incontestavelmente, no cristão que mais trabalhou na Obra do Senhor Jesus Cristo, em toda a História do Cristianismo (2Co.11:22).

E os sacerdotes?

Num conluio perfeito com os fariseus, os sacerdotes tornaram-se obreiros infrutuosos das trevas, no escancarado ódio ao Senhor Jesus Cristo (Mt.16:21; 20:18,19; 21:15,45,46; 26:3-5,14,15,47,59; 27:1,2,20,41-43,62-66; 28:11-15; Mc.8:31; 10:33,34; 12:12; 14:1,2,10,11,43,55; 15:1,3,10,11,31,32; Lc.9:22; 20:19,20; 22:2-5; 23:4,5,10; Jo.11:47,48,57; 12:10,11; 18:35; 19:6,15,21; At.4:1-3); contudo, mais à frente a Bíblia informa-nos: “E muitos sacerdotes obedeciam à fé.” (At.6:7)

Sim! Até mesmo os sacerdotes, até mesmo os religiosos, quando aceitam e recebem a Jesus Cristo como Único e Todo-Suficiente Salvador e Senhor, unicamente pela fé, também são salvos!

Vou agora responder à minha pergunta, colocada como título deste artigo.

É no Evangelho de João que vamos encontrar os relatos sobre Nicodemos. E, contrariando todos os pregadores que condenam esse homem ao inferno, já no capítulo 3 eu o vejo alcançando a Fé igualmente preciosa.

No seu encontro com o Divino Mestre, Nicodemos demonstra sua notável sabedoria. Ele sabia que Jesus, por causa da fama (Mt.4:24), vivia constantemente cercado de multidões, e estas eram formadas por “MUITOS MILHARES de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros.” (Lc.12:1). Tanto é que Zaqueu teve que subir a um sicômoro a fim de ver o Senhor (Jo.19:4). Noutra ocasião, os homens tiveram que descer um paralítico pelo telhado de uma casa superlotada (Mc.2:1-4; Lc.5:18,19).

Nicodemos, certamente tendo conhecimento desses fatos, “foi ter com Jesus, de noite” (v.2).

Sim, foi na calma da noite, longe dos atropelamentos das multidões, que esse religioso foi procurar o Senhor, a fim de um diálogo a sós, bastante tranquilo.

Num passado mais remoto, para ouvir a “voz mansa e delicada” do Senhor (1Rs.19:12), o Profeta Elias teve que se isolar de todos, atravessar o deserto e chegar a Horebe, o monte de Deus.

Disse Jesus: “Mas eu o conheço, porque dEle venho, e Ele me enviou. (...) Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.” (Jo.7:29; 16:28). Nicodemos cria nesta Palavra de Jesus: “Rabi, sabemos que és Mestre, VINDO DE DEUS...”, ao passo que os demais fariseus não criam: “Por isso alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus; pois não guarda o sábado. (...) Sabemos que Deus falou a Moisés; mas quanto a este, não sabemos donde é” (id.9:16,29)

“... POIS NINGUÉM PODE FAZER ESTES SINAIS QUE TU FAZES, SE DEUS NÃO ESTIVER COM ELE”, conclui Nicodemos a sua confissão, na abertura do diálogo (v.2)

Nicodemos sabia que JESUS VEIO DE DEUS, e que por isso Ele operava todos aqueles sinais maravilhosos. Diferentemente dos demais fariseus que, além de não crerem, atribuíam a belzebu, príncipe dos demônios, os sinais de Jesus, motivo pelo qual incorreram em gravíssimo pecado, cometendo destarte a imperdoável blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt.12:22-32).

E ao fazer Nicodemos sua confissão, Jesus sabia da sua veracidade. Sabia que ele não estava sendo hipócrita, como os demais fariseus. Quando se tratava de hipocrisia, o Senhor logo percebia, pois “o próprio Jesus não se confiava a eles, por que os conhecia a todos, e não necessitava de que alguém lhe desse testemunho do homem, pois Ele bem sabia o que havia no homem” (Jo.2:24,25)

Agora, vejamos a arenga ardilosa dos fariseus hipócritas, e a imediata percepção do Senhor: “Enviaram-lhe então alguns dos fariseus e dos herodianos, PARA QUE O APANHASSEM em alguma palavra. Aproximando-se, pois, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro, e de ninguém se te dá; (...) Mas Jesus, PERCEBENDO A HIPOCRISIA DELES, respondeu-lhes: POR QUE ME EXPERIMENTAIS?...” (Mc.12:13-15)

Sabedor de que Nicodemos estava verdadeiramente sedento de Vida Eterna, o Senhor Jesus passa então a ensinar-lhe como alcançá-la, nos vv.3-21.

E aqui está um fato singular, incomparavelmente belo: Nicodemos foi o mortal que teve o privilégio de ouvir da sacrossanta boca do Senhor Jesus Cristo o mais belo, profundo e inefável Texto das Escrituras Sagradas: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a Vida Eterna.” (Jo.3:16)

Ora, se neste capitulo 3 não está explícita a conversão evangélica de Nicodemos, também não está explícita a sua rejeição, como querem os açodados pregadores da dubiedade.

Eu tenho a mais absoluta certeza que, após ouvir as mais belas Palavras do Mestre, Nicodemos foi para sua casa não se contendo de tanta felicidade, tentar dormir (será que ele conseguiu?) a noite mais abençoada de sua vida!

Dando continuidade à história desse homem, folheemos algumas páginas e examinemos, agora, o capítulo 7:25-52.

Para este segundo episódio, envolvendo o nosso personagem em estudo, a minha versão bíblica apresenta o seguinte título: OS FARISEUS MANDAM PRENDER JESUS.

E é o que diz o v.32: “Os fariseus ouviram a multidão murmurar estas coisas a respeito dEle; e os principais sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para o prenderem”.

Sempre os sacerdotes e os fariseus!

Mandaram prender Jesus...

Para quê?

Para matá-lo (v.25).

Mãos empunhando armas mortíferas; coturnos que pisoteavam qualquer indefenso que lhes atravessasse o caminho; e couraças que escondiam ainda mais os corações capazes das piores atrocidades (Mt.26:47,50,57; 27:27-31,64-66; 28:11-15; Mc.14:43; 15:16-20; Lc.22:47; 23:11; Jo.18:3,12,22; 19:1-3,23,24,31-33), lá vão os guardas, no cumprimento das indiscutíveis ordens dos carrascos religiosos a serviço do diabo!

Certamente chegaram até Jesus abrindo caminho com suas armas e com suas palavras ferinas, sem nenhum cuidado no trato com as pessoas, exatamente como fazem os guardas dos nossos dias...

Só que, desta vez, algo muito estranho lhes aconteceu.

Suas mãos terminaram por segurar frouxadamente as armas. Dentro dos coturnos, pés bambos. E, dentro das couraças, corações que se derretiam sob as Palavras mais poderosas e cheias de Amor que um pobre mortal pode ouvir!

Qual o poder de uma arma de guerra diante do Poder do Senhor Jesus Cristo?

Partiram aqueles soldados com a ordem absurda de trazer um Homem inocente, e retornaram aos carrascos com as mãos vazias...

O que aconteceu com os truculentos guardas?

Deixemos a própria Palavra de Deus responder: “Os guardas, pois, foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Responderam os guardas: NUNCA HOMEM ALGUM FALOU ASSIM COMO ESTE HOMEM” (vv.45,46).

Amargando destarte o indigesto sabor da derrota, os odientos sacerdotes e fariseus despejaram suas peçonhentas verborréias: “Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita” (v.49).

Permitam-me uma digressão: Ora, se a multidão, que não sabe a lei, é maldita, segundo os verdugos religiosos; e eles, verdugos religiosos, que conhecem sobejamente a lei, o que são?

Porém um fariseu, que estava ali presente, certamente transformado pelo mesmo Amor que amoleceu os corações dos guardas, levanta-se em defesa do seu Mestre Bendito.

Quem é ele?

Diz o Evangelho: “Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: A nossa lei, porventura, julga um homem sem primeiro ouvi-lo e ter conhecimento do que ele faz?” (vv.50,51).

Na conclusão deste nosso exame sobre Nicodemos, vamos agora para o capítulo 19, último episódio deste privilegiado personagem.

O v.30 mostra-nos que Jesus consumou, de fato, a sua Obra Salvífica e Vicária na cruz do Gólgota.

Então, dois homens tiram da cruz o Corpo de Jesus e começam a preparação para o seu sepultamento.

Um deles leva cerca de cem libras (aproximadamente, 35 quilos) duma mistura de mirra e aloés.

Ora, se em Vida uma mulher teve o desvelo de ungir os pés do Senhor com bálsamo (id.12:3), momento em que “Respondeu, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou.” (id.v.7); se Vivo Ele recebeu tamanho gesto de amor, receberia também quando Morto.

Dois homens foram ao Gólgota realizar esta obra de indescritível amor. Aliás, esta obra só pode mesmo ser realizada com indescritível amor.

Um deles era José, da cidade judaica de Arimatéia. E o outro, quem era?

Era Natanael? Lázaro, a quem Ele ressuscitara dos mortos? Zaqueu, o publicano?

Um dos seus onze Apóstolos?

Não!

Nenhum desses homens fez companhia ao arimateano.

O companheiro de José nesta obra de indescritível amor foi NICODEMOS!

E, para que ninguém tenha dúvida de que se trata do mesmo Nicodemos que fora ter com Jesus, de noite, na hipótese de ser outro homem com nome homônimo, o Evangelista João arremata: “E NICODEMOS, AQUELE QUE ANTERIORMENTE VIERA TER COM JESUS DE NOITE, foi também, levando cerca de cem libras duma mistura de mirra e aloés. Tomaram, pois, o Corpo de Jesus, e o envolveram em panos de linho com as especiarias, como os judeus costumavam fazer na preparação para a sepultura” (19:39,40)

Por que será que a Bíblia repete aqui o substantivo noite? O que aconteceu com Nicodemos naquela noite? Por que, no segundo episódio, ele sai em defesa de Jesus? E por que só ele foi capaz de repetir o mesmo gesto de Maria, na preparação de Jesus para a sepultura?

E você, prezado leitor, que tem a capacidade de condenar à perdição o justo, santo e bem-aventurado Nicodemos; acaso se você estivesse lá, participando daquele momento ímpar da História, teria a mesma coragem e o mesmo amor de Nicodemos? Ou se acovardaria como os demais discípulos?

Naquela noite, a mais memorável de toda a sua vida, Nicodemos foi para casa repensar as mais belas Palavras, de tantas quantas o Senhor Jesus Cristo pronunciou; e agora, no crepúsculo de uma Sexta-feira histórica, preparando o Corpo do Senhor para a sepultura, Corpo “ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades” (Is.53:5), Nicodemos certamente se lembrou das Palavras mais belas já ditas aos mortais pecadores, e as amou no seu íntimo: “PORQUE DEUS AMOU O MUNDO DE TAL MANEIRA QUE DEU O SEU FILHO UNIGÊNITO, PARA QUE TODO AQUELE QUE NELE CRÊ NÃO PEREÇA, MAS TENHA A VIDA ETERNA.” (JOÃO, 3:16)!

 

Lázaro Justo Jacinto


Autor: Lázaro Justo Jacinto


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