Internacionalização chinesa: como o governo vem impulsionando suas empresas e ampliando sua projeção de poder



Internacionalização chinesa: como o governo vem impulsionando suas empresas e ampliando sua projeção de poder

 

            Nos últimos anos, os países emergentes vêm batendo recordes de investimentos no exterior e aumentando sua participação nos fluxos internacionais de comércio de bens e serviços, ao mesmo tempo em que apresentam altas taxas de crescimento em detrimento das economias centrais. Grande parte desse sucesso das economias emergentes é resultado da expansão de suas empresas para novos mercados, o que, por suz vez, é fruto das políticas governamentais de incentivo à internacionalização, sobretudo a partir dos anos 2000. O presente artigo visa, dessa forma, a analisar o caso chinês nesse fenômeno e as medidas implantadas pelo mesmo para tornar suas empresas, antes protegidas da concorrência internacional, globais.

            Segundo o World Investment Report de 2011, pela primeira vez, as economias emergentes absorveram mais da metade dos fluxos globais de IDE e metdade dos 20 maiores países recebedores de IDE eram emergentes. Pelo outro lado, os países emergentes já originam 29% de todo IED global, o que significa que investidores dos países emergentes têm cada vez mais interesse em investimentos que cruzem as fronteiras de suas regiões de conforto. Entre eles, destacam-se investidores chineses, que contaram com um conjunto de políticas governamentais que viabilizaram seu processo de expansão internacional.

            No China, a internacionalização de capitais e de investimentos não é recente e já é incentivada no país desde os anos 1980, contando com forte participação estatal e, segundo Acioly e Leão (2011), contendo dois principais vetores que a caracterizaram desde então: a concentração nos setores primário e de serviços e a prioridade de investimentos em regiões abundantes em recursos naturais[1] ou em centros financeiros mundiais. Esses investimentos, todavia, sempre estiveram a serviço do Estado chinês, sua política industrial e a administração de sua balança de pagamentos. Segundo Acioly e Leão (2011):

À medida que as empresas chinesas foram se tornando competitivas no mercado internacional, o governo chinês as encorajou a sair do país. O objetivo era garantir o acesso a recursos estratégicos e mercados de consumos em expansão, além de realizar fusões e aquisições que permitissem a ampliação das redes de produção e da própria estrutura física de suas empresas, cujo objetivo era expandir e modernizar a estrutura produtiva nacional.

           

            Além disso, a liberação de recursos para exportação e investimentos no exterior estava não só restrita a determinados setores industriais, considerados pelo PCCh estratégicos, como também deveriam passar pelo crivo da Safe, órgão responsável pela administração do câmbio chinês. Delineam-se, assim, cinco fases, segundo Acioly e Leão (2011) que marcam as trasnformações da internacionalização chinesa.

            A primeira delas se deu entre 1979 e 1983 e foi marcada pela busca de matérias-prima em mercados externos, sobretudo na própria Ásia, processo depois expandido para África e América Latina. Nesse momento, os projetos de expansão internacional eram não só restritos às companhias estatais, como analisados individualmente pelo goveno e aprovados conforme a compatibilidade com os objetivos da política estatal. Durante anos 1980, liberou-se a internacionalização de grupos privados. No terceiro período, entre 1993 e 1998, as crises financeiras do Sudeste Asiático e, sobretudo as perdas com os investimentos chineses no mercado imobiliário de Hong Kong, obstaculizaram o avanço do processo de liberalização de investimentos e maior inserção na economia global.

            Na quarta fase, entre 1990 e 2002, intensificou-se o incentivo à internacionalização, conforme o governo mantinha suas altas taxas de crescimento e, com elas, robustos superávits comerciais e multiplicação de suas reservas. Assim, o governo passou, através do Conselho de Estado, a ampliar a assistência técnica e financeira aos grupos interessados em multiplicar seu capital fora do país. Mais foi a partir de 2002 que o processo de internacionalização chinesa se tornou mais assertivo e agressivo. Esse ano marca o início da fase Going Global das economias emergentes, a partir de quando o governo passa a almejar não só tornar suas protegidas empresas transnacionais capazes de competir em condições igualitárias com europeias e norte-americanas, bem como passa a eliminar as barreiras relativas à saida de capital.

            Além disso, o governo procura descentralizar os procedimentos de aprovação de saída de recursos,  simplificar os procedimentos burocráticos que autorizam a saída de capital, inclusive tornando vários desses procedimentos virtuais, e ampliando os subsídios (como taxa de juros menores do que as praticadas pelo mercado) e isenções para empresas exportadoras, via bancos (China Development Bank-CDB e China Export and Import Bank- Exim Bank). Em 2004, o governo lança ainda, conforme Acionly e Leão (2011), o Guideline for Investments in Overseas Countries Industries, um guia para facilitar a prospecção de oportunidades de negócios pelas companhias chinesas, e um banco de dados com informações sobre diversos países e seus ambientes de negócios.

            Outro ponto que o governo chinês vem dando especial destaque nesses útlimos anos da chamada fase Going Global é o fortalecimento da política externa. Não só o presidente vem fazendo inúmeras viagens a negócios, mas também o país vem estabelecendo uma série de tratados bilaterais que garantam a proteção jurídica dos investimentos chineses e dos investidores chineses, sobretudo na América Latina e na África, além do aumento do número de consulados.

            Dessa maneira, fica claro a preocupação do Estado chinês em promover, desde cedo, a internacionalização de suas empresas e, mais importante, subordinada às necessidades do Estado, promovendo assim setores industriais estratégicos competitivos e com alta rentabilidade. O resultado é não só uma maior presença chinesa no mundo, mas uma China mais ativa e proeminente no cenário internacional.


[1] Resource seeker


Autor: Messias Moretto


Artigos Relacionados


O Que Você Precisa Saber Sobre Fazer Negócios Na China

"china E O PetrÓleo Do Brasil"

China: A Segunda Maior Potência Do Mundo

Internacionalização Ainda é Para Poucas Empresas

"china JÁ É A Maior Exportadora Do Mundo"

ConheÇa Um Pouco Da China, Antes Das Olimpiades

Made In Brazil