Mulher de açogueiro tem gosto de peixeira



Em minhas passagens por cidades do interior do Estado me deparei com uma situação que me deixou deverasmente assustado. No dia-a-dia com as pessoas é bom ser educado, cordial e simpático. O problema se dá quando a contraparte entende errado e acha que você esta dando mole ou em cima. Também não posso negar que exista o cara de pau, o sujeito que se finge de leitão para mamar deitado. Na pequena Comarca não havia muito serviço e eu tinha tempo para ouvir os reclames das pessoas. No local em que trabalhava uma servidora cedida pela prefeitura, mulher bem afeiçoada, me achando um bom ouvinte teve a coragem de contar para mim, um novo no lugar, a falta de empenho de seu esposo em lhe fazer feliz. Consegui perceber aonde ela queria chegar quando um dia ela me contou que o marido nunca lhe havia levado ao motel. Tentei explicar que às vezes as pessoas acham que não é preciso gastar dinheiro com motel. Afinal não é o palco que garante uma boa trama, mas sim os atores. De qualquer forma aquela jovem senhora resolveu fazer a aposta. – Se você me convidar para conhecer um motel, ver como é por dentro, eu tenho coragem de ir. – Vou pensar no assunto e depois te respondo. Até então eu não conhecia o varão esposo da mulher que tinha o desejo de conhecer um motel. Todavia, no final daquele mesmo dia quis o destino que eu o conhecesse. Sabia que ele ganhava a vida como açougueiro. O homem resolveu ir buscar a esposa no trabalho. Vejo entrar no templo da deusa Temis um sujeito alto, musculoso de bíceps avantajados. O cara era uma replica de Hercules. No dia seguinte a resposta estava na ponta da língua. – Você deve estar mais feliz, o seu esposo veio aqui ontem te apanhar no final do expediente. – É, tem dia que aquele estrupício faz isso. – Sobre a proposta que você me sugeriu ontem, eu sinto muito, a resposta é não. Durante a noite eu tive um sonho que aquele homem grandão que entrou ali na porta corria atrás de mim com uma faca de arrancar couro de boi. O escapelador de porcos queria saber qual era minha intenção com a mulher dele. Falou que hominho igual a mim ele arrancava os bofes e jogava pros cachorros. Vi meu fígado saindo entre os seus dedos. - Nossa! Que horror! – O que importa é que a visão de seu marido correndo atrás de mim com uma enorme faca de açougue e do estrago que a arma branca pode fazer nesta carcaça, temo que algo não funcione. Ao contrario, que se esconda, pois o que faria com um pintinho aquele que é capaz de transformar em bifes um boi inteiro e em poucos minutos? Na ocasião eu estava descompromissado. Será que Freud explicaria o meu medo? Ou falou mais alto o meu lado puritano de ser? Vontade eu tive. No caso o melhor foi trabalhar e deixar a vontade passar. Eu tenho vontade de sair de novo com a Juliana Paes. Da outra vez a vontade passou por que ela não me ligou.


Autor: Creumir Guerra


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