EDUCAÇÃO, ARTE E INCLUSÃO



Em “Contos Cruéis: as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea” (2004), Rinaldo de Fernandes, escritor e professor de Literatura, organiza numa coletânea textos que expressam o comportamento que prevalece atualmente nas comunidades urbanas, especialmente nas metrópoles. Textos cujas temáticas e linguagens são, sobremaneira, impactantes. No conjunto da obra, destaca-se “O Pintor da Tribo”, conto de Adriano Espínula. Nele, a “tribo” precisa garantir a sua sobrevivência. Para tal, decide por sacrificar aquele que consideram o mais “fraco e inútil”: o pintor.

Na narrativa de Espínula (2004), a cultura dizimou a arte e, por conseguinte, o artista. A diversidade aniquilou a diferença, a peculiaridade de um modo de ser. Analogamente, em todo o contexto humano há elementos de cultura e elementos de barbárie. Tanto na tribo descrita pelo autor quanto nos noticiários cotidianos deste século XXI isso pode ser visto e vivido. Desse pensamento resultam inquietações: qual tem sido o lugar da diferença na diversidade ou o espaço da arte na cultura e na formação humana? Ao acaso não seriam a arte e os sujeitos considerados “diferentes” os primeiros a serem sacrificados?

A História da Arte revela uma série de artistas, como Alícia Alonso, Antonio Francisco Lisboa, Frida Kahlo, Helen Keller, Ludwuing Van Beethoven, Marquês de Sade, Vincent Van Gohg e outros tantos sujeitos que têm em suas biografias características que os identificam como “diferentes”. Eles eram pessoas com deficiências, surdez, transtornos mentais e ou altas habilidades/superdotação. Cada um deles, entretanto, fez da arte, de sua arte, sua singular assinatura.

Desde o começo da década de1990, aeducação começa a considerar a escolarização dessas pessoas na escola comum. Uma história marcada pela segregação e exclusão começa a dar lugar à perspectiva inclusiva. Trata-se de pensar a inclusão, principalmente das pessoas com deficiências, com transtornos globais do desenvolvimento, com surdez e com altas habilidades/superdotação na sala de aula da escola que se pretende efetivamente para todos. Sem dúvida um convite e ao mesmo tempo um desafio. Mais que isso, sobretudo, uma questão de garantia de direitos.

Os artistas apresentados neste texto nos ajudaram a olhar e a ver. Revelaram em suas produções outras lógicas, outras racionalidades. O mesmo convite que a perspectiva inclusiva escolar propõe. De tudo isso decorre o entendimento de que a vida pede por uma forma, ou por novas formas de expressão, de produção de sentidos. A arte é compreendida como essa possibilidade. Além de contemplativa, provocativa e conceitual, ela também pode ajudar a desenvolver em cada um dos sujeitos humanos o sentimento de pertencença. Sentido de pertencimento à própria humanidade.

Pensar educação, arte e inclusão é, portanto, pensar além da fragmentação do saber. É pensar a formação do humano nas relações que ele estabelece. Desse entendimento, resulta uma afirmativa de Edgar Morin (2004, p.67) quando alude: “é preciso enxergar com um novo olhar e não com o olhar já constituído”. É nesse espaço que a educação e a arte se inscrevem. Elas potencializam os sujeitos, as histórias que esses sujeitos escrevem, pintam, dançam, recitam, esculpem, representam, descrevem, sentem, vivem, inventam e reinventam. Isso é da ordem do humano.


Autor: Lilian Pereira Menenguci


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