O Pessoal Do Campo – A Visão Urbana



Segundo o IBGE, o Brasil possui uma população estimada de 188,7 milhões de pessoas e desse total aproximadamente 18% corresponde à população rural, o que faz dele um país urbano, com mais de 80 % de taxa de urbanização. Contudo, o país é mais rural do que se imagina.

Não nos faltam dados para mostrar que o desenvolvimento econômico brasileiro passa a muitas décadas pelo Brasil rural e seus desdobramentos nas cadeias de produção, até que os alimentos e produtos não-alimentares cheguem aos consumidores nos seus respectivos lares, a maioria instalados nas cidades, muitas vezes longe dos locais de produção.

É verdade que a participação da produção agropecuária no PIB brasileiro há muito tempo não é lá aquelas coisas. Segundo dados do CEPEA, o setor tem dado mostras de declínio desde a década de 90 quando representava em torno 8,5% e hoje ronda os 7,9%, assim como o agronegócio que por mais de uma década oscila entre os 27% e 30,5%, estando estagnado ao redor dos 28% nos últimos 3 anos. Porém, os desdobramentos internos e externos são inquestionáveis se levarmos em consideração mão-de-obra ocupada e o saldo da balança comercial, só para dar exemplos.

Portanto, o Brasil é um país que depende sensivelmente das atividades agropecuárias para manter ou melhorar os seus combalidos níveis sócio-econômicos. Esse aspecto é particularmente importante para países em desenvolvimento como o nosso, na medida em que a nossa renda percapita não causa inveja a ninguém e dessa forma a grande parcela da população dependa da expressiva capacidade de fornecimento de alimentos para garantir que os seus ganhos sejam suficientes para atender às suas necessidades básicas.

Dito de outra forma, a parcela da renda da população que é gasto com alimentos é demasiadamente alta e dessa forma o papel de provisão de alimentos é fundamental para que essa mesma população tenha um mínimo de qualidade de vida. Por outro lado, o fato do alimento ser barato, desencadeia uma série de outros gastos, em outros setores, à medida que começam a sobrar recursos da parca renda do brasileiro. O plano real e a âncora verde são um bom exemplo disso.

Por outro lado, embora os habitantes da terra brasilis dependam em grande parte desse setor é incrível como uma ampla parcela dela conhece pouco ou ainda torce o nariz quando se fala das atividades agropecuárias. São muitas as cidades onde a população não conhece ou não percebe a importância que o setor representa, passando ao largo de questões que dizem respeito à sua vida.

Isso não é privilégio das capitais. Também no interior onde a atividade econômica principal gira em torno do agronegócio ainda é comum entrarmos numa loja e ao indagarmos de como andam os negócios, o gerente ou proprietário afirmar que "as vendas caíram muito", e se perguntado o motivo, afirma que "parece que o pessoal do campo também não está bem", sem entender o motivo real.

Nos grandes centros é necessário fazer um trabalho extensivo para que principalmente as gerações mais novas entendam que caldo de galinha vem da galinha e ela não se chama Knorr®. Que o leite do copo não foi criado na indústria, veio da vaca a qual foi ordenhada de madrugada, come capim e ração que por sua vez foi feita de milho e que é o mesmo cereal do pires dele, e assim por diante.

Não é parte de nossa história fazer marketing dos produtos e das atividades agrícolas como ocorre em outros países, principalmente Europa e EUA, onde as celebridades do mundo da moda, da televisão ou dos esportes são chamadas a emprestar o seu prestígio. Só mais recentemente associações de classe têm se mobilizado para fazer lobby e transpor os muros das cidades. Também no campo falta compreensão da necessidade de que o Brasil urbano precisa entender do campo.

Como exemplo da falta de relevância declarada, podemos começar pela estrutura de distribuição dos recursos gerados pelos impostos. São muitos os municípios brasileiros em que a dependência do PIB do agronegócio ultrapassa os 50% e em contrapartida são raros aqueles que destinam mais de 5% do seu orçamento para fomentar e desenvolver o agronegócio. O setor contribui com 50 e recebe 5. Mais um grande negócio para a sociedade patrocinado pelo rural.

Boa Semana para nós.


Autor: Eleri Hamer


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