Literatura e história texto II reflexões



1 QUESTÃO PROBLEMA 

"Os que podem ler os textos, não os lêem de maneira semelhante" (CHATIER; p. 179).

"É preciso lembrar que não há texto fora do suporte que lhe permite ser lido (ou ouvido) e que não há compreensão de um escrito, qualquer que seja que não dependa das formas pelas quais atinge o leitor" (CHATIER, p. 182). 

"A ficção não seria, pois, o avesso do real, mas outra forma de captá-lo, onde os limites de criação e fantasia são mais amplos do que aqueles permitidos ao historiador" (PESAVENTO; p. 117).

"A leitura da literatura pela história não se faz de maneira literal, e o que nela se resgata é a re-apresentação do mundo que comporta a forma narrativa" (PESAVENTO, p.182). 

Seguindo pelas discussões dos historiadores Roger Chartier e Sandra Jatahy Pesavento, discuta: As representações coletivas (ou sociais) são reflexos de uma realidade material que a excede ou são constitutivas desta própria realidade?  História e Literatura produzem representações distintas a respeito do mundo social?

 

O historiador utiliza a narrativa literária para dar contornos à história a qual descreve, embora difira da literatura pelos aspectos relacionados à confirmação de fontes e a descrição de fatos inerentes à realidade. O historiador tece a história com auxilio da narrativa literária, o que possibilita ao leitor compreender através desta, os fatos descritos por ele.

A história pode ser interpretada conforme ele se identifica com o que lê, visualiza e ouve o que se constituem em formas diferentes de ler e entender o mundo e nos dá dimensão de como as pessoas se apropriam culturalmente de hábitos, idéias e costumes. A religiosidade é o exemplo de como nos apropriamos de idéias, costumes, normas e as transformamos, tornado-se relações de poder, delas surgem regras, estratégias, normas, condutas geram conflitos, desenvolvem-se as relações de poder, delas surgem novas regras, estratégias, normas, condutas, e visão de mundo. Porem cada pessoa transforma essa visão conforme sua interpretação envolve o conflito de idéias na criação de sua própria identidade.

A forma de ler nas entrelinhas segundo Chatier (p.179) sobre um fato ou história não se dá da mesma forma, pois há os que “detêm a forma mais habilidosa da leitura”, outros engatinham nas frases buscando decifrar seu significado. Assim como há vários patamares para interpretação de um texto, existem várias maneiras de interpretar o mundo na construção da identidade de uma pessoa, tribo ou povo. Na forma como cada um constroe seu mundo, ou seja, a devida importância que dá ao que se apresenta naquele momento e a identificação de cada um por este fato, circunstância ou acontecimento.

A importância dada é a ponte para a identidade de um grupo ou povo, o qual se diferencia dos demais pela visão e os contornos dados por ele. O historiador ao tecer a história usa dos detalhes destes mesmos contornos para de acordo com sua identificação, da-lhes um formato uma ordem. O historiador projeta na temporalidade a possibilidade de nos reportarmos a um tempo que de alguma forma auxiliou na construção de uma identidade neste sentido a literatura e a história, caminham juntas; e a literatura contribui ao seu modo como fonte ao historiador, por transpor na temporalidade e nostalgia há um tempo inretornável, possibilitando a transcrição dos textos e reportar-nos a esta temporalidade.

Cabe ao historiador a compreensão dos processos que envolvem a construção da identidade de um povo ou cidade. As cidades segundo Calvino (apud PESAVENTO), “[...] comporta várias cidades”, ou seja, dentro de uma cidade se comporta várias tribos, que seguem costumes, rituais próprios, maneiras próprias de sobrevive,r participam da mesma comunidade, religiosidade; dentro destas mesmas existem suas próprias divisões gradas pelo conflito e a identificação de cada um. A analise que o historiador dispensa aos diferentes grupos, movimentos sociais, economia e a política, representam um olhar sobre como a mesma é pensada reconhecida e vivenciada sob sua ótica. Nesta visão do real a atuação do historiador representa a fala de grupos muitas vezes à margem da sociedade. A idéia fictícia muitas vezes que se faz de determinada período ou lugar está por vezes relacionada à narrativa histórica literária na ênfase a determinado período.

 Tomamos o exemplo, a cidade de Joinville conhecida como cidade alemã, à classificação ou identificação da cidade como essencialmente alemã, é uma atribuição dada por um determinado grupo de historiadores que priorizou a colonização e acabou por excluir a atuação de outros grupos tão ou mais importantes na construção do que é Joinville hoje. A literatura histórica contribuiu fortemente para a construção desta identidade pela qual Joinville é conhecida como cidade alemã em muitas partes do Brasil. A identidade insinuada pelo expectador social (o historiador), sobre as regras implícitas que regem a cidade e sua gente contribuiu fortemente para estereotipar e conceituar a cidade desta forma. Assim como outros adjetivos que identificam a cidade de acordo com os interesses e promoções sociais que a denominaram como cidade industrial, cidade das bicicletas, cidade dos príncipes, cidade das flores.

As discussões de Chatier e Pesavento nos dão dimensão de como o historiador atua a das responsabilidades sociais incutidas no recontar a história. Essa reflexão nos leva a repensar aspectos que envolvem identidade, como ela se constrói e como ela é transformada pela visão do expectador social (o historiador) em sua narrativa, estabelecendo marcas que podem ser reconhecidas por décadas ou séculos. É como uma marca social que é construída por uma realidade com o qual ele se identifica e a reconta, mas por sua vez pode gerar uma representação um tanto distinta da realidade, pois um todo não pode ser representado por um grupo especifico e vice e versa.

 

A questão central é que a História trata de maneiras diferentes os períodos de tempo, ou seja, temos que ter em mente que a literatura é arte no qual temos que ter a sensibilidade e percepção para compreender uma poesia, por exemplo.

No primeiro autor (CHATIER) fica claro aquilo que Boff menciona: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto. [...]A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. [...] Sendo assim, cada um compreende e interpreta a partir do mundo que habita”. Ou seja, o enfoque vão ser distintos mesmo tratando de assuntos similares. Pois o objetivo na prática será diferente, e muitos casos pelo equivoco de não se ter a educação estética. Segundo Perissé “Esteticamente, cabe ao docente despertar em si e nos demais a reflexão sobre a arte, relacionado-a com tantos outros temas - a história, a mitologia, a política, a censura, a psicanálise, a cultura, a tecnologia, [...]”.

 Já o segundo autor (PESAVENTO) nos remete a visão de como cada historiador conduz o recontar a história e as implicâncias geradas pela narrativa histórica, quanto ao posicionamento social, construção de identidade deste segmento que pode se traduzir ao todo.

Quanto a ficção na história por vezes é indissociável da realidade tomemos como exemplo o filme gladiador, o que é real o que é ficção?

2 REFERÊNCIAS 

CHATIER, Roger. O mundo como representação: Estudos avançados, n.11 p.173-191, jan./abr.de 2009. 

BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Uma metáfora da condição humana. Petrópolis, RJ:Vozes, 1997. p. 9. 

PERISSÉ, Gabriel. Estética & Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. 

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Relação entre história e Literatura e representação das identidades urbanas no Brasil (séculos XIX e XX). Anos 90, Porto Alegre, n. 4, p.115 -127, dez. 1995.


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