Revelações do mestre zé



 

Revelações do Mestre Zé

 

José Luis Monteiro da Conceição

 

Em um dia cansado e com muito sono, resolvi acordar exatamente pela força do meu despertador às cinco horas da manhã para enfrentar a maratona diária. Como sabem a vida de um educador não é nada fácil, principalmente para uma pessoa como eu que ganha muito pouco e quando chega ao final do mês não sobra nenhum “trocadin” para comer uma moqueca de peixe, batata frita e beber aquela cerveja gelada na praia do Pratigi.

Tomei o meu banho, café, escovei os meus dentes, calcei o meu tênis, arrumei a mochila, peguei a nave do filme Jornada  nas Estrelas e partir para uma luta sadia. Ao chegar, estacionei-a na porta do Centro Educacional fresburgolandia - , local que trabalho como professor de Redação. Ao sair da nave adivinhe quem encontro? Isso mesmo. Um batalhão de alunos abraçando-me, beijando-me. Loucura, loucura, loucuraaaaaaaaaaa. Nesse momento parecia uma estrela de Hollywood, nada mais nada menos que Brad Pitt. Na verdade eu sou um galã do cinema, um choquito dentro de uma caixa de chocolate e  saliento que sou uma das estrelas da constelação, mas isso não vem o caso. Dei uma voadora que aprendi no filme o Besouro naqueles benditos alunos e pedir para dar espaço para que pudesse passar. Todos deram uma bela gargalhada e eu que não fui bobo, “casquei” fora e fui direto para o meu gabinete sentar na minha cadeira giratória doada pelo príncipe da Inglaterra Wilian com o consentimento da sua avó Rainha Elisabete II e sancionado pelo seu pai Príncipe Charlles para esperar o horário da aula tocar.

O cuco alerta... A poderosa secretária e CHEFONA Mafalda, apelidada por mim de gorducha e bola de neve, chega com seu colete a prova de  balas e bate a sirene. Como não deixo passar nada, sempre reclamo falando: -Êta! Êta! Êta! Você não deixa nem agente respirar um pouquinho e bem não chega já toca a sirene para começar a aula. Mesmo sabendo que tudo isso faz parte do enredo, entro de butuca na sala, cumprimento com Buenos Dias e começo a fazer a lista de chamada dos meus filhotes amados. Só Deus sabe. Pode crer, com todos os embaraços eu os amo de coração. Minha felicidade é jogada e transbordada neste ambiente, que parece mais a casa do nosso querido comunicador Silvio Santos (Luxo que só. Cadeiras acolchoadas, ar-condicionado, data- show, um quadro de giz que tem o tamanho de um campo de futebol ) e palco do Rock in Rio, pois a alegria contagia e rola solta em cada canto da sala.

Três minutos de aula se passaram, e está mais do que na hora de começar a discursar de maneira expositiva e dialogada o assunto do dia. Com uma caneta folheada a ouro de 20 kilates começo a gesticular o assunto tão esperado pelos meus bambinos da turma do 8º ano do Ensino Fundamental. Ê turma danada. Tenho que rezar três Pai-Nosso, cinco Ave-Maria e fazer o sinal da cruz para ver se abre o caminho e abençoa aquele povo. Tive até que contratar algumas baianas que lavam a escadaria da Igreja do Senhor do Bonfim de Salvador  para purificar a mente daquelas crianças.

Começo falando um pouco da teoria da dissertação que com muito esmero prestam atentamente a explicação e contribuem efetivamente no desenvolvimento da aula. Valei minha nossa senhora ainda bem que as orações deram certo e a água de cheiro fez efeito. Atividade escrita, debate, discussão são as estratégias metodológicas que sempre utilizo para explicar e concretizar o conteúdo.

Horas se passaram e lá vou eu para outra turma. Não vou dizer que seja um céu, porque ninguém é santo e nem eu, mas é uma turma boa de trabalhar. Meus eternos alunos do 6º ano.

Bem não entro na porta, já encontro o pequeno polegar da turma, o Silvinho. Esse menino é “arrestado que sô”. É o destaque da sala nos aspectos de alegria, brincadeira, sorriso e muito mais. Nesta sala não posso sentar, tenho que vigiar com os olhos de tandera. Conto até três segundo e os alunos em um passe de mágica sentam. Não é um Regime Militar, mas tem momentos que é necessário. É isso aí, eu mando ver mesmo. Tem que me respeitar, mas sempre dou um toque de humor.

Quando estava iniciando a minha aula, entra a Coordenadora Pedagógica Macabéia, ou melhor, Gisele Bunchein, porque todo o dia desfila no pátio da escola com roupas ALTAMENTE feitas da França e Itália e outra coisa que ia esquecendo: Os seus belos cabelos lisos e escorridos como a massa de lasanha após sair da água quente e sem contar dos seus lindos beiços à moda de Angelina Jolie. Para completar os olhares, chega à senhora Tekita com seus óculos raros, a inseparável lixa de unha, sua bolsa como sempre importada e seus belos e longos cabelos de Rapunzel. Nunca repete uma roupa,  vem combinando tudo, o salto do sapato é como do Brasil ao Chile. Abre-se o tapete vermelho para receber o Oscar. Ela é filha, mãe, mulher, tia, psicóloga, educadora e sem contar que é a cara da riqueza. Blusa da Itália, saia da frança, sapato dos Estados Unidos, pulseira da China, brinco da Rússia, bore da Arábia Saudita, gargantilha de ouro de sei quantos quilates, pois é tantos quilates que perco as contas e não para por aí não, até o esmalte para pintar a unha dela vem diretamente da Venezuela. É realmente EXTRAORDINÁRIA, FANTÁSTICA.

Bate o horário para o intervalo, momento que viro criança. Nem Macabéia me segura. Apronto mesmo. Fofoco, peço merenda, dou muitas risadas e ouço também meus alunos, pois muitos deles gostam de revelar coisas que tem feito e não conseguem falar com os pais. Apesar de louco, sou um verdadeiro conselheiro. Faço tudo pelas crianças. Até pedir dinheiro ao diretor mesmo com vergonha para fazer festa, animar e sacudir a galera. Falando no Diretor, o famoso tio Bina, não vou esquecer-me de colocar nesta história cronical. Esse aí não pode escapar mesmo. “Bem pessoal”, esta é a expressão inicial nas reuniões. Homem HONESTO, DETALHISTA, OBSERVADOR, CRIATIVO e muitos outros adjetivos. Com toda sinceridade, espelho-me nele através de suas atitudes, decisões, pensamentos, ações. Agora fala sério, o óculo de tio Bina parece ou não parece com o de seu  Barriga do seriado Chaves? Solta um dinheirinho que é uma beleza. Ele ver a educação um investimento. Isso eu aprovo. É interessante vê-lo preocupado com o ato educativo e é justamente isso que me fortalece enquanto educador. É ter uma pessoa ao lado e acreditar na educação. Valeu tio Bina! Para mim você é melhor que minha tia Josefina. Agora minha tia Tekita vou lhe contar um segredo que tio Bina não falou para a senhora há tanto tempo. Descupa-me  tio, mas eu vou falar. Tio Bina tem um caso com Dinó. Dinó para quem não conhece é a faxineira da escola. Todos observam os laços amorosos deles dois. Ela todo dia serve cafezinho para ele e batem altos papos dentro do seu cafofo. Imagine isso! Será que pode? Vou Chamar a personagem Drª Lorka do Zorra Total para dizer se pode ou não pode oficializar  o namoro que acontece  nas esquinas do fresburgolandia

Eu aumentei, mas  não inventei nadica de nada. Até a próxima


Autor: José Monteiro


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