Obrigado a quem votou em mim. minha sorte foi não ter sido eleito.



OBRIGADO A QUEM VOTOU EM MIM. MINHA SORTE FOI NÃO TER SIDO ELEITO.

Eu fui candidato a vereador em Mantenópolis e obtive sessenta e um votos, acredito todos de parentes e amigos. Um vereador se elegia com cento e cinquenta votos aproximadamente. Coisa difícil é conseguir voto para vereador. O eleitor pede de tudo, de enxada a dentadura. É evidente que eu não comprei nenhum voto, uma por que não queria me eleger usando deste expediente e outra por que não tinha recursos para comprar os votos. Na época eu estava iniciando a carreira advocatícia e fazia muito favor como advogado. Eu fiz um inventário para uma família em São Geraldo, sem cobrar nada, atendendo também ao pedido do prefeito, tendo eles me prometido no mínimo quinze votos. Um acusado de homicídio me procurou e disse que seu fizesse o seu júri, na sua casa uns dez eleitores votariam em mim. De qualquer jeito eu faria o júri de graça, tendo apenas acreditado que aquelas pessoas de fato iriam sufragar seus votos em favor de minha candidatura. Abrem-se as urnas do distrito de São Geraldo e lá eu obtive UM, um único, unzinho, apenas um voto. O Jaconias, marido da Odete Nunes, minha então vizinha, por erro do Cartório teve o título transferido para São Geraldo e ele garantiu que votaria em mim. Nele eu acreditei. Nem os meus alunos do segundo grau, que viviam puxando o meu saco, dizendo o tempo todo que votaria em mim, nada. Depois, além do Jaconias, várias pessoas da terra do Antonio do Correio me procuraram e falaram ter votado em Creumir Guerra para vereador. Fiquei sabendo, através de uma investigação feita pelo meu tio Isaías, que morava no distrito, mas este votava na sede, que os “meus” eleitores venderam o voto para um candidato por cinquenta reais. De um eleitor eu me vinguei. O acusado que iria a júri antes da eleição teve o julgamento adiado. Aproveitei a deixa e renunciei a nomeação para ser seu defensor. Quando ele veio me procurar para falar sobre o júri, lhe avisei que seria o seu advogado, porém, ele teria que pagar um mil reais de honorários. Mandei que ele pedisse o dinheiro ao seu vereador eleito com votos comprados. O prefeito me chamou e pediu que eu aceitasse fazer o julgamento, mas também lhe disse que só se o patrão pagasse os mil reais para o réu.  O cara foi intimado para contratar advogado, por que ele tinha terras e poderia pagar, tendo ficado silente, o que resultou no decreto de sua prisão. Alguém contou para o sujeito antes da policia chegar e o dito cujo foi parar em São Paulo. Depois o acusado andou me ligando para resolver o seu problema, entretanto, eu mantive a palavra que só pagando os honorários. Nenhum outro advogado quis fazer de graça. Eu deixei de ser advogado e o cabra ainda estava foragido. Peço vênia aos ilustres Edis da minha querida Mantenópolis para proclamar o seguinte: Muito obrigado a quem votou em mim. Aos milhares que  votaram  em outros candidatos: Deus seja louvado. Se eu entro para política teria parado de estudar e não tinha alcançado o meu objetivo.


Autor: Creumir Guerra


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