A pesquisa sociolinguística



TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 2001.
Resenha Informativa
Ione Barbosa de Oliveira1
O livro “A pesquisa sociolingüística” apresenta ideias, conceitos, exemplos e problemas sobre as batalhas travadas entre as variantes linguísticas. Propõe-nos a descrever, analisar e resolver o universo da língua falada, que o autor denomina de “caos” linguísticos. O livro traz aspectos importantes sobre a língua, sua relação com a sociedade, sua heterogeneidade e variação. Discute também sobre o modelo de analise sociolinguística e a coleta de dados para se fazer uma pesquisa.
O livro está dividido em oito capítulos: A relação entre língua e sociedade; O fato sociolinguístico; A variação linguística: primeira instância; A variação linguística: segunda instância; Variação e mudança linguística; Conclusões; Vocabulário crítico e Bibliografia comentada.
No capítulo 1, o autor levanta alguns questionamentos sobre o desconforto que a língua falada causa no indivíduo e traz a possibilidade de tentarmos processar, analisar e sistematizar o universo da língua falada. O autor propõe-nos a enfrentar o “caos” da língua falada tendo como ponto de partida sua relação com a sociedade e tendo como objeto de estudo a variante linguística, já que a língua falada é heterogênea e diversificada. Por tanto os principais objetivos do livro é aprender a analisar e sistematizar as variantes linguísticas.
 O autor apresenta-nos também o iniciador do modelo teórico metodológico Willian Labov, com sua proposta de reação à ausência do componente social no modelo gerativo, seu modelo é também conhecido como “sociolingüística quantitativa”, por lidar com números e estatísticas.
As diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com mesma verdade o autor chama de variantes linguísticas e a esse conjunto de variantes de variável. O autor propõe-nos alguns passos para sistematizar a variação da língua, vejamos: levantamento de dados da língua falada, descrição da variável, análise de fatores condicionadores, encaixamento e projeção histórica da variável. A variação livre não encontra respaldo nesse modelo.
As variantes de uma comunidade encontram-se sempre em concorrência: padrão, não-padrão, conservadoras, inovadoras de prestígio e estigmatizadas. Em geral a variante considerada padrão é aquela que tem prestígio e é conservadora. Já a inovadora é a não-padrão e estigmatizada pela sociedade.
No capítulo 2, o autor traz a reflexão sobre a relação entre teoria, método e objeto. A linguística tem uma teoria própria, um objeto de estudo específico e um método que o caracteriza. É ainda nesse capítulo que o autor introduz o conceito de língua falada, que é o veículo linguístico de comunicação e o vernáculo como a língua que nós usamos no nosso dia-a-dia com familiares e amigos em lugares informais. Para a análise sociolinguística é necessário uma enorme quantidade de dados, pois para se chegar a resultados quantitativos e significantes sobre a variável é preciso muito material de análise, e para isso o pesquisador-observador não deve participar diretamente na comunicação com o informante.
O autor explica que o objetivo do método de entrevista sociolinguística é o de minimizar o efeito negativo pela presença do pesquisador na coleta de dados. Portanto o pesquisador deve se manter neutro e tentar tornar o mais natural possível sua presença na comunidade. Labov acredita que a narrativa de experiência pessoal tira do informante qualquer tipo de preocupação com a forma e sua estrutura segue os seguintes passos: resumo, orientação, complicação, resolução, avaliação e coda.
O autor busca ainda esclarecer alguns questionamentos que podem surgir ao pesquisador no momento da pesquisa e dá então alguns conselhos: não deixar claro que o objetivo é estudar a língua, esclarecer que a fita gravada pode ser inutilizada a pedido do informante, acomodar o comportamento e a língua à comunidade, tentar minimizar o efeito negativo de sua presença e a do gravador, tentar entrar na comunidade por meio de terceiros, amostragem aleatória e estabelecer parâmetros rígidos na seleção dos informantes.
No tópico as “células” o autor tenta estabelecer para o pesquisador critérios a serem observados, dados que mostram o caráter da pesquisa como: sexo, idade, classe social e a quantidade de entrevistados. Surge, então, uma pergunta, o que fazer com os dados não-naturais? O autor posiciona-se da seguinte maneira: o dado natural poderá ser usado para estabelecer hierarquia estilística de desempenho do informante e além desses dados que estarão gravados, poderão ser elaborados testes de língua sobre a variante linguística. Recomenda-se também a diagramação da entrevista da seguinte maneira: pergunta-resposta, números de intervenções, narrativas provocadas, espontâneas e subsequentes.
No capítulo 3, o autor vem mostrar a descrição detalhada das variantes que ele denomina de envelope de variação. Segundo a proposta de Labov a concepção do modelo sociolinguístico pode ser sincrônico e diacrônico e que se comparar as variantes de mesma natureza em línguas diferentes pode ter duplo objetivo: descrever, analisar e sistematizar o envelope de variação e comparar os resultados das análises. As variantes correspondem a certos contextos que são favorecidos por fatores condicionadores. As hipóteses são dadas a partir do levantamento de todos os contextos que influem na realização de uma variável.
Para facilitar a quantificação de dados o autor propõe alguns passos para análise de grupos de fatos: contexto fonológico, posição da variável, classe morfológica da palavra e o estatuto morfológico da palavra que contém a variável.
O encaixamento linguístico da variável é a motivação das hipóteses dos grupos de fatores. Já o fator extralinguístico é tudo aquilo que não for estritamente linguístico. A formalidade ou informalidade, o nível socioeconômico, a escolaridade, a faixa etária e o sexo do falante podem ser considerados fatores condicionadores.
No capítulo 4, o autor discute a avaliação de variantes linguísticas do ponto de vista do informante. Tendo em vista três fatores importantes responsáveis pela implementação de uma ou outra variante: a distribuição geográfica, a ocupação e a faixa etária. Também propõe como o pesquisador proceder diante da pesquisa: observar diferenças no desenvolvimento do falante, o vernáculo ou não, estigmatizado ou de prestígio e padrão ou não. Submeter o informante a uma situação experimental fazendo uma espécie de teste sociolinguístico. Teste de percepção, pedir ao informante que se manifeste em relação à aceitação ou não de certas variantes. Teste de produção mecanismos que levem ao informante a construir a variável. Percebe-se também que nos textos media nota-se ainda que em escala bem menor a presença das variantes não-padrão.
A estrutura da língua pode ser relacionada ao uso e as diferenciações que podem ser feitas pelas escolhas dos falantes. Tarallo fala também da necessidade de incluir noções de uso linguístico e sociolinguístico que caracterize uma comunidade nos modelos gramaticais.
No capítulo 5, Tarallo aborda que nem tudo que varia muda, mas que toda mudança pressupõe variação que aponta para duas direções: variação estável e mudança em progresso. O sistema linguístico encontra-se em dado momento sincrônico com características variáveis. As forças que atuam no momento presente são as mesmas que atuaram no passado.
Tarallo diz que se o uso da variante mais inovadora for mais frequente entre os jovens, decrescendo em relação à idade temos uma situação de mudança em progresso. Já se tratando de fatores sociais, os grupos sociais mais altos observam-se os índices mais elevados das variantes de prestígio e o menor uso da variante estigmatizada.
Para se proceder a um encadeamento histórico da variável no tempo real o pesquisador tem que se valer de atlas linguísticos, texto em prosa, cartas pessoais, diários e textos teatrais são documentos que podem fornecer valiosíssimos dados históricos.
O autor deixa clara a dificuldade que pode ser encontrada pelo pesquisador ao coletar esses tipos de dados, pois há uma série de mudanças, principalmente, quando a mudança for evidenciada em um tempo aparente e pra isso o investigador precisa dar à variável a dimensão histórica do tempo real. Algumas dimensões devem ser consideradas: fatores condicionadores, encaixamento, avaliação transição e implementação.
No capitulo 6, o autor apresenta suas conclusões evidenciando que a heterogeneidade da língua falada é uma questão de aparência e não exclui a noção de sistema e sim relacionam-se entre si. E que há dois caminhos das variantes, estabilidade e coexistência do sistema. Fala da importância e necessidade de incorporação dos pressupostos teóricos e metodológicos ao pensamento linguístico atual, frisando a necessidade da linha de pesquisa no momento sincrônico. Por fim, o autor questiona sobre as variáveis universais que são os fatores condicionadores linguísticos e não linguístico que aceleram o processo de mudança na língua.
O livro traz aspectos muito importantes sobre pesquisa e como se pesquisar. Sua linguagem não é tão clara e tampouco uma leitura muito agradável, mas isso não impede seu entendimento. O livro “A pesquisa sociolinguística” apesar de ter muitos termos, por muitos, ainda desconhecidos apresenta-nos o mundo da língua falada e seu pesquisador mostrando na prática como ocorrem as variações. Acreditamos que a leitura desse livro é obrigatória para estudantes que querem arriscar na área da pesquisa sociolinguística ou conhecer um pouco mais do mundo “caótico” da língua falada. Pois Tarallo trata desse assunto com muita propriedade, inclusive mostrando meios e tirando dúvidas de como pesquisar nessa área.   
 

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Autor: Ione Barbosa De Oliveira


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