Disciplina e indisciplina na escola



DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA ESCOLA

 

Ivan Eudes Gonçalves de Brito1

 

 

RESUMO

 

O presente artigo tem por objetivo destacar a importância da disciplina para o adequado processo de educação-aprendizagem, bem como compreender as possíveis causas da indisciplina escolar, levando em consideração as violências do aluno nos ambientes em que ele se encere. Propõem-se analisar a influência e o papel da família no comportamento escolar, já que esta tem participação preponderante na construção da personalidade do aluno e como conseqüência seu comportamento na escola; o papel da escola na construção da disciplina, tendo em vista que a disciplina é um fator básico para o desenvolvimento adequado do processo de ensino-aprendizagem; e tratando-se de um comportamento que é refletido nos outros setores da sociedade propor soluções para combater a indisciplina tanto em sala de aula, quanto no ambiente familiar, pelo comportamento correto da família e pela prática adequada da ação docente.

 

Palavras-chave: Indisciplina, Disciplina, Aprendizagem, Comportamento escolar

 

ABSTRACT

 

This article aims to highlight the importance of discipline to the appropriate process of education and learning, and understand the possible causes of indiscipline at school, taking into consideration the student's violence in the environments in which it closed. Propose to analyze the influence and role of family in school behavior, as this has a part in building the personality of students and consequently their behavior in school, the school's role in the construction of the discipline in order that the discipline is a basic factor for the proper development of the teaching-learning process, and this is a behavior that is reflected in other sectors of society to propose solutions to combat indiscipline both in the classroom, as in the family environment, the correct behavior of family and the proper practice of teaching activities.

 

Keywords: Indiscipline, Discipline, Learning, School Performance

 

 

 

A vida em sociedade necessita de regras que orientem as relações pessoais, que possibilitem a interação, o dialogo e a cooperação entre as pessoas. A escola, por ser também um ambiente de convívio social, também necessita de regras orientadoras para a convivência entre alunos e professores e ação da educação. Estas regras orientadoras são caracterizadas de disciplina e são almejadas pelos professores para facilitar a sua ação de coordenador do processo educativo.

Há um consenso geral entre os educadores de que sem a indisciplina não há como se levar a bom termo um processo de educação-aprendizagem.  A conceituação dos termos disciplina e indisciplina são complexos e variáveis quando tomados em certos ambientes.

O conceito de disciplina que mais se sobressai é de um conjunto de normas e regras utilizadas para manter a ordem, e no âmbito escolar, facilitar a ação do professor. Este conceito é também o mais questionado por estudiosos da área, porque passa a idéia de alunos submissos, calados, quietos que não interagem com o professor que impõem a sua idéia. O que vale ressaltar é que tal idéia pode se referir a crenças, dogmas ou costumes e que estes são tomados pela individualidade e não podem ser impostos, mas tem-se que apenas abrir caminho para que o aluno construa a suas crenças, dogmas, costumes que acaba por desembocar no conhecimento. Abrir caminho significa dialogar, exatamente o contrario do conceito de disciplina pregado pela pedagogia tradicional.

Para (Ferreira apud Coelho), indisciplina é: “todo ato ou dito contrario a disciplina, que leva a desordem, a desobediência, a rebelião”. Quanto a disciplina é “regime de ordem imposta ou livremente consentida que convém ao funcionamento regular de uma organização” (2006, p.11).

Vasconcelos apud Coelho define disciplina como:

 

A disciplina consciente e interativa é o processo de construção da auto regulação do sujeito e/ou grupo que se dá na interação social e pela tensão dialética adaptação-transformação, tendo em vista atingir conscientemente um objetivo (2000, p.16).

 

Os conceitos de disciplina e indisciplina podem ter diversas interpretações. Atualmente, disciplina significa movimento, força para se chegar a um objetivo, o oposto da disciplina pregada pela pedagogia tradicional que significava obediência, quietude, silêncio, o que acabava por transformar os alunos em receptores passivos das idéias difundidas pelo professor.

A pedagogia renovada ou escola nova opõem-se a pedagogia tradicional e defendem a liberdade e o autogoverno dos educandos. A escola e o professor, segundo esta concepção, facilitam e oferecem suporte para que os próprios alunos construam o seu conhecimento pelo próprio esforço. Sobre a pedagogia renovada Libâneo apud Oliveira (2002, p. 16) escreve: “propõe uma educação centrada no aluno, visando formar sua personalidade através de vivências e experiências significativas que lhes permitam desenvolver características inerentes a sua natureza”.

Sem dúvidas, para que o processo de aprendizagem possa desenvolver-se adequadamente não só no âmbito escolar, mas também no ambiente familiar é preciso que haja disciplina. Pela concepção atual de disciplina pode haver uma confusão que passa a idéia de permissividade e liberdade excessiva ao aluno. Não deixa de ser verdade que para aluno construir seu conhecimento ele necessite de liberdade, mas a disciplina atuaria impondo limites a essa liberdade e não deixando o aluno se desvairar e fugir do objetivo.

A indisciplina tem como origem fatores relacionados ao comportamento da família, dos professores ou da instituição educativa.

Quanto à origem da indisciplina centrada no professor “é necessário entre os pares estabeleçam-se a forma de comunicação necessária para que a aprendizagem significativa ocorra realmente” (Nunes, et. al. 2006). O não estabelecimento desta comunicação pode originar o comportamento indisciplinado, pois o aluno pode entender a falta de diálogo do professor como indiferença.

A preocupação do professor com o desenvolvimento do aluno constitui uma base sentimental para este, e o diálogo entre eles representa esta preocupação e  desfaz a percepção de indiferença, sendo assim, esta comunicação entre o aluno e o professor é um fator relevante para o comportamento do aluno.

Quanto à família a indisciplina é gerada pelo comportamento inadequado dos pais. “É em casa através daqueles que nos educam e que inicialmente nos servem de modelo, que irão se formar nossos princípios morais e éticos” (Coêlho, 2006, p.25). Estes são requisitos fundamentais para o bom comportamento nos outros setores da sociedade, inclusive na escola.

Quanto à instituição educativa, a indisciplina surge quando esta não respeita a individualidade dos alunos tendo em vista a grande diversidade de comportamentos. A este respeito, Freire afirma:

 

“Um projeto de escola que busque a formação da cidadania precisa ter como objetivos: tratar os indivíduos com dignidade, com respeito à divergência, valorizando o que cada um tem de bom; fazer com que a escola se torne mais atualizada, para que os alunos gostem dela; e, ainda, garantir espaço para a construção de conhecimentos científicos, que contribuam para uma análise criticada realidade” (Freire apud Nunes, et. al. 2006).

Uma outra justificativa para a origem da indisciplina se relaciona à personalidade do indivíduo, ou seja, a indisciplina seria inata, definida internamente por fatores biológicos, e por fazer parte do individuo não poderia ser modificada ou seria praticamente impossível modificar.

Uma outra justificativa semelhante se relaciona a fase em que o educando se encontra a infância e a adolescência:

 

Os adolescentes são de modo geral revoltados e questionadores, não adianta querer lutar contra isso. As crianças são egocêntricas, por isso apresentam tanta dificuldade em entender as regras e necessidades do grupo. Criança é indisciplinada e desobediente por natureza precisa ser domada. (Rego apud coêlho 2006, p.14).

 

Estas duas justificativas, no entanto, não levam em conta as experiências realizadas pelo indivíduo e nega o propósito de educação e consequentemente o trabalho que a escola, e a família se propõem, que é educar.

A cada dia a indisciplina se torna mais freqüente. Nos dias atuais ela se torna um problema inerente à escola e ao lar, e o processo de ensino-aprendizagem se degrada à medida que soluções não são tomadas para combater a indisciplina, que não é só problema para a escola, professores e pais, mas também perturba o próprio aluno.

O comportamento inadequado no ambiente escolar resulta em problemas pessoais que o acompanharão por toda a vida. Tais problemas se tratam de comportamento inadequado mesmo na vida adulta condicionado pela indisciplina nas fases iniciais da vida.

Cada segmento social tem seu papel, mas para que haja a disciplina é necessária uma integralização entre alunos, professores, escolas e família, e eu ambos sejam coerentes com o propósito de ensino e tenham suas responsabilidades quanto à educação. É indispensável o acompanhamento dos pais na escolarização dos filhos, pois do entrosamento dos pais com os professores resulta melhores mecanismos para o desenvolvimento do aluno e sua respectiva disciplina.

Levando em consideração as particularidades no ambiente familiar e escolar, uma vertente bastante difundida quanto ao papel dos pais na educação dos filhos é o estabelecimento de limites que está intimamente ligado à disciplina. “Os limites são fundamentais para que a criança perceba qual é o seu lugar no mundo [...] a criança por se só não tem esta percepção, por isso a família e a escola é que tem a função de dar estes limites” (Coêlho, 2006 p.26).

Os pais devem estabelecer o que é permitido e o que não é permitido aos seus filhos e devem ter autoridade, o que é diferente de autoritarismo. Disto surge a liberdade com responsabilidade, pois para que “a liberdade esteja presente é necessário ter limites” (Coêlho, 2006).

Liberdade com responsabilidade é um dos objetivos da concepção atual de disciplina, que prega a atividade, sem deixar a responsabilidade de lado, pois necessita-se dela para chegar ao objetivo de formar cidadãos críticos, participativos e autônomos.

Com relação aos professores, para manter a ordem é necessário dialogar com os alunos, estabelecer metas conjuntas, negociar objetivos e regras democraticamente.

 

Se o que deseja é uma escola disciplinada, é importante compartilhar com os estudantes expectativas que reflitam uma apreciação quanto as suas potencialidades e que expressam a visão de que eles devem assumir suas próprias responsabilidades junto à escola (Marinildes Nunes et. al. 2006).

 

Aos professores é importante não esquecer de mostrar autoridade dentro da sala, também é importante reafirmar as regras coletivas, pois “se todos estiverem de acordo fica mais fácil chamar atenção quando ocorre uma transgressão e assim o aluno que não tem disciplina, pode perfeitamente aprender a ter” (Coêlho, 2006, p.31).

É importante ressaltar que ao eleger um “aluno indisciplinado” como empecilho para o trabalho pedagógico, a categoria docente corre abertamente o risco de cometer um sério equivoco ético que é o seguinte:

 

A indisciplina é um comportamento eletivo das fases e que se encontra os educando. Não se pode atribuir à clientela escolar a responsabilidade pelas dificuldades de nosso trabalho. Na verdade os tais alunos indisciplinados podem ser tomados como ocasião privilegiada para que a ação docente se afirme. (Denise 2005).

 

Os conceitos de disciplina e indisciplina são muito complexos, mas as suas reflexões são necessárias para qualquer educador. A educação brasileira atualmente em decorrência de políticas passadas, vive um período de carência na educação que pode ser causada pela falta da disciplina. Isto é facilmente perceptível ao vermos sempre relatos de indisciplina e a má qualidade da educação. Este caso é bastante complexo já que o fator social é a causa majoritária dos problemas escolares brasileiros.

Para que houvesse realmente a escola disciplinada que se deseja, para um ótimo processo de aprendizagem, seria necessária uma grande revolução que mudasse o comportamento familiar e consequentemente o escolar. Não se deve então esperar que o comportamento familiar mude, mas o professor deve fazer a sua parte, educar os alunos de forma ética e assim combater a indisciplina e renovar uma geração.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

COÊLHO, Francisca Pinto de Sousa. A indisciplina escolar e suas implicações na aprendizagem.  (monografia), Crato-Ce, 2006, p. 35.

 

Denise (Blog). Disciplina escolar, um elemento de educação, 2005. Disponível em: <http://marismartins.blog.uol.com.br/.> Acesso em: 13 dez. 2008.

 

FERREIRA, Luiz Antonio Miguel. A indisciplina escolar e o ato infracional. Disponível em: <http://www.acaoeducativa.org.br/dowloads/a_ind_esc_ato_inf.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2008.

 

NUNES, Marinildes Figueredo; SANTOS, Claudevone Ferreira dos. A indisciplina no cotidiano escolar, 2006. Disponível em: <http://www.fja.edu.br/candomba/2006-v2n1/pdfs/MarinildesNunes2006v2n1.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2008.

 

OLIVEIRA, Cícera Dutra de. Disciplina e indisciplina na escola: uma questão pedagógica ou social? (Monografia) Crato-Ce, 2002, p. 61.

 

 

 

1Acadêmico do VIII semestre de Biologia – URCA

E-mail: [email protected]

Download do artigo
Autor: Ivan Eudes Gonçalves De Brito


Artigos Relacionados


Indisciplina No Contexto Escolar

Indisciplina Na Escola Como Fator Determinante No Processo Ensino Aprendizagem: A ExperiÊncia Da Escola SÃo Francisco Em Marco ? Ce.

A Percepção Dos Professores Sobre A Indisciplina Escolar: Um Olhar Sobre O Comportamento Infantil

Indisciplina

Disciplina E Indisciplina Na Escola

Unindo Forças Na Construção De Relações Educativas, Diante Da Indisciplina Escolar

Um Estudo Preliminar Acerca Da Indisciplina Em Séries Iniciais Do Ensino Fundamental I: A Percepção De Atores Sociais Numa Instituição Escolar