Aeroporto



Cheguei ao aeroporto de Fortaleza. Senti aquele calor gostoso de que tanto ouvi falar orgulhosamente. Vestia a minha roupa habitual: uma camiseta branca, um jeans surrado e um All Star, que não importava a cor, mas era azul. Minha visão estava bem fumê devia ser os óculos escuros de dez reais.

Ela me esperava, mas eu ainda não a tinha encontrado. Meu coração pulsava cada vez mais forte, sentia o sangue percorrer mais quente sobre minha face.

Será que ela tinha as mesmas expectativas? Foram cinco anos. E confesso que eu vivi em uma montanha russa em diversos sentimentos fuzilantes, ela já me disse tantas vezes suas decepções. Agora era a hora da verdade, não era mais eu e minha cabeça imaginando ou inventando sonhos. Há um tempo eu caía nessas armadilhas do amor. Depois de um tempo vivido e intenso querendo liberdade, me descobri mais ainda. Meio que amadureci, sabe? Será que agora nós vamos ser capazes de tudo? Duas apaixonadas nas ruas, assistindo o pôr-do-sol de Fortaleza, ou até comendo alguma coisa em algum boteco. Pior é se nessa hora ela tiver dúvida. Será? São cinco anos. Mas não posso me prender ao tempo, foi o que eu disse a ela. “O que é o tempo com uma pessoa se você não sente nada?” só penso que é impossível crer que não sentimos nada nesses cinco anos.

Medo. Não sei se é essa palavra mesmo. Por isso estou confusa no que eu posso sentir quando a ver. Ás vezes me vem um sentimento de dúvida também, mas não da parte dela, ela se sentiria mais insegura se eu dissesse que eu já questionei esse amor? Foi em momentos que a vibração dela não encontrava a minha, quando achei que ela não se importava comigo. E eu não posso mais demonstrar tanta carência, foi a regra número um imposta com o tempo vivido.

A merda foi que esse tempo vivido foi aconselhado por um amigo apaixonado que sabe que sua fraqueza é sua mulher, só não demonstra porque não quer ser o fraco.

Mas eu já não ligo pras regras eu já fui lamber as ruas e cheguei às nuvens nessa montanha russa, agora sou eu e ela. Ela deve estar me esperando, mas eu estou enrolando pra não ter que olhar nos olhos dela e me sentir imóvel como no sonho, eu tenho que ter a atitude.

Agora parece que tomei uma injeção de autoestima. Sorrio sozinha, ninguém me verá por detrás destes óculos e se olhar, que imaginem que sou uma louca ou o motivo pelo qual eu sorri. São só mais cinco minutos. Estou com sede, quero uma água. Arrasto a mala até alguma dessas lanchonetes de lâmpadas coloridas e peço ao rapaz de blusa listrada uma água gelada. Olho as pessoas passarem e reparo que se passou os cinco minutos.

Meu celular toca. É ela. Meus dedos dos pés gelam novamente, não podia falar com ela agora, porque o agora mesmo ia ser daqui a pouco, mas porque eu ainda enrolava? Mais uma injeção, por favor? Reflito tomando bastante água. Sua autoestima está ótima baby, é que depois de tanto tempo de telefonemas, e-mails e fotos chegou sua hora da verdade, bota esse medo filho da puta pra correr e vá conhecer sua garota.

Imediatamente coloquei o celular no bolso e comecei a arrastar minha mala preta de novo em direção a porta de desembarque. Não precisava daquela garrafa como bengala de apoio na primeira lixeira que vi, joguei fora com muita força. Adrenalina, amor, pretinha. Adoro essa combinação. Eu sorri de novo e não parei mais meu coração estava em arritmia mesmo. Passei pelo portão e vi muita gente se encontrando, e até aqueles homens-placa que seguram umas plaquinhas com nomes de pessoas, e eu pensava que isso só existia em filmes.

Onde ela está? Comecei a ler os nomes pra ocupar minha mente. Dr. Menezes. Suzana Mota. Márcio Muniz. Cansei. Meu celular tocou de novo e eu sabia que era ela, mas não atendi de novo. A nossa hora da verdade estava tão perto.

Eu passei por tanta gente e não a vi, será que ela estava querendo dizer algo? Eu estava no centro e bem controlada até ocupei minha mente, mas tive que roer minhas unhas a situação estava meio crítica nos meus pensamentos, ela desistiu?

Eu ouvi uma voz me advertindo atrás de mim. Que foi reproduzida numa frequência tão perfeita que ela fibrilou meu coração e acabou com a arritmia não mortal. Tentei não virar tão depressa, mas meu corpo agiu sozinho em um giro de cento e oitenta graus e o retorno azedo da água que eu havia bebido chegou ao fim da minha garganta.

Tentei dizer alguma coisa entre meus balbucios, mas minhas cordas vocais decretaram greve naquele momento. Ela abriu um sorriu que me lembrou um dia ensolarado sobre uma plantação de girassóis. Visto que a greve continuava consegui abrir um sorriso foi o bastante para ela começar de novo. Toda determinada com rasteiras que escondiam seus tornozelos se aproximou de mim com olhos cor de madeira. Era tão linda muito mais linda do que nos meus sonhos lúcidos, sua boca robusta me convidava a dar um beijo, aquelas mechas encaracoladas que me seduziam a milhas de distância agora estavam finalmente ali perto de mim suplicando toques e carinhos.

Tê-la em meus braços me fez pensar finalmente está acontecendo! Agradeci a Deus de olhos fechados, viciada em seu perfume beijei sua nuca. Ela se encabulou e ficou ainda mais atraente, estendeu sua mão em minha direção e disse: vem viver o resto desta tarde comigo. Sem pensar duas vezes peguei minha mala e dei minha mão sem prestar atenção em mais nada. Nem pros olhares cheios de pudor, porque eu estava explodindo, sentindo a felicidade bem ali no aeroporto.


Autor: Rafaela Mousbacc


Artigos Relacionados


O Mar

Liberdade De Voar!

Orgulho

Escute-me

Amor Em Meio Ao Impossível

A Felicidade E O Momento Que Vivemos.

Bate Papo Entre Duas Mulheres