Meios de comunicação: integração ou exclusão?



Com o advento da Globalização nas últimas décadas, são evidentes as mudançasocorridas nas sociedades, tanto no campo social, econômico, político e cultural. Na base de toda estas modificações está as tecnologias, que reverte até mesmo o papel do conhecimento no processo de produção.

Condições para que essa Globalização pudesse se desenvolver foram a interconexão mundial dos meios de comunicações e a equiparação da oferta de mercadorias, das moedas nacionais e das línguas, o que se deu de forma progressiva nas

últimas décadas. A concentração do capital e o crescente abismo entre ricos e pobres (48 empresários possuem a mesma renda de 600 milhões de outras pessoas em conjunto) e o crescimento do desemprego (1,2 bilhões de pessoas no mundo) e da pobreza (800 milhões de pessoas passam fome) são os principais problemas sociais da Globalização neoliberal e que vêm ganhando cada vez mais significado.
Por outro lado o processo de Globalização proporcionou uma maior integração entre os países, difusão de tecnologias por meio de inúmeros recursos de comunicações, com a disseminação de padrões de consumo, a internacionalização da economia, a interação entre as nações e suas culturas e o acirramento das diferenças socioeconômicas e culturais.
O desenvolvimento tecnológico, proliferado em escala planetária, causou uma verdadeira transformação na vida das sociedades, pois, estas vivem norteadas pelo
"mundo das informações" acelerando e aumentando em sentido dicotômico a criação de novas classes sociais. Desta forma, a grande busca é tentar conciliar o desenvolvimento tecnológico com o desenvolvimento humano, partindo do pressuposto de que estes podem ser excludentes, complementares ou antagônicos, tudo depende do posicionamento tomado pelas sociedades. O binômio capital/trabalho é substituído pela tríade capital/trabalho/conhecimento, destacando e enfatizando um novo e particular conceito de conhecimento.

É evidente que essa situação tem efeitos sobre a cultura da humanidade, especialmente nos países pobres, onde os contrastes sociais são ainda mais perceptíveis.
Em função da exigência de competitividade, cada um se vê como adversário dos outros e pretende lutar pela manutenção de seu lugar de trabalho. Os excluídos são taxados de incompetentes e os pobres tendem a ser responsabilizados pela sua própria pobreza.
Paralelamente a isso, surge nos países industrializados uma nova forma de extremismo de direita, de forma que a xenofobia e a violência aparecem entrelaçada com a luta por espaços de trabalho. É claro que a violência surge também como reação dos excluídos, e a lógica do sistema, baseada na competição, desenvolve uma crescente
"cultura da violência" na sociedade. Também não podemos esquecer que o próprio crime organizado oferece oportunidades de trabalho e segurança aos excluídos.
Em relação ao Brasil o país está muito distante dos países desenvolvidos em relação ao acesso aos meios de comunicação. Atualmente, no Brasil é evidente que a exclusão tecnológica atinge uma parcela grande da população (Aras). A partir disso, podese notar uma relação extremamente mútua entre a exclusão digital e social. Uma pequena parcela da população tem acesso a computadores e à Internet e nosso país tem muito a caminhar no sentido de garantir mais igualdade entre os seus cidadãos (Síntese de Indicadores Sociais - IBGE 2006), "pois para entrar no mundo digital, é necessário estar no mundo alfabetizado" (GALVAO, 2003).. Apesar de a situação do Brasil ser crítica, existem países em piores condições, tanto na América quanto nos continentes Africano e Asiático.
Talvez em outros países a exclusão digital pudesse ser abordada de forma separada da exclusão social, mas é impossível falar da exclusão digital sem mencionar os outros problemas existentes na sociedade brasileira, como as desigualdades sociais, o analfabetismo, desemprego, baixa renda e educação. A exclusão social e a exclusão digital são mutuamente causa e conseqüência. Os fatores da exclusão social aprofundam a exclusão digital e a exclusão digital contribui para o aumento da exclusão social (AMARO, 2004).
As desigualdades sociais é também marcante no mundo globalizado: os países ricos usufruem as vantagens da Globalização e os países pobres enfrentam muitos problemas para competir em uma economia de mercado dominada pelos mais poderosos.
A pobreza e a riqueza no interior dos países também são visíveis: de um lado, um grupo social privilegiado que consome o que de melhor se produz no mundo, e, de outro, os cidadãos que vivem a exclusão e a falta de oportunidades para sobreviverem dignamente. Vivemos em um mundo cheio de conflitos e contradições.
Verifica-se que o desenvolvimento tecnológico é um dos principais fatores causadores da exclusão social, pois, uma sociedade totalmente antagônica no que se refere ao poder aquisitivo de sua população, faz com que a grande maioria desprovida de meios para tornar-se "tecnologicamente incluída", torne-se cada vez mais excluída no mercado de trabalho, uma vez que este exige conhecimentos tecnológicos. É esta revolução tecnológica que transformou uma massa industrial de reserva de desempregados numa massa proletária incapaz de vender a sua força de trabalho no mercado mundial.
Para a inclusão tecnológica, há um consenso de que a única solução possível quando se fala no tema da exclusão tecnológica seriam programas de inclusão social e tecnológica. O impacto provocado por este avanço tecnológico, não fica resumido a apenas à comunicação e a informação, pois com o encurtamento ou inexistência das fronteiras, provocado pela Globalização dos meios de comunicação, leva a um novo conceito de tempo real, onde os ganhos e perdas são quase que instantâneos. Além das conseqüências prejudiciais de exclusão na vida dos indivíduos, contribuem também para agravar o conflito entre povos. As potências ficam mais ricas e os países pobres ficam cada vez mais pobres. O controle sobre os avanços tecnológicos não ficam acessíveis aos países mais atrasados, aprofundando as diferenças e as disparidades.
Embora tenham sido desenvolvidos e disponibilizados mais meios de comunicação, presenciamos um crescente isolamento dos indivíduos, de forma que as alternativas de socialização têm sido, paradoxalmente, reduzidas. A exclusão de muitos grupos na sociedade e a separação entre camadas sociais têm contribuído para que a tão propalada integração entre diferentes povos não se efetive, pelo contrário, isso têm levado a um processo de atomização da sociedade. O valor está no fragmento, de modo que o engajamento político da maioria ocorre de forma isolada como, por exemplo, o feminismo, o movimento ambientalista, movimentos contra a discriminação ética e sexual, etc. Tudo isso sem que se perceba um fio condutor que possa unificar as lutas isoladas num projeto coletivo de sociedade.
Portanto, é de nosso interesse que entendamos a Globalização principalmente, a Globalização Digital, para que observemos ambas as faces proporcionadas por ela: o lado excludente e a inclusão. Assim, por meio de pesquisas procedidas de reflexões, procuramos a obtenção de dados que nos permite chegar a uma única conclusão sobre a Globalização: seria ela, realmente, global?
(Gilson Marcos Pagés - Professor de Geografia)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARO, R. R. A Exclusão Social Hoje. Disponível em

[ http://www.triplov.com/ista/cadernos/cad_09/amaro.html]. Acesso em 24 de janeiro de 2012.
ARAS, V. Exclusão Digital: o que é isto? Disponível em

[ www.suigeneris.pro.br/excldig.htm]. Acesso em: 19 de janeiro 2012.
GALVAO, A. Analfabetismo Digital: Seção e-Notícias do site Observatório da Imprensa, Edição 217, Março 2003. Disponível em

[ http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/eno260320031.htm]. Acesso em: 20 de janeiro 2012.
Neoliberal

- doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo.

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