Decadência do jiu jitsu no mma?



Há vinte anos, Royce Gracie chocava o mundo subjugando campeões fortes, pesados e versados em técnicas agressivas de luta e consagradas mundialmente, tudo isso apenas com base na tradição de sua família e um Kimono. No final dos eventos que participava, o magrinho brasileiro triunfava e tanto ele quanto o adversário saiam do confronto sem nenhum arranhão, totalmente limpos, o interessante é que o vencido e o público não entendiam o que tinha acontecido, restavam-lhes apenas um sentimento de frustração.

O Jiu Jitsu brasileiro (JJB) também demonstrou com outros expoentes brasileiros que ser um Gracie não era o predicado indispensável para o sucesso nos eventos de Vale-Tudo, mas sim que naquela época o JJB era uma arte marcial muito bem adaptada para neutralizar com facilidade, os diversos tipos de agressão num cenário radical de luta.

O radical Vale-Tudo evoluiu e se tornou no popular Mixed Martial Arts (MMA), um combate antes clandestino com poucas regras (não era permitido perfurar olhos, puxar tecidos e morder, mas até atacar a virilha e espinha dorsal era permitido) transformou-se num esporte com diversos requisitos, profissionalizando a atividade que segundo a mídia especializada, é o evento esportivo que mais cresce no mundo.

A própria mídia nacional que muito relutava em divulgar o evento, rendeu-se ao esporte sob pena de ficar para trás, pois o mundo todo já há muito tempo apreciava o MMA, enquanto no Brasil muito pouco era divulgado a respeito.

Exceto no meio das artes marciais, os brasileiros em geral não faziam a menor idéia de que os seus conterrâneos são ídolos internacionais neste esporte, que usufruem da admiração mundial, inclusive de príncipes do Oriente Médio, ou seja, tornaram-se verdadeiros heróis, lendas, patrimônios públicos, enquanto em seu país de origem não passavam de anônimos.

Entretanto, apesar de tudo isso, cada vez menos nos eventos de MMA observa-se o destaque do Jiu Jitsu Brasileiro, prevalecendo reprises de nocautes e desistências pela imposição de técnicas de impacto, provenientes da Trocação em pé e do Ground and Pound no solo.

As clássicas técnicas de JJB, como as inversões, imobilizações e finalizações, ainda ocorrem, mas como uma situação que se manifesta aleatoriamente durante a peleja da Trocação ou do Ground and Pound, quando o adversário em tese “vacila” nessas situações, permitindo ser submetido.

As tradicionais estratégias do JJB como finalizar ou inverter o jogo da luta a partir da guarda, como também encurtar a distância, levar ao solo, imobilizar e finalizar, cada vez menos são usadas como meio de controle e busca de definição da luta no MMA, como um caminho eficiente nas lutas marciais mistas.

Faixas-pretas de JJB incontestáveis, em especial brasileiros, que dominavam com facilidade o cenário do MMA, começaram a entrar em crise e perder presença nestes eventos, alguns se mantêm, mas percebe-se que a linha de ação deles migrou para outras técnicas de luta, por não conseguirem mais impor o seu jogo tradicional.

Pelo contrário, observam-se praticantes de JJB em outros níveis de graduação (verde, azul e roxa), mesmo sem as condições de um faixa preta, prevalecerem no MMA por seguirem no caminho da Trocação ou do Ground and Pound, haja vista terem alavancado o seu jogo com outras técnicas provenientes do Wrestling, Boxe e Muay Thai, dispensando o nível de treinamento competitivo que se dedica um faixa preta na prática do JJB.

Diante disso, diversas discussões surgiram nos fóruns especializados, mas no final todas giram em torno de uma pergunta : o Jiu Jitsu Brasileiro está decadente no MMA?

Para refletir sobre isso é necessário considerar alguns pontos:

1 - O praticante de JJB evoluiu demais em técnicas sob um enfoque esportivo, esquecendo o enfoque de defesa contra qualquer tipo de agressão, cujas variáveis são bem mais complexas, por conta disso, as técnicas de defesa estagnaram na geração de Helio Gracie e o praticante de JJB não é mais capaz de defender-se das agressões que surgem, em especial num cenário de MMA.

A parte esportiva do JJB tem o seu papel, pois contribui para o praticante desenvolver o senso cinestésico, o ritmo das técnicas e a educação física, porém, isso não pode ser levado ao ponto de atrofiar os elementos essenciais da arte, como vem ocorrendo.

Quantos praticantes de JJB conhecem as técnicas de defesa desenvolvidas por Hélio Gracie? Pior, quantos praticantes de JJB praticam técnicas de defesa de armas brancas e de fogo, assim como se observa no Aikido? Quantos estão conscientes do risco de mordidas, perfuração nos olhos e outras ações de uma agressão real, questões tão relevantes quanto à importância de dominar a luta de solo, isso é exigido de um faixa preta? É exigido pela arte marcial que argumenta ser a mais eficiente na defesa pessoal e no confronto estilo a estilo?

A busca pelo entendimento do conflito e sua composição de forma harmônica, não violenta, só pode ser vivenciada num cenário que sob controle reproduza as variáveis de uma agressão real, é o elemento essencial das verdadeiras artes marciais, algo bem diferente de uma competição esportiva ou de um treinamento para a guerra ou de uma mera briga de rua.

Interessante observar que a questão está principalmente no enfoque dado às técnicas e estratégias utilizadas e não nestas em si mesmas, vejamos o caso do triângulo, quando praticado dentro de um contexto esportivo, o praticante não está preocupado se vai sofrer um bate estaca, porque é proibido, assim, fica instintivamente condicionado a ignorar esse risco, um luxo inadmissível num contexto de defesa, em que tudo muda, um exemplo disso é a luta em que Arona é finalizado por Jackson com um bate estaca, quando o submetia a um triângulo.

Diante desta questão, os atletas de JJB acabam reduzidos a modelos mentais que os expõem ainda mais a situações de risco, desprotegendo ao invés de proteger, não só fisicamente, mas na dimensão psicológica também, indo contra o principal sentido que desenvolveu as técnicas e estratégicas do antigo Jiu Jitsu para o atual JJB: proteger o mais fraco em qualquer situação, tanto em pé quanto no chão.

2 - As regras de luta e exigências contratuais do MMA prejudicam a correta execução das técnicas e estratégias do JJB, por exemplo: encerramento do round quando o praticante de JJB tem uma posição dominada ou uma finalização encaixada, pressão dos dirigentes para que os lutadores sejam cada vez mais agressivos, sob pena de tornarem-se desinteressantes e os contratos não serem renovados.

Como pode se observar, o MMA gera diversas artificialidades que não condizem com as propostas das artes suaves, não condizem com o JJB, senão vejamos, as técnicas de controle de corpo são preferidas pelos praticantes das artes suaves em prejuízo dos golpes traumáticos (são usados, mas como complemento), haja vista o risco de fratura das mãos, bem como manifestar agressividade, apesar de serem artes que possibilitam aos usuários causar os piores danos, caso desejem.

Vejamos o caso do Aikido em que as suas técnicas são extremamente perigosas, capaz de direcionar o corpo do agressor para o sentido que desejar e assim, ter a sua cabeça projetada contra o solo, parede ou outra extremidade sólida, todavia, o objetivo das técnicas suaves não é causar o resultado destrutivo, mas sim, controlar as causas, controlar a agressividade e amenizá-la ao máximo, buscando a composição do conflito por meio de ações que levam o agressor a desistir de sua intenção violenta, sem sofrer lesões e se isto ocorrer, controlado para o mínimo possível.

As apresentações de Royce Gracie é um bom exemplo, em que ele e o adversário na maioria das vezes saiam limpos, sem nenhum arranhão, vejamos o caso em que enfrentou o gigantesco Dan Severn e o fez desistir apenas com um estrangulamento, não deixando um único trauma.

Essa situação não existe no MMA, os seus atletas têm as mãos imobilizadas com faixas e luvas, assim, além de protegidas de lesões, tornam-se também numa arma poderosa, uma vez que favorece o poder de “punch”, isso contribui para prevalecer o jogo agressivo de Trocação e Ground and Pound, em prejuízo do tradicional caminho das artes suaves. 

Trata-se de um evento comercial que vive de lucro, portanto, o MMA precisa de publicidade e para isso necessita apresentar lutas emocionantes, com intensa movimentação e plasticidade agressiva, cheias de joelhadas, caneladas, chutes e cotoveladas no rosto, além de socos, ou seja, a lutas são verdadeiros produtos comerciais da violência.

Isso não faz parte das características do JJB, que é uma arte cuja estratégia baseia-se na cadência (a técnica do JJB não se manifesta em uma única ação explosiva, mas numa coordenação de ações mediatas e de baixa intensidade), ininterruptividade (uma luta de JJB não permite ser interrompida e ser reiniciada do zero, pois consiste no trabalho de progressão das posições) e senso de oportunidade (a técnica possui um tempo certo para ser aplicada, sendo necessário aguardar o seu momento).

Além disso, as ações desenvolvidas no JJB são pouco agradáveis esteticamente (ver dois marmanjos de pijama-kimono agarrando-se é muito chato) e de baixa percepção visual (é uma arte cinestésica, tanto que um deficiente visual pratica o JJB melhor que muitas pessoas dotadas de visão), o que exige certo nível de maturidade técnica para entender a dinâmica de sua luta, perfil este que não é presente no público geral do MMA, formado por leigos, cuja expectativa é apenas a emoção do entretenimento.

Em razão dessa situação, um cenário restrito, o expoente de JJB estagna em sua arte suave por entender ter esgotadas as opções de crescimento, decidindo então buscar desenvolvimento em outras lutas do MMA, justificado no fato de ter escolhido o Mixed Martial Arts como meio de vida (profissão), destaca-se nesse caso a evasão de praticantes brasileiros de JJB.

Entretanto, observamos ainda alguns estrangeiros marcarem destaque no MMA pelo JJB, como Frank Mir (USA), que finalizou a lenda Rodrigo Minotauro com uma técnica do JJB (Kimura), aliás, já especularam renomear o JJB para “American Jiu Jitsu”, talvez, mais uma estratégia de marketing, dentre tantas que surgem, na era do espetáculo das lutas marciais mistas.

3 - O desenvolvimento do JJB como arte marcial de defesa é lento, pois se realiza num processo profundo e gradual de acumulação de conhecimentos, para então revelar o seu saber, tudo fruto da interação de conhecimentos tácitos (prática) e explícitos (instrução), isto porque, por ter como essência o princípio suave, consiste em perceber o ponto fraco, em descobrir a exceção, no sistema do agressor mais forte, bem como em cima disso criar técnicas e estratégias que não dependam da força bruta e alto condicionamento físico, o que consome anos e gerações de praticantes.

Essa questão, cuja natureza é de pura inteligência competitiva, não recebe uma atenção adequada no JJB, assim, não consegue compensar a dificuldade da lentidão ante a velocidade do MMA, haja vista ainda ser uma arte marcial que não gerencia o seu saber com maturidade, ao contrário de outras artes marciais que não só formam lutadores, mas principalmente, mentores, escolas e em especial: aprendizes, enquanto isso, o processo de conhecimento do JJB ainda está estruturado de forma limitada, apenas em nível básico de agremiações esportivas, equipes e competidores, em que o conhecimento fica muito difuso e estático.

Culturalmente no JJB os competidores de ponta são os consagrados a mais alta graduação, a faixa preta, quando não professores, é confundida a figura do atleta (executor) com a do formador (conhecedor), aquele que pela vivência da arte suave é capaz não só de executar técnicas e estratégias, mas principalmente, em percebê-las profundamente a ponto de organizar e reorganizar aquilo que conhece, seja quanto ao jogo do JJB, seja quanto aos seus praticantes.

A ponto de adquirir condições para influenciar os que iniciam e transformar os que seguem na prática do JJB, tornando-os não só atletas, mas principalmente, em pessoas que pelo JJB conseguem aprender a habilidade de inteligência, tornando-as capazes de criar soluções pela sensibilidade racional e intuitiva, a fim de realizar coisas positivas dentro e fora dos tatames, não só na esfera pessoal, mas também na coletiva, gerando conhecimento contínuo, consequentemente, isso implica na manutenção constante do saber que a arte marcial detém.

É interessante que isso se manifesta mais pelo nível de envolvimento e dedicação que o praticante tem com a arte, na medida de suas condições, tornando-se algo duradouro e constante que vai acompanhá-lo a vida toda, do que pelo seu desempenho em competições, algo temporário e precário que vai encerrar em sua fase atlética, igual acontece com os nossos craques do futebol que ao atingirem certa fase, não têm mais relevância num cenário em que o principal papel é o do atleta e não o do treinador.

O uso da variável desempenho competitivo é um critério limitado para a concessão de graduação técnica e habilitação para transmitir conhecimento, até porque é válido apenas quanto ao aspecto de resultado competitivo, ou seja, define apenas classificação em evento esportivo para ajudar a organizar sua realização (chaves para casamento de lutas, montagem de circuitos, distribuição de premiações etc.).

Até porque, fora desse cenário (desempenho competitivo), essa variável não se adequa a realidade de gerenciamento de conhecimento, pois, neste enfoque, cada ser humano é único, com características próprias e que manifesta potencialidades e talentos próprios, não sendo admitido mensurar um em relação ao outro, saber quem está à frente de quem, igual a uma disputa de cavalos de corrida, muito menos graduá-los em uma única escala, pois ao contrário dos cavalos que correm numa única pista, cada pessoa tem a sua própria e particularizada.

Isso é tão óbvio que até nos eventos esportivos se percebe que essa variável não é absoluta, assim, não é adequada para determinar quem se encontra em certa “graduação técnica”, quantas vezes não presenciamos no próprio MMA o lutador A vencer o lutador B que por sua vez já venceu o lutador C que em outra luta já tinha vencido o lutador D que numa luta seguinte venceu o lutador A?

Se o JJB tem por natureza a inteligência competitiva, não sob o conceito de medir forças com algo, mas sim dentro do objetivo de adaptação às adversidades e oportunidades que um cenário em constante transformação apresenta, onde as artes marciais se encaixam perfeitamente, é preciso priorizar medidas de gestão do seu conhecimento, sob pena de sucumbir com os anos, assim como já ocorreu com empresas, países e pessoas que se reservaram apenas ao sucesso temporário, esqueceram que: “o sucesso de ontem e hoje não garante o de amanhã”.

4 - O MMA apresenta-se como um evento de entretenimento internacional, desta forma, em contraposição ao lento e gradual processo de criação de conhecimento do JJB, aquele difunde veloz e em escala global o JJB, que por conta da sua facilidade de compreensão e prática, somada a alta eficiência, atrai o interesse de todos em conhecer.

Em razão disso, todos tem interesse pelas técnicas e estratégias do JJB, seja por curiosidade, seja para realizá-las, seja para corrigir os pontos fracos a fim de não ser vítimas de um praticante JJB, esse último é o que mais frequentemente acontece, com maior possibilidade no MMA, uma vez que o anti-JJB é favorecido pela alta capacidade física do atleta de MMA, que além de muito forte, resistente e explosivo, emerge com um perfil físico superior, do tipo de envergadura avantajada, senão vejamos os incontestáveis Jon Jones e Anderson Silva.

No MMA o JJB está sendo desconstruído em velocidade maior do que construído.

Mas independente de fazer anti-JJB ou usar o JJB no MMA, os atletas provenientes de outras artes marciais, ao praticarem o JJB, só reforçam a atuação e desenvolvimento em sua luta de origem no MMA, vejamos Matt Hughes (Wrestling), Anderson Siva (Muay Thai) e Lyoto Machida (Karatê), enfim, um trocador ou um wrestler aprende JJB para continuar a desenvolver e executar técnicas de Trocação ou Ground and Pound no MMA, enquanto não se vê o mesmo quanto ao praticante de JJB.

O praticante de JJB ao iniciar na Trocação ou Wrestling, abandona a sua arte de origem, não quanto à prática, até porque todo lutador de MMA treina JJB, mas quanto ao desenvolvimento técnico e estratégico, bem como quanto ao uso como meio de controle e definição de luta no octógono, mesmo que apoiado por outras lutas, assim, equivocadamente, ele trilha na evolução de outras artes, revertendo muito pouco em prol do JJB.

O Machida é faixa preta de JJB, mas é o seu Karatê quem ele sempre aperfeiçoa como principal objetivo de luta, ampliando as suas técnicas e estratégicas, tanto que já adquiriu uma condição própria, denominada Karatê Machida, conseguindo retornar o tradicional Shotokan como estilo relevante no Karatê, antes mais notório pelo estilo Kyokushin nos eventos de MMA  e K-1 (Kickboxing).

É interessante, apesar de haver atletas que tem a Trocação como caminho e o JJB como base para o MMA, em suas apresentações públicas confirmam a alta eficiência do estilo brasileiro de Jiu Jitsu, principalmente, quando são salvos em situações críticas numa única chance em que o JJB teve, acontecendo o impossível, fazendo história nas crônicas esportivas.

Vejamos quando o campeão Anderson Silva (Muay Thai), numa única oportunidade, com um triângulo quase no encerramento do combate, livrou-se de perder por pontos o seu título para Shonnen, lembrando o clássico jargão: “só o Jiu Jitsu salva”.

Mas, mesmo sendo notória essa força do JJB, cada vez mais está sendo encarado como base de MMA, somente como remédio para surpresas ou uma alternativa de ação, a salvação da pátria, inclusive pelos atletas de artes marciais mistas formados no JJB, faixas pretas, em especial brasileiros.

Não é errado este aprender Boxe, Muay Thai ou Wrestling, o que não faz sentido é ele querer jogar Trocação em uma luta inteira de MMA, querer resolver a contenda por esse método e pior, ser derrotado nessa situação (Roger Gracie versus King Mo Lawall), sem ao menos tentar conectar essa técnica de impacto com o que treinou a vida toda e é responsável pela sua ida ao MMA, o JJB.

Será que não é possível usar a movimentação do Boxe e Karatê para controlar a distância e encurtar na hora certa, protegido pelo poder do Muay Thai, e então usar o Wrestling e Judo para levar o adversário ao solo e a partir daí, JJB?   

É claro que no solo terá de usar técnicas de impacto, mas em caráter complementar e não o contrário, como se vê nos eventos de MMA, em que graças à mão enfaixada e enluvada, cria-se um verdadeiro martelo para infinitas marretadas, que tal experimentar isso com a mão nua para ver o que acontece, talvez, nem onça dê conta disso.

Proposições

Apesar dos pontos apresentados, desde que o JJB volte a ser praticado com enfoque na defesa, desde que gerencie o seu conhecimento adequadamente, desde que o praticante de JJB mude sua estratégia de atuação no MMA, usando as demais artes para complementar e desenvolver o seu jogo clássico, é possível reverter o quadro de discussões.

Não para ser superior, mas para equilibrar-se, este é o verdadeiro objetivo em tudo, nada deve estar acima, muito menos abaixo, mas sim caminhar ao lado, juntos, cada um respeitando a particularidade alheia, somente assim é que se compõe verdadeiramente o conflito, que se harmoniza e cresce, caso contrário é perdido tempo com ilusões temporárias de vitórias, nutrindo zonas de conforto artificiais.

O Jiu Jitsu Brasileiro tem diversas razões para isso, vejamos algumas delas:

1 - Como essência tem o princípio suave, em que o mais fraco consegue se defender do mais forte, cedendo para vencer com um mínimo de esforço e o máximo de resultado, sem causar resultados excessivamente traumáticos, como uma perfuração no olho ou a perda de um tímpano ou algum tipo de deformidade, o que evita a ira e o desejo de vingança por perdas irreparáveis, esse princípio é superior por si só, sem precisar impor respeito pela ignorância, pelo medo, mas sim, conquistar o respeito pela aceitação.

Mesmo que a primeiro momento alguém consiga sujeitar outro apenas na força, em seguida enfraquece por si só em sua ação, pois sempre que alguém agride algo, expõe um ponto fraco que o princípio suave irá atuar, ou seja, sempre haverá oportunidade para o JJB crescer, não é admissível ficar restrito como mera base para MMA, desde que o seu praticante tenha a sua percepção preparada para isso e não seja viciada por outras coisas que não são condizentes com a essência da arte.

2 - O JJB é reconhecido como o topo técnico do antigo Jiu Jitsu Japonês, graças ao desenvolvimento que os brasileiros deram a esta arte, por sua vez o Jiu Jitsu Japonês é a base técnica de artes marciais especializadas e consagradas, como o Judo e Aikido.

Além disso, o Jiu Jitsu japonês recebeu a influência marcante de diversas artes marciais asiáticas, principalmente daquelas ligadas ao Budismo, religião que nasceu na Índia e se difundiu por toda Ásia, haja vista ser transmitida por monges que também criaram diversas artes marciais eficientes, inspirados em conceitos budistas.

Muitos desses monges estabeleceram técnicas marciais como caminhos para iluminação espiritual, transformando duas perspectivas (luta-filosofia) em uma única (arte marcial), assim, o JJB está intrinsicamente ligado com inúmeras artes marciais de excelência, em especial àquelas cujo princípio é o caminho suave.

3 - O JJB tem grande poder em aumentar a capacidade dos praticantes de outras artes marciais em suas respectivas áreas especializadas, assim, não é apenas base para complementar jogo de MMA, é sim, essência para desenvolver o praticante em sua própria arte, mesmo que não seja o JJB.

O campeão José Aldo é um exemplo disso, oriundo do JJB, apresenta um jogo de Trocação bem mais desenvolto do que o de praticantes tradicionais de lutas de impacto, com certeza, a sua arte de origem teve influência nisso, corroborando ao que já ouvi de colegas judocas que praticam JJB: “como não sinto desconforto quando sou levado ao solo, disponho de mais confiança no meu jogo em pé e o solto muito mais”.

Deixo essa frase para encerrar: “é inacreditável o quanto você não sabe sobre o jogo que jogou a sua vida toda” (Mickey Mantle).


Autor: Eduardo Pascoal De Souza


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