O perfil dos catadores de material reciclável do centro de são paulo



No dia 2 de agosto, o Presidente Lula sancionou a Lei 12305/10 que regula a reciclagem e disciplina o manejo dos resíduos sólidos no Brasil.

Dados do IBGE apontavam que a Coleta Seletiva ainda era bastante incipiente no país. Apenas 7% dos municípios tinha este processo consolidado (405 localidades). Como alguns destes municípios são populosos, 14%da população brasileira era atendida por esse processo. Na região sudeste, 48% da população tem coleta seletiva implantada.

Os municípios brasileiros tem pouco mais que três anos para adequar estes serviços aos novos parâmetros, e isso significa construir propostas locais a partir de uma ótica multidisciplinar já que a implantação da PNRS em nível municipal, demanda a identificação dos resíduos sólidos gerados, e a construção de estratégias de gerenciamento específico (logística reversa), assim como a definição de áreas favoráveis para a disposição final dos rejeitos.

A ação de catadores de material reciclável – nome pelo qual usualmente tem sido chamados os trabalhadores que vivem da revenda destes produtos – está inserida neste contexto e precisa ser equacionada se quisermos encontrar soluções para o destino final do lixo, seja reutilizando, reaproveitando ou dando a ele uma disposição final.

Relatos e depoimentos de trabalhadores na catação de recicláveis permitem afirmar que esta ocupação surgiu da necessidade de complementação de renda para pessoas com dificuldades de sobrevivência.

“O papelão catado e revendido garantia o leite das crianças” – dizia D. Rosa quando contava ser uma das pioneiras e que estava neste trabalho desde a década de 40.

Num primeiro momento, estes homens e mulheres atuavam individualmente, sem troca com seus pares e estavam submetidos aos proprietários dos depósitos de sucata que não apenas compravam aquilo que obtinham, mas definiam o valor a pagar e, em algumas situações forneciam uma carroça e mesmo permitiam o pernoite no meio do lixo recolhido.

Foi na década de 70 que estes trabalhadores começaram a discutir em grupo suas dificuldades pela falta do instrumento de trabalho, pela insegurança em virtude da falta de local seguro para guardar a carroça – principal instrumento de trabalho – e por terem que se submeter aos donos dos depósitos.

Era difícil aceitar que o preço do papelão diminuía quando caia o valor desse produto no mercado, mas que não aumentava quando o mercado se aquecia, gerando cada vez mais mais valia para o Capital.

Já dizia Marx (1980) que o pauperismo faz parte das despesas extras da produção capitalista, mas o Capital arranja sempre um meio de transferi-las para a classe trabalhadora e para a classe média inferior”.

A socialização surgida desses primeiros grupos vai aumentando a clareza de que eram roubados no peso e explorados na definição do preço do produto. A discriminação por falta da sociedade que legitima a violência policial contra eles é outro tópico presente nas conversas. Há relatos de espancamentos brutais promovidos por policiais, o que gerava muito desconforto principalmente por ser este mesmo agente público a única opção quando eles precisavam de socorro médico, por exemplo.

Atos de pura maldade eram frequentes na vida dos catadores como fazer com que o catador que acabara de descer uma ladeira íngreme ter que voltar ao topo, empurrando sua carroça apenas para que aquele policial comprovasse sua “autoridade”.

Surgem assim associações, grupos e cooperativas de catação de material reciclável que pouco a pouco vão dando visibilidade à necessidade deste agir quando se pensa no meio-ambiente e no bem estar das cidades.

 

1.     O PAPEL DOS “RECICLADORES” A PARTIR DA NOVA LEI

“ Embora a reciclagem seja um negócio economicamente rentável,o ciclo de comercialização tem se conservado à margem da legalidade, fazendo com que o trabalho dos catadores seja o elo inicial de uma engrenagem econômica. Tal engrenagem se reproduz em condições de marginalidade, na ausência quase absoluta de direitos trabalhistas e na compra de mercadorias por parte dos intermediários e das fábricas de modo informal. Para usar as palavras de Hart (2005), os catadores aparecem como os stakeholders da ‘franja’ no campo da indústria de reciclagem” (GONÇALVES-DIAS, 2009)

A Lei 12.305/10 definiu a Nova Política de Resíduos Sólidos que, entre outros desafios propõe o reconhecimento do catador como profissional responsável pela coleta seletiva, triagem, beneficiamento, comercialização e reciclagem de materiais reaproveitáveis, sejam eles orgânicos ou inorgânicos.

A proposta instituída pela lei que conforma a Nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, começou a ser discutida no final da década de 80. Ao mesmo tempo em que profissionais sociais discutiam as condições de vida e trabalho da população que vivia do lixo, ambientalistas levantavam a bandeira da defesa do Planeta, a cada dia mais comprometido pela ação humana.

No que se refere às pessoas que sobrevivem a partir destes resíduos, precisamos nos ater ao item XII do artigo 7º. da lei 12.305 que pontua como um dos objetivos a “integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos”.

Nesta leitura e, considerando-se as prioridades do governo federal,  os municípios devem construir planos municipais de resíduos sólidos, podendo propor ações consorciadas intermunicipais; e a coleta seletiva deve contar com a participação de cooperativas ou associações de catadores.

Segundo dados do IPEA, a implementação desta Política Nacional de Resíduos Sólidos deve ampliar ainda mais este mercado que, em meados de 2010, movimentava R$ 12 bilhões por ano – a produção anual era de 150 toneladas de lixo/dia – e envolvia cerca de um milhão de catadores.

Este volume de material reciclado pode ser triplicado, mas para isso são necessárias ações em dois sentidos: motivar a população a separar o reciclável do lixo orgânico e ampliar a capacitação e as condições de trabalho dos catadores (instrumentos de coleta, transporte e armazenamento, assim como intermediação na venda destes materiais à indústria).

 

1.     catadores ou recicladores: UM PRIMEIRO PERFIL DESTE TRABALHADOR

Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações, catador ou coletor é o trabalhador que “recolhe todo tipo de material que pode ser reaproveitado, como latas, plásticos, papéis, vidros e alumínio”. Muitas vezes este trabalhador se organiza em cooperativas, recolhendo materiais em condomínios e empresas. O material recolhido é separado por itens e vendido a empresas de reciclagem.

As primeiras ações destes trabalhadores era dispersa, sem diálogo com outros profissionais ou com a sociedade em geral e o material coletado era vendido a “depósitos de sucata” que intermediavam a venda destes produtos, ficando com boa parte do lucro pelo trabalho executado.

Estes trabalhadores que precisavam se submeter aos donos dos depósitos para sobreviver foram pouco a pouco se organizando e daí é que surgiram a maioria das associações e cooperativas que conhecemos atualmente.

Num primeiro momento, estes trabalhadores faziam a coleta porta-a-porta e, munidos de carroças puxadas por eles mesmos, carregavam toneladas de material até os pontos de separação e venda.

O entendimento de que o volume do material recolhido era necessário para garantir melhores condições de venda, levava as diversas associações e cooperativas a um diálogo que foi o ponto de partida para o surgimento da Coopere-centro.

O diálogo com a Prefeitura Municipal de São Paulo possibilitou uma alteração na logística deste trabalho. Ao mesmo tempo em que a sociedade paulistana foi sendo conscientizada de que deveria separar seu lixo, a Prefeitura disponibilizou alguns caminhões para fazerem esta recolha e cedeu um terreno onde o material é separado e revendido.

Sempre que se busca conhecer o perfil de um determinado grupo populacional, procura-se saber quais as condições de gênero, cor, estado civil, faixa etária, e escolaridade.

O universo de recicladores vinculados à Coopere-centro aponta quase 15% a mais de homens do que de mulheres na medida em que os homens são 57,26% (71) e as mulheres 42,74% (53).

Entre as entrevistas realizadas na Coopere-centro e na Coopamare, coletamos dados com 19 trabalhadores, sendo 13 da Coopere-centro e 6 da Coopamare. Do universo pesquisado, 52,5% eram homens e 47,5% mulheres.

Os dados fornecidos pela Coopere-centro não permitiram a distinção relativa à cor, mas entre os trabalhadores entrevistados, 31,5% são brancos (6); 26,3% pretos (5); e 31,5% pardos (6). Considerando-se que pretos e pardos são negros, temos uma maioria (57,8%) de negros. Não há amarelos e nem indígenas neste universo.

Os dados relativos a estado civil também são apenas da amostra e nela temos 42,1% casados (8); 36,8% solteiros (7); 15,8% viúvos (3) e 5,3% separados (1). 

São apenas da amostra, ainda, os dados de local de origem onde temos cerca de 50% nascidos no estado de São Paulo (8), sendo 3 da capital, 2 de Santos, 1 do Guarujá, 1 de Dracena e 1 de Itapira.

Dos nascidos em outros estados brasileiros, 2 são de Minas Gerais e 2 da Bahia, os demais são de Sergipe, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Maranhão, Espírito Santo e Ceará. Apenas de um deles, não há informação sobre o local de origem.

Observando-se a faixa etária a partir do cadastro da Coopere-centro (124 trabalhadores) temos 29,84% entre 41 e 50 anos (37); 26,61% entre 51 e 60 (33); 16,93% entre 31 e 40 anos (21); 16,13% entre 21 e 30 anos (20); 7,26% acima de 60 anos (9) e 3,23% entre 18 e 20 anos (4).  A grande maioria tem, portanto idades entre 41 e 60 anos (56,45%).

Confrontando-se a faixa etária com gênero, pode-se observar uma maioria de homens na faixa entre 21 e 30 anos  (22,73% dos homens e 8,62% das mulheres); na faixa acima dos 60 anos, há mais mulheres que homens (10,34% das mulheres  e 4,55% dos homens). Em terceiro lugar, temos a faixa entre 41 e 50 anos onde as mulheres estão em maior quantidade do que os homens (32,76% dos homens e 27,27% das mulheres). Nas demais faixas, há um equilíbrio entre os gêneros.

Não há trabalhadores entre 18 e 21 anos.  Somando-se os dados, percebe-se que a grande maioria dos entrevistados tem idades entre 31 e 50 anos.  Com exceção da faixa etária entre 21 e 30 anos (15 homens para 5 mulheres), o gênero se equilibra entre homens e mulheres nas outras faixas de idade.

Dentre os 19 trabalhadores entrevistados nas duas cooperativas, temos 37,0% com idades entre 31 e 40 anos (7); 31,5% entre 41 e 50 anos (6); 10,5% entre 21 e 30 anos (2) e este mesmo número entre 51 e 60 anos e acima de 60 anos.

Dentre as mulheres entrevistadas, 46,15% tem entre 31 e 40 anos e 25,09% tem mais de 60 anos.  A maioria dos  homens entrevistados tem entre 21 e 30 anos (33,33%), 41 a 50 anos (33,33%).

Um outro aspecto significativo analisado diz respeito às condições de escolaridade. No universo de cooperados da Coopere-centro 55,64% tem primeiro grau incompleto (69 trabalhadores);16,93% tem primeiro grau completo (21); 12,91% tem segundo grau incompleto (16); 8,07% informam não ter escolaridade (10); e 6,45% ter segundo grau incompleto (8). 80,0% dos sem escolaridade tem entre 41 e 60 anos. 10,0% tem mais de 60 anos e 10,0% entre 31 e 40 anos.

O nível de escolaridade predominante é primeiro grau incompleto (55,64%). Este nível de escolaridade se expressa quase que uniformemente entre trabalhadores dos 18 aos 60 anos de idade:  75,0% dos que tem entre 18 e 20 anos; 60,0% daqueles que tem entre 21 e 30 anos; 47,62% entre aqueles que tem entre 31 e 40 anos; 54,0% daqueles que tem entre 41 e 50 anos e 57,8% entre aqueles que tem entre 51 e 60 anos. 

Observando características de gênero entre estes trabalhadores com primeiro grau incompleto, podemos perceber que há um equilíbrio entre homens (53,7%) e mulheres (46,3%). Há mais homens entre 21 e 30 anos do que mulheres (8 homens para 4 mulheres); e mais mulheres do que homens entre 31 e 40 anos (7 mulheres para 3 homens)e entre 18 a 21 anos (2 mulheres para 1 homem). Entre 41 e 60 anos a distribuição de gênero é de 50,0% para homens e 50,0% para mulheres.  Apenas na faixa acima de 60 anos este nível de escolaridade aparece em menos trabalhadores, perfazendo apenas 5,5%, conforme se observa na Tabela 1.

Dentre os cooperados da Coopere-centro com primeiro grau completo (16,93%) 67,3% são homens (13) e 32,7% mulheres (8).  Quando observamos os dados do segundo grau completo (12,91%); constatamos, novamente,  que há mais homens (62,5%) do que mulheres (37,5%). Daqueles com segundo grau incompleto, 75,0% são homens e 25,0% mulheres.

2.1 - Condições de Vida

“Na cidade onde eu fui criado, onde eu morava com minha irmã... todo mundo me abandonou e eu fiquei na rua.  Sabe o que é você ter parentes e ninguém querer te dar nada e você na rua... aí eu comecei a ficar com vergonha de ficar na rua da cidade onde todo mundo me conhecia e aí eu sai para a rua do mundo. Porque, nos lugares onde ninguém me conhecia, eu não tinha vergonha.”

Dentre os cooperados reunidos nas diversas cooperativas atuantes na cidade, há um número significativo que chegou a viver nas ruas, mas desde que as condições de trabalho foi alterada – hoje são mais separadores do que catadores – esta tarefa profissional vem atraindo outras pessoas advindas de situações de desemprego.

Do universo de trabalhadores da Coopere-centro, 37,10% cooperados tem menos de 1 ano de cooperativa (46); 35,45% cooperados tem mais de 3 anos de atuação nesta área (44); e  27,45% tem entre 1 e 3 anos (34),. Nas três situações, há um certo equilíbrio de gênero:  Daqueles que tem  menos de um ano, 50,0% são homens e 50,0% mulheres. Daqueles que tem 3 anos ou mais, 59,1% são mulheres e 40,9% são homens; e daqueles que tem entre 1 e 3 anos de cooperativa, 55,88% são homens e 44,12% mulheres. 

Dentre os cooperados com primeiro grau incompleto (que são maioria entre estes trabalhadores), 42,03% (29) tem menos de um ano; 36,20% (25) tem mais de 3 anos e 21,74% (15) tem entre 1 e 3 anos.

Na amostra coletada, 73,68% tem mais de 3 anos de atuação nesta área (14). 10,52% tem entre 1 e 3 anos (2), e 15,76% tem menos de 1 ano (3).

Dentre os cooperados com primeiro grau incompleto (que são maioria entre estes trabalhadores), 83,33% (10) tem menos de um ano.  As outras informações são residuais.

Todos os cooperados da Coopere-centro e aqueles que foram entrevistados na Coopamare possuem documentos de identidade e CPF – Cadastro de Pessoa Física.[1]

Os dados coletados, nas entrevistas como no cadastro da Coopere-centro, não permitem uma análise das condições de moradia, já que não são explicitadas as condições de moradias individuais ou coletivas assim como não foi feita uma análise da situação de precariedade das mesmas. Dos 19 entrevistados, 33,33% dizem ter vivido nas ruas, e apenas 10,0% aponta Albergues como recurso utilizado.

Pelo informado na coleta, cerca de 50,00% dos entrevistados mora sozinho, em pensões ou albergues. Os demais moram com familiares, havendo desde mães com filhos até famílias extensas com vários adultos, crianças e adolescentes.

Além das informações relativas a dados pessoais, o roteiro de entrevista possibilitou ouvir os cooperados sobre sua percepção quanto ao atendimento público de saúde disponibilizado para eles e suas famílias.

Dos 19 entrevistados, 13 citaram Postos de Saúde como local de atendimento, ainda que alguns deles tenham citado também prontos socorros e serviços como Hospital das Clínicas e Incor – Instituto do Coração.  Outros catadores apontaram o SUS – Sistema Único de Saúde e o Programa de Saúde da Família.

Dos problemas de saúde que vem tendo acompanhamento, salientamos uma das catadoras que operou o coração e voltou a ter vida normal, situações de asma, fraqueza, hepatite e nódulos nos seios, além de uma situação de esquizofrenia que vem sendo contralada através do acompanhamento.

Outra questão que se reflete na saúde é a dependência de álcool e drogas. Dos 19 entrevistados, 68,45% (12) disseram nunca ter tido nenhum tipo de problema com álcool e drogas.  4 informaram ter tido “problemas”  com bebida e drogas; outros dois disseram beber socialmente e fumar cigarros.

Uma das trabalhadoras disse que teve problemas com álcool quando ocorreram simultaneamente o falecimento de sua mãe e a separação do primeiro marido: “juntou tudo e foi muito brutal”, mas foi apenas um momento que já está superado.

Dos que explicitaram problemas com álcool e drogas, um deles contou que veio para São Paulo no pior momento de sua vida. Veio encontrar um irmão que viva aqui e que o ajudou nesta “batalha”.

 “Eu comecei na Igreja: comecei a frequentar a Igreja... aí, eu parei de ficar, à noite, na rua. Ficava bastante tempo em casa. Eu entrava no albergue, tomava banho, jantava, dormia e saia pra arrumar emprego e assim fui me desviando... desviando, desviando... até o momento em que eu desencanei total das drogas, do mundo das drogas.”

Outro dos que contaram de seus problemas disse que tomava cachaça e todas as drogas quando resolveu se internar voluntariamente numa Clínica de Loucos, da qual em cerca de um mês ficou curado, mas não queria sair de lá pois viver na Clínica era “gostoso demais”.

Viver nas ruas era humilhante. “Aqueles colegas meus das antigas, que foram criados comigo nas escolas, não é? Me davam dinheiro mas me humilhava. Diziam, poxa, cara, olha ... você está vendo essa escola que você está dormindo na frente?  Nós estudamos lá. Todos esses negócios que prejudicavam mais o meu ego porque ... eu, para mim,eu não tinha mais saída... não adiantava alguém por uma luz no final do túnel porque eu não via mais luz. Isso me incomodava, então nunca mais ninguém me viu.

No seu relato, este catador conta que só voltou à sua cidade depois de ter mudado de vida e estar envolvido com a cooperativa. Surpreendeu a todos, de tal forma, que o Prefeito da cidade veio a São Paulo confirmar o que ele contara e o convidou para dar palestras naquela cidade.

Um terceiro trabalhador contou que teve e ainda tem problemas com álcool, mas não usa drogas. Segundo ele, seu problema

 “é leve mas estou tentando deixar porque me prejudica. Não no meu trabalho, mas quando eu saio... e no dia seguinte, eu fico mal...me prejudica fisicamente, mentalmente, não. Por isso eu quero deixar mas ainda não consegui. Quem sabe consiga um dia.”

O outro trabalhador que disse ter problemas com álcool não detalhou a situação.

Na questão relativa à dinâmica de vida dos filhos – crianças e adolescentes – foi apontado que todos estão em escolas e creches; que não há trabalho infantil. Pode-se observar uma atenção especial destes pais em relação ao futuro dos filhos, tanto no que se refere a atividades de esportes, cultura e lazer quanto a procura de atividades pré e profissionalizantes.

Perguntados sobre o tempo livre, as respostas foram bem diversas:

“gosto de viajar, ar livre e parques, museus e espaços culturais”;

“não gosto de festas, mas sim de sentar na Praça, de ir à Igreja. Meus filhos é que saem mais, principalmente para a casa de amigos”.

“gosto de ir para a casa de meus familiares, de fazer excursões pois quero que meus filhos conheçam muitos lugares”. E outra diz:”Gosto de visitar meu filho que mora com o pai”.

“Gosto de passear, de ir ao shopping”. Outra diz que “gosta de ir ao McDonald”. Quando estava em sua cidade, diz uma delas “gostava de ir à Praia”.

Outros são mais caseiros, dizendo que “gostam de ficar em casa ouvindo música”; de “dormir e poder acordar tarde”...

2.2  – Condições de Trabalho

A primeira questão relativa às condições de trabalho refere-se ao trajeto entre casa e trabalho. 47,36% dos entrevistados fazem o trajeto de casa para o trabalho andando; 26,31% se utilizam de ônibus; os demais usam ônibus mais metrô, apenas metrô ou trem.  Não há informação de dois trabalhadores.

31,05% deles dizem levar entre 10 e 30 minutos para irem ao trabalho (e outro tanto para voltarem a suas casas); outros 31,05% apontam entre 30 e 60 minutos; 15,52% dizem levar entre 60 e 90 minutos e apenas 10% deles diz levar mais de 90 minutos em cada trajeto.  Não há informação sobre a situação de dois trabalhadores.

Interessante observar que todos os que se utilizam de transporte público mencionaram as dificuldades encontradas no trânsito de São Paulo que faz com que o mesmo trajeto possa levar de 40 a 90 minutos.

Na questão relativa a trabalhos feitos antes do engajamento na reciclagem, foram citadas diversas profissões em áreas de limpeza como garis,  casas de família, lanchonetes e hospitais. Trabalhos domésticos em sua própria casa ou em casa de outras famílias, assim como tipos diversos de vendas – telemarketing, balconistas, ambulantes. Foi ainda lembrado trabalho feito na roça em tempo anterior à vinda para a cidade de São Paulo. Foram citados ainda trabalhos como manicure e na área da movelaria.

Na questão relativa à composição da renda familiar, todos são unânimes em apontar a renda do trabalho com a reciclagem como principal, ainda que alguns apontem contribuições de cônjuges e companheiros ou de filhos maiores. Alguns destes trabalhadores recebem recursos do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada o que complementa a renda de sobrevivência. Em algumas famílias o casal trabalha junto na reciclagem e este recurso vai todo para um caixa comum.

Cinco trabalhadores que vivem sós apontam uma renda de R$ 600,00, com exceção de uma trabalhadora que fala em R$ 200,00. Outros seis apontam renda familiar entre R$ 1.000,00 e R$ 1.500,00. Não há informações dos demais trabalhadores.

Catorze dos trabalhadores entrevistados trabalhavam na separação do material na ocasião da conversa. Um deles manuseava uma prensa e outros quatro são dirigentes que se alternam em diversas funções.

As duas Cooperativas visitadas tem sistemas de separação diverso: uma delas se utiliza de esteira para a separação da maior parte do material e a outra faz a separação em mesas individuais.

O material separado e comercializado que chega à Coopere-centro é recolhido e entregue por caminhões da Prefeitura Municipal de São Paulo, havendo sempre um cooperado que acompanha o trajeto do caminhão.

Havendo um discurso de que a cidade possui um sistema de Coleta Seletiva, era de se esperar que toda a cidade fosse servida por este sistema de coleta, mas isso não corresponde à realidade e muito do recolhido é provocado por telefonemas de contribuintes à Coopere-centro que inclui nos trajetos os locais que se dispõem a fazer a separação dentro dos lares/empresas conforme propõe a nova lei de Resíduos Sólidos.

O material separado e comercializado pela Coopamare é todo ele fruto de recolha pela própria Cooperativa, sem apoio nenhum da Prefeitura.

Além dos equipamentos para a separação (esteiras e mesas), as Cooperativas se utilizam de prensas, empilhadeiras,  balanças e bags.  O material recolhido e separado é prensado para facilitar a pesagem e a comercialização.  Nos Bags são colocados aqueles materiais que não são prensados.

As empresas compradoras é que retiram estes materiais do espaço das Cooperativas.

A entrada dos cooperados no mundo da reciclagem nem sempre teve a Cooperativa como primeiro passo.

Em 1983, vim pra São Paulo para me erguer, mas eu não consegui, daí eu não quis voltar pra trás. O dinheiro foi acabando e o jeito foi ficar na rua até achar outro meio de sobrevivência. Aí, fui me virando... naquela época eu encontrei com a Comunidade que deu muito apoio para mim e foi quando em me reergui. Depois eu ficava na sopa, e na parte da Comunidade. Como faziam as festas, e pra gente ajudar a gente saia, vez ou outra, a gente ajudava com papelão, material reaproveitável... Naquela época era pouco, não é? A gente saia... mas era a maneira da gente ajudar. Foi daí que eu vi que dava pra eu ir me remediando até pegar serviço.  Como não deu serviço, e a parte da reciclagem aumentou, eu fiquei.

Conforme relatado anteriormente, trabalhadores desempregados ou aqueles cujos salários eram insuficientes para garantir a sobrevivência de suas famílias descobriram na revenda de objetos descartados como lixo uma maneira de “fazer dinheiro”.

Alguns dos cooperados contam dos primeiros tempos em que trabalhavam a partir da relação com Sucateiros, donos de depósitos de “ferro velho” que forneciam carroças para facilitar a coleta, permitiam que catadores e suas famílias dormissem no espaço do depósito e ainda forneciam alimento a eles e a outros necessitados.

Segundo informações de uma das catadoras, “quando o depósito via a gente falar em cooperativa, eles não queriam ceder pra gente. Porque a cooperativa, naquela época... porque a cooperativa sempre foi mais forte. O nosso lado bom é que a gente sempre conseguiu um pouquinho melhor do que o depósito”.

Uma das catadoras diz que ela e seu companheiro fazem esse trabalho há bastante tempo, contando do vínculo com um depósito no primeiro momento.

“A gente trabalhava e morava num depósito na Conde Sarzedas. Eu acho que era... a gente buscava o material, a maioria das vezes à noite ou à tarde, de dia a gente separava ele e lá mesmo a gente morava. E era bom. Eu gostava. Ele pagava o peço do material um pouco mais baixo porque a gente morava lá dentro”.

Interessante observar a consciência de alguns cooperados em relação ao preconceito que tinham anteriormente e o como foi difícil lidar com ele no primeiro momento.

Uma das catadoras diz: “nunca imaginei chegar a trabalhar assim com pessoas em situação de rua, quem já morou na rua, debaixo de pontes... eu passava e olhava assim... tinha aquela discriminação e nunca imaginava passar por esta situação”.

Num segundo momento, no entanto, aponta: “ai, onde é que eu estou, mexendo no lixo[...]eu pegava os sacos [...] eu pegava com nojo e não tinha experiência nenhuma... fui indo, fui indo, fui indo...e eu falei: é daqui que tenho que tirar o sustento de meus filhos, então ... vamos embora.”

Outros cooperados, descobriram este modo de trabalho diretamente das cooperativas. Uma delas explica:

“Não sabia que lixo dava dinheiro. Porque se eu soubesse... quando eu morava na Santa Cecília eu via aqueles carroceiros passando com lixo... para mim, era lixo, eu não sabia que dava dinheiro.  Senão, eu já era carroceira há muito tempo, porque eu me virava para ter meu filho, para ter dignidade também... pagar aluguel, comer, ter meu filho e aí eu vi a Cooperativa – Av. do Estado, 300. Aí eu bati aqui.”

Muitos são os cooperados que foram “trazidos”  por amigos que faziam este trabalho e indicavam a outros:

“Moramos no mesmo lugar e ela via em saindo cedo e voltando tarde, e ela me disse que aqui era bom de trabalhar, tinha bom ambiente, falou da produção e eu vim conhecer e acabei ficando.”

Há também situações em que estas pessoas foram encaminhadas por assistentes sociais de serviços existentes no centro da cidade ou de ONGs.

Duas ONGs – Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos e a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil criaram serviços voltados para pessoas interessadas em reciclagem e fazem um trabalho preparatório para a inclusão destes trabalhadores nas Cooperativas.

A primeira aproximação com os materiais, a orientação do como separar os itens e o como trabalhar em equipe são aprendizados que facilitam o entrosamento destes trabalhadores ao se tornarem cooperados.

Uma das cooperadas conta que no primeiro momento ela trabalhava separando o material coletado por um catador e pouco a pouco foi se envolvendo neste tipo de ação.

2.3 - Pontos positivos e negativos

Visando obter a avaliação que estes trabalhadores fazem a respeito de seu dia-a-dia, foi solicitado que apontassem os pontos positivos e negativos.

O aspecto mais citado diz respeito à sobrevivência:

“é como um emprego” ... “é bom na hora de receber... Se não faltar nenhum dia consegue tirar um pouco mais” ... ”o retorno”... “ é o trabalho mesmo”... “ocupa a mente; tem uma renda e ajuda a se sustentar”

Outros, citam a questão do meio ambiente, deixando evidente a felicidade de estarem contribuindo com o Planeta.

“salva vidas e tira o ganha-pão e o sustento dos filhos”... “geração de renda, cuidar do meio-ambiente”...” faz bem ao meio ambiente:ao invés das pessoas jogarem fora o que não pertence a elas, trazem para aqui e é útil para nós. O meio ambiente não gasta tanto”...” o material e saber que faz um bem pra sociedade”.

Outras respostas mencionam a questão do relacionamento entre as pessoas no ambiente de trabalho:

“ eu gosto da paz. Gosto de chegar e fazer meu trabalho e ninguém me prejudicar” ... “Positivo, não sei bem como explicar, mas positivo é, por exemplo,  tudo aquilo que eu estou fazendo ali e estou tentando aquilo, estou tentando aprender o melhor possível. Então acho que isso é uma positividade”...”o relacionamento é ok. Nunca teve problemas com ninguém”.

Dentre os aspectos apontados como negativos, muitos se referem ao relacionamento entre os cooperados, e são expressados de diversas formas:

“ muita gente entra aqui  sem saber o que é aqui. Vai descobrir depois que não é o que pensou. Não é o que estava procurando. E aí é uma frustração. Fica revoltado e desconta no primeiro que aparece”.

“O profissionalismo aqui dentro é muito complicado porque uns questionam o modo de  trabalhar de outros. Eu sou uma pessoa neutra.  Eu tenho cinco anos aqui dentro e já não me meto no serviço da vizinha. Chegar aqui em cima para dizer que a pessoa não está trabalhando, que está faltando, que está chegando atrasada. Estes são os pontos que eu não gosto. Não gosto porque não tenho vocação para isto.”

“As pessoas que entram, a gente as conhece e gosta delas e elas vão embora... Isso influi na renda e no trabalho. O relacionamento é tranquilo: alguns aceitam, outros não... Se a gente lear na esportivas tem união e respeito.”

“O tipo tem pessoas que vem por vir, que não tem interesse, não tem o amor pelo dia-a-dia... acorda de manhã e diz – ai, tenho que ir, ai que droga – se eu pudesse eu não iria. E tem pessoas que acordam com amor. Porque o que a gente faz hoje em dia beneficia muitas pessoas, a mim, ao planeta, à cidade... então o que a gente está fazendo hoje é um trabalho do futuro.”

“a fofoca que atrapalha o ambiente de trabalho”...”tem muita briga e muita fofoca”...”a fofoca que sempre acontece, afinal são 130 pessoas”... “dificuldades em relacionamento humano.”...

Um segundo nível de dificuldades relaciona-se com a infraestrutura: alguns trabalhadores apontam dificuldades com a infraestrutura, outros falam das dificuldade em lidar com o material que contém poeira, principalmente, quando o trabalhador tem asma...

Importante observar que, apesar do definido em lei, os cooperados das duas cooperativas estavam trabalhando sem nenhum equipamento de proteção (luvas, máscaras, etc..).

Dois cooperados apontaram dificuldades de locomoção de casa para o trabalho: “a moradia é longe”...”a distância”...

Por fim, ouve uma citação em relação a dificuldades externas à cooperativa:

“pessoas que querem impedir o trabalho da gente”.

Duas outras dificuldades foram citadas nas conversas estabelecidas com cooperados:

  • O volume reciclado em cada cooperativa não é suficientemente grande para a comercialização direta com o produtor final, mantendo as cooperativas nas mãos de intermediários e com preços inferiores do que obteriam se vendessem diretamente;
  • O custo da energia elétrica para a utilização da prensa faz com que somente se coloque uma delas em funcionamento a cada momento.

 

A grande maioria dos cooperados, incluindo-se trabalhadores em funções de coordenação, vê sua atuação na reciclagem como provisória, entendendo que esta foi importante para ajudá-lo a sair da situação em que estava mas ainda assim não se vê seguindo carreira nesta função.

Uma das catadoras, por exemplo, diz que:

“considera provisória a situação atual. Quer tirar carteira profissional e conseguir trabalho registrado.  Queria fazer enfermagem mas para isso tem que terminar o 2o. Grau.”

Muitos apontam a vontade de se preparar e voltar ao mercado de trabalho, entendendo que na reciclagem não há futuro.

Eu quero, primeiro, fazer um curso.” – diz um dos catadores, e continua: - “ Não sei em que área... parte elétrica, computação...”

“Para esse ano, quer abrir seu próprio negócio da reciclagem com apoio da metodista mas não sabe os detalhes. Ganhar na loto.  Daí, comprar uma casa, trazer de volta os filhos e ser mãe.”

 

“Sou evangélica e quero cuidar da Obra de Deus.  Pretendo cuidar de pessoas e orientá-las.  Além disso quer fazer artesanato [fala, inclusive, em fazer sabão] e já está em contato com uma ONG que atua na Paulista.  Quer, também voltar a estudar (meio-ambiente).”

 

“quando eu aposentar, quero fazer artesanato aqui na Cooperativa.  Já tem uma ONG –tem uma moça que está cuidando disso aí.”

 

Uma catadora diz que não quer ficar onde está para sempre,mas que acha que sempre vai trabalhar com reciclagem: “É uma área que eu conheço muito bem. Acho que conheço 80% do material reciclado. Tem alguns que eu sei o preço. Sei do início até o fim dele.”

Aqueles que pretendem continuar na reciclagem são os mais velhos – na casa dos 40 anos. A impressão que passam é que não veem possibilidades em voltar ao mercado. Um deles diz:  “na minha idade é complicado pensar em começar um trabalho novo.”

2.4 – Expectativas de futuro

As respostas que se obtém,  ao perguntar dos sonhos e dos desejos para futuro,  poderiam ser agrupadas em poucos blocos:  Casa própria, trabalho seguro e garantir o futuro dos filhos a partir da educação.

 

“casa própria e trabalho registrado em carteira”;

“Meu sonho é ter uma casa. O resto que se a pessoa trabalhar na reciclagem ou em outro lugar, a gente consegue.   Eu acho que, de onde eu vim e ter chegado até aqui...”

“Comprar uma casa (em qualquer lugar) e conseguir um trabalho melhor para cuidar melhor do meu filho.”

“Uma casa maior para ela e as filhas. Cursos para filhas poderem ter empregos melhores e mais recursos para elas.”

“Não tenho mais sonhos porque já tenho 47 anos.: uma casa, ou um lugar para morar e poder pagar o aluguel.”

“Para mim não sei. Está bom assim. Para minha filha quero que possa fazer um curso: gosta de animais e quero o melhor para ela.”

“ganhar mais dinheiro para dar melhor qualidade de vida para família. Às vezes  um filho pede algo que você não pode dar... E, agora, vai chegar um neto...”

“um serviço melhor, uma casa e 1 família para se aquietar.”

Alguns dos trabalhadores, ao falar de seus sonhos, citam o trabalho e seu significado, apontando uma expectativa de menos preconceito e de melhoria de vida para todos.

“Poder trabalhar com reciclagem, mas as pessoas no planeta se conscientizarem melhor e fazer coisas boas pra gente porque a gente está fazendo pro planeta. Fazer algo por nós... sei lá porque a gente fala que trabalha com reciclagem e as pessoas tratam a gente mal, com nojo ou alguma coisa assim. Eu queria que as pessoas entendessem nosso trabalho com amor, com mais clareza. E eu queria que isso viesse a acontecer.”

 

Meu sonho é muito grande. Às vezes é difícil até mesmo de falar. O meu sonho, hoje,seria que toda a gente, como Coopere, pudesse ter um empreendimento, ter um apartamento... não é só um apartamento, mas um conjunto habitacional... que juntasse todos os cooperados e que eles pudessem comprar aquele lote de 2.000 m² e cada um construir o seu cantinho.”

 

A Nova Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê, entre suas ações, a construção de estratégias multidisciplinares voltadas para uma política de resíduos sólidos municipal contemplando a formação/capacitação dos trabalhadores na catação, seja no trato com o material a ser reciclado, seja no gerenciamento de empreendimentos coletivos como nas estratégias de comercialização justa e solidária.

Além de um estudo acadêmico, o perfil aqui construído será disponibilizado ao Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável visando por um lado confrontá-lo com o estudo de perfil do catador da cidade de São Paulo feito anteriormente e por outro lado subsidiar a construção de propostas que respondam às demandas do Movimento e de cada um dos catadores, em especial no que se refere à formação humana e profissional.

 

[1] O CPF é o documento necessário a todos os brasileiros para abertura de conta em banco, concessão de crédito na medida em que é emitido pela Receita Federal responsável pela análise das Declarações de renda.

 


Autor: Maria Magdalena Alves


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