Memórias, histórias e singularidades: a importância do registro e da prática reflexiva na Educação Infantil.



Memórias, histórias e singularidades: A importância do Registro e da prática reflexiva na Educação Infantil.

Vânia Roseane Pascoal Maia[1]

 

“(...) Minha vida, nossas vidas, formam um só diamante. Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas (...)”. (Carlos Drummond de Andrade)

 

Pensar a profissão docente e tudo que implica o “ser” professor/a é saber, inicialmente, que o nosso processo de formação é permanente e que ele se dá em todos os momentos. Aprendemos com o outro, com o inesperado, o inusitado e aprendemos, inclusive, com os nossos próprios erros.

Assim, estar atento à nossa prática cotidiana é ter a oportunidade de (re) pensá-la frequentemente, consciente desta, ser construída de forma coerente, consistente e fundamentada na clareza de uma intencionalidade pedagógica. Quanto a isso, Oliveira e Carvalho (2007) colocam:

“(...) A consciência intencional provoca uma aproximação reflexiva à realidade. Não é a realidade que entra na consciência, mas a consciência reflexiva que tende à realidade, criando a possibilidade da práxis com a ação e reflexão (...)”. (p.221)

Dessa forma compreendo que a ação/reflexão se apresenta como fundamental na construção de uma prática cada vez mais intencional e próxima ao vivido. Neste sentido, a documentação poderá nos subsidiar como ferramenta importante no processo, pois, a partir dela será possível para nós (re) conhecer, (re) visitar, (re) memorar e (re) construir nossas ações. Através da documentação construiremos a história das nossas práticas, do nosso fazer educativo, colaborando para que fatores como o tempo, a pressa e a correria dos nossos dias não nos impeçam de pensar sobre. E é pensando sobre, que se age em favor de práticas conscientes e, que se valida o sentido fundamental da memória. A respeito disso, Galzerani cita Benjamin e enfatiza:

“(...) A memória constitui para o pensador frankfurtiano uma viagem no tempo até as impressões matinais da pessoa humana com direito à ida e volta. Apoiando-se em Aristóteles, reconhece que o registro mnemônico por si só não tem valor: também alguns animais têm essa capacidade, e os computadores também. O desafio para o animal histórico está na rememoração, esta que passa pelo filtro do juízo crítico do intelectual, o qual, por sua vez também passa pelo crivo da maneira poética de ver a criança.” (1999, p.102).

            Desta forma, entendo que a documentação é o início de um processo importante no fazer educativo, pois ela oportuniza que não percamos de vista os sujeitos envolvidos, nem nosso ponto de partida. Convidando-nos para uma grande caminhada na qual o fundamental não será exatamente onde se vai chegar e sim, toda a construção que será feita durante o percurso.

            Compartilhando das ideias de Barbosa (2007), entendo a importância de preservar a história e a memória dos grupos e acredito ser fundamental trabalhar na Educação Infantil com fotos e registros reflexivos. Acredito e aposto também nas diversas linguagens que uma “escuta” atenta pode captar. Assim, sobre a importância do registro no espaço educacional, temos:

“No espaço educacional, o registro tem a marca do diálogo do educador: consigo próprio, com sua prática, com seus medos, seus jeitos, seus desejos. O registro é um convite a ver o que de bom já sabemos fazer, o que ainda não sabemos e precisamos aprender. Na escrita vamos aplicando à compreensão da nossa prática. Vamos percebendo o grupo, o seu movimento, vamos levantando questões sobre o que é preciso melhorar no dia a dia, junto com as nossas crianças, dar mais atenção, rever estratégias. Resgatando assim, a aventura vivida e o crescimento que ela provocou em todo o grupo.” (OSTETTO,OLIVEIRA E MESSINA,2001, p.23).

            Penso ser fundamental contar também com a participação, neste trabalho, dos responsáveis pelas crianças e de outros sujeitos que compõem o ambiente escolar (merendeira, coordenação pedagógica, auxiliar de limpeza...), pois acredito que a turma em que desenvolvemos o nosso trabalho não está isolada de um contexto e por assim ser, àqueles que convivem também junto à essas crianças agregam também valores, concepções e ações, não devendo assim, ficarem de fora deste processo.

            Assim, no compartilhar saberes e vivências cotidianas iremos compondo a nossa trajetória, tentado dar sentido á prática que desempenhamos e deixando espaço pra que esta, seja permeada de sentidos também para os que nos acompanham.

            Será então, através da beleza da memória e do coletivo que construiremos a nossa história, sendo capazes assim, de intervir nos rumos da mesma.

 

Referências: 

BARBOSA, M. C. Refletindo sobre a, a documentação pedagógica e o acompanhamento das aprendizagens. Ano 2007. Disponível em: amavi.org.br. Acesso em fevereiro de 2012.

GALZERANI, M. C. B. O almanach, a locomotiva da cidade moderna: Campinas, décadas de 1870 e 1880. Tese. Unicamp, Campinas. 1999.

OLIVEIRA, P. C. e CARVALHO P. A intencionalidade da consciência no processo educativo segundo Paulo Freire. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n37/a06v17n37.pdf. Acesso em fevereiro de 2012.

OSTETTO, L. E; OLIVEIRA, E. R. e MESSINA, V. 2001. Deixando marcas: a prática do registro no cotidiano da Educação Infantil. Florianópolis, Cidade Futura, 214 p.

 

[1] Pedagoga; Integrante do grupo de pesquisa da FURG “Política, Natureza e Cidade”; Mestranda em Educação Ambiental. Email- [email protected]

 


Autor: Vânia Roseane Pascoal Maia


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