Escola x novas tecnologias – dicotomia ou simbiose?



Sandra Maria Silva Carvalho – Graduada em Letras Modernas, (UNIAP). Pós-graduada em Educação Inclusiva pela UNIVERSO. Cursando atualmente  Artes Visuais pela UFG Professora de Arte e Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino.

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Escola x novas tecnologias – dicotomia ou simbiose?

Resumo 

O presente trabalho procura abordar as relações que se formam entre alunos, escola, professores em face ao desenvolvimento de tecnologias cada vez mais avançadas e eficazes na comunicação e nas relações sociais e sua utilização como peça importante para o processo de ensino aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVES:  Educação, tecnologia,  relacionamento

As tecnologias evoluem em quatro direções fundamentais:

 

Do analógico para o digital (digitalização)

 

Do físico para o virtual (virtualização)

 

Do fixo para o móvel (mobilidade)

 

Do massivo para o individual (personalização) 

                             Carly Fiorina, ex-presidente da HPackard

A educação no Brasil desenvolveu-se ao sabor dos interesses políticos e econômicos de cada momento do cenário nacional, analisar esta contemporaneidade sem buscar um referencial histórico que justifique esta atualidade é correr o risco de uma análise superficial e ineficaz, ao longo dos tempos o profissional brasileiro correspondeu ao que se desejava dele seguindo normas e preceitos segundo os interesses do momento. 

Quando se chega a um momento caótico e de impasse como são estes nossos últimos tempos onde a as tecnologias estão cada vez mais avançadas e seu domínio pelos jovens uma situação natural, há que se refletir e repensar  a educação e prática pedagógica para que a escola não incorra no erro de ficar  como instituição  à margem de todo o sistema social. 

1. Breve panorama histórico da educação brasileira 

A educação formal no Brasil, salvo uma exceção, sempre se baseou nas estruturas e modelos  estrangeiros  desde sua invasão. A princípio tivemos como mestres os padres jesuítas, que com sua educação jesuítica, seguiam o modelo de educação acadêmica da época onde educação e religião caminhavam juntas, queriam catequizar e salvar os índios da ignorância com uma educação clássica e humanista como a européia,  na segunda metade do século XVIII por motivos políticos os jesuítas foram expulsos do país por ameaçarem o poder da coroa, para substituí-los   na educação dos nativos a mesma coroa como estado tentou assumir pela primeira vez a  responsabilidade da educação com certo atraso, os professores todos do sexo masculino eram pagos com muitos atrasos pelo Estado e como quase toda organização pedagógica  dos jesuítas foi abandonada, o país levou certo tempo para colocar em prática as idéias do marquês de Pombal, pois os mestres foram formados pelos jesuítas e suas idéias prevaleciam, autoridade  do mestre, memorização, educação clássica, apenas com a vinda da família imperial tivemos as primeiras instituições de ensino superior e apenas para a classe que poderia pagá-lo; com o advento da república temos  um momento que se tornaria crucial para a sociedade brasileira que perdura até hoje, a bifurcação do ensino, para as classes dominantes superior e acadêmico, para  o povo escola primária e profissional, os profissionais  também eram os adequados para atender  a cada exigência. Com a escola nova tentou-se a democratização  do  ensino  no  país¹,  com  o  ensino  laico  e  a  escola

pública, mas o pensamento de formar uma elite responsável  pela comercialização do produto agrário do pais, e o restante pela produção deste produto, com a mudança  geográfica  para urbano-industrial, na educação pouco mudou, apenas a necessidade de se qualificar tecnicamente esta população , em 1961 temos a primeira LDB que também confirma estes pressupostos, na década de 1990 temos a segunda LDB que tenta  novamente este ideal de atender a todos os brasileiros no quesito educação de qualidade, porém o que vemos  até hoje por resultados como o da avaliação internacional de ensino2 é que a dívida de resgate ao direito a uma educação que sirva não só para a reprodução material e o desenvolvimento econômico, como também para elevação sociocultural que permita a construção de uma identidade nacional para a população brasileira dependente da educação pública, ainda não foi  alcançado.

1 Segundo Florestan (FERNANDES, 1995, p. 194-195) apesar das contradições que atravessavam o movimento dos pioneiros, os esforços dessa “tangente burguesa” na área educacional devem ser elogiados por buscar colocar o Brasil num novo patamar. Era uma utopia “reformista” de superação de etapas, mas uma utopia que visava oferecer a todas as classes sociais um mínimo de dignidade. No entanto, estas “inteligências radicais”, seguidores da obra abolicionista, não lograram atingir os objetivos visados. “Por quê? Porque no Brasil, para as elites das classes dominantes, o que era importante, o que era funcional, era deseducar, não educar; educar os filhos das elites e deseducar a massa; manter a massa fora da escola ou então colocar a massa dentro da escola como futura mão-de-obra, qualificada ou semi qualificada, de vários graus de desenvolvimento econômico.”

 

2 A baixa qualidade do ensino público brasileiro pode ser medida pelos altos índices de evasão e repetência, assim como pelas avaliações internacionais que colocam os nossos alunos em patamares baixíssimos. Como causa principal, evidencia-se a formação precária do corpo docente, que sofre com a desvalorização social da profissão e com a falta de estrutura e apoio na maioria das instituições de ensino (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS, 2003).

 

 

2. O aluno atual e seu relacionamento com novas tecnologias.

 

As novidades pedagógicas e as sofisticações mundanas sempre entraram para a rotina escolar por meio de toda uma hierarquia educacional, primeiro o diretor comunicava com sua equipe gestora que repassava aos coordenadores e estes enfim aos professores que colocavam em ação juntamente com os alunos o que de novo se propunha, foi sempre a tônica das relações escolares, de cima para baixo obedecendo uma certa ordem para que as coisas pudessem acontecer. O que nenhuma equipe pedagógica pensaria prever  é que por aquele portão em que os alunos entram, entraria também muito antes que os professores e equipe pedagógica soubessem, uma poderosa mídia comunicativa  que modificaria o modo de se pensar em recursos da educação por meio. Por mais que se defenda, a escola é um ambiente avesso a mudanças, e que os alunos chegaram primeiro, com seus celulares, notebooks, computadores, câmeras digitais, vocabulário e modo de agir virtualizado provocando estranheza e assombro., dados confirmam o jovem gosta de mídia e tecnologia caminhando muito bem entre elas: O jovem atual, nosso aluno não abre mão de tecnologias em sua rotina e para eles estas tecnologias possibilitam sua própria afirmação como ser vivente,   “Essa   tecnologia  da  imagem  digitalizada  possibilitou, a  partir dessas máquinas popularizadas, que os indivíduos registrem o mundo ou seu mundo a partir das próprias convicções, visões e vontades.” SILVA (2009,  p. 33) em suma em uma sociedade populista  e tendenciosa  poder ter a oportunidade de se representar individualmente e ao mesmo tempo ser anônimo, e se relacionar sem se arriscar é uma proposta muito tentadora para qualquer ser humano,  aquele que se encontra na adolescência  principalmente, pelas características peculiares de fisiologia e psicologia que apresenta se identificando em tudo  com estes novos mecanismos de comunicação e relacionamento.

 

3. Escola, professor e seu relacionamento com novas tecnologias na educação.

 

A instituição escola sempre foi como pudemos perceber, um ambiente fechado e pouco propenso a mudanças, sendo estas ocasionadas ao sabor dos interesses econômicos e políticos de cada momento. De repente temos a popularização das tecnologias, ficando estas acessíveis a todas as classes invadindo a escola e surpreendendo a imutabilidade de um sistema. Professores que tiveram sua formação acadêmica ou técnica concluída e que após mantiveram sua práxis pedagógica embasada nela surpreenderam-se com o novo panorama nas escolas onde os alunos tinham acesso à informação primeiro, e interesses voltados para um mundo que os permitia liberdade de expressão, troca de informações, lazer etc. Instalou-se a provocação: que fazer com os aparelhos celulares dos alunos? E os recursos tecnológicos da escola? Só o DVD da escola não basta? Como utilizar o laboratório de informática que o governo mandou instalar? Como colocar tanta tecnologia e  informação em meu planejamento? Isto vai dar certo? Uma lacuna estabeleceu-se entre professor – aluno – tecnologias contemporâneas. Profissionais de vanguarda, mídia especializada em educação tentam preencher este vácuo, sendo a internet um grande meio de acesso a estas informações, para que a educação pública conseguisse atualizar-se, capacitações também foram feitas, porém  as resistências ao novo são grandes, há  professores que  questionam estes equipamentos e sua eficácia, há outros que os adotam para preencher lacunas no planejamento, e há os que acreditam que  tecnologias contemporâneas sejam fonte de entretenimento,  desvirtuando  objetivos inestimáveis que se poderiam alcançar com um uso coerente e racional como ressalta Almeida (2011) em seu artigo sobre a proficiência no uso de internet  na arte; “Não explorar  acervos virtuais, a navegação e as ferramentas disponíveis antes de apresentá-los aos alunos. Além de atrasar a aula as crianças ficam  perdidas, sem um modelo  para se basear. Ao planejar um trabalho reserve um tempo para conhecer bem os sites”. Como em qualquer prática pedagógica um criterioso planejamento é fundamental para se obter um resultado condizente com os objetivos, as tecnologias não irão embora porque o professor deseja apenas o quadro e giz o mimeógrafo e no máximo o uso de DVD, recursos onde se sente confortável. Capacitar-se para planejar com elas é coerente e necessário para o êxito na prática, já foi  constatado, os alunos apreciam tecnologias e se sentem a  vontade interagindo com as mesmas é uma realidade e a educação pública brasileira não pode fugir dela mesmo que o passado educacional brasileiro não a tenha preparado para isto.

 

 “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” – Charles Darwin

 

Contudo não somos seres que brotam do nada e a situações que vivemos também não são conseqüências do acaso, todas as coisas e fatos têm fundamento e procedências que os influenciaram, vivemos um processo mesmo que seja em um país cuja invasão visava a exploração, seja de riquezas, seja do mais forte pelo mais fraco, nem que para isto sua ignorância tivesse que ser preservada, este tipo de colonização influenciou a educação em nosso território, e querer que de uma educação de ideologia  imperialista sempre voltada para a preservação do sistema cujas culminâncias foram como por exemplo a  tecnocrata, formadora do moldes e  dando ainda agora os primeiros passos em direção  a uma libertação pelo pensamento  sócio-construtivista de aprendizagem e principalmente em um cenário  pleno de desigualdades como o que vivemos, que o professor e a própria práxis pedagógica consigam como em um passe de mágica adequar-e à ruptura tecnológica e social  de nossa época é pedir que  se dê um salto  sem os mecanismos para isto, é um trabalho que pede qualificação e requalificação, atualização e modernização do professor enquanto sua prática mas também em sua qualificação profissional.Negar a urgência da necessidade de atualizações e mudança de postura é negar o inevitável, as tecnologias estão e estarão cada vez mais ousadas e rápidas, nossos alunos também as acompanharão não importa o contexto em que estejam inseridos financeira  e ou socialmente, apenas eles  são parte desta nova sociedade, democrática, fluente e cativante: a sociedade virtual. Resta à educação pública este novo resgate para evitar a dicotomia  entre ensino público e  mundo tecnológico , transportando de fato estes recursos para dentro dos muros escolares, em uma  exploração e convivência  profícua de bons resultados.

Referências Bibliográficas: 

ALMEIDA, Daniela IN “Na tela do computador, a arte de todo o mundo” Revista Nova Escola. abril 2011. Ed Victor Civita 

SILVA, Rogéria Eller. In O ensino de artes visuais. Grafiset Gráfica e editora – Goiânia 2009 

Souza, Rainer Gonçalves. Os Jesuítas no Brasil. Disponível em: http://www.mundoeducacao.com.br/historiadobrasil/os-jesuitas-no-brasil.htm acesso em 20/11/2011

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Autor: Sandra Maria Silva Carvalho


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