O Paradoxo Da Produtividade



O PARADOXO DA PRODUTIVIDADE

O Uso de Tecnologia da Informação pelas Empresas

por

Gideon Marinho Gonçalves

Economista e Analista de Sistemas

[email protected]

Rio de Janeiro, 24 de junho de 2005

SINOPSE

O Paradoxo da Produtividade é um tema oportuno e empolgante, no entanto parece estar fora dos congressos empresariais sobre custo e retorno de investimentos oriundos de TI. Robert Solow (1987) expressou a famosa frase “Vê-se computadores em toda parte, menos nas estatísticas de produtividade”. A partir deste momento alguns pesquisadores se empenharam em desvendar o Paradoxo. Este trabalho mostra como o termo surgiu e expõe as divergências de idéias entre dois dos mais importantes pesquisadores do assunto. Conceitua o termo “Tecnologia da Informação - TI”, identifica os seus produtos e descreve como se deu a aderência das empresas à esta inovação. Discute o termo “produtividade” e a validade de sua utilização como o principal indicador de eficiência no uso de TI pelas empresas. Descreve e discute as evidências macro e microeconômicas e os argumentos que buscam explicar o Paradoxo da Produtividade. Finalmente são apresentadas algumas opiniões do autor.

PALAVRAS CHAVE

Paradoxo da Produtividade, produtividade, Tecnologia da Informação, custo, lucratividade.

SUMÁRIO

SINOPSE 2

PALAVRAS CHAVE 2

SUMÁRIO 3

INTRODUÇÃO 4

Como surgiu o termo Paradoxo da Produtividade 4

Objeto da Ciência Econômica 5

A INCORPORAÇÃO DE TI PELAS EMPRESAS 6

A evolução da tecnologia 6

A evolução dos sistemas de gestão empresarial 8

O PARADOXO DA PRODUTIVIDADE 13

Considerações sobre a produtividade do trabalho 13

AS EVIDÊNCIAS DO PARADOXO 15

Evidências macroeconômicas 15

Evidências microeconômicas 19

EXPLICAÇÕES PARA O PARADOXO 23

Explicações macroeconômicas 23

Erros de medição 23

Muito cedo para sentir os ganhos 24

Variáveis macroeconômicas 25

Explicações Interorganizacionais 25

Explicação Organizacional 26

Explicação Gerencial 27

Tipos de custos 27

Atualizações de versões 27

Qualidade dos programas computacionais 28

Decisões gerenciais incorretas 28

Explicações baseadas em programas 29

OPINIÃO DO AUTOR 30

Referente aos Tipos de Produtividades 30

Sobre o Paradoxo da Produtividade 30

Referentes às questões gerenciais 31

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA 33

Bibliografia auxiliar, citada indiretamente: 33

INTRODUÇÃO

O Paradoxo da Produtividade é um termo que foi citado em 1987 pelo economista Robert Solow, ganhador do prêmio Nobel em Economia de 1987, que disse “os computadores estão por toda parte menos nas estatísticas de produtividade”. (Solow apud Wainer, 2003). Desta frase teria surgido a expressão “paradoxo da produtividade” que resulta da incapacidade em demonstrar de forma convincente que os investimentos em Sistemas de Informações da Tecnologia da Informação tenham resultado em melhorias quantificáveis da produtividade nas organizações que os efetuaram.

Segundo Wainer (2003) apesar da importância do assunto, somente alguns poucos pesquisadores têm se dedicado ao estudo deste fenômeno. Destacam-se Stephe Roach, que foi economista chefe do banco Morgan Stanley; Martin Baily, economista do Brookings Institute; Paul Attewell, sociólogo na New Yourk University; Paul Stranssmann, consultor e ex-diretor de informática do departamento de defesa americano; Eric Bryonjolfsson, economista do MIT e Thomas Landauer, cientista cognitivo da University of Colorado.

Estes estudiosos utilizaram dados obtidos pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho (DSL) do Departamento de Comércio americano. A maioria, excetuando-se Eric Brynjolfsson, defende a idéia da existência do Paradoxo da Produtividade.

A forma discreta como a imprensa e as empresas fornecedoras de TI tratam este assunto é um dos motivadores para se aprofundar os estudos e divulgar os seus resultados (Wainer, 2003).

Como surgiu o termo Paradoxo da Produtividade

O Paradoxo da Produtividade despertou interesse do prêmio Nobel Robert Solow, justamente pela grande quantia investida pelas organizações em TI. Segundo o Department of Labor Statistics – DLS (Departamento de Estatísticas do Trabalho) dos Estados Unidos da América do Norte, “a soma de todos os investimentos em computadores nos Estados Unidos, entre 1960 e 1998 foi de 500 bilhões de dólares” (Wainer, 2003); em programas de computador, os chamados softwares, gastou-se 1 trilhão de dólares; em comunicação gastou-se também 1 trilhão de dólares. Considerando-se as substituições em decorrência de obsolescência o valor acumulado em 1998 dos bens de computadores era de 228 bilhões de dólares, e em software 250 bilhões de dólares (Wainer, 2003).

A partir desses dados surge a indagação natural de quanto, neste período, este investimento trouxe de aumento na produtividade e lucratividade das empresas. A constatação é constrangedora: “não há nenhuma evidência de que a informática trouxe algum aumento na produtividade do setor terciário nestes 40 anos” (Wainer, 2003). No entanto quando observamos detalhadamente o benefício prático de investimento em TI constatamos o quanto as atividades que consomem essa tecnologia evoluíram visivelmente. Segundo Wainer (2003, p. 14) “Parece óbvio que produzir um texto deve ser muito mais rápido quando feito através do computador do que usando uma máquina de escrever”. E a partir daí, vem o questionamento de como isso não trouxe benefícios para a produtividade da empresa. Eis aí, então, o Paradoxo da Produtividade em questão.

Objeto da Ciência Econômica

Este assunto interessa à Ciência Econômica, pelo menos por duas razões. A primeira pela constatação quase unânime de que os meios de produção atuais incorporam, em algum nível, o produto principal da mais recente Inovação Tecnológica, que é o computador. Parece senso comum que o computador, de fato, possibilita uma automatização nas linhas de produção jamais vista, e permite maior eficiência no desenvolvimento das atividades produtivas. Esta automatização vai desde tarefas, que antes eram braçais, até a análise de dados primários, consolidando resultados e apontando tendências que permitem rápidas tomadas de decisões pelos executivos. A outra razão que faz o Paradoxo da Produtividade objeto de interesse da Ciência Econômica é a dificuldade em medir e, conseqüentemente, comprovar objetivamente o aumento da produtividade advinda desta Inovação Tecnológica, a Tecnologia da Informação.

Constatamos que estamos ainda inseridos na revolução cibernética por não vislumbrarmos a fronteira que delineia o escopo final desta inovação, se é que existe ou existirá esta fronteira. Decorrente deste estágio a cada dia surgem novas faces desta tecnologia com uma velocidade tal que impossibilita uma análise fria do impacto destas sub-inovações na economia. O mais recente subproduto de TI foi a Internet e a sua popularização. A velocidade de novas sub-inovações torna o assunto ainda mais difícil de debater. A urgência do consumo, em decorrência da fácil aderência dessas tecnologias aos produtos do dia-a-dia, acentuada pela intensa campanha de marketing, faz com que as empresas sintam-se defasadas tecnologicamente favorecendo o consumo de TI de forma intensiva sem a indispensável análise rigorosa das reais necessidades para o seu negócio. Por outro lado, falta nos organismos de pesquisa conteúdo suficiente nesse assunto que possa subsidiar os estudos feitos pelas empresas para o norteamento de suas decisões, relativas ao consumo de TI.

A INCORPORAÇÃO DE TI PELAS EMPRESAS

A evolução da tecnologia

Apesar da evidência da utilização de TI pelas empresas, é oportuno fazer uma breve retrospectiva de como isto aconteceu.

Um objetivo inequívoco das empresas é o aprimoramento dos métodos de produção no sentido de obter um aumento da produtividade e, conseqüentemente, a maximização do lucro. Neste propósito, as grandes empresas inovadoras têm investido em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e obtido resultados positivos ao longo do tempo. Além do investimento em P&D e os seus resultados, as empresas têm se beneficiado, junto com a sociedade de uma forma geral, das invenções advindas de esforços individuais mesmo, neste caso, quando não há financiamento de empresas ou organizações. Como produto da Inovação Tecnológica podemos citar a introdução do automóvel (1885), do avião (1903), dos veículos sobre esteiras (1904), do aço inoxidável (1913), da cirurgia plástica (1914), da televisão (1926), dos robôs (1928), do polietileno (1933), do motor a reação (1937), da fissão nuclear (1939), do reator nuclear (1942), do computador (1944), da montagem automatizada (1946), do transistor (1947), do videocassete (1952), da pílula anticoncepcional (1956), do som estéreo (1958), do raio laser (1960), do fax, do telefone etc.

A Inovação Tecnológica é o termo que melhor define esse processo e que insere em seu contexto a Tecnologia da Informação. Falar de Inovação Tecnológica é abranger uma quantidade muito maior de conceitos e comentar sobre teorias formuladas por vários estudiosos. Contudo, vale comentar sobre TI aplicada às empresas, focando sempre o conceito que envolve o termo Inovação Tecnológica. Heilbroner (1996, p. 273) conceitua de forma sintética a Inovação como sendo “modos novos ou mais baratos de produzir coisas ou modos de produzir coisas completamente novas”. Schumpeter (apud Belchior, 1987, p. 197) descreve inovação como “(...) uma modificação em alguma função de produção (...)”. Lange(apud Belchior, 1987, p. 197) conceitua Inovação ainda como:

“(...) modificações nas funções de produção, isto é, nas escalas indicando a relação entre o insumo de fatores de produção e a produção de bens, que tornam possível à firma aumentar o valor descontado do lucro efetivo máximo obtível em dadas condições de mercado”.

A partir dessas definições percebe-se claramente a intenção das empresas, quando empregam novas tecnologias em seus processos produtivos, de maximizar seus lucros com o emprego mais eficiente dos insumos. Dentre todas as inovações parece que TI é aquela que mais investimentos tem exigido para a sua aquisição por parte das empresas.

Tecnologia da Informação, TI, é o termo atualmente empregado para se referir ao “conjunto de tecnologias resultantes da utilização simultânea e integrada de informática e telecomunicações” (Graeml, 2000, p. 18). A telecomunicação engloba os satélites, antenas, equipamentos transmissores e receptores de dados, voz e imagens. A informática engloba os equipamentos necessários para o armazenamento (discos, fitas, etc.), difusão (redes de computadores, cabos e periféricos), processamento (computadores, robôs, equipamentos de automação industrial, celulares, etc) dos dados e os programas denominados de softwares (sistemas operacionais, sistemas comerciais, científicos, entretenimentos, acadêmicos e outros) que fazem com que esses equipamentos funcionem.

As empresas começaram a empregar, de fato, TI na década de 50 com o advento do computador à válvula. Contudo, desde 1900 o aparelho telefônico (hoje já inserido no contexto de TI) começou a ser usado de forma mais intensiva. Nessa ocasião a comunicação entre os departamentos e as filiais de uma empresa se tornou mais rápida possibilitando maior velocidade na concentração, consolidação de resultados e nas tomadas de decisões.

Vale situar o início desse processo após a II Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945. Inicialmente havia uma necessidade de aumento na capacidade de armazenamento, processamento e compartilhamento das informações relacionadas à guerra. De fato, houve duas principais razões que impulsionaram o desenvolvimento tecnológico relacionado a TI: as preocupações com segurança, pois o mundo vivia uma polaridade política e econômica entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, e a urgente necessidade de acelerar o desenvolvimento produtivo em todos os países ocidentais liderados pelos Estados Unidos, Inglaterra e França, pois os seus grupos industriais e financeiros almejavam avanços tecnológicos que permitissem ampliação crescente de seus negócios no esforço de reconstrução da economia mundial. Os acordos econômicos, em escala global, de Bretton Woods geraram uma demanda de recursos tecnológicos para suportar as necessidades de controle de investimentos, produção e intercâmbio de mercadorias em todo o planeta com precisão e rapidez cada vez maiores. Com isso, as grandes corporações rapidamente absorveram os recursos e conhecimentos tecnológicos que suportariam essas operações.

O primeiro computador funcionando à válvula foi criado em 1945, pesando 30 toneladas e utilizando 18.000 válvulas a vácuo. Na década de 60 começa a ser empregado o transistor (que fora inventado em 1947) e a transmissão analógica de dados torna-se realidade. Em 1964 surge o circuito integrado e em 1971 nasceu o “chip”, uma pastilha de silício e metal com capacidade de operar como centenas ou milhares de circuitos integrados juntos. Com essa tecnologia surge a infra-estrutura necessária para o estabelecimento de rede de transmissão digital de dados beneficiando, sobremaneira, as empresas. Nessa ocasião aparece o faxsímile que dá uma agilidade extraordinária na comunicação empresarial. Logo depois há a popularização do microcomputador que logo é adotado pelas empresas como ferramenta primordial na descentralização e distribuição de tarefas. A indústria de telecomunicações se expandiu cada vez mais. O primeiro satélite subiu em 1957 e o primeiro vôo orbital humano ocorreu em 1961. O sistema telefônico se aprimorou continuamente, com o desenvolvimento de cabos cada vez mais seguros e velozes, como os de fibra óptica, lançados no final dos anos 60.

Figura 1 - Convergência da informática e das telecomunicações criando o atual conceito de Tecnologia da Informação - TI. “Adaptação do cenário antecipado pela NEC, já no final da década de 60”. Meireles (apud Graeml, 2000, p. 18).

A evolução dos sistemas de gestão empresarial

Paralelamente ao emprego de TI hardwares, foram criados programas aplicativos isolados nas organizações destinados à informatização e automatização de alguns processos administrativos. Esses programas formaram o embrião do que chamamos hoje de Sistema de Gestão Empresarial (ERP1, MRP2 etc) largamente utilizado pelas empresas.

Inicialmente tinha-se o computador mainframe3 segregado em um setor específico da empresa, chamado de CPD (Centro de Processamento de Dados). Uma equipe altamente especializada supria toda a organização com os relatórios (output) contendo as informações requisitadas. O procedimento para que os dados entrassem (input) nesses mainframes se dava a partir do preenchimento de formulários formatados, chamados de formulários de digitação, os quais eram enviados ao CPD onde os digitadores introduziam os dados no mainframe a partir de um terminal vulgarmente denominado de terminal burro, já que todo o poder de processamento localizava-se na UCP (Central Única de Processamento) do mainframe e não no terminal de digitação. Nessa ocasião quase todos os sistemas informativos, ou programas de computador, utilizados pela empresa, eram criados internamente pelos profissionais da própria empresa. Os programas básicos, chamados de Sistemas Operacionais e indispensáveis para que os mainframes funcionassem, eram fornecidos por poucas grandes empresas tais, como IBM, UNISYS etc., e geralmente eram elas as próprias fabricantes dos computadores mainframes. É interessante ressaltar, que nessa ocasião ainda não era comum encontrar empresas especializadas em fornecer sistemas de informações administrativas, mas somente sistemas operacionais e outros programas que se destinavam ao funcionamento do mainframe. Algumas organizações que não tinham um CPD, no entanto, contratavam serviços de boreaux às empresas estritamente de informática que processavam os dados em suas instalações e os enviavam em forma de relatórios para a organização solicitante. Geralmente esses sistemas não eram vendidos às empresas demandantes de serviços de boureaux.

Já por volta dos anos 70 começou a se tornar comum as próprias organizações contratarem profissionais para desenvolverem os seus próprios sistemas de informática. Nessa ocasião o profissional de informática, além de necessitar ter conhecimento técnico em informática, também era desejável que tivesse conhecimento de administração de empresas já que os sistemas criados por eles destinavam-se, em sua maioria, ainformatizar os processos administrativos. Com esse propósito os sistemas foram os responsáveis por uma verdadeira revolução nas organizações. Setores que antes empregavam grande quantidade de funcionários foram remodelados e necessitavam agora de somente alguns deles. Já nos anos 80 era praticamente impossível, em grandes organizações, pensar-se em folha de pagamento sem que existisse um sistema que processasse os dados para gerá-la. Apesar de a informatização de escritório, e em alguns casos também a automação industrial, já fazerem parte do cotidiano das empresas os sistemas utilizados para tal eram criados, na maioria dos casos, nas próprias empresas. Fica claro que até então a informática era uma grande aliada da automação o que, conseqüentemente, contribuía para a redução dos custos de mão-de-obra e incrementava significamente a qualidade dos produtos gerados com o auxílio dsses sistemas, contudo, ainda não se utilizava a informática como uma aliada estratégica no sentido de produzir um diferencial em relação aos concorrentes. A maioria das empresas procurava investir em informática no sentido de se igualarem às demais, quanto à informatização das tarefas administrativas.

Nos anos 90, com a popularização dos microcomputadores, houve uma distribuição das funções, que outrora era de responsabilidade única do CPD, para os setores demandantes das informações o que foi, na ocasião, denominado de downsize. Motivadas por esse acontecimento algumas empresas aproveitaram para remodelarem sua estrutura, fenômeno que foi chamado de reengenharia.

Podemos marcar essa ocasião como a época em que os Sistemas de Gestões se popularizaram. “Desde a época em que foi pioneira da fabricação com uma abordagem de divisão do trabalho, a indústria automobilística tem liderado a adoção de abordagens inovadoras através da reengenharia dos processos de negócio, implementando sistemas de planejamento de requisição de materiais (MRP), planejamento de recurso de manufatura (MRP II) e fabricação just-in-time (JIT) e instalando o software de gestão integrada de recursos (ERP – Enterprise Resource Planning)” (Norris, 2001). Geralmente o que dava suporte tecnológico à reengenharia nessas organizações eram os chamados pacotes, ,ou seja, os sistemas ERP. O ERP, por pressupor alta integração dos dados e, conseqüentemente, dos processos internos otimiza sobremaneira a cadeia de valor de uma empresa. Esse tipo de sistema não é intrinsecamente estratégico, mas de suporte uma vez que impõe uma nova maneira para executar tarefas que outrora eram desenvolvidas de forma dispendiosa e, em alguns casos, essas eram até desnecessárias. A maioria das empresas que implantou ERP passou por mudanças profundas em seus processos organizacionais, culturais e de negócio.

Figura 2 - Foco do ERP sobre as áreas de uma empresa (Norris, 2001, p.18).

Uma vez que o ERP permitiu uma integração eficiente dos dados oriundos dos diversos setores da empresa, foi possível a prospecção de informações consolidadas e consistentes. Naturalmente surgiram sistemas de informação voltados para a alta administração das empresas, os chamados Sistemas de Informações Executivas (EIS4). Por meio de EIS tornou-se possível para a direção das empresas localizar problemas com precisão e detectar tendências. O processamento EIS é feito sob medida para ajudar o executivo a tomar decisões utilizando os dados internos da empresa, extraídos dos sistemas ERP, e também dados oriundos de fora como indicadores setoriais e informações de mercado em geral.

Os EIS são projetados para atender a executivos e utiliza intensivamente recursos gráficos, símbolos e ícones, informações de nível estratégico como indicadores de desempenho etc., e tem como uma das principais características a facilidade de utilização, que normalmente é conseguido com um mínimo de treinamento. Geralmente o EIS complementa os demais sistemas de informação fazendo pesquisas nas bases de dados desses sistemas e criando apresentações mais sofisticadas.

Tradicionalmente o EIS é utilizado na análise e investigação de tendências, mensuração e rastreamento de indicadores de fatores críticos, análise prospectiva, monitoramento de problemas, análise da concorrência, etc.

Figura 3 - Um gráfico típico do processamento EIS (Inmon, 1997, p. 238).

Figura 4 - Tendências - as vendas das apólices de perdas estão caindo (Inmon, 1997, p. 239).

Com a popularização da Internet, novas possibilidades têm sido utilizadas pelas empresas, enquanto os sistemas tradicionais de informações tais como ERP e EIS têm focalizado as informações no âmbito da empresa, “a tecnologia baseada na Web facilita a transferência de informação de negócio para o negócio e de negócio para consumidor, bem como de consumidor para negócio” Norris (2001, p. XXII).

O e-business5 pode melhorar bastante o desempenho do negócio uma vez que permite a integração entre os fornecedores e clientes em todas as etapas ao longo da cadeia de valor. Esse tipo de suporte tecnológico permitiu as empresas otimizarem seus estoques e garantirem uma rápida e eficiente aquisição de insumos, uma vez que é possível aos fornecedores acompanharem o nível de produção das empresas cliente de forma integrada aos seus processos internos. Ou seja, por meio da Web é possível estabelecer um nível de integração entre os sistemas, ERP, da empresa fornecedora de insumos, com o da empresa consumidora.

“A parceria eletrônica é um intenso relacionamento entre empresas que utilizam capacidades de e-business para criar um ambiente em que se compartilham melhorias nos negócios, benefícios mútuos e recompensas mútuas. Mais do que simplesmente uma interligação entre dois sistemas de negócio, a parceria eletrônica é um relacionamento estratégico focalizado sobre o cliente dentro do qual as empresas trabalham juntas para otimizar a cadeia de valor conjunta” (Norris, 2001, p.7).

Figura 5 - Foco do E-Business sobre comunicação com entidades externas (Norris, 2001, p. 19).

Com o advento dos ERPs e EISs surgiram empresas especializadas na sua produção e manutenção, além desses sistemas terem demandados infra-estruturas mais robustas, tais como computadores servidores, softwares gerenciadores de grande quantidade de dados, o que obrigou as organizações a destinarem em seus orçamentos verbas cada vez maiores para atenderem a essas novas necessidades.

Enfim, é perceptível o quanto as empresas investiram em TI desde o início dessa Inovação. Atualmente é inconcebível imaginar uma empresa funcionando sem computadores e os sistemas inerentes. O desenvolvimento de TI foi tão proeminente que hoje representa um seguimento distinto e bem definido da indústria. A tendência natural é que as empresas sejam cada vez mais consumidoras de serviços e produtos de TI, e que esse fluxo parta da indústria de TI para as empresas consumidoras, essas não mais produzindo, como hoje ainda acontece em algum nível, os produtos de TI que consomem.



O PARADOXO DA PRODUTIVIDADE

Em 1997 Strassmann (apud Wainer, 2003) publicou em um de seus artigos um gráfico de dispersão (Figura 7) que mostra a relação entre o lucro líquido e os gastos em TI por empregado, obtido a partir de 486 empresas dos Estados Unidos, Canadá e Europa, em 1994. Esse foi um ano em que a economia mundial estava equilibrada o que impossibilitaria a influência de fatores conjunturais nesse tipo de análise.

Percebe-se claramente o padrão aleatório de dispersão apresentado no gráfico. Esta característica parece ser decisiva em indicar a falta de correlação entre investimentos em TI e lucratividade das empresas. Contudo, este comportamento não contradiz ”o fato de os computadores poderem fornecer decisivas contribuições à eficiência, vantagem competitiva e criação de valor pelas empresas”. Graeml (2000, p. 30).

Para ter certeza das conclusões, Strassmann também utilizou outras medidas tais como o retorno sobre o ativo, o retorno sobre o investimento líquido e o valor econômico agregado dividido pelo lucro líquido. Mesmo assim não foi encontrada correlação entre lucratividade e investimentos em TI nas empresas.

As análises econométricas são os métodos utilizados para investigar alguns dos impactos da TI sobre as organizações, concentrando-se principalmente no aspecto da produtividade. Esses estudos têm, na sua maioria, indicado resultados desfavoráveis e contraditórios. Os resultados não têm apresentado correlações positivas, isto indica que os investimentos estariam sendo contraproducentes.

Considerações sobre a produtividade do trabalho

Uma vez que a maior parte de investimento em TI destina-se às atividades desenvolvidas pelo trabalhador nas organizações, a medida de produtividade envolvida no Paradoxo da Produtividade é a produtividade do trabalho. Wainer (2003, p. 16) generaliza a produtividade como sendo “o indicador que mede a eficiência na conversão de recursos em bens econômicos, isto é, a relação entre o que é produzido (bens e serviços) e os recursos que são usados para produzi-los”. As análises de produtividade relacionadas a esse assunto utilizaram as horas totais trabalhadas, uma vez que está em questão a produtividade do trabalho, ou do trabalhador.

Do ponto de vista macroeconômico a medida tradicional de produtividade do trabalhador é o Produto Interno Bruto (PIB) dividido pelas horas totais trabalhadas. Uma outra medida usada é o Produto Interno de Negócio (business sector output) por horas totais trabalhadas. Nos EUA, o Produto Interno de Negócios representa 80% do PIB e não inclui os produtos e serviços gerados pelo governo, por instituições sem fins lucrativos e pelo trabalho doméstico (Wainer, 2003).

A produtividade aqui, portanto, é calculada como o valor agregado, ou seja, o valor do bem produzido menos o custo dos insumos necessários para produzir esse bem, tudo isso dividido pelas horas totais trabalhadas.

Em se tratando de TI vale comentar sobre a produtividade multifatorada (MFP – multi-factor productivity) e a produtividade função do ganho devido ao capital. A primeira se refere ao ganho devido à racionalização das técnicas, ou seja, ganho advindo da melhor forma de se fazer algo resultando em diminuição de tempo necessário para produzir certa quantidade de bens. O segundo tipo de produtividade refere-se ao ganho devido ao capital, ou seja, aquisição de maquinários e equipamentos para induzir diminuição de tempo para produzir a mesma quantidade de bens.

Alguns pesquisadores que trabalham com produtividade de TI inclinam-se a afirmar que os ganhos de produtividade em TI são do tipo multifatorada, ou seja, o uso de TI impõe mudança na forma de trabalho, no entanto, os economistas tendem a aceitar que são os investimentos de capital em ferramentas que representam algum aumento de produtividade do trabalhador que a usa.

Quando se trata de uma empresa em particular, as medidas de produtividade do trabalho mais usadas são o faturamento por horas totais trabalhadas, o faturamento por funcionário, o lucro por funcionário ou o lucro por horas totais trabalhadas. Um investimento em TI deve ser tratado como qualquer outro investimento feito por uma empresa. Produtividade de investimentos são medidos por ROI (Return on Investment) que é a relação entre o dinheiro que se espera ganhar e o que foi investido.

Segundo Wainer (2003, p.18):

Existem duas razões pelas quais a produtividade é uma medida de extrema importância. A primeira é que na economia clássica o aumento da produtividade é um dos limites para o crescimento real da economia. A segunda e talvez a mais importante razão para se falar em produtividade é que produtividade é a medida pela qual se deve julgar, comparar, e avaliar tecnologias.


AS EVIDÊNCIAS DO PARADOXO

As evidências do Paradoxo da Produtividade são melhor percebidas a partir de análises macros e microeconômicas, pois este fenômeno poderia não ser totalmente detectável somente nos indicadores macroeconômicos e, no entanto, serem percebidos no nível das empresas, ou vice-versa. De fato, alguns pesquisadores argumentam por esta linha para explicar o fenômeno.

Uma análise microeconômica começaria a partir das atividades das empresas, identificando aquelas que mais utilizam TI, e fazendo-se as comparações em relação à variação da produtividade obtendo, assim, valores consolidados no nível de todo um setor ou até mesmo da nação. Esta seria uma análise microeconômica.

A análise macroeconômica iniciaria a partir dos setores da economia que fazem um maior uso de TI. Esta é a forma mais utilizada pelos pesquisadores.

Além da abordagem micro e macroeconômica é importante definir o que seria “fazer maior uso de TI”. Segundo Wainer (2003, p. 23) o Departamento de Comércio americano aponta duas formas para esta análise. Uma delas é apurar o percentual de investimentos em TI em relação ao total de investimentos feitos pela empresas de um setor. A outra forma é analisar o investimento de TI por funcionário.

Enfim, a partir destas metodologias: análise macro e microeconômicas, e o conceito de “fazer maior uso de TI”, pode-se analisar as evidências do Paradoxo da Produtividade e as diversas explicações para o fenômeno.

Evidências macroeconômicas

Para a análise macroeconômica, primeiro teria-se que identificar os setores da economia que mais consumiram TI em um determinado período, e a seguir verificar a variação da produtividade nesses setores no mesmo período. Os dados utilizados neste estudo originaram-se do Departamento de Comércio americano, publicados em 1998 (Wainer 2003, p. 23).

A metodologia foi a seguinte:

Foram selecionados os 15 setores com maior investimento em TI em função do investimento total, e 15 setores com maior investimento em TI por funcionário.

Desta relação foram separados os 20 setores que mais consumiram TI. Estes setores corresponderam à 48,2% do PIB privado americano, onde 5% eram produtores de bens e 43% produtores de serviços.

Tabela 1 - Os 20 setores que mais consumiram TI (Wainer, 2003)


Autor: Gideon Marinho Gonçalves


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