Fatores comportamentais da família e da escola que influenciam no desenvolvimento da pessoa com altas habilidades/superdotação



RESUMO

 

 

A família como primeira instituição educacional responsável pela transmissão de conhecimentos na formação do ser humano é também responsável pela carga genética que transmite as características físicas e mentais da pessoa. No entanto, neste trabalho foi dado enfoque ao fenômeno das altas habilidades/superdotação situando aspectos familiares e escolares que contribuem no desenvolvimento dessas habilidades, enfatizando fatores comportamentais. Para tanto, caracterizou-se altas habilidades/superdotação com base nas pesquisas de Stenberg (Teoria Triarquica da Inteligência), de Gardner (Teoria das Inteligências Múltiplas) e Renzulli (Teoria dos Três Anéis). A seguir foram abordados aspectos familiares e ambientais que influenciam o surgimento das altas habilidades, das ações e reações da família e da escola diante do fenômeno das altas habilidades/superdotação e finalmente enfatizou-se a importância da parceria entre escola e família no desenvolvimento das altas habilidades, nas mudanças das políticas educacionais e no convívio social.

 Palavras-chave: Altas habilidades/Superdotação, Família, Escola, Desenvolvimento.

 


SUMÁRIO

 

 

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 04

1 O QUE CARACTERIZA A PESSOA COM ALTAS HABILIDADES /SUPERDOTAÇÃO         05

1. 1 Habilidade acima da média............................................................................... 06

1. 2 Comprometimento com a tarefa........................................................................ 07

1. 3 Criatividade........................................................................................................... 07

2 ASPECTOS FAMILIARES E AMBIENTAIS QUE FAVORECEM O SURGIMENTO DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO.......................................................................... 09

2.1 A herança genética e as altas habilidades/superdotação............................ 10

2.2 Influências ambientais no desenvolvimento das altas habilidades............ 11

2.3 O alto habilidoso no contexto familiar e social................................................ 12

3 AÇÕES E REAÇÕES DA FAMÍLIA E DA ESCOLA DIANTE DO FENÔMENO ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO.......................................................................... 13

3. 1 Ações positivas no ambiente familiar.............................................................. 14

3. 2 Ações negativas no ambiente familiar............................................................. 15

3. 3 Ações positivas e negativas no ambiente escolar......................................... 16

4 FAMÍLIA E ESCOLA PARCERIA NO DESENVOLVIMENTO DAS ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO.......................................................................... 18

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 20

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 21

 

 


INTRODUÇÃO

Durante muito tempo o termo “superdotação” foi utilizado como um fenômeno incomum, cercado de misticismo e tabus desencadeando superstições e preconceitos em torno das pessoas que apresentavam características de habilidades acima da média.

Depois dos estudos realizados por alguns pesquisadores em especial Stenberg, Gardner e Renzulli, pode-se perceber que o fenômeno das altas habilidades/superdotação é bem mais comum do que se imaginava e que não se pode atribuir um único modelo de superdotados tendo em vista que as habilidades podem se desenvolver em áreas distintas e manifestar-se de maneiras diversas.

De acordo com as pesquisas bibliográficas realizadas, o surgimento das altas habilidades/superdotação pode ter sua origem na transmissão genética, mas é no ambiente familiar, escolar e social que se desenvolvem. Portanto, um ambiente acolhedor que proporcione desafios e motivação é favorável ao desenvolvimento da pessoa habilidosa; caso contrário, as habilidades poderão ser tolhidas em alguma etapa da sua vida.

A finalidade do exposto é ressaltar a importância da família e da escola na identificação de crianças e adolescentes com altas habilidades e formação de pais e educadores para promoverem ações adequadas para motivar o desenvolvimento das altas habilidades e ao mesmo tempo trabalhar os valores morais, éticos e a socialização com seus pares.

 

 

 

 


1. O QUE CARACTERIZA A PESSOA COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

O termo superdotação durante muito tempo foi tido como algo fora do comum, o que contribuiu para o surgimento de tabus e crenças que levavam as pessoas ao endeusamento ou a discriminação do individuo superdotado.

Na Idade Média as pessoas com características de superdotação eram tratadas como bruxas por apresentarem habilidades especiais e mais tarde, consideradas pessoas iluminadas. Atualmente, pessoas menos informadas, os consideram indivíduos marcados pelo destino para terem vida curta, por serem diferentes dos demais e apresentarem um QI elevado.

Pelos estudos realizados sabe-se que a pessoa superdotada é definida por apresentar habilidades que se destacam dos demais em uma ou mais área, tais como: área acadêmica, artística, motora etc. Alguns se destacam na capacidade de liderança e criatividade o que demonstra que a superdotação não é algo tão raro em nosso meio.

Para Guenther (2006, p. 34) “crianças e jovens dotados e talentosos não constituem um grupo homogêneo, facilmente reconhecível em qualquer situação”. Significa dizer, que apesar da desmistificação dos superdotados na atualidade, não é simples a identificação deles por não apresentarem um perfil único.

Estudos vêm sendo realizado há anos buscando conceituar pessoas alto-habilidosas, porém, não se alcançou uma definição para elas nem se unificou um termo único para designar quem tem habilidade acima da média.

Alguns estudiosos destacaram alguns aspectos da inteligência humana que foram considerados como características típicas de pessoas que apresentam superdotação.

 Stenberg desenvolveu a Teoria Triárquica da Inteligência onde distingue três tipos de superdotação intelectual: analítica, criativa e prática.

Superdotação em relação às habilidades analíticas envolve dissecar um problema e compreender suas partes. Indivíduos com altas habilidades nesta área de funcionamento intelectual tende a ter um bom desempenho em testes convencionais de inteligência. Já a superdotação sintética é observada em indivíduos que são intuitivos, criativos e lidam bem com situações novas. De maneira geral, estes indivíduos não se saem bem em medidas tradicionais de inteligência.O terceiro tipo de superdotação, denominada de prática, envolve aplicar qualquer habilidade, seja analítica ou sintética, em situações do dia a dia. O indivíduo com superdotação prática é aquele que consegue visualizar o que é necessário ser feito para se obter êxito em um determinado ambiente. Entretanto, Sternberg ressalta normalmente os indivíduos não possuem um único tipo de superdotação, mas uma combinação deles (FLEITH, 2006).

Além de Stenberg, outros estudiosos consideram que não há um único tipo de superdotação. Gardner, por exemplo, ao desenvolver o conceito de inteligências múltiplas mostra que o superdotado pode se destacar em uma ou mais forma de inteligência e Renzulli com sua teoria dos três anéis, também destaca três fatores que caracterizam pessoas com altas habilidades: “habilidade acima da média, criatividade e envolvimento com a tarefa”.

1. 1 Habilidade acima da média

No critério de habilidade acima da média é necessário levar em consideração a pessoa dentro de um contexto socioeconômico, de uma mesma faixa etária, de um mesmo grupo e observar com que frequência as suas habilidades se manifestam e se destacam em relação aos outros.

Assim sendo não se pode considerar toda criança que apresenta habilidade em um determinado aspecto como sendo superdotada, mas deve-se observar a existência de outras características que possam se enquadrar como tal. A aplicação de testes psicométricos por si só também não é suficiente para identificá-las, pois não leva em consideração aspectos importantes do cotidiano da pessoa e nem as características comportamentais que apontam sinais de altas habilidades.

Pela qualidade das observações e contribuições dos vários segmentos – família, escola e grupos sociais – é possível traçar o perfil da superdotação. Quando as características se mantêm em caráter permanente e constante, é que se evidencia, de maneira mais consistente, o potencial. (FLEITH, 2007)

A observação é fundamental também para que se possa desenvolver programas adequados nas instituições educacionais, de forma a contemplar as necessidades dos educandos em geral e não somente de indivíduos com habilidade acima da média.

Para Renzulli, os programas para superdotados baseados nos “métodos tradicionais de identificação” excluem muitas pessoas que poderiam desenvolver níveis elevados de produtividade se devidamente estimuladas e se a habilidade superior for associada a outros fatores.

Os altos níveis de produtividade somente podem ocorrer quando a capacidade acima da media interage com outros fatores, tais como o comprometimento com a tarefa e a criatividade. São estes fatores que permitem que os alunos criem produtos de qualidade excepcional (RENZULLI, 2004 ).

O estímulo e a oportunidade são primordiais para que o indivíduo com altas habilidades possa desenvolver suas potencialidades ao mesmo tempo em que favorece a identificação de outros com potencial para elevada produtividade, mesmo que a princípio não sejam identificados como superdotados.

1. 2 Comprometimento com a tarefa

Nesse aspecto a pessoa habilidosa revela grande motivação e dedica muita energia no trabalho que desenvolve. Apresenta persistência, muita dedicação, autoconfiança e deslumbramento com aquilo que realiza.

O indivíduo que apresenta esta característica em geral é bastante entusiasmado e desenvolve grandes expectativas naquilo que pretende alcançar no desempenho de suas atividades, mostrando-se sempre disposto a recomeçar para tornar realidade o seu intento.

1. 3 Criatividade

A criatividade se distingue pela capacidade da pessoa de ser original em suas ideias, ter flexibilidade e abertura a novas experiências, apresentando,  geralmente, percepção aguçada a detalhes e pensamento divergente dos demais quando o tema exige reflexão.

A rotina para quem apresenta esta característica é entediante e proporciona distração e desmotiva-o para a atividade que não considerar interessante.

É muito comum que a pessoa criativa tenha elevada curiosidade e esteja sempre buscando novos desafios, enquanto os riscos que corre no desenvolvimento de uma atividade são estimulantes para concretização da mesma.

Essas características apontadas por Renzulli não diferem de outros autores, embora alguns considerem a precocidade, o assincronismo (afetivo-intelectual, intelectual-psicomotor, da linguagem e do raciocínio, escolar-social e familiar), gosto pela leitura, liderança etc. como indícios de altas habilidades/superdotação.

A identificação de pessoas com altas habilidades/superdotação tem sido realizada não com o intuito de “rotular” estes indivíduos, formar um grupo de elite, entre outras colocações que são feitas neste sentido, que normalmente vem imbricada por inúmeros mitos. A identificação permite que estes sujeitos possam receber um atendimento que vá ao encontro de suas reais necessidades e interesses, para que possa estar desenvolvendo e estimulando suas habilidades e assim constituir uma vida satisfatória e com qualidade. (NEGRINI e FREITAS, 2008)

A identificação desses talentos envolve não só os familiares, mas professores, colegas e a sociedade como um todo, pois é na convivência que se percebe as características que fundamentam uma observação mais apurada e um estudo de caso adequado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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2 ASPECTOS FAMILIARES E AMBIENTAIS QUE FAVORECEM O SURGIMENTO DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

A constituição da pessoa humana em todos os seus aspectos passa por um processo de evolução, desde o momento em que foi gerada até o momento final de sua vida terrena.

Neste processo evolutivo a pessoa vai se formando física e psiquicamente de forma automática, mas dependente de estímulos externos que favorecem ou dificultam o seu desenvolvimento, provenientes do meio ambiente e das pessoas que integram o seu mundo.

É nesse contexto que se encaixa a ideia de família como protagonista na formação do indivíduo. É nela que ele adquire os primeiros conhecimentos e é dela que saem as primeiras orientações de conduta e de princípios norteadores da caminhada para o futuro.

Na espécie humana, o adulto dispõe de atividades com a ajuda das quais pode se esquivar das imposições do ambiente imediato. Às circunstâncias externas pode contrapor um mundo de motivos que descobre em si mesmo, independentemente da fonte de que foram hauridos, e que funcionam como um regulador interno de sua conduta. Portanto, deve-se supor no ponto de partida um equipamento psicobiológico bem mais complexo que nas outras espécies. Em contrapartida, a criança permanece por muito mais tempo desarmada ante as necessidades mais elementares da vida, e as oportunidades de aprendizagem que encontra no meio externo ganham então uma importância decisiva (Wallon, 2007 p. 40).

 

É preciso que a família forneça as oportunidades de aprendizagens do meio externo para que a criança se torne o adulto capaz de enfrentar as imposições do ambiente social em que será inserido com segurança e habilidade.

Assim como a formação psíquica, física e conduta moral são atribuídos à família, em primeira mão, a carga genética que é fornecida pelos pais e que também se atribui a outros membros da família, influenciam no desenvolvimento individual, o que significa que não só valores morais e éticos são herdados, mas também características genéticas que podem repercutir nas habilidades intelectuais, procedimentais e atitudinais do cotidiano da pessoa humana.

 

 

2. 1  A herança genética e as altas habilidades/superdotação

A manifestação de altas habilidades/superdotação ligadas a fatores genéticos vem sendo estudada por diversos pesquisadores que buscam encontrar uma explicação para a existência de pessoas com habilidades acima da média. Entretanto nada foi comprovado a esse respeito, embora evidências mostrem que geralmente, ao se detectar uma criança com altas habilidades/superdotação, descobre-se que alguém da família bem próximo a ela também apresentava características de superdotado.

Isso é um indício de que essas manifestações de altas habilidades têm ligações com fenômenos de ordem genética.

Segundo Ferreira no seu artigo sobre “A avaliação dos processos cognitivos através de testes psicológicos e indicadores neurofisiológicos”, afirma:

Independente da forma como a inteligência é expressa, seja através de habilidades cognitivas ou de uma habilidade acadêmica específica, liderança ou comportamento criativo, ela sempre será resultado direto da interação estabelecida entre as características biológicas, determinadas geneticamente e as oportunidades oferecidas pelo ambiente onde o desenvolvimento ocorre. Consequentemente, os testes para mediar e avaliar os processos cognitivos precisaram passar por profundas reformulações, esforço que permanece um desafio nos dias atuais. (FERREIRA, 2010)

 

Se por um lado os fatores biológicos interferem diretamente no desempenho intelectual do habilidoso, por outro se percebe que os estímulos ambientais são extremamente importantes para o desenvolvimento das habilidades do indivíduo.

A concepção dominante, por muito tempo, no âmbito das ciências que estudam a família,restringia o seu papel à transmissão de genes, dando pouca ou quase nenhuma importância para sua função de construção do conhecimento intergeracional. No entanto, o seu importante papel na proteção do funcionamento biológico, na sobrevivência humana, na manutenção e transmissão de valores, tradições e significados culturais é inquestionável. (FLEITH, 2007)

 

Isso vem demonstrar que as altas habilidades/superdotação têm influência da herança genética da pessoa, mas é também influenciada pelo convívio familiar e social que oferece ou nega as oportunidades para que essas habilidades se desenvolvam.

 

2. 2 Influências ambientais no desenvolvimento das altas habilidades

As influências ambientais no desenvolvimento das altas habilidades têm como foco principal a família e a escola como fontes de estímulos e como instituições responsáveis em oportunizar, no caso específico da criança, atividades desafiadoras para que ela possa desenvolver todo o seu potencial.

Essas atividades inicialmente devem disponibilizar um primeiro contato da criança com o objeto do conhecimento a ser desenvolvido como motivação e numa segunda etapa ela poderá apresentar envolvimento com a tarefa para então acender as habilidades de que é dotado.

Neste sentido a observação atenta dos familiares e dos professores, para determinadas características apresentadas por crianças e jovens talentosos podem ser determinantes para o desenvolvimento das habilidades, através de atividades específicas para este fim.

O agravante em relação a essa questão é que nem sempre as famílias têm informação sobre como lidar com pessoas que apresentam habilidade acima da média, assim também como os professores e a própria escola que nem sempre dispõe de recursos materiais e humanos para desenvolver as atividades adequadas.

Vale salientar que a disponibilidade de recursos e a preparação das famílias para o desenvolvimento de habilidades do indivíduo deveria ser prioridade educativa para todos os educandos e não somente para aqueles que apresentam altas habilidades, tendo em vista, que se educa o homem integral e não apenas para algumas habilidades específicas.

O trabalho educacional com a criança dotada não é diferente das direções apontadas pelo objetivo maior da educação: aperfeiçoar pessoas. O risco envolvido em desenvolver um talento isoladamente é grande, mormente na infância e adolescência, e não vale a pena correr. Existem demasiados exemplos de infelicidade e desgraça advindos de tratamento unilateral dado a crianças talentosas, principalmente, em esportes e artes cênicas, mas certamente também em outros domínios. (GUENTHER, 2006, p. 70)

A formação integral do homem é um processo que ultrapassa o limite da família, da escola e vai se construindo no convívio social. Portanto o desenvolvimento de qualquer habilidade individual sofre influência do meio familiar, escolar e social em diferentes etapas da vida humana.

 

2. 3 O alto habilidoso no contexto familiar e social

 A formação humana que passa inicialmente pela convivência familiar e pela escolar estende-se por outros grupos que integram o meio social do individuo em desenvolvimento.

Para Vigotski “o processo de internalização” por parte do ser humano se dá através de transformações de processos externos em internos.

a)   Uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente. É de particular importância para o desenvolvimento dos processos mentais superiores [...]

b)   Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social e, depois, no individual; primeiro, entre pessoas (interpsicológica) e, depois, no interior da criança (intrapsicológica). [...]

c)   A transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento. (VIGOTSK, 2007, p. 57 -grifos do autor)

Os estímulos do meio na formação de qualquer pessoa acontecem de forma natural podendo contribuir positivo ou negativamente na vida dela.

Na pessoa com altas habilidades o convívio social é dificultado muitas vezes pela divergência comportamental existente entre os pares. Em geral a pessoa com habilidade acima da média tem gostos e comportamentos incompatíveis com os outros da mesma faixa etária e dificilmente é bem aceito em outro grupo.

Essa disparidade quase sempre o leva ao isolamento. Necessita, portanto, uma atenção especial dos familiares para a integração da pessoa habilidosa com o meio social para que as influências possam beneficiá-lo.

 

 

 

 

 

 

 

3 AÇÕES E REAÇÕES DA FAMÍLIA E DA ESCOLA DIANTE DO FENÔMENO ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

A família, em geral os pais, ao se depararem com atitudes do filho ou filha, pouco comuns para faixa etária deles, a primeira reação é de perplexidade e a seguir de orgulho por considerar que a criança tem uma inteligência excepcional.

Com o passar do tempo essas primeiras reações dá lugar ao medo e á insegurança por não saber lidar com situações onde a criança com habilidade acima da média age de maneira diferente dos demais de sua idade, apresenta interesses considerados inadequados para aquela fase da vida ou questiona situações e fatos que muitas vezes deixam os pais sem respostas e sem argumentos suficientes para justificá-los.

Tais reações poderão criar problemas para os pais por não terem informações e preparo para lidar com essa situação e para o alto habilidoso, que por se sentir diferente, poderá apresentar problemas de relacionamento, introspecção, isolamento e até mesmo da negação da própria habilidade.

Um outro desafio enfrentado pelas famílias de superdotados é o fato de elas terem que lidar com crianças que se encontram em muitas idades de desenvolvimento, em decorrência da falta de sincronia que caracteriza o seu desenvolvimento, ou seja, crianças com habilidades intelectuais avançadas, enquanto as habilidades motoras e sociais são geralmente apropriadas para a sua idade cronológica. Por exemplo, torna-se difícil lidar com uma criança que tem argumentos verbais de uma idade mais avançada e comportamento emocional de sua faixa etária. (FLEITH, 2007)

Isso leva os adultos muitas vezes a agir como se a criança fosse um pequeno adulto ou simplesmente não saber como tratá-la diante da postura assumida por ela em determinadas situações.

A falta de informação leva muitas vezes pais, familiares e professores a atitudes que poderão comprometer o desenvolvimento das altas habilidades na criança ou adolescente ou até mesmo atribuir comportamentos observados como sintoma de hiperatividade ou de alguma síndrome não diagnosticada.

 

 

3. 1 Ações positivas no ambiente familiar

Quando a família detecta na criança uma habilidade específica cabe a ela proporcionar ambiente adequado para que possa ser desenvolvida, além de buscar informações e aconselhamentos com especialistas para não incorrer em atitudes errôneas.

Outro aspecto importante é o contato do habilidoso com outros habilidosos, assim também, como os pais que deverão encontrar outros que tenham filhos na mesma situação com o devido acompanhamento do profissional. Isso poderá ajudá-los a compreender o fenômeno das altas habilidadedes/superdotação e vencer os mitos existentes em torno desse tema.

O contato com os pais que vivem situações similares deve contar com algumas garantias, já que nem todas as famílias podem nãos ser isentas de um certo componente de rivalidade, comparando continuamente a evolução dos respectivos filhos. Nos encontros de pais, nos primeiros momentos, pode ser interessante a mediação profissional ou a formação inicial dos pais veteranos para saber como ajudar eficazmente os novos. (PANIAGUA: In Coll, et. al. 2004, p.337)

No Brasil existem os NAAH/S (Núcleos de atividades de Altas Habilidades/superdotação) que faz atendimento a crianças e adolescentes com altas habilidades/superdotação, para os pais e oferece cursos para profissionais da área de educação e outras afins.

A informação sobre as altas habilidades é fundamental para os familiares, porém uma família acolhedora, um ambiente favorável à aprendizagem, o carinho e a socialização da pessoa com habilidade acima da média são fatores essenciais para o desenvolvimento das capacidades ou talentos por ela apresentados.

Silvia Helena Altoé Brando no artigo Atendimento Educacional Especializado a Alunos com Altas habilidades/superdotação: um olhar a partir da teoria histórico-cultural explica:

Como função psicológica complexa e reguladora do comportamento a atenção voluntária é subsidiada por outras funções como a percepção, a memória, o pensamento e a emoção sob a forma de recursos auxiliares internos que funcionam em conjunto. A afetividade é um componente de grande influência nos processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento humanos. Ao ler um texto, os trechos marcantes quanto ao aspecto afetivo ganham dimensão de importância graças ao registro significativo decorrente do sentimento provocado. (BRANDÃO, 2010)

 Se a inteligência é fator primordial para o desenvolvimento cognitivo do individuo, o sentimento que se desperta nele em relação ao objeto do conhecimento é aspecto motivador para a aprendizagem ou para o bloqueio da mesma.

3. 2 Ações negativas no ambiente familiar

 A família desinformada, sem orientação profissional tende a agir guiada por tabus cultivados pela sociedade ou pelo orgulho de ter como membro um superdotado, acreditando ter em casa um gênio com garantia de sucesso no futuro.

Muitas pessoas da família por julgarem ser o habilidoso um gênio tende a acreditar que aquela pessoa com habilidade acima da média poderá se desenvolver sozinha e que não necessita de apoio no seu processo de desenvolvimento.

Inúmeras atitudes são observadas em relação às pessoas com altas habilidades. Entre elas estão:

Exigência de bom desempenho acadêmico, a exploração dos talentos especiais da pessoa para exibicionismo público, desvalorização do talento (principalmente quando é artístico ou esportivo), comparação com outros membros da família ou com outros da mesma faixa etária, supervalorização do talento especial e esquecimento outros valores que fazem parte da formação integral da pessoa humana.

O superdotado como qualquer pessoa necessita do estabelecimento de normas de conduta, da imposição de limites (com as devidas justificativas), de respeito ao seu estilo de aprendizagem e ao seu potencial.

Romeu Sassaki ao tratar do tema inclusão faz referência aos estilos de aprendizagem e inteligências múltiplas:

Os estilos de aprendizagem são o modo como cada um de nós aprende melhor e as inteligências múltiplas constituem as habilidades que podemos utilizar para aprender qualquer coisa e realizar nossos objetivos. Há uma estreita relação entre estilos de aprendizagem e inteligências múltiplas. ( SASSAKI, 2006, p.132)

É preciso entender que as altas habilidades se manifestam em áreas diversas, são fenômenos que geralmente surgem precocemente e se desenvolve em cada etapa da vida se forem corretamente estimulados, mas que poderão ser tolhidos em algum momento se o ambiente familiar ou o escolar não forem desafiadores e propícios à aprendizagem.

3. 3 Ações positivas e negativas no ambiente escolar

A escola em seu processo educacional, assim como a família, também desenvolve determinados procedimentos em seu cotidiano que podem interferir positiva ou negativamente na vida dos alunos com altas habilidades/superdotação.

É comum em sala de aula o professor e até mesmo os gestores escolares dar uma ênfase muito grande aos alunos que se destacam por ter uma inteligência acima da média, o que poderá despertar nos outros ciúme, despeito e discriminação ou até mesmo o tão comentado bullyng.

Além disso, existem professores que passam a exigir menos dos alunos alto habilidosos por considerar que conseguem desenvolver bem melhor que os demais as atividades propostas em aulas, exigir mais dos outros ou ao contrário passa a hostilizá-lo por não suportar seus questionamentos e seus posicionamentos em sala de aula.

O aluno com altas habilidades não exige que o professor seja como ele. Esse, aliás, é um preconceito que vem impedindo, em grande medida, a identificação e o encaminhamento dessa população: a confusão que se faz entre autoridade e conhecimento. Muitos professores pensam que, se não souberem tudo o que seus alunos perguntam, perdem sua autoridade diante da sala. E isso não é verdade. Faz parte da conduta adequada para com o aluno habilidoso envolvê-lo na busca de respostas e soluções, quando não na própria identificação de problemas. Esse aluno pode ser um parceiro, se o professor não se sentir ameaçado por ele. Um requisito importante, no entanto, para o trato com a criança ou jovem com altas habilidades, é a abertura para a indagação. O professor não pode ser autoritário nem considerar que detém todo o conhecimento. (BARRETO, 2008)

Em relação aos colegas, geralmente, o aluno que apresenta altas habilidades/superdotação é tratado com preconceito, passa a ser discriminado nas brincadeiras, nas reuniões da turma, é explorado nas atividades escolares e se suas habilidades forem bastante enfatizadas passa a ser considerado o queridinho do professor.

Cabe à escola preparar seus educadores para observar atentamente para detectar as habilidades de seus alunos e com muito bom senso tratá-los com naturalidade, porém desenvolver atividades desafiadoras que proporcione a todos oportunidade de crescimento.

Sabemos de professores que sempre entenderam que a função deles é a de ensinar falando o tempo todo para os alunos, escrevendo na lousa para os alunos copiarem e dando aos alunos tarefas escritas para provar que entenderam a matéria dada. Trata-se de uma abordagem muito limitada da aprendizagem, cujos resultados práticos são desastrosos: alunos desinteressados na aula, alunos desmotivados para executar as tarefas, alunos que acabam não aprendendo nada de relevante para sua vida etc. (SASSAKI, 2006, P. 133)

É preciso que os educadores se conscientizem de que o aluno com altas habilidades/superdotação passa pelo mesmo processo de formação, o que o diferencia dos demais é o tempo em que se dá a aprendizagem e a capacidade de apreender melhor os conhecimentos. Isso não significa que desenvolverá habilidades em todas as áreas e que os outros não possam obter os mesmos conhecimentos sem que tenham habilidades excepcionais.

O estímulo e os desafios devem ser para todos, porém o professor não pode deixar que o aluno com habilidade superior fique desmotivado diante de uma atividade por exigir mais que os outros alunos. É preciso ficar atento para que ele possa desenvolver toda sua potencialidade.

A posição do professor de sala de aula é de extrema relevância no reconhecimento das capacidades especiais dos alunos. Talento não reconhecido é talento negado, e se o professor não consegue ver no aluno aquilo que ele, deseja ou espera que seja demonstração de capacidade, no sentido abstrato e geral, ele tende a julgar o aluno como “não dotado”. (GUENTHER, 2006, p. 48)

O educador que conseguir observar seus alunos e detectar as altas habilidades em algum, e for capaz de despertar a motivação através de desafios, encaminhar para o acompanhamento profissional e juntamente com a família prepará-lo para o convívio social, poderá obter grandes conquistas e seu aluno a chance de ter sucesso e ser feliz.

 

 

4 FAMÍLIA E ESCOLA PARCERIA NO DESENVOLVIMENTO DAS ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

A família e a escola são as primeiras instituições educacionais responsáveis pela formação do indivíduo e é nessas instituições que se têm as primeiras noções de grupo e de normas de convívio social.

A apreensão das normas de convivência no alto habilidoso se dá mais rapidamente, e mais rapidamente também, são apreendidos os valores externos ao meio familiar e escolar.  Começam então, a surgir os conflitos entre os princípios pregados por essas instituições e o meio social os questionamentos e o posicionamento diante dos acontecimentos da vida e a busca por respostas que expliquem esses fatos.

Esses conflitos fazem parte do desenvolvimento da pessoa humana independentemente do nível de inteligência, do nível socioeconômico ou da raça a que pertence. O que difere nesse caso, é quando a pessoa apresenta algum talento especial que muitas vezes a família e a escola não sabem como agir para dar as repostas necessárias aos questionamentos e o estímulo adequado para o desenvolvimento das habilidades percebidas.

Segundo Zenita Guenther a “estimulação apropriada e encorajamento na família” beneficiam o desenvolvimento geral da criança:

Quando os pais são ajudados a compreender o valor do estímulo, apoio e orientação apropriados a cada momento; controlar suas próprias expectativas e anseios em relação ao filho mais capaz; encarar com paciência e perseverança questões-chave relativas, por exemplo, à disciplina e persistência, o benefício para a criança, em termos de desenvolvimento geral, é imediato. (GUENTHER, 2006, P.44)

Em relação à participação dos pais e familiares na escola afirma:

A família, de modo geral, revela bons aliados aos educadores, em todas as iniciativas de Educação Especial, e se mostram capazes de exercer pressão efetiva para imprimir mudanças no sistema educacional. Exemplos de grupos e associações, em todos os países, testemunham quanto à potência desses movimentos nas comunidades e sociedade, e do que podem conseguir em termos de mudanças maiores e adoção de novas políticas. (Op. cit. p. 47)

 

A parceria da família e a escola na formação dos educandos e em especial das crianças e adolescentes com altas habilidades/ superdotação são benéficas não só no desenvolvimento dos talentos apresentado pelos alunos, mas também no que diz respeito às políticas educacionais, às relações sociais e comunitárias.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

O Trabalho educativo quer seja realizado na família ou na escola, exige dos educadores alguns atributos indispensáveis para o desenvolvimento da pessoa humana e mais ainda quando se trata de crianças ou adolescentes que apresentam talentos especiais:

1º Capacidade de observação e preparação para intervir de forma positiva no processo de aprendizagem;

2º Informação sobre as habilidades dos educandos e orientação profissional;

3º Habilidade para uma atuação motivadora que proporcione desafios de forma a valorizar os talentos apresentados pelos educandos;

4º Conscientização da importância da participação da família, da escola e de outros segmentos da comunidade para o desenvolvimento de pessoas que tenham altas habilidades.

O trabalho conjunto de pais, familiares, educadores, especialistas e pessoas responsáveis pelas políticas educacionais aliado à informação a respeito desse fenômeno conhecido como altas habilidades/superdotação, grandes conquistas poderão ser obtidas pelos educandos e pela a sociedade em geral.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

 

BRANDÃO, Silvia Helena Altoé. O Atendimento Educacional Especializado a Alunos com Altas Habilidades/superdotação: um olhar a partir da teoria histórico-cultural. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO, I, 2010, Curitiba. Anais. Curitiba: CONBRASD; UFPR, 2010.

Brasília Ministério da Educação. A Construção de Práticas Educacionais paraAlunos com Altas Habilidades / Superdotação: o aluno e a família. Denise de Sousa Fleith (org). Brasília: Ministério de Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007. 73 p. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashab4.pdf> Acesso em 10/12/11

FERREIRA, Andréia da Silva. A Avaliação dos Processos Cognitivos através de Testes Psicológicos e Indicadores Neurofisiológicos. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE ALTAS HABILIDADES, I, 2010, Curitiba. Anais. Curitiba: CONBRASD; UFPR, 2010.

FLEITH, Denise de Souza. Criatividade Altas Habilidades/superdotação. Educação. Brasília, 2006, n.28. Disponível em

<http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2006/02/a4.htm> Acesso em 25/11/11

GUENTHER, Zenita Cunha. Desenvolver Capacidades e Talentos: um conceito de inclusão, 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

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PANIAGUA, Gema. As Famílias de Crianças com Necessidades Educativas Especiais. In: COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento Psicológico e Educação: transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais, 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 330-346.

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Autor: Francisca Cotinha Cunha


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