A Educação No Renascimento



1 INTRODUÇÃO

O movimento renascentista envolveu uma nova sociedade e, portanto novas relações sociais em seu cotidiano. A vida urbana passou a ter um novo comportamento, pois o trabalho, a diversão, o tipo de moradia, os encontros nas ruas, implicavam por si só um novo comportamento dos homens. Isso significa que o renascimento não foi um movimento de alguns artistas, mas uma nova concepção de vida adotada por uma parcela da sociedade, e que será exaltada e difundida nas obras de arte. Apesar de recuperar os valores da cultura clássica, o renascimento não foi uma cópia, pois se utilizava dos mesmos conceitos, porém aplicados de uma nova maneira a uma nova realidade.

O Renascimento surgiu na Itália, que era o principal pólo comercial daquele momento. Ricos e poderosos membros da sociedade italiana despertaram-se primeiramente, para a necessidade de  superar a mentalidade feudal. Surgem  diversos mecenas,  patrocinando artistas, intelectuais e cientistas, no aprimoramento de sua cultura. As cidades italianas acabam por atrair inúmeros sábios bizantinos, que por terem preservado muito da cultura greco-latina, acabam por contribuir para o desenvolvimento renascentista. Partindo da Itália, o Renascimento difundiu-se por diversas nações européias, sendo grandemente favorecido pelo rápido fortalecimento comercial e urbano, que atingiu grande parte da Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVI, caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana, ou seja, da cultura clássica. Esse momento é considerado como um importante período de transição envolvendo as estruturas feudo capitalistas.

2 CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO RENASCENTISTA

A educação renascentistavisava o homem burguês, o clero e a nobreza. Era elitista, aristocrata e nutria o individualismo liberal, não chegando às massas populares. Junto com a revalorização da cultura greco-romana, alguns fatos históricos nos séculos XIV e XV, influenciaram o pensamento pedagógico, favorecendo a superação do próprio homem, o pioneirismo e a aventura. Durante o Renascimento despontam três grandes áreas de interesse: a vida real do passado, o mundo subjetivo das emoções e o mundo da natureza física. Como uma das principais conseqüências destes novos interesses, desloca-se o centro de gravitação, afastando-se das coisas divinas, dirige-se para o próprio homem. Opõe-se à escolástica, propondo situar o ideal da nova vida nos propósitos e atividades específicas das disciplinas de humanidades. Como a literatura dos gregos e romanos era um meio para esta compreensão, o aprendizado da língua e da literatura torna-se o problema pedagógico mais importante. Muito embora ainda elitista e aristocrático, o humanismo antropocêntrico renascentista, ao dirigir-se ao indivíduo permite entrever uma maior participação do aprendiz na aprendizagem. De certa maneira retoma uma agenda interrompida durante o período medieval. Concretamente, isto não se implementa de forma abrangente.

No entanto, começam a surgir idéias onde características do aprendiz se tornam mais relevantes. Segundo CAMBI APUD FELTRE (séculos XIV e XV), em sua "Casa Giocosa", propunha uma educação individualizada, o auto governo dos alunos, a emulação. Preocupava-se, acima de tudo, com a formação integral do homem. "Já aflorava a valorização da aprendizagem, pois assim dizia uma legenda da Casa Giocosa "Vinde ó, meninos aqui se instruem não se atormenta,", ou seja, aprender deveria ser algo prazeroso e também voltado para a realidade, pois assim falava:" Quero ensinar aos jovens a pensar, não a delirar''. Foi considerado um precursor da Escola Nova. Já Juan Luís Vives (séculos XIV e XV), enfatiza as vantagens do método indutivo, o valor da observação rigorosa e da coleta de experiências. Do ponto de vista epistemológico, isto torna o conhecimento um produto do homem, sendo, portanto, passível de crítica pelos seus semelhantes.

Ainda mais, a indução não possui a força lógica da dedução, o que torna ainda mais fácil a implementação da crítica. Mais um tijolo para a escola dos aprendizes ativos. Na mesma linha, Rabelais (séculos XIV e XV), faz os franceses rirem da educação medieval através do gigante Gargântua. Ressalta a importância da natureza em oposição aos livros. Claramente contra-hegemônico, criticou a escolástica, valorizando a cultura popular em resistência à cultura oficial dominante. Erasmo (séculos XV e XVI), pregador do humanismo, no seu Elogio da Loucura investiu contra o obscurantismo da cultura medieval. A sua ênfase no livre arbítrio, embora ligada a uma visão religiosa, abre ao aprendiz uma senda que este não ousava antever.
O ideal educativo de Montaigne é "O homem para o mundo. É preciso educar o juízo do aluno". Reprova os que tratam alunos como sujeitos passivos, que recebem o conhecimento como idéias já feitas. Sua preocupação com um tipo de educação destinada a formar o juízo prático dos jovens para as coisas da vida coincide com as preocupações educativas de nosso tempo.

O Renascimento valorizava as humanidades em oposição ao teocratismo da Idade Média. A reação de protesto repercutiu na educação e na Igreja com a Reforma Protestante. Iniciada pelo monge Lutero e considerada por Engels como a revolução burguesa, transferiu a escola para o Estado. A Igreja Católica reagiu dentre outras coisas com a criação da Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola. Os jesuítas visavam à formação do homem burguês e tinham por missão converter hereges e alimentar cristãos vacilantes. Desprezaram a educação popular, e para o povo sobrou apenas o ensino dos princípios da religião cristã. Afora as questões ideológicas, o ensino jesuítico tinha princípios básicos que demonstravam preocupação com a qualidade da aprendizagem, pois pregava que era melhor aprender pouco, mas bem aprendido do que muito e superficialmente.

2.1 PENSAMENTO PEDAGÓGICO RENASCENTISTA

Este pensamento se caracterizava por uma revalorização da cultura greco-romana. Foi essa nova mentalidade que influenciou a educação tornando-a mais prática, incluindo a cultura do corpo e substituindo processos mecânicos por outros mais agradáveis. Foram as grandes navegações do século XVI e a invenção da imprensa realizada por Gutemberg que exerceram grande influência neste pensamento pedagógico. A educação renascentista preparou a formação do homem burguês e, por isso, essa educação não chegou às massas populares. Foi caracterizada pelo elitismo, pelo aristocratismo e pelo individualismo liberal. Atingia principalmente o clero, a nobreza e a burguesia nascente. Os principais educadores renascentistas foram:

*Vittorino da Feltre (1378-1446): defendia uma educação individualizada, o auto-governo do aluno e a competição;

*Erasmo Desidério (1467-1536): o verdadeiro caminho deveria ser criado pelo homem, enquanto ser inteligente e livre;

*Juan Luís Vives (1492-1540): foi um dos primeiros a solicitar uma remuneração para os professores;
*Fraçois Rabelais (por volta de 1483-1553): para ele o importante não eram os livros, mas a natureza. A educação precisava primeiro cuidar do corpo, da higiene, da limpeza, da vida ao ar livre, dos exercícios físicos, etc.;

* Michel de Montaigne (1533-1592): e acreditava que as crianças devem aprender o que farão quando adultos;

* Martinho Lutero: para ele a exaltação Renascentista do indivíduo de seu livre arbítrio, tornara inevitável a ruptura no seio da igreja. Iniciou a reforma Protestante, que foi considerada como a primeira grande revolução burguesa.

3RENASCIMENTO CULTURAL – HUMANISMO

O renascimento começou no século XIV na Itália e difundiu-se pela Europa no decorrer dos séculos XV e XVI. Além de atingir a Filosofia, as Artes e as Ciências, o renascimento fez parte de uma ampla gama de transformações culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas que caracterizam a transição do Feudalismo para o Capitalismo.

Nesse sentido, o renascimento pode ser entendido como um elemento de ruptura, no plano cultural, com a estrutura medieval. O renascimento cultural manifestou-se primeiro na Península Itálica, tendo como principais centros as cidades de Milão, Gênova, Veneza, Florença e Roma, de onde se difundiu para todos os países da Europa Ocidental. Porém, o movimento apresentou maior expressão na Itália. Não obstante, é importante conhecer as manifestações renascentistas da Inglaterra, Alemanha, Países Baixos, e menos intensamente, de Portugal e Espanha.

As características valorizadas foram: o racionalismo, o antropocentrismo, o individualismo, o hedonismo, o naturalismo e o otimismo. Foi um movimento de glorificação do homem. Tanto o grego antigo como o homem moderno esteve preocupado em compreender a origem do homem, porém chegaram a conclusões diferentes. Ambos se preocupavam em estabelecer a compreensão do mundo em bases racionais, porém olhavam o mundo de formas diferentes. Os renascentistas rejeitaram os padrões definidos pela igreja católica. Daí surgiu o humanismo e o teocentrismo medieval foi substituído pelo antropocentrismo.

O renascimento se caracterizou pelo humanismo, racionalismo e individualismo. Enquanto o renascimento se manifestou principalmente nas artes, na literatura e na filosofia, o humanismo representou tendência semelhante no campo da ciência. Os humanistas eram homens letrados profissionais, normalmente provenientes da burguesia ou do clero que, por meio de suas obras, exerceram grande influência sobre toda a sociedade; rejeitavam os valores e a maneira de ser da Idade Média e foram responsáveis por conduzir modificações nos métodos de ensino, desenvolvendo a análise e a crítica na investigação científica. O homem passa a perceber a sua importância como um ser racional, deixa de ser dominado pelos senhores feudais. Diz-se que o homem passa a sua mentalidade de medieval para a mentalidade moderna. Nesse período o homem troca os valores dominantes da idade média por novos valores baseado no homem como o centro de um mundo compreendido de uma maneira moderna.

4 A REFORMA PROTESTANTE E CONTRA - REFORMA

Reforma Protestante foi um movimento religioso, econômico e político de contestação à Igreja Católica, que resultou na fragmentação da unidade cristã e na origem do protestantismo.
No início do século XVI, a Alemanha era a região européia mais propensa a um rompimento definitivo com a Igreja. Entre os alemães, as motivações econômicas, sociais e políticas que os afastavam da Igreja Católica eram mais fortes do que em qualquer outro povo da Europa.

A Contra Reforma então marca o início de uma nova era do catolicismo. Dentro da reforma da Igreja Católica acontece o Concílio de Trento. Nessa reunião o papa negou os valores protestantes, proibiu a venda de indulgências, criou seminário, instituiu o index (índice dos livros proibidos), cria a "Companhia de Jesus" e manteve a inquisição.Para entender a Reforma Protestante temos que primeiramente saber em que contexto e porque ela se deu. Isso significa buscar suas bases que estão fincadas no Humanismo. Esse Renascimento é "um prodigioso florescer da vida, e em todas as formas que, embora as suas maiores manifestações se tenham verificado de 1490 a 1560, não ficou limitada dentro destes marcos". (MOUSNIER, 1960, p. 17).

Esse período é marcado por uma nova forma de pensar, pela ascensão da classe burguesa, desenvolvimento nas relações de produção de capital e trabalho e pela formação dos Estados Absolutistas. O homem é posto como centro das atenções e o pensamento científico começa a questionar algumas afirmações vigentes até então, e dentre elas, as religiosas. Existia naquele contexto a necessidade de uma nova religião mais sensível e que não fosse tão mal compreendida e mal conhecida como o catolicismo. Muitos dos pensadores da época apesar de replicarem muitos aspectos do sistema vigente e até mesmo da igreja ocidental eram religiosos e tinham fé.Uma vertente do pensamento humanista leva a uma maior reflexão do papel da igreja e das verdades que ela pregava. A Europa se vê envolta numa efervescência contestadora, o que acaba chegando às bases da Igreja Romana. Alguns pensadores como o humanista Erasmo e o boêmio de Praga, João Hus se opunham a alguns preceitos e dogmas do catolicismo. Em sua obra Elogio a Loucura, Erasmo critica a postura da igreja e relata que:

Os monges consideram não saber ler um sinal de sanidade. Zurzam os salmos nas igrejas como asnos. Não entendem uma só palavra do que dizem, mas imaginam ser o som agradável aos ouvidos dos santos. Os frades mendicantes fingem assemelhar-se aos Apóstolos, mas não passam de vagabundos imundos, ignorantes e ousados. (ERASMO DE ROTERDAN apud DOWNS, 1969, p. 16).

Erasmo não só critica a igreja em si, outrossim, sua postura diante a educação. Ele aponta que o modelo escolar do seu tempo era estático, formado pela memorização e repetição de conceitos sendo altamente disciplinar e controlado pelos princípios católicos fazendo com que a capacidade crítica e a criatividade do aluno fossem podadas. Essas ideais também influenciam no movimento reformista. Na verdade, apesar de alguns opositores, a Igreja Católica irá sentir mesmo o peso das suas contradições quando o monge agostiniano e professor de teologia Martinho Lutero afixa, em 31 de outubro de 1517, suas 95 teses na porta da catedral de Wittenberg. Lutero não apenas deu nova vida à teologia cristã ocidental, como a revolucionou. (OLSON, 2001, p. 379).

Asteses luteranas tinham como objetivo principal à reforma do catolicismo, para que esse viesse a ser calcado verdadeiramente nas "leis de Deus". É clara a denúncia que as teses fazem quanto às atividades papais, a venda de indulgências entre outros fatos desse gênero, mas numa análise mais detalhada se vê que a real preocupação de Lutero é a parte teológica que trata da salvação do homem. Pois ele percebe que a igreja não estava preocupada com aquele que deveria ser seu principal objetivo. Um aspecto interessante "defendido pelo criador do luteranismo é que esse se pronuncia sobre a questão escolar, defendendo e exaltando à importância dessa instituição e de seus conteúdos programáticos". (LIENHARD, 2005. p. 68).

O protestantismo quebra definitivamente o poder único da igreja Romana Ocidental e com isso se cria uma nova religião com uma base única. Apesar da reforma ter sido inaugurada pro Lutero outros reformadores vão aparecer, e com eles novas igrejas, mas todas elas seguiam três princípios básicos: "a salvação pela graça mediante a fé somente, a autoridade especial e final das Escrituras e o sacerdócio de todos os crentes". (OLSON, 2001, p. 407). Outras linhas protestantes mais relevantes que apareceram foram o Calvinismo e o Anglicanismo.

5 CONCLUSÃO

Entretanto, há ainda a necessidade de se estudar mais esse tema pelo seu grau de importância, não só para a história da educação, mas também para que possamos entender e aprender com o fazer da educação nos outros países de cultura protestante a dar um valor maior a nossa educação. O Renascimento traz como principais características o florescimento das artes, e um vigoroso despertar de todas as formas de pensamento. A redescoberta da antiga filosofia, da literatura, das ciências e a evolução dos métodos empíricos de conhecimento caracteriza todo este período que se inicia no século XV e prolonga-se até o séc. XVII. Em oposição ao espírito escolástico e ao conceito metafísico da vida, busca-se uma nova maneira de olhar e estudar o mundo natural.

Esse naturalismo vincula-se estreitamente à ciência empírica e utiliza suas descobertas para aplicá-las nas obras de arte. Os novos conhecimentos da anatomia, da fisiologia e da geometria são prontamente incorporados, possibilitando, por exemplo, a representação do volume pelo uso da perspectiva, dos efeitos de luzes e cores. Do ponto de vista filosófico, surge uma nova concepção do mundo e do destino do homem, uma visão mais realista e humana dos problemas morais.

6 REFERÊNCIAS

CAMBI, Franco. O século XV e a Renovação Educativa; História da Educação.Tradução de Álvaro Lorencini – São Paulo,Editora UNESP, 1999.

DOWNS, Robert B. Fundamentos do pensamento moderno. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército/Renes, 1969. v. 76. (Coleção General Benício).

LIENHARD, Marc. A Reforma. A rebeldia de Lutero: por Deus, contra a Igreja. História Viva, São Paulo, n. 22, p. 66-72, ago. 2005.

MOUSNIER, Roland. Os progressos da civilização européia. In.: IGC. São Paulo: Difel, 1960.

OLSON, Roger E. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. Tradução Gordon Chown. São Paulo: Vida, 2001.


Autor: Márcia Regina Cabral


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