Sonho ou pesadelo sensacional



Que sonhos são estranhos e misteriosos é fato que não ouso discordar.  Mas não creio em misticismo, acredito que seja acúmulo de informações que recebemos de maneira consciente ou inconsciente durante determinado período e que se manifesta em nossos momentos de repouso.  Se bem que, religiosamente falando, me fascina a história bíblica do Antigo Testamento, de José no Egito, o homem vendido pelos irmãos para ser escravo e ganhou a confiança do Faraó, galgando os mais altos cargos ao interpretar sonhosque atormentavam o soberano.

Dia desses sonhei que estava perto de uma comunidade, possivelmente voltando do açougue  próximo, pois trazia um pacote de carne e estava bem à vontade, de bermudas e chinelos, quando um carrão parou ao meu lado. Nada demais, é comum alguém pedir informação, mas a motorista era nada menos que a jornalista Fátima Bernardes. Curiosamente, no banco de trás, ainda arrumando paletó e gravata, estava o marido dela, o também jornalista William Bonner.  Eles demonstravam pressa e nervosismo e queriam chegar ao local de um possível acidente.

Na hora, nem pensei em falar de meus vários anos de experiência em reportagens policiais, entrei no carro e fomos. Orientações pelo rádio comunicador davam coordenadas para chegar ao local. Eram mensagens cifradas utilizadas por policiais, se bem que na letra M, o interlocutor ao invés de falar M de “Mike”, disse foi um palavrão, fazendo a Fátima corar. Para descontrair, perguntei das filhas do casal, elogiei a elegância como apresentaram o Jornal Nacional e disse para a Fátima que o novo programa dela certamente será sucesso.

Chegamos ao local e não era acidente de trânsito. Era um pé de morro, que depois eu saberia chamar-se “Beco da Comunidade do Pinheirão”, e os rumores era que houve uma chacina, com corpos queimados pela multidão. Como disse era sonho e, estranhamente, só a Fátima Bernardes me seguiu até o alto do morro e ela usava uma câmera digital pequena. Não vi no lugar gente com rosto de morador, só alguns jovens que tentavam cercear meu “trabalho”, dizendo conhecer meu tipo profissional, que eles chamavam de “pitbull”, pois eu ficaria os distraindo com perguntas, enquanto a moça (não conheceram a Fátima?!) ia fotografar tudo.

Eles não estavam de todo errado, mas quase surtei (embora mantendo silêncio) ao perceber que a Fátima não filmava nada, embora eu enviasse insistentes sinais com o olhar. Naquele meio hostil para a imprensa, ainda consegui levantar informações, tais como que um grupo de jovens viciados em crack improvisava uma batucada em latas, no pé do morro, quando houve o sequestro por um grupo de 30 encapuzados, que os levaram para o alto de uma pedra e ali os mataram e queimaram os corpos.

Ao ouvir os relatos, o Bonner se limitou a dizer: ”talvez a gente de uma nota no JN”. Eu já estava no checklist para demais apurações e sequer disse ao casal global que eu não era apenas mais um cidadão comum, e sim jornalista, acima de tudo repórter.  Mais tarde, ligando ao IML eu teria informações importantes que reforçaram minha tese de que não estivemos diante de um linchamento onde a comunidade fez “justiça” com as próprias mãos.

 Pelo número de crânios entre os corpos carbonizados, me confirmaram que foram cinco vítimas e estranhamente todas elas tiveram cortadas as pontas dos dedos de pés e mãos. Até me lembrei do morador que me ofereceu um gole cachaça e mostrou a forca de corda negra, alegando que ali os encapuzados começaram a “festa” e depois foi feita a fogueira.  Pensei em ritual Viking e na Inquisição. Mais tarde, no Jornal Nacional, eu veria nota sobre o caso e o oficial cheio de estrelas nos ombros “informando” que se tratava de uma comunidade pacificada e que a apuração seria rigorosa...  Mudei para o canal que passava antigos desenhos animados até conseguir pegar no sono...

 


Autor: Edson Terto Da Silva


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