Freud: uma concepção de educação.



Freud: uma concepção de educação.

 

 

ESPÍNDULA, Wellington José1

  1. Aluno-IFG-CampusInhumas -LicenciaturaemQuímica

 

 

 

Resumo: A partir da leitura e compreensão de vários artigos e livros sobre Sigmund Freud, notamos A importância da Psicologia no processo educacional é tão evidente quanto polêmica. Não é sem razão que, em dado momento histórico, apenas esta ou aquela abordagem, de acordo com o prestígio alcançado, constitui preferência – às vezes verdadeiro modismo – entre os educadores e/ou órgãos oficiais que patrocinam o modelo de educação a ser adotado. Neste pequeno artigo observei um pouco da obra de Freud, em um segundo momento fiz uma rápida analise, sobre a importância da psicanalise na Educação, os limites e as possibilidades da aplicação da psicanalise nos processos de aprendizagem, os fatores que interferem na aprendizagem e por fim o papel do professor no processo de aprendizagem.

 

 

Palavras-chaves: Psicanalise, raciocínio, educação, aprendizagem, professor, energias psíquicas, Insight, psique, aluno.

 

 

Mais ou menos neuróticos todos somos, ensina a teoria psicanalítica, uma vez que temos desejos reprimidos, a todo momento, interferindo em nossa vida consciente e, muitas vezes, provocando desconforto. Todas as nossas relações pessoais são permeadas por ema-nações de energias psíquicas desconhecidas oriundas de um território obscuro e inatingível. Desse modo, grande parte de nossos desejos e motivos conscientes, que julgamos conhecer e dominar, não passam de simulacros daquilo que habita nosso inconsciente. Se é assim, como ver então o relacionamento entre professor e aluno, situação aparentemente tão simples em que um está ali para transmitir certos conteúdos escolares e o outro, para aprendê-los? À primeira vista, a relação pedagógica resume-se à escolha de um bom método de ensino, um planejamento adequado das matérias e um certo conhecimento das competências intelectuais dos aprendizes. Mas a educação escolar é assim apenas na aparência, mostra a Psicanálise, pois as questões objetivas – método, planejamento, conteúdos das matérias etc. – são o que menos importa no ato de educar. Os ensinamentos psicanalíticos dirigem nossa atenção para o vasto e complexo mundo subjetivo oculto no interior de professor e aluno, cada qual sofrendo constantemente a pressão de seus respectivos desejos, muitos dos quais atingidos pela repressão.

A importância da Psicologia no processo educacional é tão evidente quanto polêmica. Não é sem razão que, em dado momento histórico, apenas esta ou aquela abordagem, de acordo com o prestígio alcançado, constitui preferência – às vezes verdadeiro modismo – entre os educadores e/ou órgãos oficiais que patrocinam o modelo de educação a ser adotado. O fato é que a formulação de cada abordagem, quer pela concepção de homem que contém, quer pelos pressupostos teóricos adotados ou pelos seus desdobramentos práticos, necessariamente implica uma estrutura de política educacional, um conjunto de objetivos específicos na formação acadêmica e um projeto sociocultural típico. As abordagens psicológicas, nessa perspectiva, são muitas, mas nem todas com repercussão significativa no contexto educacional.

Ao tratar aqui da técnica clínica criada por Freud2, não estamos sugerindo que o professor deva tornar-se psicoterapeuta de seus alunos. E sim aceitar a existência do inconsciente, seu e de seus alunos, e ao ter sua atenção dirigida para os desejos que se ocultam nas ações conscientes dos integrantes da sala de aula, o que deve fazer o professor?Vale lembrar que, por mais que conheça a Psicanálise e a aceite como paradigma válido para a educação, o professor não é um profissional formado para psicanalisar pessoas. Ele não está na escola para isso, nem é contratado e pago para tal função, ou seja, não tem competência técnica e nem autorização formal para tornar-se, em um passe de mágica, psicoterapeuta de crianças e jovens. Tomemos o caso dos afetos que são dirigidos ao professor. Assim como não é raro haver pacientes que, na situação clínica, desenvolvem amor e ódio pelo psicanalista, também na sala de aula há alunos que amam e odeiam seus mestres. Podem esses vínculos ser considerados transferenciais? Sem dúvida, segundo a Psicanálise, pois todo afeto, positivo ou negativo, decorre de vivências passadas que se encontram reprimidas no inconsciente. Mas há um fator que impede uma caracterização assim tão simplista. Diferentemente do psicanalista, o professor lida com fatos objetivos do dia a dia de seus alunos, ele se posiciona quanto aos conteúdos que ensina, emite juízos de valor, avalia por meio de notas, enfim, ele não ocupa aquela posição de neutralidade típica do psicoterapeuta, conforme vimos há pouco.

Comenta-se muito e até se firma na legislação educacional que uma das tarefas da educação escolar é contribuir para a formação da personalidade da pessoa. Sob o prisma da Psicanálise, essa pretensão deve ser relativizada, pois os alicerces do caráter do indivíduo já se encontram firmados quando ele vai pela primeira vez à escola. Quando o professor entra em cena na vida da criança, tem diante de si um indivíduo cujos traços fundamentais do ego já estão sedimentados. Todas as vivências orais, anais, masturbatórias, todo o conflito edipiano que sustenta o superego, enfim, traços fundamentais do ego e de suas relações com o id já se encontram definidos nesse momento. Recalcamentos, repressões, mecanismos de defesa do ego e de ocultamento de desejos já fazem parte da personalidade. O que pode fazer o professor, então?Vimos acima que o professor, orientado pelos conhecimentos psicanalíticos, dispõe de saberes que lhe permitem conhecer – ou ao menos supor – o que se passa com seu aluno nas diferentes fases de seu desenvolvimento, o modo como sua libido se manifesta, os conflitos pelos quais atravessa e as angústias das quais está sendo vítima. O professor que compreende a Psicanálise está à frente dos demais, pois tem em mãos um quadro de referências que fornece um panorama, ainda que não específico, sobre a vida psíquica da criança e do adolescente. Mas o professor não constrói a personalidade de seu aluno. Ele pode, sim, agir de modo a não agravar certas tendências do caráter de seu educando. Uma criança que possua auto-imagem excessivamente negativa, um jovem obcecado pela ordem e pela disciplina, um aluno que agride desmesuradamente as autoridades – para ficar em extremos – são exemplos de casos que, muitas vezes, obtêm a confirmação de suas tendências nas atitudes do professor. Ao invés de amenizar certas inclinações já constituídas, o professor, por descuido ou excesso de zelo, acaba fazendo recrudescer traços de personalidade que trazem sofrimento ao educando.

 

 

Aprendizagem segundo Freud.

 

 

Freud jamais redigiu um trabalho tendo como objetivo a Educação, o que não o impediu, ao longo de sia obra, examinar, criticar caso necessário, o papel dos professores, dos pais, ou seja, a autoridade adulta sobre as crianças. Não há obra de Freud, em que ele não menciona em algum comenta sobre a questão da educação. Desde Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) até Mal-estar na civilização (1930), as referências a educação são constantes.

O ponto de partida do pensamento de Freud sobre a educação situa-se na confluência de dois questionamentos, um biológico e um histórico. A biologia, primeiro disciplina de Freud, permitiu-lhe descobrir a imaturidade da criança ao nascer. Comparando com outros animais, o pequeno homem parece inacabado. Não somente ele nasce nu e incapaz de se nutrir, como esse estado dura

muito tempo. Essa debilidade nativa o condena a uma proteção e, por conseguente, uma influência muito longo e muito importante da parte dos adultos. A historia individual infantil e marcante e seus traços subsistem, no homem adulto. Essa primeira intuição foi sistematizada por Freud em seus trabalhos iniciais ao rejeitar sucessivamente a explicação “nervosa” dos transtornos mentais e a suposição da neurose pela hereditariedade. Ele vê nas transformações da infância a origem dos transtornos dos adultos.

Por imitação, ensaio e erro, condicionamento e o raciocínio. O raciocínio é a única forma exclusiva do ser humano, pois os animais aprendem por imitação, ensaio e erro, condicionamento e “insight”3.

  • Imitação: imitação significa simplesmente repetir o comportamento de outra criatura.

  • Ensaio e erro: como o próprio termo já implica, ensaio e erro significa tentar até conseguir o objetivo.

  • Condicionamento: para explicar condicionamento, o mais simples e citar a clássica experiência de Pavlov, um fisiologista russo: Ele colocava o alimento perto do cachorro, ao mesmo tempo que tocava uma sirene ou acendia uma luz vermelha. Depois de repetir a situação, algumas vezes, ele apenas tocava a sirene ou acendia a luz e, automaticamente, o cão salivava, se, a ´presença do alimento. A luz e o som passaram a ser estímulos artificiais. A conexão que se fez no celebro do cão, entre o alimento e a luz ou som, levava-o a resposta condicionada, isto é, a um comportamento novo aprendido com a concomitância dos estímulos naturais mais os estímulos artificiais.

  • Insight: termo que não tem tradução adequada no português, e uma compreensão súbita da situação, quando alguma coisa muda em nosso campo perceptivo achamos a solução para um determinado problema.

  • Raciocínio: esta e uma forma de aprender exclusiva do ser humano. Exige uma operação mental, é necessário prever, julgar, planejar. Levantamos hipóteses e tiramos deduções. Analisamos, avaliamos a situação e encontramos soluções.

São vários os fatores que vão facilitar ou dificultar a aprendizagem. Na situação escolar, temos a considerar os fatores do lado do professor e do lado do aluno. Outro fator a ser lembrado e o ambiente físico. É claro que, quando nos interessa, podemos aprender em qualquer lugar, debaixo de uma árvore ou dentro de um barracão. Mas, se o ambiente físico da escola é agradável, amplo, arejado e bonito, a aprendizagem e bastante favorecida. Também o material é importante. Quando mais interessante, mais prende a atenção do aluno. A motivação, a percepção, a maturação e a inteligência são fatores tão relevante que devemos fazer-lhes uma referência especial.

  • Motivação: as necessidades produzem motivos que impelem o individuo a fazer algumas ações. Embira alguns motivos sejam inatos (como a fome) e outros adquiridos (como o prestígio), a maneira como respondemos a todos eles e modificada pela aprendizagem e influencia, pela cultura em que vivemos. O termo “motivação” é, pois, genérico e designa as necessidades, metas ou desejos que provocam ações de um organismo.

  • Percepção: o homem ordena e dá significado ás experiências que recebe através dos órgãos dos sentidos. A percepção e um processo organizacional, seletivo e interpretativo. É organizacional porque tendemos a perceber estímulos em padrões significativos mais do que com entidades separadas, sem relação.

  • Maturação: antes que certas respostas possam aparecer, o organismos deve ter prontidão para tal. Assim, a maturação é um processo puramente orgânico, sem o qual a aprendizagem não pode se dar. Os órgãos dos sentidos, os processos celebrais, os processos psicomotores, tem que ter alcançados um certo grau de maturação para que os estímulos possam ser percebidos e as respostas adequadas sejam dadas.

  • Inteligência: embora saibamos que a inteligência é uma condição para a aprendizagem, principalmente para formas mais elevadas de aprendizagem, pouco concordância existe sobre sua definição, seu mecanismo e sua origem ou desenvolvimento. De modo geral, faz-se a opção pelo meio termo, ela é resultado da interação hereditariedade x ambiente.

 

 

 

O papel do professor no processo da aprendizagem.

 

 

 

Para Freud os ensinamentos psicanalíticos mostram um vasto e complexo mundo subjetivo oculto no interior do professor e aluno, os professores orientado deve observar as atitudes consciente de seus alunos, como também as suas, procurando desviar os desejos escondidos por trás delas. Ele deve está sempre interessado em ir além de ministrar uma boa aula – no sentido técnico da expressão. O professor que conheci a psicanálise4 sabe que o conhecimento esta permeado pelo desejo. A psicanálise encaminha o educador na direção do reconhecimento das limitações do processo pedagógico, tornando-o uma pessoa menos obcecada pela imposição de seus pontos de vista, suas verdades, seus valores morais, seus desejos de ordem e disciplina.

Ele é um profissional que tende a valorizar menos a manutenção do bom comportamento de seus educandos e mais a livre expressão das crianças e dos jovens que estão sob os seus cuidados. O professor que conhece a Psicanálise sabe que o conhecimento está sempre permeado pelo desejo. Se os fenômenos que dizem respeito ao ensino e à aprendizagem possuem, por um lado, componentes inscritos no campo intelectual, possuem também toda uma carga emocional, em grande parte inconsciente. E isso tem a ver tanto com o universo psíquico do professor, detentor e transmissor dos saberes formalizados, quanto com o do aluno, para quem estes saberes são destinados.

O que Freud quis dizer é que não existe a mínima possibilidade de vivermos coletivamente sem que cada indivíduo aprenda sentimentos como solidariedade, fraternidade e cooperação. E estes sentimentos realmente se aprende, segundo ele, pois não são próprios do ser humano, conforme ficou evidente nos eventos da horda primitiva. Como são resultados de aprendizagem, precisam ser ensinados, pela família e pela escola. Ele mostra que a educação é possível pois existe no próprio individuo, no interior de seu aparelho psíquico, tendências que exigem a educabilidade. Mostra que a moral e o intelecto estão em germe na estrutura do aparelho psíquico. A sociabilidade torna possível a socialização e essa é real porque o individuo, em ultima instância, tem um interesse, troca uma liberdade infinita, mas precária, por liberdade regrada, mas real, garantida.

Sem duvida, essa concepção freudiana de educação é rica e precisa. Ela demanda, no entanto, uma análise prolongada até suas ultimas consequências, pois de outra maneira poderia parecer insuficiente. Educar consistiria, assim, em inculcar as regras morais e os conhecimentos que lhe permitem perseguir, para além da sucessão das gerações, as exigências que impõem suas estruturas.

 

 

 

 

Conclusão.

 

 

O tema apresentado nesse trabalho, apesar de ser muito interessante, não e fácil de ser estudado, pois tentamos analisar as peculiaridades entre a relação da Psicanálise e a Educação, com isso abrimos um imenso campo de probabilidade pois colocamos em foco uma relação entre teorias, constituídas por conteúdos conscientes e inconsciente.

Como futuros professores devemos saber que até podemos organizar nosso saber, mas temos a obrigação em saber que não temos o controle sobre os efeitos que nossos saberes produzem em nossos alunos. Porque o aluno nunca guarda tudo que o professor ensina, ele só guarda o que lhe interessa o resto ele joga fora. A Psicanálise pode transmitir a nós educadores uma ética, um modo de ver e de entender á prática educativa.

O professor seja ele do ensino superior ou de outras modalidades de ensino, deve ter como matriz de sua ação uma pedagogia baseada na formação e desenvolvimento da personalidade humana que inclua todos as dimensões da vida: o corpo, o psique, a natureza e a sociedade. Matar simbolicamente o mestre para se tornar o mestre de si mesmo, está e uma lição que podemos extrair da própria vida de Freud.

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

 

 

BREUER, J.; FREUD, S. (1895). Estudos sobre a histeria. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 2.Rio de Janeiro: Imago, 1990.

 

DE FIGUEIREDO, Vinicíus. (2010). Filósofos na sala de aula. Editora: Berlendis & Vertechia, Volume 2.

 

FREUD, S. (1894). As Neuropsicoses de Defesa. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 3.Rio de Janeiro: Imago, 1990.

 

FREUD, S. (1900). A Interpretação de Sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 2001.

 

FREUD, S. (1915). O Inconsciente. In: FREUD, S. Escritos sobre a psicologia do inconsciente. v. 2. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

JOLIBERT, Bernard. (2010). Sigmund Freud. Editora: Massanga da Fundação Joaquim Nabuco e impresso no Brasil, Tradução e organização: Elaine Terezinha Dal Mas Dias.

1AlunodoInstitutoFederaldeGoiás – CampusInhumas,CursandoosegundoperíododeLicenciaturaemQuímica.

2Sigmund Freud, nascido em 6 de maio de 1856 em Freiberg in Mahren, Morávia, Império Austríaco (atualmente pertence a República Tcheca), morreu em 23 de setembro de 1939 aos 83 anos, em Londres, Inglaterra. Filho de Jacob Freud e de sua terceira mulher Amalie Nathanson. Jocob um judeu proveniente da Galícia e comerciante de lã. Sigmund Freud foi um médico neurologista Judeu-austríaco fundador da psicanálise, ele iniciou seus estudos pela utilização da hipinose como método de tratamento para pacientes com histeria. 



3Em psicologia insighté um processo pelo qual os humanos passam, às vezes e involuntariamente, para chegar a uma conclusão sobre algo. Na intuição, o raciocínio que se usa para chegar a conclusão é puramente inconsciente, fato que faz muitos acreditarem que a intuição é um processo paranormal ou divino. Seu funcionamento e até mesmo sua existência são um enigma para a ciência. Apesar de já existirem muitas teorias sobre o assunto, nenhuma é dada ainda como definitiva. A intuição leva o sujeito a acreditar com determinação que algo poderá acontecer.

4Psicanáliseé um campo clínico e de investigação teórica da psique humana independente da psicologia, embora também inserido nestadesenvolvido por Sigmund Freud, médico neurologista austríaco nascido em 1856 que se propõe à compreensão e análise do homem .

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Autor: Wellington Espíndula


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