Cinco anos por trinta segundos!



Cinco anos por trinta segundos!

O sol, já se pondo atrás daqueles pés de “cinamomo”,  árvore também conhecida como “Santa Bárbara”, emitia a luz macilenta de início de outono.
Ele,  com o paletó marrom dobrado no braço esquerdo, a gravata solta e bastante cansado do dia intenso de trabalho, caminhava célere em direção ao Bar do Joel, três quadras após o colégio e duas quadras antes da sua casa.
Ia contente relembrando o rosto satisfeito do patrão ao ver o serviço ser bem feito com toda a rapidez que precisava.

Ele era um dos contadores da empresa e seu chefe, o “seu” Geraldo, chefe da contadoria, estava em vias de se aposentar. Tinha certeza que o Dr. Waldomiro, o dono da empresa,  via com bons olhos a sua iminente promoção para o lugar do “seu” Geraldo.
Já os tinha visto conversando no estacionamento, ao lado dos reluzentes carros importados que ambos possuíam.

Ele sabia que, pelo seu esforço, a promoção era praticamente dele, e, o simples pensar nisto já o deixava ofegante de alegria. Poderia, finalmente, com o novo salário, sair do aluguel lá no bairro onde morava e financiar um apartamento mais perto do serviço e com isto poderia vir almoçar em casa, passando mais tempo com a família . Com o novo salário,poderia, também, trocar o velho carro que já dava sinais intermitentes de sobrevida.

Finalmente poderia levar a filha ao dentista e comprar o aparelho ortodôntico que tanto ela precisava. Trocar também o computador da filha e contratar uma “banda larga” mais veloz, e mais cara, naturalmente, para que seus trabalhos escolares pudessem sair com mais perfeição ainda.

Com os esvoaçantes pensamentos, entrou no bar, pediu um “quebra gelo” de stanheguer e uma cerveja. Sentou numa mesa colocada na calçada, que atrapalhava os transeuntes, e aguardou que o Joel o servisse.

Logo o Pavão e o Jorginho, chegaram e apoitaram também à mesa.
Pediram mais cerveja e começaram a contar as histórias do dia. O tempo passou depressa e, logo já batia dez horas da noite.

Pediram mais “a saideira” e nenhum dos três deu importância aquele carro importado, reluzente,  que passou bem na hora que o Pavão, destrambelhadamente, bateu o cotovelo na garrafa e, na ânsia de não deixa-la cair, segurou-a pelo gargalo, mas, mesmo assim a garrafa bateu na quina da mesa e ele ficou só com um pedaço de caco de vidro na mão.
Ele, mais o Jorginho, saltaram rapidamente de suas cadeiras para evitar o “banho” de cerveja.

Dr. Waldomiro, raramente o fazia, mas, justo naquela noite, tinha ido buscar a neta que estudava,  à noite no colégio ali perto, e, justamente ao passar em frente ao Bar do Joel, foi chamada sua atenção pela movimentação rápida das pessoas na calçada. Viu os três homens!

Um deles com um gargalo de garrafa na mão ameaçando os outros dois que pularam rapidamente para trás.  Não reconheceu o homem com o caco de vidro na mão nem um dos homens, mas, o terceiro, sabia quem era.
O tinha visto poucos minutos depois do encerramento do expediente em sua empresa.
Era um de seus funcionários. Justamente o preferido pelo Geraldo, e até aquele momento, também o preferido dele próprio,  para a promoção ao lugar do Geraldo.

O “seu” Geraldo foi aposentado e o Marcelo, com menos anos de casa e mais novo que ele, foi promovido.

Ele continuou morando na mesma casa. Longe do trabalho. Não viria mais almoçar em casa. O carro teria que continuar o mesmo. Sua filha teria que esperar mais algum tempo pelo aparelho ortodôntico, e computador novo com banda larga.
Seus sonhos teriam que ser adiados. E foram.

Continuou trabalhando e fazendo sempre o seu melhor. Com todo o profissionalismo necessário. Esforçando-se ao máximo. Com desempenho acima do esperado, até que, 5 anos depois, foi procurado por outra empresa para assumir a contadoria no município vizinho.

Assim o fez. Seus sonhos, adiados por 5 anos voltavam latentes e fortes.

O seu comportamento pessoal havia interferido diretamente em sua carreira profissional.

Trinta segundos de uma visão de mesa de bar às 10 horas da noite haviam atrasado seus sonhos em mais de cinco anos.

Mas ele nunca soube o motivo de ter sido preterido naquela promoção.

Todos nós somos julgados diuturnamente.
Creio ser quase que impossível a separação,  total, da vida pessoal com a vida profissional.
A mescla das duas é que nos torna uno.
Somos, individualmente, um universo de defeitos e qualidades.
A nossa postura, tanto a profissional quanto a pessoal,  definem as nossas escolhas que, por sua vez, definem as nossas postura.

Você tem, ultimamente, analisado seu comportamento pessoal e profissional?

Eloy Ribeiro de Souza, é formado em Administração de Empresas e pós-graduado em Gestão Empresarial e Metodologia do Ensino Superior, além de diversos cursos complementares tanto no Brasil quanto no exterior. Palestrante, poliglota, com experiência de mais de 20 anos em comércio exterior, o que lhe possibilitou, a convivência rotineira com muitas culturas, e, por conseqüência, conhecer posturas pessoais e profissionais que, hoje,são temas de suas palestras por todo o Brasil. ------------------
http://www.eloysouza.com.br   -   [email protected]


Autor: Eloy Ribeiro De Souza


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