TDAH: Rompendo as barreiras na escola os mitos e as verdades



 

 

 

TDAH: ROMPENDO AS BARREIRAS NA ESCOLA

OS MITOS E AS VERDADES

   

 

BATATAIS

2009

 

 

 

 

 

  

 

 

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Claretiano para obtenção do título de graduado em Licenciatura em Pedagogia. Orientador(a): Profª Ms. Aparecida Helena F. Hachimine.

 

 

 

 

                               

                                                                  Dedicatórias

 

Aos que contribuem e lutam por uma sociedade mais justa: que possam continuar a iluminar os caminhos daqueles que buscam por um espaço na sociedade, através da inclusão social.

            À Larissa, minha filha, que tanto tem nos ensinado sobre a inclusão, desafios e conquistas, a serem compartilhadas com aqueles que acreditam em um mundo mais humano.

Nesta longa jornada, encontramos muitos profissionais que nos auxiliaram, norteando o caminho e nos fornecendo a bússola para percorrermos o caminho certo. Procurei citar os nomes daqueles que estiveram conosco em diversos momentos, seguindo a ordem de início do processo de avaliação, identificação e tratamento do TDAH.

A todos, os nossos sinceros agradecimentos:

            Coordenadora Pedagógica Irene, por ser a primeira profissional a perceber que havia outro caminho que não fosse o da exclusão;

            Dr. Marco Antônio Arruda – Neurologista e Presidente Instituto Glia, por ser preciso no diagnóstico e contribuir com tantos profissionais, não só através dos atendimentos clínicos, mas com artigos preciosos no site do Instituto, além de levar a informação para o mundo inteiro, através de palestras e de seu livro Levados da Breca;

            Dra. Célia Mantovani – Psiquiatra, obrigada por usar a lanterna e a bússola nesta trajetória, ajudando em todos os momentos a iluminar o nosso caminhando, a nossa eterna gratidão;

            Dra. Iara Degani – Psicopedagoga, acolhedora e esclarecedora quanto ao assunto;

            Dra. Maria Virgínia Selegato – Psicopedagoga, que tanto nos ajudou nos testes e diagnóstico;

Aos familiares e amigos que estiveram conosco desde o início: quem tem verdadeiros amigos, aprende com humildade e humanidade, compartilha emoções, sentimentos e supera desafios.


RESUMO

 

O presente estudo busca esclarecer os conceitos sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade aos profissionais da educação, com base em pesquisa bibliográfica e estudo de  caso, para que a análise possa fornecer informações precisas a respeito do transtorno e as suas influências no processo de aprendizagem. As dificuldades de concentração, distração e hiperatividade das crianças portadoras do transtorno, levam muitos profissionais a insistirem que o TDAH não existe, o que torna mais difícil superar os desafios encontrados por crianças e adolescentes em idade escolar, fazendo-se necessário desfazer mitos, romper as barreiras impostas pela discriminação e discorrer sobre o tema, buscando contribuir com os professores que têm alunos com esta dificuldade. A análise possibilita a compreensão sobre o impacto do transtorno na vida da criança e a necessidade de um trabalho em parceria entre a família, a escola e o profissional de saúde.

 

Palavras-chave: déficit de atenção, hiperatividade, mitos, aluno, família, escola.

 


 

ABSTRACT

 

The present study seeks to clarify the concepts about attention deficit disorder and Hyperactivity to education professionals, based on bibliographic research and case study, so that the analysis can provide accurate information about the disorder and its influences on the learning process. The difficulty concentrating, distraction and hyperactivity of children with the disorder, leading many pros insist that ADHD doesn't exist, making it more difficult to overcome the challenges encountered by children and adolescents in school age, doing necessary to undo the myths, break through the barriers imposed by discrimination and rhapsodize about the theme, seeking help with teachers who have students with this difficulty. The analysis enables the understanding of the impact of the disorder in the life of the child and the need to work in partnership between the family, the school and the health professional.

 

Keywords: attention deficit, hyperactivity, myths, student, family, school.

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

Este trabalho foi realizado com a finalidade de fornecer informações a respeito do TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade aos envolvidos com o desenvolvimento das crianças e adolescentes que sofrem deste distúrbio neurológico, procurando desfazer os mitos acerca do assunto. Algumas alternativas como mudanças na prática pedagógica podem trazer benefícios aos alunos com TDAH, considerando que são crianças inteligentes e questionadoras, porém com dificuldades de concentração.

O estudo apresenta três etapas, sendo que a primeira trata dos conceitos e diagnósticos em TDAH, relata sobre a importância do empenho da família e escola em relação aluno com o transtorno e as possibilidades de desenvolvimento. A segunda aborda as barreiras encontradas na difícil adaptação tanto do aluno quanto da escola em encontrar soluções para o aprendizado e desenvolvimento do mesmo, tendo como centro das questões os mitos que impedem o trabalho de inclusão destes alunos. A terceira etapa apresenta algumas dicas de como lidar com o aluno portador do transtorno.

A pesquisa pretende auxiliar a família, professores e alunos na incansável busca por alternativas que não podem ser vistas como regras, considerando que cada ser é único em sua existência, tendo necessidades distintas de aprendizagem e atenção.

 

O que é TDAH?

                  O conceito de TDAH refere-se a um problema neurológico e não deve ser confundido  somente com aspectos comportamentais. Estudos demonstram diminuição no metabolismo na região frontal/orbitar do cérebro, de origem genética. A criança apresenta dificuldade em manter a atenção nas tarefas normais do dia a dia, mas geralmente é identificado quando começa a apresentar baixo rendimento escolar, pois não consegue reter a atenção nas atividades de classe. Normalmente é associado também à impulsividade, decorrente da hiperatividade, sendo que a criança age ou fala sem pensar e encontra muita dificuldade em aprender e manter amigos na escola.

                  Segundo o Dr. Paulo Mattos:

[...]   conforme estudos realizados em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil, a prevalência (número total de casos) varie entre 5% a 8% das crianças. Acredita-se que o TDAH é mais comum em meninos do queem meninas. Entretanto, como a forma hiperativa é mais comum no sexo masculino, os meninos tendem a “criar mais confusão” e incomodar mais em sala de aula, sendo, então, encaminhados para a avaliação médica a pedido dos professores. (MATTOS, 2004, p. 27)

                  A falta de conhecimento sobre o assunto traz sérias conseqüências à criança portadora de TDAH, pois a mesma sente-se incompreendida, tanto em casa quanto na escola, muitas vezes considerada preguiçosa e rotulada com nomes pejorativos, levando ao desenvolvimento de outras dificuldades em sua vida, como baixa auto-estima, depressão, dentre outras patologias.

 

 Características do Aluno com Tdah;

Eles parecem estar sempre a mil por hora. Desenvolvem ansiedade, são inquietos e impulsivos. Têm dificuldades para seguir regras, sendo que muitos desenvolvem o Transtorno Opositor Desafiante, como o próprio nome diz estão sempre prontos a desafiar autoridades.

É possível identificar sintomas de hiperatividade desde a gravidez, quando a criança se mexe demais. Ao nascer, demonstra irritação além do normal, aparenta estar com os nervos à flor da pele. No período de desenvolvimento da primeira infância, costuma se acidentar com facilidade.

De acordo com Oliver (2007), em seu livro Distúrbios de Aprendizagem e de Comportamento “O distúrbio é caracterizado por sintomas de hiperatividade exagerada, tornando a criança irritada, impaciente para brincar, inclusive quebrando constantemente seus brinquedos, muito chorona e com sono irregular” (OLIVER, 2007, p. 81).  

Os pais que se vêem diante desta situação, saem em busca de soluções percorrendo especialidades médicas e dificilmente encontram a resposta para este comportamento, principalmente porque na primeira infância os sintomas podem se confundir com as peraltices comuns em crianças.

Os sintomas de desatenção e dificuldade de armazenar as informações na memória colocam a criança com TDAH em constante risco, pois não identificam o perigo com facilidade.

O TDAH é um transtorno neurobiológico de origem genética, considerado um distúrbio funcional do cérebro, nas áreas do hemisfério direito, no córtex pré-frontal (MATTOS, 2004, p. 45).

O TDAH apresenta desatenção, hiperatividade e impulsividade em maior ou menor grau, de acordo com a freqüência em que ocorrem os sintomas, podendo apresentar uma combinação de dois grupos de sintomas: desatenção; hiperatividade e impulsividade, sendo que a freqüência com que ocorrem determina a predominância de um e outro.

Os sintomas listados abaixo caracterizam a desatenção e devem ocorrer freqüentemente. São classificados de acordo com o Manual da Associação Psiquiatra Americana DSM-IV:

  1. Não consegue prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido ou falta de atenção;
  2. Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer;
  3. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele;
  4. Não segue instruções até o fim e não termina seus deveres;
  5. Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;
  6. Evita ou reluta ou faz contra a sua vontade tarefas que exijam atenção prolongada;
  7. Perde coisas necessárias para atividades, tais como brinquedos, material escolar;
  8. Distrai-se com facilidade a estímulos externos;
  9. É esquecido em atividades do dia-a-dia.

 

Os sintomas que caracterizam a hiperatividade e impulsividade são listados abaixo e ocorrem freqüentemente:

  1. Mexe com as mãos ou pés ou se remexe na cadeira;
  2. Não pára na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado;
  3. Corre de um lado para o outro e escala demais em situações inapropriadas;
  4. tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma;
  5. Não pára ou freqüentemente está a “mil por hora”, parece ser “elétrico”;
  6. Fala em excesso;
  7. Responde as perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas;
  8. Tem dificuldade de esperar a sua vez;
  9. Interrompe os outros ou se intromete nas conversas dos outros.

O tipo combinado é caracterizado pela criança que apresenta a combinação dos dois grupos, desatenção, hiperatividade e impulsividade.

 

Diagnóstico

            O diagnóstico costuma dar-se a partir dos sete anos de idade, em virtude da criança apresentar dificuldade em se concentrar. Porém, crianças que nunca apresentaram sintomas e TDAH na infância, dificilmente apresentarão na puberdade.

Segundo o Dr. Keith Conners:

[...] não existe um exame específico para diagnosticar o TDAH, sendo portanto um processo de múltiplas facetas e de avaliação ampla. É preciso uma avaliação clínica cuidadosa, considerando dados fornecidos por professores, pais e pessoas que interagem com a criança, além do exame médico, normalmente um neurologista, que realiza testes psicológicos e neurológicos. A sua identificação pode dar-se também pelo profissional psiquiatra, que também fará a avaliação clínica. O importante é identificar outros sintomas que podem estar associados ao TDAH ou serem confundidos por ele. De acordo com Jensen (1999), as crianças mais propensas a desenvolver o transtorno são filhos de pais hiperativos (50%), irmãos (5% a 7%), gêmeos (55% a 92%) e que de 50% a 60% ainda persistem com os sintomas na fase adulta, pois o TDAH não tem cura, sendo amenizado com o uso de medicamentos e adaptações no ritmo de vida (CONNERS, 2009,  p. 56).

                Em palestras e Congressos, quando o assunto é apresentado, os ouvintes tendem a acreditar que os sintomas de desatenção e hiperatividade, principalmente na primeira infância, são comuns à maioria das crianças. Mas no caso do TDAH, os sintomas são muito acentuados, as crianças parecem sonhar acordadas, são lentas na cópia e na execução dos deveres, porque “voam” o tempo inteiro, além de cometerem muitos erros por desatenção. Por isso, é fundamental a avaliação por profissionais especializados no assunto. Os testes psicopedagógicos evidenciam os sintomas de desatenção.

De acordo com pesquisa apresentada no Congresso Aprender Criança de 2008 e publicada posteriormente, o Professor Dr. José Hercules Golfeto, Prof. Associado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, docente responsável pela área de atuação da Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, o TDAH pode apresentar outras comorbidades. Segundo ele, a taxa de prevalência de outra comorbidade no TDAH é superior a 50%, sendo que durante a história de vida colhida percebe-se que as comorbidades variam com o desaparecimento de uma e surgimento de outra nas diferentes fases do desenvolvimento. As comorbidades mais freqüentes, segundo várias pesquisas clínicas e de campo de diferentes pesquisadores, são:

Transtorno Opositivo-Desafiador: de 30% a 60%

Transtorno Depressivo: De 21% a 75%

Transtorno de Ansiedade: De 25% a 40%

Transtorno de Conduta: De 12% a 40%

Transtorno de Humor Bipolar: >10%

As comorbidades menos freqüentes são:

Transtorno de Aprendizagem: De 10% a 40%

Transtorno do Uso de Substância: De 10% a 37%

Transtorno de Tiques simples e Gilles deLa Tourette: De 2% a 17%

 

O papel da família e da escola do aluno portador de TDAH;

 

O aluno com transtorno de déficit de atenção desafia o profissional contemporâneo, principalmente porque a geração que atualmente leciona passou por uma educação tradicional, que criticava o aluno questionador, cabendo somente a educação bancária, que induzia a criança a decorar textos e fórmulas.  Outra parte da realidade refere-se ao fato das classes, principalmente do sistema público de ensino, serem lotadas e este desafio torna-se maior. O aluno que apresenta este transtorno da aprendizagem requer do professor uma nova abordagem pedagógica, fundamentada em conceitos multidisciplinares e um conhecimento sobre as reais dificuldades apresentadas pelo aluno, para que possa encaminhá-lo ao profissional adequado. É preciso que saiba sobre o transtorno para diferenciar má-educação, preguiça, da real dificuldade vivida pelo aluno. Na verdade, é na escola que a identificação do TDAH pode ser feita, pois o transtorno é identificado a partir do momento em que se percebe a dificuldade de concentração da criança, muitas vezes associada à hiperatividade e impulsividade. Este conhecimento permite que o professor e a escola iniciem um  trabalho conjunto que exigirá o empenho dos pais, pois ao ser identificado, o distúrbio deve ser analisado por um psicopedagogo, que avaliará com base em alguns testes e em seguida, encaminhará a criança ao psiquiatra, para avaliação e, se necessário, prescrição medicamentosa, que trará grandes benefícios à criança, devido a ação do medicamento na produção de neurotransmissores, aumentando a quantidade de dopamina e noradrenalina no sistema nervoso central, especificamente na região frontal, facilitando a concentração da criança nas atividades do dia a dia.

Conforme estudos realizados nesta área, os medicamentos são eficazes e trazem resultados em pouco tempo, sendo que o Metilfenidato é o que apresenta melhor resultado. Para obtenção de êxito escolar, é fundamental que os pais não tenham preconceito quanto ao tratamento indicado pelo médico, caso contrário, será uma missão quase impossível ao professor, auxiliar o aluno com TDAH.

Além do tratamento medicamentoso e da intervenção psicoterápica, o tratamento psicopedagógico é indicado quando ocorrem dificuldades, atrasos e lacunas na aprendizagem que necessitam ser abordadas por meio de um trabalho de reconstrução de habilidades e conteúdo. O tratamento é feito com base no diagnóstico (ROHDE, 1999, p. 65).

Para lidar com TDAH, o professor precisa conhecer o transtorno e saber diferenciá-lo de “má-educação”, ou preguiça. Será preciso equilibrar as necessidades dos demais alunos com a dedicação que necessita uma criança com TDAH, o que pode representar um desafio para professores com classes numerosas. A melhor alternativa, é inserir a criança com TDAH em turmas menores. O professor precisa perceber a criança como uma pessoa que tem potencial, que poderá se desenvolver como as outras crianças. Não existe uma única técnica ou abordagem pedagógica que possa reter a atenção e o desempenho da criança com TDAH.

Rohde e Col. (2006) propõem intervenções escolares em crianças com TDAH, como proposta de manejo em sala de aula dos sintomas apresentados. Dentre eles, sugere ao aluno sentar-se próximo ao professor, evitar a escassez e o excesso de estímulos visuais, ambiente tranqüilo, maior tempo para realizar as atividades, estruturar as atividades pedagógicas, adotar uma atitude positiva como elogios, estruturar as rotinas para realizar os temas e estudar.

É fundamental que o professor esteja aberto às mudanças e compreenda as dificuldades do TDAH, criando um ambiente afetivo e de apoio. As atividades lúdicas, como o uso de jogos em sala de aula, trazem enorme benefício ao aluno com dificuldade de aprendizagem.

Segundo Vygostsky (1988), Piaget (1990) e Winnicott (1971), o jogo está presente como um papel de fundamental importância na educação, principalmente na educação infantil.

A introdução deste recurso, além de outros, exigirão do professor maior criatividade para tornar a aula mais atraente. Nas disciplinas de matemática, o professor pode apresentar as operações, tornando a aprendizagem mais próxima do real, utilizando palitos, figurinhas, bolinhas ou outros materiais, separando-os por grupos ou outros recursos como feiras e jogos interativos.

Não existe uma receita única para que o aluno consiga aprender, sendo necessário que o professor faça adaptações no seu plano de aula que atendam às necessidades das crianças com TDAH.

 

O TDAH e o relacionamento familiar

            Muitos pais não admitem que o filho apresente hiperatividade e o consideram apenas levados. Porém, o comportamento do hiperativo costuma causar grandes transtornos na vida da família. A  dificuldade em seguir regras, a impulsividade e a inquietude geram discórdias e as atividades que normalmente geram prazer como os horários das refeições, visitas familiares e passeios ao shopping tornam-se praticamente desastrosos e muitas vezes, causam tanta discórdia entre o casal que os conflitos se tornam constantes.  Para evitar o caos, é fundamental que a família busque estabelecer uma rotina na casa, com horários específicos para as tarefas, refeições e sono. Deve-se evitar falar algo ou gritar, estabeleça uma regra de cada vez, para não causar confusão. O local de estudo deve ser tranqüilo e a cada tarefa cumprida, elogiar a criança. As pequenas vitórias proporcionam grande resultado em crianças com TDAH, melhoram a sua auto-estima e dão à visão de um projeto concluído.  A terapia familiar é uma saída para amenizar os efeitos do desgaste emocional provocado pela criança com TDAH. (MATTOS, 2004, p. 73).

 

O TDAH e as dificuldades de aprendizagem da criança e do adolescente;

 

O TDAH é comumente visto como uma dificuldade de aprendizagem. Como relata o Dr. Paulo Mattos, psiquiatra e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Coordenador do GEDA – Grupo de Estudos do Déficit de Atenção do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e também Vice-Presidente da ABDA – Associação Brasileira de Déficit de Atenção,

O TDAH por si só não causa problemas de aprendizado. Muito embora cometam erros por desatenção e não consigam estudar devido à dificuldade em ficar sentados lendo livros, não apresentam dificuldades de compreensão e quando têm os sintomas controlados, apresentam um desempenho normal na escola.  No entanto, podem existir outras dificuldades entre as crianças com TDAH que aumentam os problemas na escola, tais como a Dislexia, o Transtorno da Matemática ou Discalculia ou com a escrita (MATTOS, 2004, p. 101).

Crianças com TDAH relatam que mesmo estudando por várias horas, na hora da prova dá um branco. A distração é outro fator que dificulta a concentração. Normalmente enquanto o professor explica ou passa a lição na lousa, o aluno com TDAH está disperso.  Um número significativo de profissionais médicos, psicólogos e professores ainda desconhecem o transtorno, o que dificulta a identificação na fase inicial da vida escolar, sendo confundido por problemas comportamentais ou de aprendizagem. Mas ao contrário, é um distúrbio de realização, que se identificado desde cedo, permite à criança superar muitas dificuldades e evitar maiores prejuízos tanto na escola quanto na vida social. .

 

Rompendo barreiras: necessidade de revisão das práticas pedagógicas;

 

O Transtorno de Déficit de Atenção ainda é um assunto polêmico nas escolas, quando não, ignorado. O número elevado de informações equivocadas sobre o transtorno, impossibilita que os envolvidos neste processo possam encontrar soluções que permitirão aos portadores maior qualidade de vida. Felizmente é possível romper barreiras quando surge a união de esforços no sentido de promover o desenvolvimento do aluno portador do transtorno. Muitas possibilidades poderão surgir na relação escola, aluno e família quando a  identificação do transtorno é feita precocemente e iniciado o tratamento.  As dificuldades, quando não interpretadas erroneamente ou rotuladas pelos professores, podem ser superadas, permitindo o desenvolvimento do aluno que poderá levar uma vida normal, superando o baixo rendimento escolar. O Trabalho conjunto é capaz de eliminar as barreiras construídas ao longo de um tempo, fruto de baixa auto-estima, que muitas vezes podem originar outros transtornos na criança e adolescente.

            O processo de inclusão requer mudanças de conceitos e principalmente uma nova abordagem pedagógica feita pelos professores.

O livro Crianças Índigo aborda as questões de mudanças na área pedagógica e fala desta nova geração de crianças que estão construindo o mundo de amanhã. Preparadas na espiritualidade são questionadoras, sensíveis e determinadas. Lee Carrol e Jan Tober não são especialistas em crianças e sim, palestrantes que sempre levaram palavras de auto-ajuda às pessoas. E neste processo, ouviram falar tanto destas novas crianças que estão nascendo que se sentiram com a missão de investigar e buscar informações de vários profissionais a respeito do assunto.

São apontadas dez características destas crianças:

- Elas nascem, sentem-se (e agem) como nobres.

- Acreditam “merecer estar neste mundo” e se surpreendem quando as outras pessoas não pensam da mesma maneira.

- Não têm problemas de auto-estima. Costumam dizer com freqüência aos pais “quem são”.

- Tem dificuldades em lidar com autoridades absolutas (sem explicação ou possibilidade de questionamento).

- Recusam-se a desempenhar determinadas tarefas. Esperar em uma fila, por exemplo, é algo difícil para elas.

- Frustram-se com sistemas ou tarefas que seguem rotinas ou rituais repetitivos em que não possam usar a criatividade.

- Costumam identificar maneiras mais eficazes de fazer as coisas, tanto em casa quanto na escola, o que as torna verdadeiras destruidoras de sistemas (não se adaptam a qualquer tipo de convenção).

- Parecem não se relacionar bem com pessoa alguma que não seja igual a elas. Se não encontraram ninguém com quem possam compartilhar suas idéias e opiniões fecham-se e sentem-se incompreendidas. A escola normalmente é uma experiência para elas em termos sociais.

- Não respondem a técnicas de disciplina associada à culpa (“espere só até seu pai chegar em casa e ver o que você fez”).

- Não tem vergonha ou problemas em expressar suas necessidades.

Muitas destas crianças são classificadas e diagnosticadas com o Transtorno de Déficit de Atenção – TDAH, mas não é uma regra.

O livro aborda questões relacionadas à Educação e amor. Afinal, a Educação passa por necessidades de mudanças de paradigmas. Os professores, diante desta nova realidade, precisam exercer uma pedagogia que atenda às novas necessidades das crianças, compreendendo profundamente os aspectos da vida humana.

Conforme Ocker (2005):

 “devemos dar aos nossos filhos e alunos o dom da disciplina interior e da paz. Os educadores do século vinte e um devem aprender a guiar e a orientar seus alunos para que obtenham equilíbrio, disciplina, responsabilidade e consciência. Precisamos repensar o sentido da educação, ensinando as crianças como pensar e não o que pensar. O sistema educacional ideal é aquele baseado no desenvolvimento de habilidades em vez de memória. A educação deve basear-se no amor incondicional, pois ele é a essência do ser humano. Nós, educadores, temos o compromisso de nos unirmos para fazer das crianças de hoje os adultos de amanhã (OCKER, 2005, p.139).

No sistema de ensino ainda identificamos o modelo tradicional de ensino que considera que as crianças são como recipientes vazios, prontos para receber os conhecimentos dos professores. O sistema tradicional prevê que elas devem ser inseridas, na sociedade, e para isso, pensa que contribuir para o seu desenvolvimento é ensinar-lhe tudo o que seja necessário para que obtenham um emprego. Avaliam suas habilidades e auto-estima com base na qualidade de produção de sua escrita. Assim os professores que ainda utilizam esta abordagem, usam técnicas que comparam e expõem os alunos. Neste contexto, crianças que não se adaptam a este ambiente, sendo passivas, são consideradas crianças problemas.

Felizmente alguns educadores têm adotado programas em que as crianças podem desenvolver as suas habilidades de liderança utilizando técnicas de mediação e de aconselhamento, eliminando inclusive os tipos mais comuns de intimidação. Mas infelizmente, diversas crianças ainda são expulsas da sala de aula ou levadas ao diretor para ouvir sermões sobre comportamento. O problema é que as crianças aprendem a satisfazer a sua necessidade de atenção de forma negativa.

Devemos pensar que as crianças precisam de segurança, atenção, respeito, dignidade de um ambiente equilibrado para viver bem. Portanto, os pais, ao tentarem encontrar uma escola que atenda às necessidades de desenvolvimento de seu filho, devem se questionar quanto a algumas questões:

- Quanto ao sistema de disciplina da escola;

- Quanto ao ambiente sem ala de aula, se os trabalhos são expostos ou colocados na parede à vista de todos. Se os professores tratam os alunos com respeito e fazem elogios.

- Se os alunos participam do processo de tomada de decisão;

- Se as regras são expostas em sala de aula para que as crianças saibam de suas responsabilidades;

- Se as crianças sabem quais os objetivos de suas tarefas.

- Se o material utilizado é adequado e interessante;

Se os professores indicam maneiras alternativas das crianças lidarem com conflitos e dificuldades, como estratégias de auto-avaliação.

Além destas questões, muitas outras podem ser usadas para que o sistema da escola atenda às expectativas tanto dos pais quanto das crianças. Além destas, é importante que os pais façam questionamentos sobre o ambiente familiar, se está atendendo ao desenvolvimento da criança de forma saudável, sem repressões, com incentivos, regras definidas e compartilhadas de maneira responsável por todos.

 

CONCLUSÃO

 

            O momento histórico atual suscita uma reflexão dos educadores quanto à construção de um novo modelo educacional capaz de promover mudanças sociais e fazer da diversidade o princípio da equidade entre os alunos no âmbito escolar. Neste contexto, torna-se fundamental elucidar a questão da inclusão social, do rompimento de barreiras impostas por educadores alheios às limitações daqueles que não conseguem acompanhar o processo de ensino-aprendizagem.

[...] precisamos, então, conhecer e reconhecer essas pessoas que vivem a nossa volta, excluídas por nossa própria ação. Se desejamos realmente uma sociedade democrática, devemos criar uma nova ordem social, pela qual todos sejam incluídos no universo dos direitos e deveres. Para isso, é preciso saber como vivem as pessoas com deficiência, conhecer suas expectativas, necessidades e alternativas. (GODOY, Andréa Godoy, 2000, Cartilha da Inclusão, PUC-MG).

 

O papel do educador na descoberta do Transtorno de Déficit de Atenção é fundamental para que se inicie o quanto antes o tratamento, evitando que rótulos e o baixo rendimento escolar, leve o aluno a abandonar a escola e perder a chance de conquistar o seu espaço na sociedade, permeada por desigualdades e competitiva na esfera do mercado de trabalho, que exige cada vez mais um profissional qualificado.

            Ainda se discute muito sobre a questão de se considerar ou não o aluno portador de TDAH, como indivíduo que tem direito à inclusão, visto que esta só é direcionada aos alunos identificados como Portadores de Deficiências, cujo trabalho de inclusão demandam adaptações na estrutura educacional, tais como, material adaptado, apoio de profissional da educação especialista no assunto, dentre outras medidas, de acordo com a legislação educacional vigente.

É polêmica a questão de como tratar a criança com TDAH na escola, fornecendo ou não um tratamento ou avaliação pedagógica diferenciada. 

A argumentação de muitos professores é de que aplicar um tratamento diferenciado no aluno com este transtorno, pode rotulá-lo como deficiente ou algo parecido. Porém, as implicações que a falta de atenção, hiperatividade e impulsividade impõem à criança, já conduzem à rotulação, principalmente quando são aquelas que não conseguem terminar os deveres de casa ou tarefas na escola. Portanto, ignorar que a dificuldade é real e necessita de estratégias de ensino, é perdurar com a exclusão social.

Escolas muito conservadoras, que fundamentam seu modelo de ensino em educação tecnicista ou tradicional, valorizando o trabalho de memorização, não é recomendada ao aluno com TDAH. É preciso que a escola leve em conta a diversidade e as necessidades individuais de aprendizagem, apresentando em seu Planejamento de Gestão, as possibilidades de adaptar o método às necessidades de cada criança.

 

 

Referências Bibliográficas:

 

ARRUDA, Marco A. Levados da Breca. 1ª Edição. Ribeirão Preto. Instituto Glia, 2006.

 

CONNERS, Keith. Transtorno de Déficit de atenção/hiperatividade. 3ª Edição. Porto Alegre. Editora Artmed, 2002.

 

FONSECA, Vitor da. Introdução às Dificuldades de Aprendizagem. 2ª Edição. Porto Alegre.  Artes Médicas, 1995.

 

GOLDSTEIN, Sam. Artigo: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (Tdah) em Crianças. Disponívelem: www.hiperatividade.com.br. Acesso em:15 nov.2006.

 

GOLFETO, José Hércules. Congresso Aprender Criança de 2008. Disponível em: www.aprendercrianca.com.br. Acesso em: 23 ago.2008.

 

MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua. 4ª Edição. São Paulo. Lemos Editorial, 2004.

 

OLIVER, Lou de. Distúrbios de Aprendizagem e de Comportamento. 3ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Wak, 2007.

 

SILVA, Ana Beatriz. Mentes Inquietas. 4ª Edição. São Paulo. Editora Gente, 2003.

 

WINNICOTT, Donald W. A Família e o Desenvolvimento Individual. 3ª Edição. São Paulo. Martins Fontes Editora, 2005.

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Autor: Maria De Lurdes Faleiros Viana


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