O meu primeiro amor



 

O Meu Primeiro Amor

 

Quando eu entrei na lanchonete Paloma já estava lá.

 

-Aconteceu alguma coisa?- perguntei preocupado, ela havia marcado aquele encontro e parecia muito séria ao telefone.

 

-Acabou!- foi o que ela disse.

 

-Como assim?

 

-Acabou Pedro. Eu acho você muito legal, mas nós somos primos. É melhor não nos encontrarmos mais, certo?

 

-Certo!- concordei esforçando-me para não deixar transparecer nenhuma emoção.

 

Paloma levantou-se e saiu. Ela era minha prima e a gente ficava, sabe? Só ficava, nunca mencionamos a palavra namoro.

 

Tudo começou há dois anos em uma festa. Você já foi a uma festa? É claro que foi, mas eu pelo menos demorei catorze anos para conseguir permissão para ir a uma festa de verdade. Foi inesquecível. Paloma estava lá, sozinha. Eu queria fazer companhia para ela, mas no início não tive coragem. Éramos primos, mas não amigos. Víamo-nos sempre e tudo o que dizíamos um ao outro era oi e tchau.

 

Paloma era uma menina muito bonita, mas nunca passara pela minha cabeça a possibilidade de ficar com ela, porém eu só precisei de uma pequena influência para mudar de ideia.

 

-Vá logo conversar com a menina!- falou-me um amigo.

 

Acha que devo?- perguntei receoso. Sabia que minha prima não era de ficar com qualquer um, ela era uma garota de princípios, como não se encontra hoje em dia.

 

-É claro, sei que você está interessado nela.

 

Talvez tenha sido a música, a alegria, as palavras do meu amigo, ou quem sabe eu estava realmente muito afim. O fato é que caminhei até Paloma.

 

-Oi!

 

-Oi!- ela respondeu com um leve sorriso.

 

-Que tal se a gente ficar?- eu perguntei com tanta timidez e medo que receei uma gargalhada de minha prima.

 

-Ficar?

 

-É!

 

-Tá!- ela falou um tanto surpresa.

 

E então nós ficamos. Não conversamos muito, foi só beijo, abraço, carinho.

 

Depois que a festa terminou, eu não soube o que dizer, simplesmente olhei para a minha prima pensando no quanto aquela noite tinha sido maravilhosa.

 

-A gente se vê depois?- ela perguntou.

 

-É claro!

 

Não pensei que fosse acontecer de novo, achei que era coisa de uma noite e nunca mais ninguém tocaria no assunto, é assim que os jovens fazem hoje em dia. Porém, na manhã seguinte eu reencontrei Paloma e ela me beijou. E assim a gente foi ficando, ficando e ficando. É isso.

 

E agora ela veio com essa história de que tudo acabou. Eu não sabia o que pensar, mas sentia algo que não queria sentir; tristeza e medo, medo de que tivesse realmente acabado.

 

Saí da lanchonete e voltei para casa. Só uma pessoa poderia me ajudar; o meu pai. Sim, ele sabia de tudo, entre eu ele não havia segredos. Meu pai era também o meu melhor amigo, sempre ficava do meu lado quando eu fazia uma maluquice. Ele nem se importou quando descobriu que eu estava ficando com uma prima, contei isso a ele uma semana depois da festa:

 

-Pai, eu estou ficando com uma garota!

 

-Quem?

 

-A Paloma!

 

-Que bom, ela é linda! Esse é o meu garoto!- papai falou cheio de orgulho.

 

Mas naquela noite a nossa conversa foi bem diferente:

 

-Pai, a Paloma terminou comigo!

 

-Não se abale!- ele falou enquanto lia um jornal com muita atenção. – Depois você arruma outra menina!

 

-Mas o senhor acha que ela pode fazer isso comigo? Simplesmente falar que acabou e pronto.

 

-Ela pode. Vocês não estavam namorando!

 

Meu pai colocou o jornal sobre a mesa e olhou para mim, surpreendeu-se com o meu abatimento:

 

-Os seus olhos estão vermelhos, Pedro!

 

Tudo bem, admito, chorei mesmo, e daí?

 

-Meu deus! Você está apaixonado, filho!

 

-Não sei se estou apaixonado, mas sei que é horrível ficar sem ela!

 

-Acho que ela também está apaixonada, por isso se afastou!

 

-Como assim?- eu perguntei sem entender nada.

 

-É simples. Enquanto era só diversão tudo estava bem, mas agora Paloma se apaixonou e tem medo de assumir um compromisso sério e, então, achou melhor se afastar.

 

-O que devo fazer pai?

 

-Se gosta mesmo dela tem que assumir o controle da situação. Diga que a ama e que está disposto a enfrentar os pais dela. Eu posso ajudá-lo filho, sei que não vai ser fácil fazer o meu irmão aceitar este namoro entre primos.

 

Eu refleti por um segundo antes de dizer:

 

-Eu não sei se a amo!

 

-Diga-me o que sente!

 

-Eu estava acostumado com a presença dela e agora tudo acabou. É como se tirassem um pedaço de mim!

 

-Acho que você tem que dar um tempo. Vá a uma festa e... e... Como é que se diz mesmo? Ah! Lembrei-me. Vá a uma festa, “pegue” algumas garotas e depois examine os seus sentimentos atentamente. –este era o meu pai, nota dez sempre.

 

Fiz o que o meu pai aconselhou; fui a uma festa e fiquei com a primeira menina que surgiu em meu caminho. Foi horrível. A menina não era feia, mas eu me senti culpado, como se estivesse traindo alguém, traindo a mim mesmo, traindo os meus sentimentos. Então conclui que pela primeira vez eu estava amando.

 

Ao voltar para casa encontrei meu pai esperando-me na porta:

 

-Descobriu o que sente filho?

 

-Eu amo a Paloma! Vou falar isso pra ela agora mesmo!

 

-Você bebeu? Já é meia-noite.

 

-E daí?

 

Ignorando a sabedoria de meu pai eu corri até a casa de Paloma, tentei acordá-la de uma maneira romântica que aprendi em um livro, mas ela não achou agradável despertar com alguém jogando pedrinhas em sua janela.

 

-O que faz aqui a essa hora?- Paloma perguntou assustada ao abrir a janela.

 

-Eu preciso falar com você!

 

-Será que não pode esperar até amanhã?

 

-Não, eu não posso! Tenho que dizer uma coisa; eu te amo Paloma. Você quer namorar comigo?

 

Uma declaração de amor emociona qualquer menina. Por um momento eu pensei que Paloma fosse saltar pela janela e me beijar, mas ela resistiu:

 

-Pedro, nós somos primos. Nossos pais nunca vão aceitar uma loucura dessas!

 

-O meu pai já aceitou, e ele vai nos ajudar!

 

Ela ficou em silêncio, não soube o que dizer, mas eu continuei:

 

-Eu te amo Paloma, vou lutar por você, quero namorar, casar. Por favor, diga que também sente alguma coisa por mim!

 

Nós trocamos olhares, minha prima hesitava. Porém, depois de um minuto angustiante ela decidiu-se:

 

-Entre!

 

Eufórico eu pulei pela janela. Parei diante de Paloma e ela olhou fundo nos meus olhos, passou a mão pelo meu rosto e me abraçou.

 

-Você é maluco!- ela disse.

 

-Quer namorar comigo?

 

-É claro que sim!

 

Essa fantástica noite encerrou-se com um beijo.

 

O namoro tornou-se oficial em um domingo. Houve um almoço em família. Paloma e eu estávamos sentados lado a lado, nossos pais conversavam animadamente e nem cogitávamos a possibilidade de assumir o nosso namoro naquele dia, mas em certo momento meu pai pediu silêncio e falou:

 

-Quero propor um brinde!

 

-A que?- perguntou Pablo, o meu tio, pai de Paloma.

 

-É que temos um novo casal na família, Pedro e Paloma estão namorando.

 

Não é necessário descrever toda a confusão que se desenvolveu ali, digo apenas que houve gritaria, ameaças e tentaram me enforcar, mas no fim, o meu pai (esse cara e genial) convenceu a todos de que não havia problema nenhum nesse namoro. Pablo aceitou e disse que eu era um bom garoto e não havia ninguém melhor para namorar a sua filha, mas eu precisava seguir algumas regras; encontros apenas aos sábados, somente das seis às oito da noite.

 

No começo foi difícil, descobri que é muito complicado namorar na casa dos pais da menina, tem que falar baixinho e você nunca se sente à vontade. E para completar, o meu sogro falou-me um dia quando eu estava indo embora:

 

-Tome cuidado sobrinho, as paredes dessa casa ouvem e veem, e se você faz o que não deve, elas se irritam e batem.

 

Mas o meu tio era uma boa pessoa. Depois de dois meses ele já confiava totalmente em mim e deixava Paloma sair um pouco para namorarmos na margem do lago.

 

J. C. Gonsalves da Rocha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Autor: Júlio César Gonsalves


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