O que é verdade?



O que é verdade?

 

Frei Jonas Matheus Sousa da Silva

  

Seguindo o itinerário da História da Filosofia, sobretudo manifestada enquanto Teoria do conhecimento nos deparamos com o problema da verdade filosófica. Tema este enfatizado na conferência “Sobre a essência da verdade”, proferida pelo pensador alemão Martin Heidegger, em 1943. Nos períodos da Antiguidade Greco-romana e da Idade Média a verdade dar-se como concordância da mente humana as coisas conhecidas no mundo concreto; na Modernidade, a concordância se inverte para que exista um conhecimento verdadeiro, sendo que os objetos conhecidos, nesta concepção, é que devem concordar com o sujeito cognoscente e na Contemporaneidade, evidencia-se a noção de verdade enquanto “desvelamento”.

Conforme Heidegger (1973, p. 329): “Um pensamento radical voltado para o real deve aspirar, primeiramente e sem rodeios, a instaurar a verdade real que hoje nos oferece medida e segurança contra a confusão da opinião e do cálculo”.

No período Antiguidade – Idade Média, quando a concepção de verdade, ou veritas (latim) dar-se entendida como concordância do sujeito que conhece ao objeto conhecido, prima-se pelo princípio metafísico que põe as coisas no mundo e, é esse mesmo princípio, a verdade absoluta, exemplos são: o “uno-bem” de Platão e “Deus” na filosofia cristã.

Seguindo-se a Modernidade, com o “cogito ergo sum” (Penso, logo existo), de René Descartes, o esquema de concordância se inverte; pois dado que no paradigma cartesiano, ao contrário da Idade Média, a partir da dúvida metódica chega-se respectivamente às afirmações de si, do mundo, e de Deus; então são os objetos conhecidos que devem concordar com o sujeito que conhece para que haja conhecimento verdadeiro.

Na contemporaneidade, por sua vez, com a filosofia sobre o ser e sobre a linguagem de Martin Heidegger, o conceito de verdade é posto como “desvelamento”, desde que: “Verdade significa o velar iluminador enquanto traço essencial do ser” (1973, p.343). Heidegger resgata o conceito de verdade da cultura grega: “Aletheia”, que significa “não esquecimento”, o que o pensador diz “o que se desvela”. Assim verdadeiro é o que vem à luz, o que se mostra na linguagem. Porém não é um mostrar-se por completo do ser evidenciado, dado que ao mesmo tempo que se desvela também se vela.

Quando Heidegger afirma que: “A essência da verdade é a verdade da essência” (1973, p. 343), interpretamos como se ele dissesse, com tal jogo de palavras, que o fundamento do desvelamento do ser dar base ao movimento desvelador que constitui a fundação do ser; nesta compreensão resgata-se a compreensão de ser móvel oriundo de Heráclito de Éfeso, no princípio da história da Filosofia.

Portanto, no pensamento heideggeriano verdade é o que aparece na linguagem do ser-com-os-outros-no-mundo, em seu devir ou finitude. É esta verdade que na poesia e no pensamento erige o mundo humano, na historicidade e na cultura.

 


HEIDEGGER. Sobre a essência da verdade. In: Os pensadores. São Paulo: Victor Civita Ed., 1973.


Autor: Frei Jonas Matheus


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