Padre Cícero: O guia de um romeiro



Padre Cícero: o guia de um romeiro

 

 

Deus pai todo poderoso

Abençoai meus escritos;

Dê-me fortes pensamentos

Com frases e termos bonitos

Pra eu contar um exemplo

De um dos santos benditos.

 

Leitores nestes meus versos

Pretendo vos demonstrar

Três grandes acontecimentos

Que nos faz admirar

Um exemplo e um castigo

 E um caso singular.

 

Tudo se deu com um moço

Do estado pernambucano

Que foi para a Savana

Para melhorar de sorte

De onde escapou fedendo

Sentindo os ranços da morte.

 

 

Rodrigo Correia dos Santos

É o nosso personagem;

Que seguiu com seu irmão

Em procura de vantagem

No continente africano

Terras de muito selvagem.

 

Para não perderem o tempo

Todos os domingo caçavam

Com os outros eles trocavam

Por farinha, sal e fumo

Quase nada ali gastavam.

 

Um domingo penetraram

Por onde não conheciam

Ultrapassaram os limites

que a eles pertenciam

Foram sair numa alcatéia

De leões que ali haviam.

 

Os leões estavam dormindo

Quando ouviram deles a voz

Pularam e agarraram-nos

Rodrigo viu seu irmão

Ser devorado   letalmente

Com instinto tão feroz.

 

Para não ser devorado

Como seu  irmão Tomé

Com a maior contrição

Confiança e viva fé

Valheu-se de Padim Cíço

O profeta do Nordeste.

 

Elevou o pensamento

A Deus todo poderoso

E mentalmente exclamou:

— Padim Ciço virtuoso

Vinde socorrei-me em nome

De Deus pai miraculoso.

 

Se me valheres eu prometo

Que desde já correrei

A matriz do Juazeiro

E lá depositarei

Todo dinheiro que tenho

Para os pobres entregarei.

 

Em nome do mesmo Deus

Eu vos prometo também

Guardar todos os domingos

Pois já sei que não convém

Os ganhos dos dias santos

Nunca aumentou ninguém.

 

Rodrigo nesse momento

Viu o ar escurecer

Repercutindo uns estrondos

E os leões todos a correr

Ele ferido e com medo

Sentiu-se adormecer.

 

Por baixo do leve sono

Rodrigo viu nessa hora

Chegar um padre e dizer:

- Vai Rodrigo! Vai embora

Te deixo minha  benção

Mas não pode ter demora.

 

E Rodrigo abrindo os olhos

Nessa mesma ocasião

Não viu padre não viu leões

Estava  sem um aranhão

Ele ai meteu carreira

Com toda disposição.

 

Isto foi exemplo ou não?

Quem pode contradizer!

O padre foi Padim  Ciço

Que veio pra defender

E quem negar essa verdade

Nunca um santo há de o valher.

 

Rodrigo  pegou um avião

Penetrou  no Pernambuco

E desceu em terra natal

De  Pernambuco, fez então

Viagem para o Ceará

Grande peregrinação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Daí seguiu a vagar de pé

Na quente  terra do sertão

Contava a sua história

Pedia esmola e comia

Mas não gastava um tostão

Dos cem reais que trazia.

 

Onde  contava a história

Todo mundo o acolheu

Ele mostrava o dinheiro

Mas dizia: - não é meu

 Levarei á meu padim Ciço.

Porque foi que me valheu.

 

Vendo uma casa ao lado

Pediu abrigo para dormir

Contou toda sua história

De onde vinha e pra onde ia

Por fim mostrou  os dez dólares

Mas não lhe pertencia.

 

O dono da casa era

Um sujeito trapaceiro

Disse consigo:- eu vou dar

Dormida a este romeiro

Mas tarde o mato dormindo

E fico com o dinheiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Deu-lhe uma boa ceia

E danou-se a conversar

Rodrigo muito enfadado

Começo a cochilar

Tinha uma rede na sala

Pediu para se deitar.

 

O dono da casa disse:

- deite e pode dormir nesta

Rede, pois e dum meu filho

Que foi dançar numa festa

Pode dormir a vontade

Aqui ninguém o perturba.

 

Quando Rodrigo deitou-se

Ferrou no sono pesado

O homem foi à cozinha

E preparou um machado

Dizendo: - á meia noite

Eu o mato aquele safado.

 

 

- Pra que santo com dinheiro

Que não  bebe e que  não fofa

Mane e lerdo! Com dinheiro

E anda morrendo de fome

Dorme peste que mais tarde

O diabo te muda o nome.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lá atrás foi o exemplo

Eis o castigo leitores

Rodrigo dormindo está

Sujeito a tamanhas dores

Mas Deus é pai e os santos

São os nossos defensores.

 

Ali o homem encostou

O machado e foi dormir

Tirou seis horas no sono

Roncando sem se bulir

Quando Rodrigo acordou

Ouviu a casa ranger.

 

E sentiu no mesmo instante

Sua rede estremecer

E uma voz lhe dizendo:

- se não quiseres morrer

Levanta e segue viagem

E sai sem nada dizer.

 

Rodrigo  se levantou

E abriu a janela

Passou  para lado de fora

Fechou-a, mais sem tramela

Por onde o rapaz da casa

Costumava entrar por ela.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O luar estava esplendido

Rodrigo pos a seguir

O rapaz de lá da festa

Deu vontade de dormir

Chegou, entrou e deitou-se

Sem o pai lhe pressentir.

 

Deitou-se e ferrou no sono

Nisto o pai se levantou

E disse:- eita o danado

Do sono; me agarrou

Mas o peste do romeiro

Ainda não acordou.

 

Nisto pegou o machado

E seguiu sutil, ligeiro

Na escuridão da noite

Pensando ser o romeiro

Matou o filho dormindo

Só por causa do dinheiro.

 

A mulher riscou o fósforo

Para fazer o exame

Quando viu que era o filho

Pelo o horror vexame

Gritou: - mataste meu filho!

Ó miserável! Ó infame.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ambos agarraram o filho

Que  muito mal se bulia

Com a cabeça em bagaço

Nem falava nem ouvia

Depois caíram por terra

Vendo que o rapaz morria.

 

A mulher há muitos anos

Sofria do coração

Pela agonia que teve

Morreu nessa ocasião

E o homem enlouqueceu

Foi se entregar a prisão.

 

Lá contou toda história

Ao juiz e ao delegado

Dizendo: - já conheci

Que por Deus fui castigado

Fui matar o pobre homem

Matei meu filho! Coitado!

 

 Morreu louco na cadeia

Por ser infeliz

Foi um castigo ou não foi?

Aqui todo mundo diz;

Vamos saber de Rodrigo

Pois era bom foi feliz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Não sofreu nada

Porque em Deus tinha fé

Seguiu a sua viagem

Sozinho andando a pé

Até que em fim chegou

Na cidade  abençoada.

 

Entregou todo dinheiro

De espontânea vontade

O qual foi logo aplicado

Nas obras de caridade

Principalmente aos pobres

De maior necessidade.

 

Por lá passou alguns anos

Ocupado em oração

Confessou-se e comungou

Na intenção do irmão

Depois voltou para casa

Liso sem ter um tostão.

 

Como confiava em Deus

Voltou sem se aperrear

No lugar aonde chegava

Começava a conversar

Já não lhe faltava nada

Dormida, café, jantar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um dia pela tardinha

Numa grande travessia

De um sertão muito esquisito

Sem ter uma moradia

Rodrigo vinha pensando

Nessa noite onde dormia.

 

No meio dessa travessia

Havia um grande arvoredo

O qual fornecia sombra

Á caverna de um rochedo

Era um lugar solitário

Um Recôndito de degredo.

 

Quando Rodrigo chegou

Já estava uma moça ali

Sentada em uma pedra

E o revolver junto a si

Rodrigo disse:- amiga

A moça vai dormir aqui?

 

A moça disse: - eu vou

Dormir neste paradeiro

Aqui só temo é  monstro

Mas eu tenho um  revolver

Rodrigo disse: e eu também

Vou dormir de companheiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Havia uma  aguada perto

Que do arvoredo se via

Por isto que muitas vezes

Passageiros ali dormia

Mas como por mistério

Dali desaparecia.

 

Era um monstro perverso

Que tinha naquela terra

Morando em uma caverna

Na garganta de uma serra

Porém é certo o dizer;

“quem confia em Deus não era”

 

Ele dois fizeram um fogo

Começaram a conversar

Depois se apaixonaram

E se beijaram  no luar

Abraçados  bobamente

Nem se lembraram de rezar.

 

O monstro muito faminto

Passou uma hora cheirando

E se aproximou  deles

Sentiu o sabor da presa

E rugiu brutalmente

Continuaram dormindo.

 

Por volta de meia noite

Acordou a moça ali

E disse: - estou cismada

Que tem algo por aqui

Vou dormir, fique acordado

Pois ainda não dormi.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo disse: - está certo

Pode dormir sem cuidado

Eu já dormi a vontade

Posso ficar acordado

Depois murmurou consigo

Este russo é assombrado.

 

Nisto o moço  levantou-se

Com o revolver segurando

E disse: - com este aqui

Eu não temo nem Deus

Quanto mais este monstrinho

Papa bode do sertão.

 

Botou fumo no cachimbo

Fumou e foi se deitar

Mas com o frio da noite

Começou a cochilar

Pendeu o corpo de lado

Deitou-se e pos a roncar.

 

O fogo foi se apagando

O monstro tomou chegada

A moça estava dormindo

Na parte mais protegida

Monstro gosta mais de santo

Como deu certo a parada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O monstro partiu em cima

Do romeiro  e agarrou

Jogou em cima do lombo

E para furna o levou

A moça ouvindo a zoada

Quase assombrada pulou.

 

A moça fez-se nas armas

E disse consigo: - agora

Não durmo mais e bem cedo

Assim que romper a aurora

Vou rastejar esse monstro

Para ver onde ele mora.

 

Como de fato bem cedo

Armou-se do seu revolver

Seguiu no rastro do monstro

Achando sempre o roteiro

Subindo pedras e descendo

Nas quebradas de um outeiro.

 

Quando transpôs um montículo

Avistou um conjunto

De pedras negras e sombrias

Por entre serro encaixado

Conhecer ser uma guta

Ai tomou  mais cuidado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fez uma prece ao bom Deus

Ajeitou o armamento

E foi se aproximando

Sempre de encontro ao vento

Quando já estava perto

Teve um melhor pensamento.

 

Encheu o bornal de pedras

E tratou de se subir

Em um pau e lá de cima

Começo a sacudir

Pedras em cima da furna

Até o monstro sair.

 

Saiu um monstro berrando

Nisto Marisa atirou

Mesmo no peito da fera

A qual ainda pulou

Em direção a fumaça

Porém nos ares arriou.

 

Caiu e não pulou mais

Nisto Marisa sorriu

E mais pedra sacodiu

Mas só um havia

Ela resolveu entrar

Naquela furna sombria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Como a furna estava escura

Fez um fogo com facheiro

Dentro estava Rodrigo preso

Em jaula feita de ossos.

E muitos ossos de gente

Relógio, anel e dinheiro.

 

Ela soltou seu nubente

E seguiram  para  casa

Com poucos dias chegaram

Acharam cinco mil reais

Nas carteiras apuradas

E uns oitocentos reais

Nos  objetos lucrados.

 

Eles logo se casaram

Na capela  de salgueiro

O casal se mudou dali

Para Juazeiro do Norte

Onde viveram felizes

Como nos contos de fadas.

 

Eis aqui caros leitores

O que é a boa sorte

Rodrigo com fé em Deus

Três vezes escapou da morte

E chegou ser o mais rico

De Juazeiro do Norte.

 

 

                                               Fim

Agradeço a todos meus amigos e minha família.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Autor: Irineu Correia De Oliveira


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