Os 50 anos da Psicologia no Brasil



 

Regulamentada em 1962 (pela Lei 4.119), a profissão foi contruída em meio a cenários políticos marcada por intensa disputa. Se aquilo que a Psicologia é, depende das forças que ela apoderam, sua configuração atual pode ser descrita como o resultado de uma luta para substituir concepções elitizantes, fortalecidas ao longo do Regime Militar, por outras, nas quais a subjetividades é pensada em suas articulações com a ida social, visando o bem-estar de toda a população. O pensamento crítico e a luta política foram (e continuam sendo) essenciais nesse processo de recriação contínua da Psicologia, como ciência e profissão.

 

  • Psicologia: uma profissão de diferentes fazeres e múltiplos atores.

 

O conceito de profissionalização serve de base para os três momentos em que foi dividida a história da profissão de psicólogo no Brasil. O primeiro período é compreendido entre a criação das faculdades de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia (1833) e o final do século XIX (1890) . Nele não havia ainda nenhuma sistematização ou institucionalização do conhecimeno psicológico. A psicologia não era uma prática definida ou regulamentada.

O mercado de trabalho era incipiente. As associações profissionais e de pesquisa não foram identificadas. O que havia eram pessoas interessadas nos temas e questões psicológicas. Não havia, portanto, a profissão de psicólogp no Brasil durante o século XIX. Por estas razões, esse período foi denominado pré-profissional.

O segundo período, de profissionalização, é compreendido entre 1890/1906 e 1975. Ele abrange desde a gênese da institucionalização da prática psicológica até a regulamentação da profissão e a criação dos seus dispositivos formais. Serão considerados como marcos desse período: a Reforma Benjamim Constant (1890), a inauguração dos laboratórios de psicologia experimental na educação (1906) e a criação do código de ética (1975). A partir de então, a psicologia passa a ter um conhecimento próprio, institucionalizado e reconhecido, tornando-se detentora de um determinado mercado de trabalho, ainda que compartilhado com a medicina e a educação.

O terceiro momento inicia-se em 1975, quando a profissão de psicólogo passou a estar organizada e estabelecida. A partir e então, a profissão começou a sofrer fortes alterações socioeconômicas. A proliferação de faculdades de psicologia, lancando no mercado um número crescente de profissionais, contribuiu para degradação do valor da mão-de-obra. O consultório particular deixou de exercer o papel preeminente que tivera outrora. Novos espaços de atuação profissional começaram  se constituir. Além disso, novos problemas e disputas interprofissionais passarm a dominar a cena.

Nos anos 1970 e 1980 existiam três grandes áreasna psicologia: educação, trabalho e clínica. Pelo que parece, a clínica despertava o maior interesse dos profissionais, desde os bancos de da universidade.

Em 1988, o Conselho Federal de Psicologia realizou o primeiro grande levantamento sobre a profissão no Brasil. Essa pesquisa, cujos dados foram coletados entre o final de 1985 e o início de 1987, concluiu que a profissão apresentava as seguintes características: profissão feminina (o número de psicólogos chegava a 85%); a profissão jovem (73% a 90% dos profissionais estavam na faixa dos 22 e 30 anos);  e concentrada nos centros urbanos – localidades onde se encontra a maioria dos cursos de formação e, principalmente, um maior mercado de trabalho.

A pesquisa concluiu também que os psicólogos eram profissionais mal-remunerados e que parte deles exerciam a profissao apenas em período parcial, ou seja, trabalhavam em outra atividade remunerada, com o objetivo de complementar a renda mensal. Nessa época, havia 58.277 profissionais registrados nos Conselhos de Psicologia (Rosas, Rosas & Xavier, 1988).

A situação, portanto, não era muito favorável. Esses dados revelam que os psicólogos brasileiros da década de 1980 não estavam consegindo se manter exclusivamente de sua profissão. Era um sinal nitido e perda de autoridade e de valorização profissional.

Outras duas pesquisas, realizadas em 1994 e 2001, pelo Conselho Federal de Psicologia, indicam que os dados colhidos em 1988 permanecem os mesmos (Achcar, 1994; WHO/CEP, 2001). A profissão de psicologia no Brasil continua sendo uma profissão feminina, jovem, mal-remunerada e atuante preferencialmente na área clínica, mais especificantemente em consultórios. É importante observar que , embora seja preferida pela maioria dos psicólogos (as), o mercado na área clínica se encontra saturado. Frente a isto, outras áreas de atuação vêm se expandindo, como a psicologia da saúde, jurídica, do trânsito e do esporte.

Em 2000, na I Mostra Nacional de Práticas em Psicologia, nomeada Psicologia e Compromisso Social, o trabalho do psicólogo tornou objeto de exposição, de debate e de troca, permitindo que a Psicologia fosse exposta, conhecida e discutida pela categoria e pela sociedade, dando visibilidade ás novas práticas comprometidas com a realidade social e com o controle social.

Em tempos de modernidade os psicólogos são desafiados por novos olhares, diversos questionamentos e, sobretudo, pelo propósito de interação em uma sociedade dinâmica, combinante e transformadora.

Hoje, a Psicologia é um fazer solicitado pelos diversos segmentos do tecido social, tendo seus discurso entrelaçando no cotidiano de qualquer cidadão e cidadã. Os profissionis constroem e estão presentes no dia-a-dia.

 

  • Comemoração da travessia para os 50 anos da Psicologia no Brasil

 

O que os psicólogos têm a comemorar?

 

A resposta é abrangente, mas, se refere especialmente à inserção, participação e legitimidade dos profissionais da Psicologia. Trajetória construída a parti de um trabalho permanente, legitimado pelas conquistas do dia-a-dia, pelo esforço sustentado e pela convicção plena de que nosso fazer produz diferença. Há muito o que percorrer, mas, hoje, a Psicologia é imprescindível numa sociedade moderna, democrática e participativa.

YALEN VERAS.


Autor: Yalen Veras


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