De adeus em adeus



                           De adeus em adeus

Mais um adeus... Mais um.                                                            Mais uma etapa de minha vida em que tive que dizer adeus. E doeu tanto... E dói tanto. Mais uma folha caída, mais uma que vai ser pisoteada até desaparecer... Até não ser mais nada, o que era tudo para mim... E que machucou e que machuca e que me feriu mortalmente... Fiquei sem o pouco que a mim bastava... A mim bastava, pobre tola... Zumbi que sou e não percebi...                      Um mais que é um menos no contexto geral.                                   Um menos para a etapa final que caminha ao meu encontro e que não sei se a passos curtos ou longos...                                          Mas que vêem em minha direção e eu sinto e quero que venham.     E que venham depressa. O mais rápido possível... Necessário se faz que nos encontremos.                                                                       Se há um começo, há de ter um meio e um fim.                                 E eu que já passei a muito do meio, encaminho-me para o fim. Caminho sozinha, tendo a dor como companheira.                           Por que tudo para mim tem que ser assim?                                     Chama-me, Pai. Leva-me para você... Eu que já não sou mais nada, eu que já sou tão pouco... Será tão fácil me levar...                          “Ameno, Omenare, Imperavi”.                                                          Tira essa dor de mim, alivia meu sofrimento...                                Abre as portas que eu quero entrar.                                                  Eu, covarde que sou... Preciso que Você me acarinhe...                    Passe as mãos em minha cabeça, cuida de mim.                           Cuida de mim, que não soube me fazer feliz.                                    Ao olhar para trás vejo tantas coisas, coisas que foram acrescentadas à minha vida e que sequer me dei conta.             Tudo era tão normal...                                                                 Foram aparecendo num crescendo e nem me dei conta de tantas coisas que fizeram de minha vida o que ela hoje é. Tantas imagens, presenças,partidas,despedidas...Tantas.                                                                                                 E assim fui vivendo, como se ela devesse ser vivida numa reta sem desvios, sem emaranhados, sem caminhos obscuros... Uma vida a ser vivida. Tão somente ser vivida. Nada mais. Foi o que pensei. Mas um dia, um dia me dei conta de que não é bem assim... Em nossos caminhos existem pedras que chamam nossa atenção. As pedras no caminho. E nos detemos, forçosamente, para olhá-las. E as olhamos sem entendê-las e sem saber seu real significado, continuamos nossa caminhada rumo ao tudo ou rumo ao nada. Rumo ao ter ou rumo ao ser. Elas nos mostram nossa família, parentes, amigos, desejos, sonhos, esperanças, ilusões.                   E vamos em frente, sem perceber que as desilusões foram muitas, que desejos não foram realizados, que sonhos se tornaram os pesadelos que agora são vivenciados. E que não se tem para quem falar, para quem contar, para aliviar a alma tão sofrida. Afinal, quem além de mim pode me ajudar?                                                           Se nos maltratam, se nos humilham... Nós nos acostumamos. As lágrimas só acontecem na hora... Depois... A sombra serve para que? A sombra, fiel depositário do que não conseguimos resolver, do que não conseguimos resolver como queremos, como queríamos, do que não conseguimos nos livrar. Pobre sombra...  Tão sobrecarregada... Que permanece quieta por tanto tempo.     Mas quando ela emerge, ah quando ela emerge, quando ela resolve mostrar-se... Nem licença pede... Vem com força total... Muitas vezes, já em nossa reta final... E nos encontra tão fragilizados, machucados, doídos, desprovidos de coragem.                             Será a sua vingança ou a oportunidade que ela nos dá de um reencontro conosco mesmos... Para nos resolvermos antes que a morte chegue e consigamos nos fazer felizes, mesmo que por um pequeno espaço de tempo..                                                             Mas é preciso então, ter uma força sobrenatural para olhá-la de frente, para enfrentar tudo que ficou para trás... E ver quanta coisa aconteceu... E que por comodismo ou omissão, não nos demos conta. Ou não tivemos coragem de resolver, dar um basta.        Afinal, a nossa maneira de encarar a vida, nos é transmitida de geração em geração, sem que percebamos e que não representa o que somos, mas sim aquilo que fomos condicionados a ser. E consentimos, abaixamos a cabeça, dizemos amém.                       São as  pessoas, contadas dos dois lados, do pai e da mãe, que estão atrás de nós, com suas regras, valores, proibições, que hoje nos fazem ser o que somos.                                                              Ao fazer nossas escolhas durante a vida, se é que as fazemos, nós as enxergamos com as lentes que nos foram entregues por herança genética. E não nos rebelamos... E sofremos as consequências e nos tornamos protagonistas dos nossos dramas, tão nossos...           É verdade ou não?                                                                               E como sair da frente dessa fila maldita ou bendita? E que nos acompanha, queiramos ou não? Não é tão simples assim.                 Para que tudo se resolva, necessário se faz que o velho morra, para que o novo possa emergir. E nosso corpo, já gasto pelo tempo, precisa reagir, para viver em paz, até que...                                        É o morrer para renascer. E renascendo, sair em busca da felicidade, que pincela nossa vida de “momentos”.                               O antigo estado do ego torna-se inadequado.                                     É a hora do confronto, a hora da briga tão necessária.                       É a hora da “Passagem do meio”, que tem início, quando nos perguntamos sobre os significados que povoavam nossa imaginação infantil. Quando não mais podemos fugir dos enfrentamentos que a vida nos apresenta e que pode ter início aos trinta, quarenta, cinquenta, sessenta anos. Não importa quando. É um rito de passagem tão necessário, tão doído, tão gratificante.                      “Quem sou eu, além da minha história e dos papéis que representei”? James Hill                                                                    Eu, que criança me pensei imortal, que jovem, me pensei mais esperto, mais sábio que meus pais, só agora me dou conta “que o maior fardo que uma criança precisa carregar é a vida não vivida por seus pais”, como o dizia Jung.                                                             A passagem do meio nos dará a oportunidade de perguntar à nossa criança interior, o que ela deseja que façamos. E são várias as crianças interiores que existem em nós... E todas elas reprimidas... Coitadas.                                                                                       Necessário se faz que as resgatemos, que com elas conversemos, que as atendamos.                                                                       Todas elas juntas, formam “O nosso Jardim de Infância”. E lá estão elas, a assustada, a dependente, a carente, a submissa, a ciumenta, a rancorosa, a alegre, a extrovertida, a brincalhona.Todas elas, que não são bem vindas ao mundo adulto, mas que cabe a nós resgatá-las e introduzi-las nesse mundo “tão bom”.                               Como? Tendo a aula de piano que você sempre quis ter, ouvindo músicas bem alto, lendo até de madrugada, fazendo ballet, voltando a estudar, surfando. Apaixonando-se novamente... Por alguém, pelas manhãs de sol, pela vida, por você mesma. Por que não?    Não deixe sua chance passar.                                                         Ouse fazer tudo que sempre quis e nunca pode. Porque não deixaram, porque você não se permitiu. Enfim...  Dê-se essa oportunidade... De ser feliz...                                                                A chance de um recomeço sem culpas, sem remorsos. Apenas e tão somente “deixando a vida te levar,  e  que talvez seja a única coisa  que você será capaz de permitir-se.                                               Abra as portas e vá. Sem olhar para trás. Solte sua amarras.             Simplesmente vá...  Antes que a tragam de volta.                              E aí?Vamos?


Autor: Heloisa Pereira De Paula Dos Reis


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