Crônica do Assalto Público




Djalmira de Sá Almeida

Mara Aparecida do Nascimento

RESUMO: Moto de funcionária do fórum é alvo do roubo organizado.

Certa vez uma senhora teve sua moto subtraída por um assaltante. Ela ficou desesperada porque tinha conseguido sua carteira recentemente e ainda não tinha quitado suas prestações. Foi à delegacia fazer o B.O e percebeu pouco interesse dos policiais em resolver a  situação. Os agentes, ao invés de mostrarem-se preocupados como ocorrido, foram os primeiros a desestimularem à vítima para não ir  procurar a tal moto; alegaram que poderia dar como perdida, pois seria muito difícil encontrá-la. E que, possivelmente, já estaria no desmanche.

 A mulher foi embora amargurada e sem esperança de que se fizesse justiça. Sua moto era seu instrumento de trabalho. Agora, até o seu emprego no Fórum estava em jogo. Foi para casa e, no outro dia, no seu trabalho, comentou com colegas, funcionários e um deles em particular que, tentando acalmar-lhe, alertou-a:- “Você não deve procurar a polícia, em caso de roubo, mas  sim achar o bandido”. Dizendo isto, deu-lhe um número de um telefone para que ela pedisse ajuda e autorizou-a a utilizar o nome dele. Ela ligou para o telefone indicado. Citou o nome de seu colega e funcionário do Fórum, conforme combinado. Falou com uma pessoa que falava gírias e termos de marginais. Ela contou o seu problema, dando as características da moto. O homem indicado pediu-lhe uma quantia para achá-la.

Dois dias depois, um policial ligou para essa senhora dizendo que a moto estava à disposição na delegacia e que ela deveria procurar somente por ele para resgatá-la. Chegando lá não foi exigido nenhum documento da moto e nem da vítima. O policial mandou verificar se era aquela mesmo. Em seguida, ele pediu: - a senhora tem que me dar uma “ponta”, pois preciso repartir com o rapaz com quem você tratou. A mulher deu-lhe uma quantia de duzentos reais que, no momento, o policial aceitou. Ela voltou para casa e a pessoa que falava gírias voltou a falar com ela pelo telefone. Ele disse: - a senhora já recebeu a moto, não é? O policial disse que a senhora não deu nada para ele, mas a senhora tratou comigo! Ela respondeu: - ”dei ao policial duzentos reais, sim, e , se você quiser tenho mais duzentos aqui para você”. A pessoa do telefonema pediu o endereço da senhora e foi buscar o dinheiro.

Ao chegar à porta da casa, mostrava-se desconfiado, não queria entrar, olhava para os lados com receio de ter mais alguém lá dentro. Temendo uma emboscada, conforme confessou a ela. Entrou hesitante, levantou a camiseta, mostrou o revólver calibre 38, na cintura, não ameaçando-a, mas demonstrando estar preparado para o imprevisível. A senhora insistiu para ele sentar, ofereceu-lhe café, mas o homem só aceitou água. Ela entregou os duzentos reais como prometido e perguntou-lhe: - É você mesmo quem rouba as motos? Ao que ele respondeu: - Agora, não mais, só no começo. Hoje, tenho garotos que fazem o trabalho para mim. Eu só desmancho as motos. Vendo as peças, depois divido o dinheiro com eles. Ela pergunta: E esse negócio dá dinheiro? Ele respondeu: - ganho só para a sobrevivência, pois do lucro, tenho que pagar “os meninos colaboradores” e ainda tenho ” que molhar a mão” dos “tiras” e “dar gorja” aos “caras” da delegacia e do fórum . Nisso o telefone dele não parava de tocar. Ele falava: Pode ir! Leva lá! Agora não! Lá mesmo! Entrega a ele! Virando-se para ela, afirmou: Olha aí, minha vida é corrida, Dona! Eu não tenho sossego! Eu trabalho demais! A senhora levou sorte de sua moto não chegar ao desmanche.

Quando o homem do desmanche saiu, a senhora da moto pensou: o crime virou empresa pública mesmo,  tem até gestores e coordenadores da ação, um tipo de negócio bem estruturado que envolve delegacia, funcionários do Fórum, polícia, atravessadores e bandidos. Enfim, os assaltos estão deixando de ser serviços privados, de ação de iniciativa particular ou terceirizados e, curiosamente, estão se tornando PROGRAMAS ORGANIZADOS OU SERVIÇOS CONVENIADOS PELO PODER PÚBLICO.

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Autor: Djalmira Sá Almeida


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