Resenha do artigo: "as práticas do cotidiano na relação oferta e demanda dos serviços de saúde".



Resenha: “As práticas do cotidiano na relação oferta e demanda dos serviços de saude: um campo de estudo e construção da integralidade”.

Autora: Roseni Pinheiro

 

O objetivo do texto foi levantar questões referentes à integralidade partindo da análise da relação oferta/demanda nas práticas dos serviços de saúde. A autora ressalta o caráter polissêmico da palavra integralidade como resultante da relação demanda/ oferta em distintos planos de atenção à saúde.

Em um primeiro momento a autora necessita conceituar cotidiano (realidade local) e sua importância no entendimento da relação demanda/oferta. O texto cita o conceito de oferta de Travassos e colaboradores como a disponibilidade de serviços e também cita Arruda que afirma que a demanda nem sempre quer dizer necessidade. Na visão da autora demanda e ofertas estão relacionadas e não dicotomizadas como a maioria dos artigos sobre o assunto aborda: ora demanda (usuários) ora oferta (profissionais e serviços). Outro conceito trabalhado é o de ação social de Weber  como ação geradora de situações e estruturas na organização do edifício social. Para a autora a abordagem e o entendimento destes conceitos são importantes porque é no cotidiano, na ação social e na relação demanda/oferta que a integralidade se materializa (vida coletiva).

Em seguida a autora relata o caso de um município do interior do Rio de Janeiro (Volta Redonda) e analisa o município sob dois aspectos: a construção da oferta/demanda e o Programa Saúde da Família do município.

A autora enfatiza o impacto do projeto político/institucional provocado pela implantação do SUS na localidade. A construção da oferta de serviços de saúde do município ocorreu da seguinte forma: extensão da cobertura, rede básica como eixo estruturante do serviço e participação popular na gestão da saúde. A autora pontua a necessidade de se conhecer os conceitos tais conceitos para que eles se transformem em prática. Daí a necessidade de organização do atendimento de forma que o fluxo de trabalho possa evitar a concentração dos atendimentos em torno do profissional médico e de determinado serviço.

Por outro lado a autora expõe a necessidade de “educar” os usuários de como eles devem utilizar o sistema. A falta deste entendimento resulta numa desorganização do sistema por parte do usuário. Para que o fluxo de atendimento seja executado com eficiência a autora salienta a importância do sistema de referência e contra-referência funcionar de maneira articulada e colocando em prática a integralidade entre os níveis de complexidade (baixa, média e alta). A demanda por serviços de saúde envolve diversos atores e práticas. É o que ela denomina “cotidiano das instituições de saúde”. A autora expõe a visão sobre saúde, doença e cura sob o ângulo de diversos atores: usuários, profissionais e técnicos. É dada ênfase aos fatores sociais como determinantes do processo de adoecimento (violência, desemprego). Apesar de que os profissionais de saúde, em sua maioria, ainda estejam focados na doença. Isto também ocorre muito em função do pensamento do usuário que atribui aos profissionais de saúde a responsabilidade por solucionar os problemas de saúde. Daí ocorre o encontro entre o pensamento médico (biologicista) com o pensamento do usuário (doente). Para muitos esta dependência do profissional médico é interessante porque gera uma supervalorização de um determinado profissional de saúde em relação aos demais. A autora acredita que com o aumento da percepção do usuário de que saúde não é o oposto de doença este quadro possa ser revertido.

Esta relação médico-paciente é conflituosa e ao mesmo tempo “dependente” muito em função das relações pessoais e do profissional médico concentrar em suas mãos os conhecimentos dos recursos terapêuticos nos processos de cura dos pacientes. É exposta a desvalorização do trabalho ambulatorial (equipe) e uma supervalorização do médico principalmente em relação: carga horária, salário e terapêutica. A tônica recai sobre a humanização e sensibilização da atenção.

A autora destaca o papel do Conselho Municipal de Saúde em função do histórico dos movimentos populares do município. Esta mobilização é importante para a equalização das políticas de saúde conforme as demandas sociais. O texto ainda aborda a potencialização dos conselhos que muitas vezes é utilizado como “vitrine” para futuras pretensões político-partidárias.

Em outro momento a autora analisa o Programa Saúde da Família (PSF) e seus desafios na construção da integralidade. Os pontos importantes seriam: a necessidade de quebra do conceito de saúde como ausência de doença; o foco na família e não no indivíduo; planejamento de ações dentro de um território definido; fixação dos profissionais em áreas definidas; envolvimento dos recursos humanos com o serviço; equação demanda/oferta; humanização da atenção e trabalho em equipe. A autora pontua o conflito entre o “velho” e o “novo” sistema de assistência à saúde.  O que coloca em dúvida o sistema de referencias e contra-referencias, a capacidade de resolutividade do programa e o medicamento como principal recurso terapêutico disponível.

A autora conclui que a reformulação do sistema de atenção à saude, a nível local, trouxe avanços. Mas que encontra alguns entraves principalmente porque depende de mudança: cultural do conceito de saúde; relação profissional, usuário e serviço; equação demanda/oferta; exercício da cidadania e políticas públicas de saúde. Ainda afirma que a não integração das assistências à saúde induz a baixa eficiência dos serviços prestados e dificulta a prática da integralidade nos serviços assistenciais de saúde.

 

EMÍLIO PRADO DA FONSECA  

           

           

 

 

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Autor: Emilio Prado Da Fonseca


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