Não há nada de novo



Não há nada de novo.

 Mal saio cama afasto as cortinas da janela, olho para fora e o céu se descortina para mim num azul lindo, sem uma nuvem sequer. É um céu azul de “brigadeiro”. Resolvo sair para caminhar. Sem destino. Sem pressa. Tão somente caminhar, tendo a mim mesma por companhia.                                                                                  Deixo em casa o relógio, pois há muito parei de brigar com o tempo, de correr contra ele, para demonstrar que sou mais rápida. Como se possível fosse.                                                                               Aprendi a respeitá-lo e a entendê-lo. A ele, que sempre se mostrou tão claro para mim, que nunca se escondeu, pretendendo ser mais do que era. Sempre foi igual para todos. Nem mais, nem menos. Desde sempre ele foi o mesmo. O mesmo tempo de sempre, aquele que tem começo, meio e fim. Aquele que mostra a hora certa de tudo começar e acabar. Tudo. De nada adianta a pressa, o correr ao passar por ele, que mantém sempre o mesmo sorriso enigmático, como que a esperar a volta do apressado para caminhar a seu lado.                                                                                                        Na minha caminhada descompromissada, passo por ruas que não conheço e que a mim se apresentam pretendendo fazer parte de minha vida, da minha nova vida que eu nunca pensei viver.         Vejo casas diferentes, tentando nelas reconhecer algumas daquelas que já vi, que já visitei... E não reconheço em nenhuma delas a casa de um parente, de um amigo, de um conhecido... Em nenhuma. Tudo é novo para mim.                                                                         Os carros passam devagar... Com os vidros fechados... E ninguém os abre para cumprimentar-me como eu estou acostumada. Ninguém.                                                                                        Crianças passam despreocupadamente pedalando suas bicicletas, mochilas às costas, rumo à escola. Voltarão ao entardecer...           Tudo é tão estranho, tão diferente e ao mesmo tempo tão simples, tão aconchegante, que me faz sentir a felicidade de viver mais dia.   “Todas as coisas são difíceis e não se pode explicá-las com palavras. A vista não se cansa de ver, nem o ouvido se farta de ouvir. O que foi, é isso mesmo que será. E o que foi feito, é isso mesmo que vai ser feito: não há nada de novo debaixo do sol...” Ecl. 1,8-10.

 Heloisa

 

 

 

 

 

 

 


Autor: Heloisa Pereira De Paula Dos Reis


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