Lágrimas de Portugal



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Uma Crônica

Lágrimas de Portugal

Hoje em dia fala-se muito através das  redes sociais, fica até impossível imaginar a vida sem a Internet.

Já eram os tempos em que se escreviam cartas, afinal, estamos na era morta do telegrama e do fax, mais precisamente em plena era quase que pós- digital.

O fato curioso é que conheci um amigo virtual que por acaso tinha colocado em uma dessas redes sociais um convite para alguém que quisesse fazer com ele parceria para escrever um livro. Como sempre quis escrever um livro e sempre faltou- me coragem, decidi me candidatar, e por que não?

Após adicioná-lo aos meus contatos não demorou muito a encontrá-lo online.  Constatei então que padecíamos do mesmo mal, falta de coragem para criar o primeiro livro.

Segue aí o nosso diálogo:

EU _ Salve amigo!

AMIGO PORTUGA _ (...)

AMIG PORTUGA _ Olá! Desculpas, boa noite. Eu não estava aqui. Como estas?

EU_ Muito bem. De onde és?

AMIGO PORTUGA _ Eu sou de Portugal, vivo em Lisboa, sou português.

EU_ Sério! Sou do Brasil, natural do Estado de São Paulo, mas vivo na Bahia.

AMIGO PORTUGA _ Eu nasci aqui em Lisboa.

EU_ Imagino o seu sotaque português.

AMIGO PORTUGA _ Nunca ouvistes um sotaque português?

EU_ Sim, nas novelas. Atualmente está sendo exibida uma da autoria do Miguel Falabella.

AMIGO PORTUGA _ Vês novela portuguesa?

EU_ Não. Novelas brasileiras. Há muitos atores portugueses por aqui. São sempre muito bem recebidos.

AMIGO PORTUGA _ Mas eles não falam com sotaque português, pois não?

EU_ Olha há um chamado Ricardo Pereira que, creio eu, fez fonoaudiologia e perdeu parte do sotaque português já que, nem sempre interpretará um português nas tramas.

AMIGO PORTUGA _ Ah. Eu não aprecio muito novelas, sou mais filmes e séries.

EU_ Também. Já não se escreve novelas como antigamente.

São poucas as pessoas que ainda perdem tempo assistindo.

Costumas lê muito?

AMIGO PORTUGA _ Não sou um devorador de livros, mas, leio alguns digamos que o suficiente para mim.

EU_ Qual livros já leu?

AMIGO_ Não sei todos de cor, mas literatura estrangeira, normalmente romance.

EU_ já leste O Diário de Anne Frank?

AMIGO PORTUGA _ Conheço, mas nunca li.

EU_ Deverias. Não dá para passar por esta sem o feze-lo.

AMIGO PORTUGA _É sobre uma rapariga que viveu durante a segunda guerra certa?

EU_ O livro é o diário dela. É considerado um dos maiores documentários da segunda guerra mundial. Há u filme de mesmo nome baseado no livro e, em 2001 fizeram um segunda adaptação que vai além do diário. Deverias ver.

AMIGO PORTUGA _ Vou pensar nisso, talvez seja o meu próximo livro.

EU _ É um retrato impressionante da Segunda Guerra. Mostra-nos mais do que aprendemos em nossos livros de história.

AMIGO PORTUGA _ Sim, do ponto de vista humano da coisa, mas, História é História.

EU _Sim, sempre, mas, ver é melhor que decorar entende? Vivenciar é melhor do que engolir o que nos empurram goela abaixo na escola.

AMIGO PORTUGA _ Sim.

EU _ Aproveitando, cito o exemplo de “Quem descobriu o Brasil”. Sabes quem foi?

AMIGO PORTUGA _ P A C. (Pedro Álvares Cabral)

EU _ Aí é que está. Na escola me disseram isso, mas, sabes bem que não é verdade, a

Verdade é que fomos invadidos pelos portugueses a 22 de abril de 1500. Os índios foram enganados, mai tarde escravizados e conseqüentemente somos um povo oriundo de índios, brancos e negros, nosso país é o Brasil e falamos português.

Diga lá se não é?

AMIGO PORTUGA _ Sim.

EU _ Eu tive que me tornar adulta para entender tais coisas. Mas afinal faz parte da História.

AMIGO PORTUGA _ Ressentimentos?

EU _ Ah não, só estamos com isso entalado na garganta a mais de quinhentos anos.

AMIGO PORTUGA _ Mas tu vivestes a essa altura?

EU _ Eu não, mas, meus ancestrais índios e africanos sim.

AMIGO PORTUGA _ Se não fossem os meus ancestrais, seriam os ancestrais dos espanhóis ou dos holandeses, venha o diabo e escolha.

EU _ É, então não seriamos essa nação descendentes daquela gente nanica e de princesas capengas.

(A esta altura o meu amigo portuga já estava bem irritado).

AMIGO PORTUGA _ O que os portugueses fizeram a quinhentos anos foi um grande feito e, o maior patrimônio que nós deixamos foi a língua. (Puxando a sardinha para seu lado, ou melhor, o bacalhau)

EU _ Sim, mas, a língua aqui nem é nossa é portuguesa.

AMIGO PORTUGA _ Lololoool!

Tens que visitar Portugal para veres a História na rua, nos monumentos, nos museus, nas cidades na cultura em geral, aquilo que aprendestes nos livros.

EU _ Está em toda parte por aqui: Nas igrejas coberta de ouro em estilo barroco, por toda Minas Gerais, nos fortes da cidade Salvador, nos antigos casarões, em nossa literatura, nos sobrenomes das pessoas...

 _ Não briguemos por isto, somos parente caro amigo de Portugal.

_ Mas ainda quero pegar o PAC.

AMIGO PORTUGA _Terias que passar por cima do meu cadáver!

EU _ Independência ou morte meu caro.

AMIGO PORTUGA_ O que Portugal deixou de bom no Brasil supera em muito o que levou. (Puxando a sardinha para o seu lado, ou melhor, o bacalhau mais um vez).

EU _ Sei. Levou-nos tudo.

AMIGO PORTUGA_ Mas isto é um disparate! Não podes comparar o entendimento das pessoas

á quinhentos anos com o actual. Tal como fizemos muitos outros povos o fizeram.

 EU_ Mas não com tamanha brutalidade contra os índios e os povos africanos.

AMIGO PORTUGA _ (Irritado) _ Não conhesces a História!

EU _ Porões de navios infectos, condições subumanas, opressão, escravidão, achavam que não eram pessoas e sim ferramenta de trabalho, etc., etc., etc.

AMIGO PORTUGA _ Quando chegamos ao Brasil não havia Brasil, não havia fronteiras, civilização, nada.

EU _Nada, não, pessoas. Por isto é melhor ludibriarmos os pequenos e dizer-lhes que fomos descobertos. A verdade que descubram depois.

AMIGO PORTUGA _ Portugal não descobriu só o Brasil...

EU _ Não invadiu só o Brasil, prossiga.

AMIGO PORTUGA _ Invadiu/ descobriu, um pouco por todo o mundo. Há vestígios de civilização portuguesa em todos os continentes.

EU _ Esqueçamos isso. Não briguemos pelo PAC. A história morre aqui.

AMIGO PORTUGA_ Esquecer, nunca!  Não esqueço a minha História. Na terra e nos céus sempre me orgulho da nossa História.

EU _ Quanto a nós brasileiros também temos muito do que nos orgulhar, mas, não de povos que colonizamos ou oprimimos no passado, e sim as nossas lutas pela abolição da escravidão, lutas pela independência do nosso país, para nós glórias históricas são os nossos ideais de liberdade e conseqüentemente a conquista diária da mesma.

AMIGO PORTUGA _ Isso é motivo de orgulho.

EU_ Espero que não estejas zangado. Maneira estranha de se conhecer, trocando farpas por causa do PAC.

AMIGO PORTUGA _ Tu que puxastes o tema.

EU_ Mas tentei parar tu declarou-me guerra. Eu como boa brasileira de sangue índio-africano que sou não retrocedi. Mas tenho cá também minhas origens portuguesa, caso não saibas um dos meus sobrenomes é “Pereira”.

_Mas a nossa discussão foi uma bobagem divertida, diga lá se não foi?

AMIGO PORTUGA _ Foi interessante, uma discussão positiva, cada um defendeu a sua parte.

EU _ Até logo meu bom amigo.

AMIGO PORTUGA _ Até logo minha boa amiga.

E assim nos despedimos amigavelmente até que a História nos separe.

Genilce Nascimento Angelin

Feira de Santana, 09 de abril de 2012.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Autor: Genilce Nascimento Angelin


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