Artigo: O teste nuclear da Coreia do Norte



Artigo: O teste nuclear da Coreia do Norte

Roberto Ramalho é jornalista, blogueiro e escritor

A suspeita do governo da Coreia do Sul acaba de ser visto a olho nu: a Coreia do Norte se prepara para lançar um míssil que deve ser um teste balístico com finalidade militar.

Seul crê que a Coreia do Norte esteja preparando seu terceiro teste nuclear, depois de ficar quase três anos sem realizar nenhum outro. Segundo a imprensa local, a inteligência sul-coreana chegou a essa conclusão após constatar por análise de imagens de satélite que mostram um novo túnel sendo escavado num ponto de teste nuclear em Punggye-ri.

De acordo com especialistas internacionais ouvidos, os norte-coreanos enchem os túneis com terra para medir a potência da explosão e conter o material nuclear dentro do buraco.

Milhares de norte-coreanos se reuniram nessa segunda-feira (09.04.12), no centro de Pyongyang, capital do país, para um ato de devoção à família Kim, que há três gerações comanda o país com mão de ferro em um regime estalinista dinástico.

A multidão saudou a inauguração de um gigantesco mosaico com o rosto dos dois últimos ditadores, pai e filho, respectivamente, Kim Jong-il, colocado ao lado do de seu pai, Kim Il-sung, o fundador da Coreia do Norte, venerado pelo faminto povo norte-coreano.

Quando a reportagem do jornal “O Estado de São Paulo” perguntou a um popular quanto ele ganhava, o mesmo foi evasivo. "Os coreanos não se preocupam com salário porque o Estado dá tudo: alimento, casa, educação e saúde". Casa, saúde e educação, realmente, são gratuitas, mas comer é algo que nem sempre é fácil para os norte-coreanos, especialmente fora de Pyongyang.

Do mesmo modo em que reafirmaram a lealdade aos dois líderes mortos, os participantes prometeram união em torno do sucessor, o neto e filho Kim Jong-un, o herdeiro que assumiu o comando da Coreia do Norte em dezembro do ano passado, depois da morte de seu pai, Kim Jong-il. Entre as dezenas de faixas estendidas em meio à multidão estava escrito: "Vamos dar a vida pelo Comitê Central do Partido dos Trabalhadores e o camarada Kim Jong-un" e "Vamos fortalecer a união em torno do estimado líder camarada Kim Jong-un".

Segundo a reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”, "Pai" e "sol" são as palavras mais associadas ao "grande líder", que continua a ser chamado de presidente da Coreia do Norte, 18 anos depois de sua morte. "O grande camarada Kim Il-sung restaurou o país, lutou pela felicidade de todos e tratou os coreanos como seus filhos", disse Ri Ki-won, um dos visitantes do museu. Como todos os norte-coreanos no local, usava um broche com a imagem do líder.

O primeiro passo foi dado quando a conferência do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte aprovou sua indicação para o cargo de secretário-geral da legenda, completando o processo de transição iniciado em dezembro. Com menos de 30 anos, o novo comandante em chefe das Forças Armadas e secretário geral do Partido Comunista norte-coreano, Kim Jong-um, terá uma semana decisiva no processo de consolidação de seu poder e reafirmação da condição que é sua principal fonte de legitimidade: ser neto de Kim Il-sung, quando fará um teste de míssil, condenado pela ONU e pela comunidade internacional.

No próximo domingo, Kim Jong-un presidirá a cerimônia do centenário de nascimento do avô, a maior celebração do país desde sua fundação, em 1948. E, até o dia 16, ele autorizará o lançamento de um satélite de observação terrestre, que para a comunidade internacional será um teste balístico e nuclear, desafiando a comunidade internacional, segundo a qual o ato é uma violação de resolução do Conselho de Segurança da ONU. A resolução proíbe a Coreia do Norte de realizar testes ou disparos que usem tecnologia de mísseis balísticos. Os norte-coreanos já estão pagando tributo a Kim Il-sung com peregrinações a casa onde ele nasceu, transformada em museu em Pyongyang.

Toda a narrativa apresentada pela guia oficial, Kim Won-gyong, fortalece a imagem de um líder benevolente, que realizou sacrifícios incomparáveis pelos norte-coreanos. Segundo ela, para demonstrar a verdade, sustentou que "Kim Il-sung libertou o país da ocupação japonesa e construiu uma Coreia socialista", afirmou a guia. Sua origem camponesa pobre também é ressaltada constantemente pela população.

De acordo com observadores internacionais, os dois primeiros estágios do Unha-3 têm origem no míssil Taepodong-2, testado em 2006. A Coreia do Norte sustenta que o lançamento do satélite tem caráter civil e um tratado internacional garante seu direito à exploração pacífica do espaço. Ontem, dia 09.04.12, o “Estado de São Paulo” e veículos de comunicação de outros países estiveram no local em visita organizada pelo governo.

O termo Unha-2 também tem sido utilizado para se referir ao foguete, porém, não foi confirmado se este é a parte do nome, ou um número de série para um foguete individual. Em razão do sigilo quanto aos detalhes da Coréia do Norte sobre mísseis balísticos de programas técnicos, as informações sobre eles são escassos.

Consultando a Enciclopéia Wikipédia, encontramos dados sobre o referido míssil. De acordo com vários especialistas a primeira etapa da Unha consiste de quatro cluster Nodong motores, os quais são ampliadas Scud motores. Segundo eles, o estágio seguinte se supõe ser baseado em mísseis SS-N-6 de tecnologia russa. Os SS-N-6 era um míssil balístico intercontinental móvel desenvolvido pela União Soviética durante a Guerra Fria e que foi atribuído e batizado por força de um relatório da OTAN de Sinner SS-16. Esse tipo de míssil foi o primeiro ICBM móvel desenvolvido pela União Soviética.  A terceira e última etapa pode ser idêntico ao iraniano Safir da segunda fase, que é propulsionado por dois pequenos motores suspensos por cardan. Em face das enormes dimensões do míssil e da quantidade excessiva de tempo necessário para o seu abastecimento, o valor militar do mesmo é questionável. Também a Coréia do Norte provavelmente ainda não desenvolveu uma ogiva nuclear pequena o suficiente para se encaixar em seu projeto balístico, embora as potências ocidentais acreditem que o governo norte-coreano já tenha desenvolvido os primeiros protótipos.

O Taepodong-2 (TD-2, também grafado como Taep'o-dong 2) é uma designação usada para indicar um míssil balístico norte-coreano de dois ou três estágios, que é o sucessor do Taepodong-1.


Autor: Roberto Jorge Ramalho Cavalcanti


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