E agora...



E agora...

De início, alguém apareceu e ajeitou meu corpo na calçada e se foi sem sequer olhar para traz, como eu faria se ajudado eu tivesse... Missão cumprida!                                                                              Outro veio, fez do meu paletó velho e surrado, um travesseiro para que minha cabeça pudesse descansar e se foi como eu faria, se ajudado eu tivesse... Missão cumprida.                                               A partir daí, apareceram tantos como eu , que dilapidaram meu dinheiro, tão pouco, levaram meu relógio ”de meu pai”, me “limparam” de tal forma que nada sobrou de mim em mim. E era tão pouco o nada que eu tinha...                                                                E agora... O que é que eu faço?Agora que estou aqui, agonizante, numa cama de hospital, após ter passado a noite ao relento, esperando pela ajuda que tardou a chegar, ou chegou no tempo certo, não sei... Afinal, quem sou eu para saber que tempo é o tempo certo para ajudar?                                                                   Eu, que me envolvi com o pecado, que fui fundo, que tive mil oportunidades de sair, de “pular fora” e não o fiz.                                E agora... O que é que eu faço?                                                      Eu, que movido fui por um desejo, um sentimento incontrolável que não sei nomear, apenas sentir. Vivi plenamente sem pensar sequer nas conseqüências, sem pensar no amanhã, sem pensar em nada. Agora me cobro, sou cobrado, para que atitudes cabíveis ao meu ato sejam tomadas. Para que eu deixe de ficar em cima do muro e decida de que lado eu quero ficar. Como se possível fosse, escolher entre o que quero e o que devo. E eu não sei... Vidas estão em minhas mãos, sentimentos diversos nelas foram colocados. E eu as olho... E sinto medo... Tenho dó de mim por tamanha insensatez.   Os olhos nos olhos está cada vez mais difícil. As palavras ditas... Todas parecem que se dirigem a mim.                                              Estou caindo cada vez mais fundo e não tenho onde me segurar. As paredes são escorregadias.                                                            Meu Deus, o que é que eu faço? Eu, que sequer pensei que o preço de minha inconseqüência fosse esse burburinho em que minha alma se encontra.                                                                                       Pai...  Pai... Olha para mim... Cuida de mim. Dê-me sua mão.  Preciso tanto de você... Eu, que tantas dores causei sem saber, sem perceber... E se percebi, fingi que não vi.                                      Caminhos se abrem à minha frente... E me chamam a mostrar a força do amor que já não mais conheço...  Eu os olho e dividido entre eles me esqueço de mim, que não sei que rumo tomar, pois cada vez mais sinto que não é só o amor que cria laços, não é só ele que me faz ficar ou partir.                                                                Existem as linhas invisíveis, as que não entendemos e que nos dizem; “fique, não vá”. Mas não vá para onde, fique em que lugar... Pra que, por quê?                                                                            Saio então em busca da liberdade de agir, de resolver o que eu quero, por mim mesmo. Fujo dos que me colocam entre a “cruz e a espada”, insensato, inconsequente, que sou. E entre eles estou eu. Como faço para fugir de mim?                                                        Caminhei à margem e não me dei conta. Pensei ser o melhor para mim. Era? Não era? Difícil... Difícil saber.                                          Ao querer viver plenamente a minha vida, deixei de viver. Parei no tempo e no espaço à procura de mim... E não me encontrei. Eu não era aquele que me tornei...                                                               Saí da concha em que me encontrava e corri para ver a vida que nunca tinha visto e sem perceber, entrei na contra mão do mundo e aí fiquei. E pequei sem o saber.                                                        Pai, me ajude,apague esse tempo de vida em mim... Se possível for. Dei então voltas no nada, nada tendo para encontrar. Busquei o vazio que construí à minha volta até cair ao chão como nada, a esperar pela partida...                                                                          E caí... E caído fiquei por longo tempo... Tempo suficiente para saber o quão chocantemente óbvio, tinha sido o que penso ter sido a minha vida...                                                                                       “Desperta, tu que dormes, levanta-te do meio dos mortos, e Cristo brilhará para ti”. (Ef 5,14).

 NT. E assim ele se foi, após ter falado sobre sua “pequena grande vida”. Uma vida calcada em erros, acertos, ilusões, desilusões, uma vida cheia e vazia dele mesmo... Falou como podia, como queria... Falou até o fim, bem baixinho, com muita dificuldade. Fui seu fiel depositário. Fui eu quem estava segurando sua mão, quando a dele se soltou de mim... Amém.


Autor: Heloisa Pereira De Paula Dos Reis


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