Resumo da obra A Invenção das Tradições



A Invenção das Tradições

 

HOSBAWN, Eric e RANGER, Terence. A Invenção das Tradições. – Tradução de Celina Cavalcante – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. 

 

Eric John Earnest Hobsbawm (Alexandria, 9 de Junho de 1917) é um historiador marxista reconhecido internacionalmente.

Um de seus interesses é o desenvolvimento das tradições. Seu trabalho é um estudo da construção destas no contexto do Estado-nação. Ele argumenta que muitas vezes as tradições são inventadas por elites nacionais para justificar a existência e importância de suas respectivas nações.

 Terence Osborn Ranger nasceu em 1929 e é um eminente historiador africano, concentrando-se na história do Zimbábue. Parte da geração pós-colonial de historiadores, seu trabalho abrange o pré e pós- independência, desde o ano de 1960 até o presente.

Ranger é um companheiro emérito do Colégio St Antony, Oxford, Inglaterra. Anteriormente, ocupou a cadeira de Professor de Relações Raciais na Universidade.

Uma de suas obras mais influentes essa, ou seja, com a colaboração de Eric Hobsbawn, a Invenção das Tradições.

 

O autor fala nesse capítulo a respeito da Invenção das Tradições, observando pontos cruciais, principalmente quando ocorre a distinção entre o costume e as tradições. Outro pronto observado é onde ele mostra o conceito do que é a tradição genuína e o que é a tradição inventada. Nesse momento ele mostra que as tradições genuínas são as “que surgiram e que se tornam difíceis de localizar num período limitado de tempo – às vezes coisa de poucos anos apenas – e se estabeleceram com enorme rapidez”(p.9), ou seja, não existe a possibilidade de se chegar onde começou tal tradição. Já por tradição inventada ele caracteriza como conjunto de regras, que se estabelecem através da repetição, podendo essas regras ser de natureza ritual ou simbólica, conseguindo, através dessa repetição, uma continuidade com relação ao passado. Com relação à tradição inventada ele cita um exemplo, “que é a escolha deliberada de um estilo gótico quando da reconstrução da sede do Parlamento britânico no século XIX, assim como a decisão igualmente deliberada, após a II Guerra, de reconstruir o prédio da Câmara partindo exatamente do mesmo plano básico anterior.”(p.9).

Outro ponto em que Eric faz questão de estabelecer uma diferença é entre a tradição e a convenção ou rotina, que não possui nenhuma função simbólica nem ritual importante, embora possa adquiri-las eventualmente. É básico que uma prática social que venha sendo repetida por convenção ou maior eficiência comece a gerar convenções e rotinas. Um ponto importante tratado por Eric é a distinção entre a tradição e o costume. Ele revela o costume de uma forma mutável, não impedindo inovações, devendo, contudo, permanecer compatível ou idêntico ao precedente. Ele diz que, “o costume não pode dar o luxo de ser invariável, porque a vida não é assim nem mesmo nas sociedades tradicionais. O direito comum ou consuetudinário ainda exibe esta combinação de flexibilidade implícita e comprometimento formal com o passado.” (p.10)

O autor por vezes alerta para o fato que o poder da adaptação e a forca das tradições genuínas, não devem ser confundidos com a invenção das tradições. E coloca, dessa forma, que não se faz necessário inventar tradições quando velhos usos ainda se conservam. Assim, ele coloca que só ocorre a necessidade de inventar tradições quando a sua forma genuína já está em processo de degeneração. Confirmando a informação no trecho, “as tradições inventadas são altamente aplicáveis no caso de uma inovação histórica comparativamente recente, a “nação” e seus fenômenos associados: o nacionalismo, o Estado nacional...” (p.22)

Conclui informando que o estudo da invenção das tradições é interdisciplinar e deve ser estudado por estudioso de ciências humanas, assim como historiadores e antropólogos.

O pesquisador Hugh Trevor-Roper começa o seu texto colocando uma tradição bem conhecida mundialmente, que é o uso de um saiote que é feito de um tecido de lã axadrezado que indicam a que grupo pertence e também o uso da gaita de fole, quando fazem suas reuniões e decidem cantar e dançar. Essa tradição que todos pensam ser antiga, na verdade é bem recente, começando a ser utilizada na verdade, após a união da Escócia com a Inglaterra, o que ficou como uma espécie de protesto. “Já que os montanheses da Escócia eram no inicio apenas irlandeses emigrados, é de se supor que a princípio eles se vestissem exatamente como os irlandeses. De fato, é o que se pode constatar”(p. 29). Está ai a explicação do pesquisador para provar que tal tradição é inventada, não fazendo parte de toda a história do povo escocês.

Prys Morgan cita John Byng para mostrar que quase todos os costumes pitorescos do País de Gales tinham sido “completamente abandonados”. John Byng fez uma viagem ao País de Gales e notou que até o jeito feliz que o povo se cumprimentava mudou, obedecendo, dessa forma, a tradição inglesa de ser mais sério.

Um grande número de pesquisadores tinha notado essa mudança drástica nas tradições do País de Gales e já haviam percebido o desaparecimento do estilo de vida peculiar daquele povo. As mudanças foram da língua falada, até mesmo a religião do povo e também do sistema jurídico. “A decadência continuou através dos séculos XVII e XVIII, mas a fase crítica só foi atingida no século XVIII, pois até então os estudiosos podiam consolar-se com a idéia de que o povo guardava muito das velhas tradições.” (p. 54).

Sobre a Monarquia Britânica David Cannadine coloca duas citações com opiniões diferentes a respeito dos rituais que são feitos para aclamar os monarcas. De um lado um cerimonial que melhoraria significantemente o nível cultural da população, onde o ritual da realeza em breve passaria a ser realizado como se fosse uma magia primitiva. A segunda opinião, feita pelo Lorde Robert Cecil, dá a entender que o cerimonial transmite a idéia de que qualquer forma, a pompa centralizada na monarquia fazia-se notar mais pela sua inadequação do que pela sua impotência. Há também o Ian Gilmour, que defende a presença dos rituais veiculados aos monarcas e suas famílias, pois as sociedades modernas precisam conhecer esses mitos.

David Cannadine volta um pouco ao assunto da tradição e o que ela significa quando ele cita que “mesmo que o texto de um ritual repetido, como o de uma coroação, não sofra alterações com o tempo, seu significado pode alterar-se profundamente, dependendo da natureza do contexto”(p. 115), ou seja, num determinado período onde o povo esteja apegado a esse costume, irão se lembrar dos antepassados e imaginar que compartilham das mesmas lembranças, por outro lado, num período de mudanças, o povo iria se perguntar qual a serventia de um evento repetido durante gerações, sendo que eles mesmos já tinham presenciado tal evento muitas vezes.

O ponto mais baixo da magnificência real, segundo David, foi atingido quando o Príncipe Alberto faleceu e a viuvez da Rainha e escândalos fizeram com que a monarquia sofresse varias acusações e repúdio. Foi de grande importância a maneira pela qual o cerimonial real se tornou um antídoto ou uma legitimação para as mudanças sociais no âmbito nacional, de forma bastante semelhante à do período anterior. Conforme evidencia o desenrolar dos acontecimentos, as conseqüências da II Guerra Mundial foram em vários pontos muito maiores, sob os aspectos social e econômico, de que as da Primeira Guerra. A aristocracia praticamente desapareceu do governo. Houve um declínio da conformidade do público à ética cristã. Proliferaram os problemas relacionados ao racismo, à violência, aos crimes e às drogas. A opinião Pública e a legislação sofreram alterações consideráveis no que diz respeito a questões como a do aborto, da pena de morte, do sexo antes do casamento e do homossexualismo.

Por fim David relata que mesmo com um capítulo tão extenso não havia a possibilidade de expor tudo que ele gostaria a respeito do assunto tratado, visto que se trata de uma região rica em conteúdo.

A representação da Autoridade na Índia Vitoriana foi feita por Bernard Cohn, colocando com palavras que em meados do século XIX a sociedade colonial indiana caracterizava-se por dividir-se em um pequeno grupo governante estrangeiro, de cultura britânica, e um quarto de bilhão de indianos que viviam sob domínio britânico efetivo. Apesar desse domínio britânico a Rainha na proclamação assegurava os direitos dos indianos, no momento em que diz que devia aos nativos de Nossos territórios indianos as mesmas obrigações que a todos os outros súditos. Também todos os súditos indianos tinham a liberdade para praticar as suas religiões e deviam gozar de proteção igual e imparcial por parte da lei.

“Embora os britânicos, como “governantes indianos” na primeira metade do século XIX, continuassem a aceitar a nazar e peshkash e a oferecer khelats, tentaram restringir as ocasiões em que se realizavam esses rituais. (p.181)

O relacionamento entre a Coroa e a Índia estava começando a caracterizar-se por viagens dos membros da família real pela Índia, sendo o primeiro o Duque de Edimburgo, em 1869. O Príncipe de Gales fez uma excursão de seis meses à Índia em termos de representação dos laços entre os príncipes e os povos da Índia com seu monarca, mas eram amplamente divulgadas pela imprensa britânica. Após seu retorno, organizaram-se nas principais cidades inglesas exposições dos presentes exóticos e caros por ele recebidos.

Já no cenário africano, havia uma ambigüidade nas tradições por eles inventadas. Sem levar em conta o quanto elas possam ter sido utilizadas pelos tradicionalistas progressistas para introduzir idéias e instituições – como a educação obrigatória sob a chefia Tumbuka –a tradição codificada inevitavelmente tornou-se mais rígida de forma a favorecer os interesses investidos vigentes na época de sua codificação. O costume codificado foi manipulado por tais interesses investidos como uma forma de afirmação ou aumento do controle. Isto aconteceu em quatro situações em especial, pelo menos. Entretanto, também se abrira outro caminho para os jovens no período colonial, antes do surgimento dos partidos nacionalistas. Visava superar o costume dos mais velhos através de recursos a aspectos mais dinâmicos e transformadores do tradicional.

Em suma, ficou a idéia que descrever o aglomerado de tradições inventadas nos países ocidentais é relativamente fácil. Porém, tem que se analisar alguns aspectos sobre a invenção da tradição. Para concluir, um aspecto importante é qual a verdadeira ligação entre o inventar e a espontaneidade. Porque na verdade se tem uma idéia que essa criação parte de pressupostos políticos, podendo até ser inventadas para manipular a população. Entretanto, ficou claro que as mudanças são espontâneas e partem de uma necessidade sentida.

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Autor: Thiago Costa Dos Santos Almeida


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