A visão do índio no livro didático



 

Os livros didáticos apresentam, ainda, as relações entre brancos e índios de maneira estereotipada, pois estes últimos são sempre descritos como importantes e leais colaboradores dos portugueses na conquista de suas próprias terras e na exploração de suas próprias riquezas. Este artigo objetiva proporcionar uma reflexão aos educadores sobre como os livro didático vê o índio na atual sociedade dominante e capitalista em que estamos inseridos. Pois os textos de leitura descrevem os relacionamentos verticais entre brancos e índios, onde os primeiros são os doadores da verdadeira cultura e os segundos, os receptores ignorantes, civilizados à medida que vão assimilando a verdadeira e superior civilização – a branca.

 

Palavras chaves: livro didático – índio – ideologia dominante

 

Como vivemos numa sociedade dividida em duas classes antagônicas (a burguesia e o proletariado) pensar em educação é pensar a educação de classe. Como as idéias dominantes de uma época são as idéias da classe que domina a sociedade, na nossa sociedade são as idéias burguesas que dominam. Então, é a educação burguesa que domina e tem o papel de conservar a realidade para garantir a dominação.

A educação na sociedade capitalista tem a escola como um dos instrumentos de sua dominação, cujo papel é o de reproduzir a sociedade burguesa, através da inculcação da sua ideologia e do credenciamento, que permite a hierarquia na produção, o que garante maior controle do processo pela classe dominante.

A escola é um dos aparelhos transmissor dessa ideologia, segundo as teorias reprodutivistas, através das mensagens contidas nos livros didáticos.

O índio sai definitivamente da história dos livros didáticos, é visto como um mito, uma imagem qualquer, alguém que existiu, mas não teve e nem tem valor para a nossa história, a não ser a famosa frase: “os índios foram os primeiros habitantes do Brasil”. Frente a estas colocações precisamos conhecer a nossa realidade e o papel que a educação desempenha e como é visto o índio nos livros didáticos.

FERREIRA (1976:32) aborda frases ou textos que aparecem nos livros didáticos com relação ao índio:

 

“os índios têm costumes bem diferentes dos nossos”. “Viviam, quando o Brasil foi descoberto, quase da mesma maneira que os homens da caverna. Até hoje vivem assim. Não conhecem o progresso nem precisam dele. Como era habitado )o Brasil) somente por indígenas, e estes não tinham nada a perder, Portugal resolver comercializar o pau-brasil. [...]”

 

Desta forma, estas frases caracterizam não existir mais os povos indígenas em nosso país. Ainda encontramos em livros didáticos, frases desse tipo, segundo NEVES (1998:48):

 

“Os índios viviam nus ou quase nus; usavam uma tanga, pintava o corpo, enfeitava-se com cocares de penas e colares de dentes de animais. Ainda existem índios em vários Estados do Brasil”.

 

Assim por mera concessão o índio às vezes é lembrado como um dos povos que influenciaram os costumes nacionais. Porém, o índio é visto somente como um trabalho escravo, ou como alguém “preguiçoso”, que não gosta de trabalhar. Como bem afirma FARIA (1996:36):

 

“E assim o índio sai da História do Brasil já que ele não pode trabalhar. Não se falará mais nele, a não ser em alguns livros que no dia 19 de abril, comemoram o “Dia do Índio” com um texto simplório, falando de algumas características que sempre o ridiculariza”.

 

DEIRO (1980:157), complementa afirmando que:

 

“Os índios teriam sido sempre grandes colaboradores de seus conquistadores e exploradores portugueses, como freqüentemente afirmam os textos. Depreende-se que eles seriam desprovidos de todo e qualquer discernimento crítico sobre a própria situação de dominados pelos brancos. A importância do índio na História do Brasil só é salientada quando este se coloca a serviço do branco”.

 

Diante disso, a ideologia dominante continua, porém, a se mascarar e a mascarar toda uma realidade de dominação, exploração, despersonalização e genocídio do índio. O livro didático serve à manutenção dos interesses da classe dominante ignorando os interesses da classe dominada. O livro didático nega as condições de vida dessa classe. Ele dissimula a discriminação, o preconceito, a inferioridade, a harmonia social, o perfeito, o bonito, etc. O livro didático é pouco criativo, assim como os exercícios, as ilustrações, o conteúdo ideológico que se quer transmitir.

 

BIBLIOGRAFIA

 

CHAUÍ, Marilena de Souza. O que é Ideologia.  37 ed. São Paulo: brasilense, 1994.

 

DEIRÓ, Maria de Lourdes Chagas. As Belas Mentiras. 12 ed. São Paulo: Moraes, 1980.

 

FARIA, Ana Lúcia G. de. Ideologia no Livro Didático. 12 ed. São Paulo: Cortez, 1996.

 

FERREIRA, Idalina Ladeira. Arco-Íris: Leituras Educativas e Recreativas. 2.ª série. São Paulo: Saraiva, 1976.

 

NEVES, Débora Pádua Mello.  Estudos Sociais e Ciências.  IBEP, 1998.

 

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Autor: Tátia Ferreira


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