Para Progredir Nos Fins, Justificam-se Os Meios Éticos.



O progresso não é apenas uma fenda
temporal na História, mas um mosaico de processos interdependentes e constantes. Fenômeno tão natural quanto as leis da física, condicionado por recursos disponíveis no meio em que se manifesta, sob a atuação de agentes naturais, diretos e indiretos.

Há de se atribuir caráter adjetivo ao termo progresso, para conceituá-lo como conseqüência exclusivamente positiva de uma teia de acontecimentos. Todavia, a função original substantiva da palavra permite a concepção da idéia como medida de contraste entre a dinâmica e a inércia. Ou seja, uma descoberta sempre produz um avanço, podendo agregar novas alternativas em métodos e técnicas científicas, porém a aplicação desta descoberta pode ser inviável por ocultar efeitos colaterais mais drásticos que a ignorância do fato. Experimentou-se a divisão do átomo pela bomba atômica, porém contra a humanidade. Uma experiência mal sucedida, degradante, que nega a si mesma como referência pela finalidade, mas não deixa de ser um progresso porque fornece informação, ultrapassa o desconhecido e gera subsídios para outros campos do saber.

O progresso é ininterrupto, não dependente de valores e princípios éticos para que exista. A maior manifestação da capacidade racional do ser humano em sociedade é a de aliar o saber à ética e ao bom-senso na manipulação do progresso, não enxergar apenas pela ótica quantitativa em detrimento da qualitativa.

Sem ética pode haver um progresso oportuno para um núcleo, com fins negativos ou superficiais para outros, que prolongue as dificuldades ou induza a erros cada vez mais graves que a situação primária. Sua ausência não permite uma projeção de resultados precisos, não preocupa-se em garantir a homogeneidade de acesso e integração, mas pode ameaçar o exercício dos direitos universais das pessoas, como exemplo, o presidente americano Bush, ao ignorar o protocolo de Kyoto. A ética palmilha sobre a preocupação de extrair ou criar o que quer que seja, a partir das relações ou interações humanas, com resultados mais próximos da perfeição, facilitando a manutenção da vida.

O conflito também pode assumir a forma de mola que impulsiona o progresso. Todavia um conflito não permeado de preocupação ética, possui a tendência de valorizar práticas que provoquem a usurpação de elementos fundamentais a vida. Por este motivo ela subentende um conjunto de normas ou regulamentações de condutas e procedimentos, como um agregado de diretrizes com maior probabilidade de coerência no contexto. Seja a usurpação consciente, inconsciente e derivada ou não de intenção, será acompanhada de conseqüências. Entre as questões que coexistem na atmosfera da ética, como a moral e os costumes, estão os direitos e deveres. A tarefa de dominar ou conhecer as normas de conduta de determinada prática, consiste em dever obrigatório e paralelamente um intocável direito, que implicam tanto na qualidade do desempenho e do objetivo quanto no grau de responsabilidade exercida sobre o sistema que a atividade modifica.

Estampada na flamejante bandeira brasileira, observa-se a palavra progresso, antecedida pela palavra ordem. A ética precede a ordem, mas esta nem sempre precede aquela. A ordem conservadora, expressa e taxativa, exclui, não instrui, nega possibilidades e enferruja a criatividade. A ordem meramente burocrática compromete o tempo e finalidade das coisas. Uma bagunça que não fira os limites da ética pode ser perfeitamente saudável. Muitas vezes, a falta de ética é maquiada pela ordem hierárquica. E quando tudo está nessa ordem, a concepção plena do progresso é insustentável e sua real atuação é disforme, seja no âmbito da educação, saúde, meio ambiente, economia.

No tabuleiro do jogo de estratégia há sempre adversários e adversidades. A ética tenta construir o progresso de forma sólida e sustentável. Contra ela o interesse do fanático e voraz capitalismo operando o trator desenfreado da corrupção, forja em sigilo seu plano mais rentável. Tem em sua retaguarda os peões da impunidade. Só a ética alimentada pela eficácia legal, apoio técnico-científico e humano para erguer o maciço progresso.


Autor: Thalita Pacini


Artigos Relacionados


Ecodesign Aplicado Ao Desenho De Produto

Para AlguÉm Que EstÁ SÓ

Poetas Contemporâneos - Francisco Medeiros

Da Poética Libertadora

A Bioética Na Saude

Ciência Versus Religião: Os Extremismos Religiosos E As Decisões Políticas

O Sentido Do Natal