O Ensino De Filosofia No Ensino Médio Como Forma Dialógica, Numa Perspectiva Socrática



INTRODUÇÃO

O objetivo da presente pesquisa é de fazer uma descrição da importância filosófica exercida por Sócrates, bem como a sua contextualização histórica. Dando, evidentemente, ênfase ao seu sistema filosófico de fazer filosofia, ou seja, de filosofar. Visto que a filosofia não pode e nem deve ser minimizada na repetição de sistemas já expostos por filósofos pertencentes a outro dado contexto histórico. É, em suma, tarefa da filosofia proporcionar a outrem a filosofar, ou seja, de aperfeiçoar pensamentos já pensados. Abrindo caminhos para que esta mesma, a filosofia, progredir no decorrer da história.
Neste sentido, acredita-se que a utilização do método socrático, a investigação dialógica, é um dos modos que podem ser utilizados na docência no ensino médio. Uma vez que tal método, na sua origem, proporcionou a evolução e novos modos de filosofia.
No primeiro capítulo será feito um levantamento das características filosóficas e o contexto histórico que viveu Sócrates. Obviamente que este capítulo não quer prolongar ou aprofundar dados históricos que são de suma importância ser conhecidos para se conhecer bem a característica socrática de seu tempo. Apenas quer ressaltar alguns fatos e características socráticas no que tange a questão da aplicabilidade de seu método. Tais como: o contexto vivido por Sócrates, onde viveu, qual a importância de seu método, como se dava a sua aplicação e como se deu a influência socrática. Subtende-se que para se compreender o pensamento de qualquer filósofo pertencente a outro tempo histórico, se faz necessário fazer menção de como se originou tal pensamento e em que tempo.
No segundo capítulo dois diálogos socráticos irão ser analisados numa ótica pedagógica, a saber: Críton e Hípias Menor. Coma finalidade de perceber, nestes mesmos diálogos, a maneira com que Sócrates fazia filosofia e fomentava ao interlocutor de fazê-la também. Claro que em momento algum quer Sócrates dar aulas e tampouco ensinar como se deve filosofar a seu próprio modo de pensar. Ele quer, sem dúvida, levar ao interlocutor a conhecer e a filosofar por si mesmo. Sem a necessidade de imposição de métodos e normas para que isso aconteça. Mas que a verdadeira atitude do filosofar se da em meio ao diálogo, ou seja, pela constante investigação coletiva e de, se assim pode dizer, sem qualquer diferenciação hierárquica. Sendo que na filosofia, socraticamente falando, não se pode haver certa hierarquização por parte do professor e nem por parte de outros que se julgar possuir mais conhecimentos ou títulos acadêmicos.
A proposta do terceiro capítulo é a fundamentação do método socrático na docência do ensino médio. De afirmar, nas suas entrelinhas, que a utilização desta forma de filosofar pode ter resultados positivos para a educação filosófica na contemporaneidade. Longe de querer ser imposta ou pretender ser dita como a única forma verdadeira de fazer filosofia: Tal proposta, indubitavelmente, se trata de uma proposta de filosofar dentre tantas que já foram e que, possivelmente, poderão surgir ao longo da história educacional filosófica. Se, este trabalho pretendesse ser a única proposta verdadeira de como filosofar, certamente não estaria seguindo o método socrático. Posto que este é constante busca pelo conhecimento através do diálogo e investigação filosófica. Desta forma, se valoriza não tanto o que esta ou será descoberto, mas a maneira como foi realizado o estudo e a investigação dialógica. Então, o aluno deixa de ser mero receptor do conhecimento advindo do professor, mas passa a ocupar o lugar de ativo ao conhecimento. Forma esta realizada não isoladamente, mas coletivamente.
Evidentemente que tal pesquisa recalcara a outras questões, tais como: é possível a utilização do método dialógico socrático em meio aos problemas educacionais que atualmente vivemos? Sócrates não era professor institucional e por isso não era necessário a utilização de recursos avaliativos em seus diálogos. Então, como fazer uso de tal metodologia em meio a burocráticas exigências de avaliação? Tais questões não serão tratados neste trabalho, apenas será debatida a possível aplicação da metodologia socrática no ensino médio.














I - Sócrates e seu sistema filosófico.

Para iniciar, é de suma importância a contextualização histórica do filósofo que será estudado no presente trabalho. Nada mais justo do que dedicar um capítulo para explicitar as características filosóficas do pensamento socrático. Visto que sua importância filosófica fora o início de grandes descobertas e de profunda influência para a evolução do pensamento filosófico daquele tempo.
De início analisaremos o tempo que Sócrates viveu e suas características filosóficas. Feito este esboço, mostraremos qual o método que Sócrates utilizava com seus interlocutores e com seus discípulos. Logo após, seja exposta a influência de Sócrates, ou seja, como se deu a continuidade e aprimoramento de seu método.

1.1 - Sócrates e seu tempo

Os séculos V e IV a.C. na Grécia Antiga foram de grande desenvolvimento cultural e científico. A reflexão filosófica tomava conta dos estabelecimentos daquela época. Umas das correntes filosóficas que surgiram neste contexto foram os Pré-Socráticos. Estes, por sua vez, tinham a preocupação de responder a seguinte questão: Como se originou o homem e o mundo. Tendo vários representantes, dentre eles: Tales de Mileto, Anaxágoras, Anaxímenes, etc.
Logo após esta corrente, surgiu, então, outro importante grupo de filósofos que foram os chamados Sofistas, tendo dois grandes representantes: Górgias e Protágoras. Posteriormente, foram muito criticados por Sócrates, por Platão e por Aristóteles, pelo fato deles (os sofistas) serem ávidos de riqueza e de glória, (FRANÇA, 1977, p. 48)

Chamaram-se sofistas os mestres populares de filosofia, homens venais e sem convicções, ávidos de riqueza e de glória que, nesta época de crise para o pensamento grego, exploram em benefício da própria vaidade e cupidez o estado dos espíritos criado pelas especulações filosóficas e condições sociais do tempo.

Quem valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a para os valores universais, segundo a via real do pensamento grego, foi Sócrates. Este nasceu em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira. Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma, não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Combateu a Potidéia, onde salvou a vida de Alcebíades e em Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Formou a sua instrução, sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da época, em contato com o que de mais ilustre houve na cidade de Péricles.
Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se deixou distrair pelas preocupações domésticas nem pelos interesses políticos. Quanto à família, podemos dizer que Sócrates não teve, por certo, uma mulher ideal na quérula Xantipa; mas também ela não teve um marido ideal no filósofo, ocupado com outros cuidados que não os domésticos.
Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral, conservou-se afastado da vida pública e da política contemporânea, que contrastavam com o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados - diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo.
Entretanto, a liberdade de seus discursos, a feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irônica e a conseqüente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos elementos racionais, aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates desdenhou defender-se diante dos juizes e da justiça humana, humilhando-se e desculpando-se mais ou menos. Tinha ele diante dos olhos da alma não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno da razão, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado culpado por uma pequena minoria, assentou-se com indômita fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena capital com o voto da maioria.
Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava as execuções capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade.

1.2 – O método socrático

O método apresentado por Sócrates foi o do diálogo articulado a dois momentos: o irônico e a maiêutica. Ironia significa simulação. E esta parte do método socrático era realizada da seguinte forma: Sócrates assumia o papel de um humilde a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até ver o adversário em evidente contradição e, constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância.
Já no segundo caso, a maiêutica, Sócrates fazia assim: Tratando-se de um discípulo, aumentava as perguntas, direcionadas neste momento à finalidade de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. E a este processo, memorial da profissão materna SOCRÁTICA, denominava de maiêutica que facilita a parturição das idéias, (Cf. REALE; ANTORIORI, 2003, p. 103.
Provavelmente, leitores superficiais dos diálogos Socráticos ficam com a impressão de que Sócrates preparou “armadilhas” para que seus interlocutores caíssem. Já que o próprio Platão condena esta prática de “Erística” – que é uma disputa verbal sem qualquer respeito pela verdade – ele não pode ter tido a intenção de representá-lo como uma característica de Sócrates. Enquanto que na verdade Sócrates faz este tipo de brincadeira somente quando expõe as alegações de retóricos e debatedores profissionais ou de outros que alegavam sabedoria superior. Estes homens, que julgavam ser superiores, não podem ser convocados para cooperarem com a busca da verdade. O homem sábio só pode lutar contra eles com suas próprias armas e desta forma convencer seus jovens admiradores de que a astúcia verbal não é sabedoria.
A maneira que Sócrates falava com os jovens era diferente, ele começava confundindo-os para que pudesse ver quão pouco eles realmente sabiam e se preparassem para buscar a verdade em sua companhia. Uma vez iniciada a verdadeira busca ele sempre convidava outras pessoas para o diálogo como uma companhia e aliada, não como um opositor. Sócrates, dizia ainda, que não sabia nada que pudesse ser ensinado a qualquer outra pessoa. Ao mesmo tempo ele declarava que a perfeição humana encontrava-se no conhecimento do bem e do mal.
Em suma, o lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio é a seguinte: “Conhece-te a ti mesmo”, lema este que foi encontrado pelo próprio Sócrates no oráculo de Delfos. O objetivo de todas as suas especulações era o perfeito conhecimento do homem. Ensinar o homem a cuidar de sua própria alma seria a principal tarefa a ser desempenhada por ele, Sócrates, e por todos os filósofos autênticos. Sócrates acreditava vivamente ter recebido essa tarefa por Deus, como podemos ler na Apologia de Sócrates, de Platão, (Ibidem, p. 117)

"(...) é a ordem de Deus. E estou persuadido de que não há para vós maior bem na cidade que esta minha obediência a Deus. Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas minhas andanças a não ser persuadir a vós, jovens e velhos, de que não devei cuidar só do corpo, nem exclusivamente das riquezas, e nem de qualquer outra coisa antes e mais fortemente que da alma, de modo que ela se aperfeiçoe sempre, pois não é do acúmulo de riquezas que nasce a virtude, mas do aperfeiçoamento da alma é que nasce às riquezas e tudo o que mais importa ao homem e ao Estado.”


1.3 – A Influência de Sócrates

O pensamento Socrático atingiu os alicerces da filosofia. O seu conceito determina o verdadeiro objeto da ciência: a indução dialética reforma o método filosófico. Não é de admirar que este homem tenha, pela novidade de suas idéias, exercido tamanha influência sobre os seus contemporâneos.
Entre os seus grandiosos discípulos, além de simples amadores, como Alcibíades e Eurípedes, além dos vulgarizados da sua moral, como Xenofonte, havia verdadeiros filósofos que se formaram com os seus ensinamentos. Dentre estes, alguns, saídos das escolas anteriores não lograram assimilar toda a doutrina de Sócrates. Desenvolveram exageradamente algumas de suas partes com detrimento do conjunto. São os fundadores das escolas Socráticas menores, das quais as mais conhecidas são: Megara, fundada por Euclides; Cínica, fundada por Antístenes; Cirenaica ou Hedonista, fundada por Aristipo.
Estas escolas, que, durante o segundo período, dominado pelas altas especulações de Platão e Aristóteles, verdadeiros continuadores da tradição Socrática, vegetaram na penumbra, mais tarde recresceram transformadas ou degeneradas em outras seitas filosóficas. Dos megáricos brotaram os céticos e pirrônicos, dos cínicos saíram os estóicos, dos hedonistas originaram-se os epicureus. (FRANÇA, 1977, pg. 25)
Dentre os discípulos de Sócrates, porém, o herdeiro genuíno de suas idéias, o seu ilustre continuador foi o sublime Platão.






















II – Os diálogos Socráticos num olhar pedagógico

Apresentou-se no capitulo anterior a contextualização histórica de Sócrates, bem com o seu pensamento filosófico e a sua influência aos seus discípulos e seguidores. Neste capitulo, serão expostos alguns diálogos socráticos que serão analisados numa ótica pedagógica. Ou seja, serão interpretados com o intuito de levantamento dos princípios pedagógicos e metodológicos de Sócrates para a docência do ensino de filosofia.
Os diálogos Socráticos são os seguintes: Apologia de Sócrates. Íon, Hípias Menor, Laques, Carmides, Críton, República (livro I), Hípias Maior, Eutífron e Lisins, (MARCONDES, 1977, p. 54). Porém, no presente trabalho, serão analisados dois dos citados acima: Críton e Hípias menor

2.1 – Críton

Os personagens deste diálogo são Sócrates e Críton. E se encontram no momento em que Sócrates estava preso, à véspera de sua morte. Críton propõe para Sócrates que fuja da prisão para não ser morto. Na tentativa de convencê-lo, Críton apresenta alguns argumentos:
a) Para que tal fulga seja realizada com sucesso é necessário que Críton e seus companheiros paguem e assumam o risco de tal empreendimento. Só que não há necessidade que Sócrates se preocupe com dinheiro a ser gasto, visto que os colegas de Críton podem colaborar;
b) Sobrevivência é a garantia que Sócrates terá com a fulga. Acaso recuse fugir, este estará sujeito à morte;
c) Se entregar a condenação sem qualquer tentativa de fulga é uma injustiça. Visto que ele, Sócrates, pode tentar reverter a sua situação, fugindo e garantir a própria vida;
d) Críton não se conforma com a condenação de Sócrates e por isso se sente na obrigação de salva-lo.
Após apresentar seus argumentos, Sócrates convida Críton a examinar se de fato tais razões são passíveis de serem realizadas. Sócrates, por sua vez, alega que quanto mais Críton insiste na sua idéia, mais ele é penoso. E deve fazer um exame se, de fato, devem proceder como Críton quer ou não.
Sócrates, diz ainda que sempre fora daquele feitio: deve seguir sempre a razão que julgar ser a melhor. Assim, não poderia aceitar a proposta que seu colega fazia, uma vez que não se sentia inclinado para fugir.
Nesta posição de Sócrates, nota-se claramente três pontos: a) as próprias razões não são frutos do acaso, mas se fundamentam nos melhores argumentos; b) razões não se modificam devido as circunstâncias; c) só há possibilidade de mudança de razão se haver apresentação de melhores razões, ou seja, melhores argumentos convincentes.
É questionado, por Sócrates, a respeito de como se deve proceder para o exame do tema em analise, a saber, a fulga. E eis a conclusão que Sócrates chegar após apresentar para seu amigo algumas máximas que justificam ou não sua fulga: É preciso averiguar se é justo que tente sair da prisão sem permissão dos atenienses, ou injusto – acaso for justo, que seja realizada a fulga; se não, que permaneça na prisão.
Feito isso, Sócrates se coloca, mais uma vez, na posição de ouvinte afim de ouvir as razões de Críton. E, juntos decidirem, em vista no melhor argumento, que decisão tomar. Mesmo tendo sua decisão tomada, Sócrates não dispensa os argumentos que Críton possui para que seja refutado. Através de variadas perguntas e inferências, Sócrates passa a indicar os princípios morais, que são: não retribuir a injustiça e não fazer mal para ninguém, seja ela quem for. Alerta, ainda, Críton a não assumir princípios morais que sejam contrarias a seu pensamento. Neste sentido que diz Sócrates (SOFISTE, 2007, p. 43):

Cautela, porém, Críton, ao admitires esses principio não o faças em contradição com o teu pensamento, pois sei que essa opinião é e será de alguns poucos (...). Quanto a mim, essa é a opinião minha antiga, que ainda agora mantenho. Tu, poré, se tens outro sentir, fala, dá-me a conhecer; se perseveras no de outrora, presta atenção ao que aí decorre.

A conclusão da análise indica para apenas um encaminhamento: a recusa da proposta de Críton. Uma vez estabelecidos os princípios morais é natural que haveria esta conseqüência. Entretanto, Críton não entendeu o raciocínio de Sócrates. De acordo com a estrutura do dialogo em questão, não há razões que possam justificar a posição de Críton. Evidentemente que se trata de um recurso que Platão para expor detalhadamente as razões que justifiquem a recusa à não-fuga. Pois, de acordo com a lei apresentada por Sócrates, a fulga significa à recusa das leis da cidade. Ou seja, fulgir é agir em contradição com a lei. E, ainda, é uma quebra de convenções e acordos, historicamente aceitos por Sócrates.
Tendo em vista o texto em estudo, nota-se que o ensino de filosofia em Sócrates não se separa do fazer filosofia. Não existindo, assim, uma divisão entre o ensino e o fazer filosofia. O que é novidade da pedagogia Socrática é exatamente ensinar fazendo e fazer ensinando. O ensino de filosofia ao modo socrático proporciona o exercício da racionalidade filosófica. Colocar em ação as habilidades e competências, como investigar, raciocinar, conceituar e interpretar.
O diálogo é, sem dúvida, a dimensão pedagógica do modo socrático de fazer filosofia, da qual apresenta as seguintes características: arte da pergunta e da resposta, buscar a comunicação, uma vez que o diálogo supõe a comunicação entre os dialogantes e para isso é necessário ouvir e falar, argumentar, raciocinar, etc.
Conforme se pode notar no texto de Sócrates, Críton estava plenamente convencido do que deveria ser feito com Sócrates, ou seja, sua morte. Porém, ao fazer a proposta de fulga, Sócrates pede para mostrar-lhe argumentos necessários que possam justificar as razões que fundamentam sua proposta. Após ter ouvido pacientemente, Sócrates o convida para uma investigação minuciosa a partir dos critérios que o levam a construir boas razões para optar no que irão fazer.
Portanto, pode-se concluir que a investigação dialógica são os princípios pedagógicos usados por Sócrates. Deste modo, a investigação dialógica não é um método de ensinar filosofia, mas sim um método de colocar em ação o filosofar.

2.2 – Hípias Menor

Os personagens deste são Sócrates, Êudico e Hípias. Encontram-se o contexto em que as atenções estavam voltadas para um famoso sofista, Hípias de Elide. Logo no inicio do diálogo, é bem nítido que Platão faz do sofista um objeto de ironia de Sócrates. Este ignora o que Hípias classifica Odisseu como o mais astuto. Mas Hípias reafirma sua posição, fundamentado em uma citação da cena das preces de Aquiles é simples e veraz e Odisseu, astuto e mentiroso.
Sócrates manifesta como entendido da explicação de Hípias, mas o pergunta se é astucioso aquele homem que mente. Hípias confirma. Novamente Sócrates o pergunta se Homero diferencia o individuo veraz do individuo mentiroso. Hípias responde que sim e que concorda com o posicionamento de Homero. Daí, Sócrates deixa Homero de lado.
A citação de Homero apenas serviu como introdução ao tema que se pretende investigar. O tema agora em questão é o fundamento do ser mentiroso. Sócrates pergunta à Hípias se mentirosos são aqueles homens enfermos, incapazes de fazer alguma coisa. Hípias responde que apenas os capazes para capazes de enganar os outros. Neste sentido, os astutos são capazes de mentir ou de fazer coisa pior.
Através de perguntas, concordando com Hípias, demonstra que os mentirosos são capazes e consegue mentir. Assim, Sócrates retoma a afirmativa de Hípias de ser Aquiles verdadeiro e Odisseu astucioso, e chega a uma conclusão diferente do seu interlocutor sofista: te como resultado ser a mesma pessoa o mentiroso e o veraz, de modo que se Odisseu era mentiroso, era também veraz; e se Aquiles era veraz, também era mentiroso. Aquiles e Odisseu são, na perspectiva de Sócrates, a mesma pessoa.
Mas Hípias não se conforma com a conclusão de Sócrates e garante que Homero tomou Aquiles como melhor que Odisseu. Sócrates se defende alegando não duvidar que Hípias seja mais sábio que ele. Apenas gosta de prestar atenção no que os outros falam, especialmente quando é algo sábio. E que é de seu costume averiguar, reexaminar e comparar o que esta sendo dito, com a finalidade de aprender.
Até aqui, pode-se fazer as seguintes considerações:
a) Pode-se até admitir certo “exagero” por parte de Sócrates em querer minúcias, mas não é perdido o conjunto do tema em discussão. Sócrates quer, mediante sua pedagogia, fundamentar o tema e discussão;
b) A atitude de Hípias não é própria da atitude filosófica, pois este aceita os princípios e verdades já estabelecidas, sem qualquer fundamentação;
c) A atitude de Sócrates é a postura mais condizente com a atitude filosófica, ou seja, é um procedimento fundamental para o desenvolvimento da investigação dialógica;
d) Para que haja bom êxito durante a investigação dialógica, é de suma importância que todos os participantes da mesma tenham direito de participação. Isto é, que tenha direito de experiências de filosofar, a fala se torna indispensável na atitude de filosofar.
Sócrates, querendo confirmar a sua postura frente à Hípias, retoma algumas de suas falas anteriores que possam comprovar a certeza de que Aquiles e Odisseu são iguais. Hípias discorda e alega que Aquiles mente sem querer e Odisseu mente por malicia. Sócrates, neste caso, afirma que Odisseu é melhor que Aquiles, uma vez que aqueles que mentem voluntariamente são melhores que os que o fazem sem querer.
Discordando novamente, Hípias afirma que é necessário ter mais tolerância com os que mentem por ignorância. Utilizando da humildade, Sócrates se diz sábio em algumas coisas e outras não. Mas que não se senti envergonhado em aprender, por isso questiona, interroga e se senti feliz quando é respondido. Depois, reafirma não concordar com Hípias e que a culpa de tal discordância é dele próprio por ser quem é.
E seguida Sócrates faz algumas considerações significativas do ponto de vista pedagógico, dizendo que ele, Sócrates, se coloca a pensar contrariamente e acaba vacilando sobre o assunto. Hípias responde dizendo a Êudico que Sócrates sempre enrola as discussões e parece agir intencionalmente .
Êudico solicita a Hípias que responda aos questionamentos levantados por Sócrates. Hípias concorda. Sócrates retoma a questão se quem seja o melhor: O que pratica o mal voluntariamente ou involuntariamente. Voltando a variados exemplos, Sócrates demonstra que quem pratica más ações voluntariamente são melhores do que os que as praticam involuntariamente.
Hípias volta atrás e afirma que seria absurdo considerar melhor quem comete conscientemente uma injustiça do que quem fizesse sem o querer. Sócrates diz que é exatamente este o resultado da discussão, mas Hípias não aceita. Diante dessa não-aceitação de Hípias, Sócrates retoma a questão utilizando outros exemplos que apontam para sua tese. Mesmo com vários exemplos e muitas explicações, Hípias não concorda com Sócrates. E, por isso, Sócrates responde (SOFISTE, 2007, p. 54):

... mas é o que necessariamente se conclui de nosso raciocínio. Porém, como te dizia antes, nesses assuntos eu vivo sempre a oscilar de um lado para o outro, nunca tenho a mesma opinião. Não é nada de estranho que eu ande vacilante como qualquer homem não experto. Mas se vós outros, os sábios, também vos mostrais vacilantes, isso é terrível para nós, pois nem nos aproximando de nós poremos fim a nossas divagações.


Fundamentalmente, o diálogo socrático se caracteriza como a busca da definição, a formulação de conceitos. Neste sentido, fazer/ensinar filosofia socraticamente não é ensino de conceitos, mas um procedimento que visa à aprendizagem de se construir conceitos.
Os recursos de fazer/ensinar filosofia são os diálogos e a investigação. Trata-se, portanto, de um procedimento onde se coloca em ação: ouvir, falar, argumentar, raciocinar, conceituar, confrontar teses filosóficas, buscar alternativas para a solução de um problema. A investigação dialógica é, portanto, um modo de fazer educação onde os procedimentos e as atitudes são tão mais importantes que os conteúdos conceituais.



















III – A inferência do método socrático no ensino médio

Conforme foi visto no capítulo anterior Sócrates não pode ser qualificado como “professor” e sua metodologia não era hierárquica, mas sim dialógica. Socraticamente falando, é este o objetivo do presente capítulo: de propor uma nova forma de ensinar filosofia, a moda socrática. Neste sentido, não há de se propor planos de aulas ou maneiras de ensino, mas sim modos de filosofar – tal é este o objetivo da filosofia no decorrer de sua história.

3.1 – Ensinar filosofia ou ensinar a filosofar?

Tradicionalmente entendia-se por ensino aquilo que era proclamado pelo professor e o aluno, por sua vez, o ouvia e decorava a fala do professor sobre um determinado assunto pertinente a aula. Não havia qualquer possibilidade da participação do aluno no processo do conhecimento. Este apenas era dito como passivo e o professor como ativo, ou seja, aquele detentor do saber. Socraticamente falando, esta forma de ensino não pode e nem deve ser inserida nas aulas de filosofia, seja no ensino médio ou em qualquer etapa de formação. Pois, o objetivo especifico da filosofia é de dialogar com os outros e não “impor” conhecimentos prontos e acabados.
Sócrates, em seus diálogos, nunca deu aula e nem sequer se dizia mais sábio do que os outros. Era constante peregrino ao saber. Por isso acaso se optar pelo uso de sua forma dialógica, deve-se exorcitar a idéia de aula. Pois: “aula, em geral, está diretamente ligada à idéia de ensino e ensino não tem nenhuma relação com o modo socrático de filosofar” (Ibidem, p. 87)
Filosofar, numa perspectiva socrática, é não ensinar filosofia conforme um conjunto de conhecimento, conceitos, teorias ou história da filosofia. Não há, em hipótese alguma, negar que o conhecimento histórico da filosofia seja de rica importância para o próprio ato de filosofar. Do contrário, haveria o risco de filosofar no vazio, ou seja, sem qualquer fundamento, seja lógico ou histórico, que possa fundamentar tal discurso ou opinião acerca de alguma coisa. Mas que a história não seja limitada apenas nela mesma, mas que ela seja desenvolvida a lugar da contemporaneidade. Acaso não se faça isso, pode-se correr o risco de transformar a filosofia em mera história, sem qualquer forma de diálogo e aperfeiçoamento.
Daí, portanto, o termo ensinar filosofia passa a ser chamado de ensinar a filosofar. Uma vez que ensinar filosofia designa-se a mera passagem de conceitos já existentes no decorrer da história. E o filosofar é mais do que isso, é pensamento do pensado bem como o seu aperfeiçoamento. Desde o seu surgimento, a filosofia é pensamento itinerante, como se pode notar (PAIVA, 2002, p. 66):

A filosofia é, desde o início, o pensamento itinerante, pois se caracteriza pela constante busca de respostas e, por isso mesmo, jamais se submeterá à instrumentalização. Utilizar um conhecimento, prendendo-se num foco único de visão e servir-se dele para legitimar uma prática, por melhor que seja, é fundar uma ideologia. A filosofia, se quiser ser autentica, não se prestará a isto.


Entende-se, portanto, que não possibilidade de separar filosofia e filosofar, uma vez que as duas são uma mesma coisa. Sendo que o filosofar é uma disciplina do pensamento que ao ser operada vai produzindo filosofia e a filosofia é a própria matéria do filosofar. São indissolúveis. Filosofia separada do ato de filosofar é uma matéria morta, sem sentido. O movimento da razão a que chamamos filosofar se dá por intermédio de conceitos filosóficos e estes são criados e recriados por meio do filosofar. Neste sentido, não há de ficar com uma e dispensar a outra, do contrário não haveria filosofia, mas sim mera repetição do que se encontra registrado em vastas obras de determinado filósofo.
Conclui-se, então que filosofia e filosofar é uma única coisa, devem caminhar sempre juntas. O mesmo deve acontecer no processo educacional do ensino médio. Como fora dito anteriormente, ensinar filosofia sem qualquer produção filosófica não passa de mera repetição de falácia outrora dita. Por isso que em vez de usar o termo ensinar filosofia deveria usar o seguinte termo ensinar a filosofar. Se o objetivo da filosofia é dialogar e estar em constante procura da verdade, o professor deve estar em constante abertura para a aquisição de novos conhecimentos e levar os seus alunos ao prazer de conhecer novos horizontes de pensamentos e deles próprios, os alunos, de construírem seus pensamentos sobre alguma coisa ou algo. Como bem ressalta Paulo Freire (FREIRE, 1996, p. 136):

A experiência da abertura como experiência fundante do ser inacabado que terminou por se saber inacabado. Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da incompletude.


3.2 – Método dialógico socrático como proposta filosófica

A investigação dialógica é uma forma de docência, mediante o diálogo e a investigação, superadora do mero ensino, ou seja, da aula falada pelo professor e copiada pelo aluno. Na investigação dialógica o educando não assume o papel de ouvinte do professor, mas sim é protagonista do conhecimento. Não há, então, uma hierarquização por parte do professor e uma passividade do aluno. Há, de fato, uma participação coletiva do conhecimento bem como a sua constituição.
Reafirma-se que nesta maneira de ensino filosófico não há ensino de ciência ou cultura filosófica, mas se faz presente o próprio filosofar, ou seja, desenvolvimento do aprender a pensar. Obviamente que pode acontecer ensino de filosofia sem, necessariamente, a finalidade de filosofar. Resumir o ensino a mera transmissão de pensamentos já pensados. Mas, numa perspectiva socrática, não é este o fim do ensino de filosofia – especialmente no ensino médio: O verdadeiro objetivo do ensino filosófico é o próprio filosofar (SOFISTE, 2007, p. 88). Afirmar que apenas pelo fato da filosofia se fazendo presente nos currículos do ensino médio transforma seus estudantes mais críticos e reflexivos, tal compreensão é perigosa e pode até gerar frustrações e decepções.
Para que isto possa acontecer, deve-se ultrapassar a compreensão de que apenas o ensino das variadas correntes filosóficas já é o bastante para formar jovens mais críticos frente à realidade. Mais do que isso, é preciso propor o filosofar como o conteúdo e método. Como se pode ver é o filosofar que assume a característica de ser, por ele mesmo, conteúdo e procedimentos didáticos. Ou seja, é mais fácil chegar ao filosofar mediante a cultura filosófica. Neste sentido, esta é entendida como meio para se chegar ao filosofar.
Como exigência para a realização de uma educação dialógica socrática se faz necessário à superação da pedagogia do mero ensino, em outros termos, a simples transmissão da história da filosofia. Evidentemente que conhecer os sistemas filosóficos já registrados por antigos sábios é de suma importância, mas, socraticamente falando, não é apenas com este procedimento que a filosofia há de se vingar num dado momento histórico. Se assim fosse não teria ocorrido, no decorrer de sua história, vários filósofos apresentando novos modos de pensar e sistemas que diferem de outrem. Assim, se limitar à pedagogia da transmissão de pensamentos já pensados é uma catástrofe, no ponto de vista socrático.
Não obstante, na Lei das Diretrizes Básicas (Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996), nos Parâmetros Curriculares Nacionais e no Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, indica elementos importantes para a confecção de uma nova educação (SOFISTE, 2007, p. 90). Pois, de acordo com estes documentos, ver-se que a educação deve ser entendida como desenvolvimento de capacidades e habilidades, afirmando assim que a educação não deve se limitar à transmissão de conteúdos, mas em desenvolver capacidades de aprender (LDB, Art. 32, inc. I e III). No que tange o ensino médio, os Parâmetros Curriculares Nacionais, no entender da nova lei, alegam que deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (Art. 1° par. 2° da Lei 9.394/96).
A filosofia pode e deve contribuir positivamente para a construção desse modelo de educação. Sendo a filosofia uma disciplina que tem o objetivo do desenvolvimento do aprender a aprender e do aprender a pensar. Por isso, não basta, simplesmente, a presença da filosofia na educação média sendo entendida como um conjunto de conhecimentos a serem ensinados numa perspectiva não filosófica. A filosofia é uma atividade do pensamento. E enquanto tal, esta deve não ensinar filosofia, mas ensinar a filosofar. Esta sendo entendida como um desenvolvimento ou aplicação de métodos filosóficos. Desta forma, acredita-se na inclusão da filosofia na educação média, apostando que o método socrático seja um método de excelência para tal empreendimento.

3.3 – Contribuições do método socrático ao ensino médio

(...) fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescenta à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente à indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador. (FREIRE, 1996, p. 138)


Neste mesmo fragmento, Paulo Freire ressalta na necessidade do professor ser um contínuo pesquisador, ou seja, utilizar-se sempre da investigação dialógica para se conhecer algo ou alguma coisa. Como já vem sendo descrito nas entrelinhas do presente trabalho, numa perspectiva educacional para o ensino médio se faz preciso que o professor dê aos alunos a função deles mesmo serem protagonizadores do conhecimento. Não os limitando a serem meros ouvintes de aulas. Porque, entendendo aula como é colocada na tradição milenar fundamenta-se no falar do mestre e na cópia passiva do estudante, é no mínimo um equivoco pedagógico.
A prática efetiva do método socrático, ou seja, na investigação dialógica possibilita colocar em ação o filosofar, uma vez podendo afirmar que: o fundamento do diálogo supõe a natureza do filosofar, sendo desenvolvido comunitariamente; tal método socrático, o diálogo, garante a liberdade intelectual e abertura da consciência frente as verdade ditas como dogmáticas; tem como objetivo a construção coletiva de conhecimento validade intersubjetiva.
A utilização do diálogo colabora para o desenvolvimento de habilidades e competências, em dois parâmetros básicos: Colabora para as habilidades de aprender a conhecer aprender a fazer como a capacidade de raciocinar, de sistematização, de conceitualização, de reflexão, de planejamento, etc; Relaciona-se com as habilidades de convivência, ou seja, aprender a conviver. “Relaciona-se com o diferente, criticar, trabalhar em equipe, saber ouvir, aceitar críticas, etc.” (SOFISTE, 2007, pg. 99).
O próprio aluno que vai raciocinar, investigar, relacionar-se. O professor, neste sentido, assume o papel de coordenador que tem a tarefa de prezar pelo bom êxodo de tal procedimento dialógico. Os conteúdos não devem se reduzir na transmissão para o estudante mediante a aula falada. É justamente os procedimentos a as atitudes que ganham importante relevância na Investigação Dialógica. Assim, os alunos têm a oportunidade de terem experiências de filosofar. Já a sala de aula, por sua vez, deve proporcionar ambiente que possibilite o bom êxito do diálogo e da construção coletiva de saberes.
É de suma importância voltar a destacar que a aplicação do método socrático não tem o objetivo de exterminar ou, até mesmo, criticar um dado período filosófico e seus protagonistas. Pois: “É impossível à escola desprezar um roteiro de idéias e, ao mesmo tempo, pensar no aperfeiçoamento do homem e na melhoria da sociedade”(Cf. MARIA, 1996, p. 32). O objetivo da aplicabilidade do método socrático é aperfeiçoar tais sistemas de acordo com o contexto histórico atualmente analizado.
Ademais, a utilização do método socrático no ensino médio poderá contribuir positivamente para que o aluno não seja apenas um ouvinte do professor, mas que seja participante no processo do ensino filosófico. Transformando a sala de aula em um ambiente de investigação ativa, tanto por parte do professor quanto por parte dos alunos. É justamente no processo de investigação é que se dá, mediante o diálogo, o desenvolvimento das habilidades e competências.
Mas como fazer isto? Uma resposta bastante direta e desafiadora seria de fato: aprendemos a fazer assim fazendo. Quer dizer, é apenas na prática que podemos descobrir a relevância da aplicabilidade de tal metodologia. Antes da pratica, porém, a convicção de que essa seja uma boa maneira de se pensar e praticar o ensino de filosofia no ensino médio.
































CONCLUSÃO

Como fora visto no último capítulo, pode-se notar que a atitude dialógica quer fazer com que os demais sejam ativos às expectativas filosóficas, que é o filosofar. Não basta apenas a filosofia ser incluída como disciplina obrigatória no ensino médio, é preciso pensar como e a finalidade da filosofia para jovens. Se tal questionamento não for feito, infelizmente ela, a filosofia, será apenas mais uma disciplina para preencher currículos escolares.
Acredita-se que a filosofia como forma de investigação dialógica possui a característica de ser, em si mesma, o verdadeiro sentido da filosofia que gerará o filosofar. O aluno não assume a característica de passividade frente às falácias do professor. Ele, o aluno, busca o conhecimento através da coletividade que é feita com os demais colegas, incluindo o professor. Não há, ai, uma alienação à história da filosofia, ou seja, ficar só na consciência o que tal filósofo declarou e descobriu sobre algo. A investigação dialógica quer mais que isso. Ela quer por o aluno a pensar e a típica atitude de um filósofo, o próprio filosofar.
Claro que a docência filosófica, seja na educação média ou em qualquer outro grau de ensino, pode ser realizada da maneira tradicional: da simples transmissão da história da filosofia ou de tal perspectiva filosófica subjetiva do professor. Não é esta a proposição defendida ao longo deste trabalho. Conhecer a cultura outrora vivida pelos filósofos e a valorização de seus sistemas é, em si mesma, dignas de serem conhecidas. Pois, socraticamente falando, filosofar sem qualquer fundamento ou conhecimento prévio do objeto é “filosofar no escuro”. A história, neste sentido, é o suporte que possibilita o aperfeiçoamento e a evolução do filosofar. É preciso, ainda, ter em mente, tanto por parte do professor quanto dos alunos, que o filosofar não é algo pronto e acabado. Mas sim que a atitude do filosofar se dá num determinado tempo histórico e esta sujeita à mudança por outros que viverão outros tempos.
Em suma, é de importância destacar que a forma com que Sócrates tratava seus interlocutores não era de forma autoritária, como se pode notar nas entrelinhas do capítulo segundo. Utilizava o diálogo, a constante busca pelo fundamento do objeto pesquisado. E é exatamente este diálogo de investigação a proposta de docência de filosofia. Levar o aluno a buscar o conhecimento, raciocinar, pensar, criticar o outro, são algumas das conseqüências que a investigação dialógica pode contribuir para a formação do jovem. O filosofar possui esta mesma característica: de estar em contínua busca pela verdade através do diálogo e a valorização intersubjetiva de outrem.
Neste sentido, não há como usar o termo ensinar filosofia e sim ensinar a filosofar. Pois filosofar é a característica própria de toda a filosofia. E para que isso aconteça e seja vigorada no ensino médio, a investigação dialógica socrática muito tem a contribuir para a formação de seres pensantes. Sempre com a finalidade de formar cidadãos pensantes e não apenas receptores de doutrinas ou sistemas já prontos. Não obstante, é exatamente este o objetivo da atual inclusão obrigatória da filosofia e sociologia no ensino médio:

(...) é obrigatório atender à diretriz de que os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação sejam organizadas de tal forma que, ao final do Ensino Médio, o Educando demonstre, entre outros, o domínio dos conhecimentos de filosofia e sociologia necessários ao exercício da cidadania.

Neste sentido, nota-se que o método socrático tem muito a contribuir para a formação dos alunos do ensino médio. Uma vez que Sócrates tinha como principal objetivo dialogar com os seus interlocutores e fazer com que eles vivessem de acordo com a moralidade em suas cidades. Ou seja, o exercício da cidadania é um dos pontos resultantes do diálogo socrático.







REFERÊNCIA BILIOGRÁFICA

BORNHEIM, Gerd A. Introdução ao filosofar – o pensamento filosófico em bases existenciais. 9°edição. São Paulo: Globo, 1998
CAPALBO, Creuza. Ideologia e educação. São Paulo: Convívio, 1978.
CARVALHO, Antônio Benedito de. Filosofia – Pressupostos necessários da educação. Juiz de Fora: Instituto Cultural Santo Tomás de Aquino, 1981.
EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. 11°edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
FONTOURA, Prof. Amaral. Filosofia da Educação. Rio de Janeiro: Aurora, 1977.
FRANÇA, Pe. Leonel. Noções da história da filosofia. Rio de Janeiro: Aurora, 1977.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – saberes necessários à prática educativa. 33°edição. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura)
FULLAT, Octavi. Filosofia da educação. Tradução de Pe. Roque Zimmermann. Petrópolis: Vozes, 1995.
GAARDER, Jostein. O mundo de sofia. São Paulo: Companhia das letras, 1995.
GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação – um estudo introdutório. 3°edição. São Paulo: Cortez, 1983
GILES, Thomas Ranson. Filosofia da educação. São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1983.
MARCONDES, Danilo. Iniciação á história da filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
MARIA, Joaquim Parron. Novos paradigmas pedagógicos – para uma filosofia da educação. São Paulo: Paulus, 1996
PAIVA, Vanildo de. Filosofia, encantamento e caminho – introdução ao exercício do filosofar. São Paulo: Paulus, 2002.
REALE, Giovanne. ANTORIORI, Dario. História da filosofia – filosofia pagã antiga. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003
SOFISTE, Juarez Gomes. Sócrates e o ensino de filosofia – investigação dialógica. Uma pedagogia para a docência de filosofia. Petrópolis: Vozes, 2007.


























Autor: Thiago Marques Lopes


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