Ervas daninhas



Há um tempo, plantaram uma sementinha em mim. Esta semente, que, a princípio era maliciosa, acabou por mim sendo regada – e com grandes chances de tornar-se algo vil. O acaso, o destino, ou o raio que o parta, fez-me perceber que, à medida se desenvolvia, eu me frustrava, aborrecia-me, irritava-me, já que a semente absorvia água e consumia minha própria reserva de nutrientes, ressaltando-se que não me encontrava em boas condições de hospedeira à época. Não há como uma mãe carente de nutrientes, por exemplo, prover o oxigênio suficiente a um feto. Minha mente e meu corpo perdiam vitalidade para cedê-la à pequena, porém, terrível, semente.

            Tanto nutri, que dei origem à raiz. A raiz se consolidou e fincou-se em meu âmago. Agora, a manutenção de retirada seria muito mais trabalhosa e engenhosa. É uma estrutura paradoxal: um problema da raiz, além da persistência é que se ramifica em várias outras pequenas raízes – o que apelidaria de “ervas daninhas” -, que são subdivisões, “filhas” ou “caçulas” da raiz original. São de menor comprimento e espessura, porém, incabíveis de subestimação. Uma vantagem, contudo, é que, uma vez eliminada a raiz principal, todas as impurezas com ela são carregadas para fora; tudo que ali existia antes da raiz e que viesse a existir por cima dela seria banido.

Começaram a surgir as primeiras folhas e, com elas, iniciou-se a fotossíntese. Como se não pudesse piorar, a absorção, agora, não era somente minha, mas do ambiente ao seu redor, e tudo se contaminava. Extraía forças das pessoas que a rodeavam e ali estavam como conselheiras, como fontes de consolo ou somente como companhia. A devastação causada no ambiente social era exatamente proporcional ao crescimento da semente: quanto mais folhas nasciam, mais consumia a vitalidade alheia.

Até que, após refletir sobre minha história e perceber quantas vitórias, perdas, decepções, alegrias, amores, aventuras, desventuras, sucesso, elogios, críticas, beijos, lágrimas, graças e bênçãos por mim já passaram, toquei-me que a vida é um jardim. Não uma parte dela, apenas: sua totalidade. Em um jardim, vasto como costuma ser, há vários tipos de plantas e árvores. Há as flores e as plantas, que perfumam e ornamentam; as árvores, que alimentam e acalmam; e as ervas daninhas, que sujam e enfeitam. Estas últimas são pronta e facilmente arrancadas do canteiro, para que sobressaiam as plantas, em todas as suas formas, cores, tamanhos e idades.

Quer saber daquela semente? Aquela insignificante raiz da qual lhe contava ao início? Cortei o mal pela raiz, e o fiz de forma ágil. As sementes são depositadas em você por todo ser que tem uma passagem em sua trajetória, seja ela longa ou breve, pois cada um deixa de lembrança um aprendizado. Há as pessoas, claro, que entram em nossas vidas somente para nos ensinarem a não sermos iguais a elas. E quem disse que isso não nos torna mais sábio?

Da repugnância oferecida pelas ervas daninhas, extraem-se o controle e a maturidade. Controle, por aprender-se a não cometer o mesmo erro duas vezes, pois comete erro quem se aborrecer à toa, e maturidade, por pegar-se com as próprias mãos a enxada que banirá essa subplanta, que nada acrescenta e, portanto, nenhuma falta faz. Além do mais, vence quem tem o jardim mais bem cuidado, pois é assim que as borboletas vêm até ele.

Conforme dizia São Próspero da Aquitânia, “quem não compete, não deve esperar a coroa”. Tão antiga, porém, tão sábia a citação, que deixa como lição que os obstáculos existem para serem vencidos e que, quem cai, levanta-se. Afinal, a virtude de viver consta da sapiência extraída das desavenças entre os homens, haja vista que, a cada raiz arrancada, há espaço para uma nova flor. Pode ser uma rosa, uma camélia, uma margarida, uma tulipa ou até uma orquídea, pois é plenamente possível escolher o que permanece ali ostentado. E o seu jardim? Quantas sementes você já plantou hoje?


Autor: Jessica Finn


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