A indústria cinematográfica no ambiente da indústria cultural



A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA NO AMBIENTE DA INDÚSTRIA CULTURAL

 

THE CINEMATOGRAPHIC INDUSTRY IN THE ENVIRONMENT OF THE CULTURAL INDUSTRY

Alba Azevedo [1]

RESUMO

Este artigo aborda a questão da Indústria Cinematográfica inserida no contexto da Indústria Cultural, bem como suas implicações e conseqüências. O texto visa estabelecer relações entre a massificação da produção cinematográfica e as percepções do público enquanto espectadores de arte e consumidores de cultura. O cinema, desde suas origens, tem se mostrado mutável em vários aspectos, que vão de detalhes técnicos à sensibilidade autoral. Em pouco mais de um século de existência dos filmes, o mundo passou por transformações inerentes à evolução humana e primordiais para a estruturação e conceitualização do que hoje entendemos por Sétima Arte. Com isso, o público, ávido por integrar-se às inovações tecnológicas de cada era, assistiu cada mudança na estrutura dos mais variados meios de comunicação, e também se transformou.

 

Palavras-chave: Cinema. Indústria. Comunicação. Arte.

 

ABSTRACT

This article approaches the question of the cinematographic industry inserted in the context of the cultural industry, as well as its implications and consequences. The text aims at to establish relations between the massification of the cinematographic production and the perceptions of the public while spectators of art and consumers of culture. The cinema, since its origins, if has shown changeable in some aspects, from details technician to authorial sensitivity. In little more than an existence century of the movies, the world passed for inherent transformations to the evolution human being and very important for the structures and concepts of what today we understand for Seventh Art. So, the public eager for combining it the technological innovations of each age, it attended each change in the structure of the most varied medias, and has changed too.

 

Keyword: Cinema. Industry. Communication. Art.

 

INTRODUÇÃO

 

Desde o início dos tempos, através de estudos e pesquisas, podemos observar o quanto as imagens, de modo geral, causam admiração à humanidade. A partir da influência do homem na produção das imagens verificamos a trajetória de sua evolução. Figuras desenhadas em paredes de cavernas; esculpidas em pedra; retratos de pessoas a partir da tinta, da fotografia, do cinema.

 

O cinema, desde os primeiros tempos, foi visto como “a arte da burguesia”. Seu início se deu não em nome da arte, mas em nome dos avanços tecnológicos. Na Europa e nos Estados Unidos, muitas pesquisas vinham sendo feitas em busca de uma máquina que reproduzisse perfeitamente imagens em movimento. Quando os irmãos Lumière inventaram o cinematógrafo, Meliès, que trabalhava com teatro e mágica, quis adquirir um desses aparelhos. Porém, os irmãos o desencorajaram, acreditando que a máquina não tinha o menor futuro como espetáculo, pois seria apenas um instrumento científico para reproduzir o movimento, e sua utilidade seria unicamente para pesquisas. Estavam enganados. Hoje é inegável o constante crescimento, estruturação e solidificação dos mais variados meios de comunicação na sociedade contemporânea. Com o cinema não foi diferente.

 

Desde sua origem até os dias atuais, o cinema já recebeu vários conceitos e títulos. Inicialmente criticado por ser a arte que se apoiava na máquina-musa da burguesia, (não se pode deixar de lado o contexto de sua criação: o mundo se transformava a partir do triunfo da burguesia, o “olho mecânico” apenas pôde surgir devido à Revolução Industrial), o cinema logo passou a ser chamado de Sétima Arte, após a Música, a Dança, a Pintura, a Escultura, a Literatura e o Teatro. Sendo a última a surgir, logo o cinema foi considerado por muitos a união de todas as outras artes.

 

O cinema e a indústria cultural

 

Em pouco tempo o cinema se tornou uma indústria, e hoje, não podemos falar sobre ela sem mencionarmos a Indústria Cultural. Diante da preocupação de boa parte dos produtores na busca do lucro, nos deparamos com uma banalização generalizada e com uma crescente padronização dos produtos culturais, que cada vez mais, se apresentam simplificados. Na lógica da Indústria Cultural, a obtenção do lucro é o objetivo principal. E essa é também a lógica máxima da sociedade capitalista como um todo.

 

Partindo desse princípio, e sendo o próprio cinema também uma indústria, vemos que essa arte também se tornou mercadoria para a indústria cultural.

 

Nas primeiras décadas do século XX, a Indústria Cinematográfica já estava inserida no meio capitalista e, para a garantia da manutenção do seu sistema, os produtores buscavam cada vez mais filmes voltados para as massas. Em 1914, o público norte-americano chegava a quase 150 milhões de espectadores. Esse número dobrou entre a década de quarenta e cinqüenta, período considerado áureo do cinema hollywoodiano. O rápido crescimento, não só de espectadores, como de salas, proporcionou a estruturação da indústria cinematográfica. O cinema passou a ser produzido em série

 

Nessa fase considerada áurea, o filme deveria conter ingredientes aptos agradar o público de 8 a 80 anos, nada suscetível de desagradar poderia estar nele. As diferenças culturais, religiosas, políticas, eram contornadas ou subentendidas. As temáticas tinham que ser generalizadas. Isso é conseqüência da industrialização. Quanto mais público, melhor. O cinema, assim como a televisão, precisa agradar às massas para gerar lucros, e isso não é fácil. Para um livro, por exemplo, se tornar um Best Seller, ele precisa ser lido, em média, por um milhão de pessoas. Uma peça de teatro, para ser considerada um sucesso, deve ser assistida por um público que gire em torno de oito milhões de pessoas. Se apenas dez milhões de pessoas assistirem a um filme, ele será considerado um fracasso. O último recorde da Indústria Cinematográfica, por exemplo, é o filme Avatar, que obteve público de 144 milhões de pessoas.  O problema é que, para garantir que muitas pessoas de desloquem ao cinema, é necessário evitar inovações, pois, ao comprar um ingresso para um filme, não se pode provar, testar, verificar se agrada, se está bem feito, pois testar a capacidade que ele tem de nos agradar, já seria desfrutá-lo, e é por isso que pagamos. Por esse motivo, a produção se torna repetitiva, pré-formulada, sem muito conteúdo, características essas alvo de críticas à Indústria Cultural.

 

Sendo o filme uma mercadoria, quem tem a última palavra sobre ele é o “proprietário comercial”, não o “proprietário intelectual”. Por isso grande parte do público não consegue enxergar marcas autorais de determinados artistas sobre suas obras cinematográficas, pois os filmes deixaram de ter suas características de arte e se tornaram simples produtos. Segundo Seger:

 

Para muitos escritores, a palavra “comercial” soa como um palavrão. Ela parece implicar comprometimento, perda da integridade do projeto, ou mesmo o fato de ter que acrescentar ao roteiro lugares-comuns dos mais vulgares, como cenas de sexo ou perseguições automobilísticas, que aparentemente são algumas das maneiras mais fáceis de atrair o público. (SEGER, 2007, p. 20).

 

Também por isso, muitos roteiristas relutam em vender seus roteiros para grandes companhias, pois sabem que muito de sua arte será modificada de acordo com as conveniências da Indústria e em detrimento de uma maior aceitação do público em geral. Ao mesmo tempo, há a necessidade tanto econômica quanto pessoal, em termos de sucesso profissional, do escritor em vender sua obra. É preciso entender também que há espaço para muitos gêneros e formatos. E, para ser considerado um bom escritor, não é imprescindível que se escreva apenas histórias sem ação e sem intenção de atrair o público.

 

 

As inovações tecnológicas e o star system

 

A fala, as cores, o som, as imagens, o método... as inovações tecnológicas trazidas pela modernidade já influenciaram diretamente na linguagem cinematográfica. Em 1927, por exemplo, no musical O Cantor de Jazz, a sonorização ótica foi introduzida no cinema. Contudo, apenas a inovação tecnológica não caracteriza a mudança, visto que, condições tecnológicas para isso já existiam. A introdução se deu por uma exigência econômica, uma necessidade mercadológica, cultural, estética ou mesmo política. O som ótico foi introduzido pela Warner Bros, que não estava ainda entre as grandes companhias e precisava de um produto novo para se consolidar.

 

Não se pode deixar de lado, ao falarmos da Indústria Cinematográfica, a existência do Star System, um dos métodos da Indústria Cultural de agregar público ao seu produto. Um filme tem que ter seu valor de troca, algo que, mesmo as pessoas não gostando da história do filme, torne-o vendável. Normalmente, é um determinado ator, que é inserido no elenco apenas para chamar o espectador. A partir disso, forma-se um sistema, composto por clubes de fãs, imprensa, crítica, entre outros, com o objetivo de apoiar o filme. A indústria cinematográfica crias suas próprias estrelas, mas, muitas vezes, se aproveita do estrelismo criado por outros veículos. Isso acontece muito no Brasil, por exemplo, onde atores cinematográficos nunca chegaram a se consolidar, pois há uma tradição bem maior com a televisão. O cinema, assim, utiliza-se da fama que os atores já têm em novelas e colocam-nos nos filmes como garantia de determinado público. Nos últimos anos, e para o público culturalmente mais sofisticado, o diretor é também um grande chamariz, que assegura valor de troca para esse público.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É preciso deixar claro, também, que mesmo inserido nesse espaço industrial, nem todo o cinema produzido deve ser inferiorizado ou considerado subproduto por ser voltado a determinado público. E não se pode esquecer que o cinema pode e deve ser informativo e educativo sim, mas a sua função principal é o entretenimento, e não há mal nenhum em um filme ser declarado “ficção”. Há espaço para tudo, e o grande problema da indústria cultural, não está em difundir o prazer, mas sim o “falso prazer”.

 

O prazer através da produção cultural é, de fato, um dos principais alvos de alguns que, preocupados com o conteúdo veiculado pela indústria cultural, tentam combater os processos de alienação. A causa é justa, sem dúvida, mas a base da ação é totalmente equívoca – o que acaba provocando uma válida dúvida sobre a justeza da própria causa. É que se acredita ainda (e talvez ainda mais neste século do que num passado mais próximo ou mais remoto) que a busca ou a admissão do prazer é indício de um comportamento grosseiro, consumista e indício da adesão aos princípios de uma ideologia burguesa, reacionária. (Coelho, 1988, p. 36).

 

É fato que o cinema foi se modificando ao longo do tempo e se adequando a partir das demandas tecnológicas de determinadas épocas. O público também se modifica, tornando o sistema eternamente mutável. Não se pode dizer que o cinema hoje não é mais uma forma de expressão cultural, mesmo estando ele inserido dentro da indústria cultural e por ele mesmo ser uma indústria. Muitos cineastas, que podem sim serem denominados também como artistas, quando pesam em fazer um filme, pretendem com ele difundir pensamentos, passar cultura e conhecimento para muitas pessoas e pretendem também, ganhar dinheiro com isso. Assim como um pintor tem por objetivo, além de divulgar sua arte, vender seus quadros, um cineasta não pode ser diferente, afinal essa é a sua profissão. Alienante é criticar um artista por ele querer viver (por viver, aqui, entende-se pagar) de sua obra. Além disso, os produtos não perdem seu conteúdo e sua qualidade artística por conseguir um bom orçamento e/ou faturamento.

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

ADORNO, Theodor. Indústria Cultural. In: CONH, Gabriel (org). Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo, Nacional, 1977.

BERNARDET, Jean-Claude. O que é Cinema. 10ª Edição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1988.

COELHO, Teixeira. O que é Indústria Cultural. 11ª Edição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1988.

MERTEN, Luiz Carlos. Cinema: Entre a Realidade e o Artifício. 2ª Edição. Porto Alegre, Artes e Ofícios, 2007.

SEGER, Linda. A Arte da Adaptação. 1ª Edição. São Paulo, Bossa Nova Editora, 2007.

VASQUEZ, Adolfo S. As idéias Estéticas de Marx. 2ª Edição. Rio de Janeiro,  Paz e Terra, 1978.

 

 


[1] Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Pernambuco e aluna do Programa de Pós Graduação em Letras / Cultura Pernambucana na Faculdade de Filosofia do Recife.

Download do artigo
Autor:


Artigos Relacionados


Meios De ComunicaÇÃo Agente Da SocializaÇÃo, AlienaÇÃo Ou CapitalizaÇÃo?

Produção Audiovisual Cresce No Brasil Com Popularização De Eletrônicos

Áreas De AplicaÇÕes De Captura De Movimento

Proposta De Um Sistema De Custos Para Uma Indústria De Saneantes

A Dor Eterna

Vento

Ja Ta Na Hora