Vivam os trabalhadores! morram os bandidos!



 

VIVAM OS TRABALHADORES! MORRAM OS BANDIDOS! 

Não tem voz institucional a nossa indignação quanto à insuportável violência que aflige e enluta milhões de famílias brasilianas. O Brasil foi transformado numa enorme podridão de muita merda e sangue. A isso chegamos após cinco séculos de uma história feita de "vícios, pecados e crimes".

Não, esse não pode ser o nosso fim. Lembremo-nos de Plínio Marcos: "Quando tudo parece perdido, tudo está para ser salvo". E por que não matar o algoz para salvar as suas vítimas, os milhões de indefesos e pacíficos trabalhadores? Eles não têm armas, mas que fazem aqueles que as têm por eles? E aqueloutros que usam canetas como armas, por que não vertem sua tinta para estancar tanto sangue? Por que só aos bandidos as armas dão poder? 

A criminalidade campeia livre em todos os lugares, em todas as instituições. A consequência disso é que morre um Vietnam a cada ano no Brasil aos pés de um bandido, ou de trinta bandidos. Ainda chamamos bandido de bandido, mas quantos bandidos estão aí, travestidos de policiais, empresários, prefeitos, fiscais, procuradores, deputados, senadores, governadores e, suprema abominação (!), juízes do Supremo? Não serão muitos? Façamos essa concessão. De qualquer forma, esses parasitos fazem muito estrago. Urge vermifugar o organismo nacional, purgá-lo de toda essa verminose.

O criminoso age na periferia das cidades tão impunemente quanto age nos palácios de todos os “Poderes”. Ante tamanha violência parece que apenas as câmeras têm olhos. Entre as “autoridades”, ninguém mais observa o que se passa ou, se observa, dá como natural a matança de inocentes trabalhadores, ou o assalto desenfreado ao erário, o que também é uma forma de matar. Ora, se alguém deve morrer, então que morram os bandidos, não os trabalhadores e os seus.

No Primeiro de Maio, fazem-se aos trabalhadores promessas de uma sociedade sem classes, mas esses mesmos que acenam com essa utopia tudo fazem contra o que seria conquista mais essencial, embora bem prosaica: a garantia de segurança ao trabalhador e a seus familiares. Alguns babacas restantes à esquerda falam de uma sociedade sem patrões, o que seria maravilhoso, aliás, mas os desgraçados trabalhadores têm necessidade imediata mais premente de que depende sua sobrevivência e sua paz: eles precisam de uma sociedade sem bandidos. Lá na periferia, no barraco onde mora, devia o trabalhador dormir tranquilo em sua casa, com portas e janelas abertas. Mas lá vive como que em uma cela. Livres estão os meliantes que lhe ameaçam a vida e o pouco que tem.

O Estado que não garante a vida do cidadão e não garante a morte de quem contra ela atenta nada mais pode assegurar, dele nada mais há a esperar. Um Estado assim apenas envergonha o seu cidadão. Este cidadão será do "seu" Estado uma vítima tanto quanto é vítima do bandido. Aliás, esse será um Estado de bandidos. Ou será um Estado apenas de incompetentes? Ou será Estado de impotentes? Chegou-se a um Estado sem poder. Pode? Que foi feito do monopólio estatal do poder? Tal Estado vale bem menos do que o conselho de anciões de uma tribo bárbara.

Quanto vale a vida de um cidadão impossibilitado de andar em segurança nas ruas de sua cidade? Esse já perdeu sua liberdade, por mais que possa escolher mil candidatos nas próximas eleições. Esse não tem advogado, ainda que se formem bachareis em Direito aos milhares a cada ano. Dele a cidadania não é real, mas mera formalidade, embora esta formalidade tenha efeitos muito reais e perversos. Dele a cidadania é de papel. Disso justamente vive o Judiciário, ou seja, de papel. Operadores do Direito e especuladores vivem de papel. De papel eles vivem, enquanto essa mesma ficção mata o trabalhador.

Quão mal segue a vida do povo não lhes importa. Quem está bem não se preocupa com isso. Trata-se de coisa natural. Nenhum macaco vai se preocupar com o que pode ser aquilo cujas sombras ele vê na parede de sua caverna, se nesta ele estiver de barriga cheia e dispor de algum conforto. Ora, as supremas figuras do Judiciário são trogloditas em cavernas de luxo. A eles pentencem o legado do aparato estatal colonial português no Brasil. Gente fina, gente bacana, membros da elite branca, cheirosa, alegre e descontraída.

Isso mostra bem que nem sempre os bandidos têm cara de bandido. Bandido nem sempre é preto e pobre. O banqueiro, o diretor de uma transnacional gringa podem ser bandidos mais perigosos do que mil flanelinhas. Esses daí também são grandes assaltantes, só que em vez de pistolas ou fuzis eles assaltam usando computadores. E quanto perde o Brasil! A privataria o que é, senão um assalto? O fornecedor corrupto que superfatura o que vende a um hospital público o que merece, senão a pena de morte? Alguém ficaria com dó? Um leitor de alma mais piedosa, talvez. Este magnânimo leitor deve saber para o seu consolo que bastaria matar um só bandido desse tipo. Outros não se arriscariam a roubar o povo, por medo do mortal, merecido e exemplar castigo.

O mundo dos privilégios não se estende além de si mesmo, não ultrapassa o meio dos próprios privilegiados, senão por seus malefícios. O seu conforto, os seus direitos, a sua felicidade não se generalizam. Nesse estado de coisas tão alienado e tão alienante eles chegam a se imaginar como modelo do que chamam de "Estado democrático de direito". O povo tem o direito de viver em segurança... só que morre nas ruas, a qualquer hora do dia ou da noite. Não importa. Como o mundo sensível ante as essências platônicas, a realidade das ruas é apenas uma cópia imperfeita do "Estado democrático de direito".

Assim, por exemplo, o ECA, o estatuto dos "dimenores", por ser tão perfeito, tão avançado, revolta tanto o obtuso cidadão que tanto "discrimina" os seus incompreendidos agressores com quem se nega a conviver. Outro exemplo da "perfeição" moral a que chegaram os paladinos dos direitos humanos: não contentes em “garantir” tais direitos apenas à população do Brasil, eles agora transferem para cá a população do Haiti! Decerto os generosos senadores, gente como Collor de Melo, muito lamentam não haver em suas próprias casas acomodações para todos os haitianos. A mesma hospitalidade tem o senador Suplicy. Também este quer dividir o bolsa-família com os haitianos. Decerto assim procede em nome do internacionalismo subproletário. Se essa é uma política de esquerda, então a esquerda não passará de um rastilho para a grande explosão da extrema-direita. Quem viver verá. Aqui ou na Europa ou alhures. A propósito, não demorará para que também essa gente boa do Caribe tenha cotas raciais em nossas universidades.

Como se vê, a cidadania vai se fazendo cada vez mais estranha ao cidadão. Ou será o cidadão estranho à cidadania? O cidadão tem n direitos, mas só o acionista da grande corporação pode comprar o seu gozo efetivo. A democracia representa-se como o Uno imóvel e eterno de Parmênides. A mudança pertenceria apenas aos fluxos de capital. O cidadão de nada vale, porque tem direitos mas não tem numerário, sem o que não pode comprar a vida no mundo do capital onde tudo é mercantilizado, principalmente o direito. Toda essa conformação social convida à sua desformação pela mesma violência havida na sua formação.

Não obstante tantos problemas, apesar de todo o inferno social existente e em preparação, já ouvi coisa incrível, algo realmente extraordinário, pela inconsequência, pela irresponsabilidade, pela desfaçatez da afirmação. Articulou-a um desses sacerdotes do "Estado democrático de direito". Eles recitam fórmulas mágicas de correção política. Fazem a política parecer religião e seguram a constituição como a uma Bíblia pela qual juram e predicam. Hipócritas! Não são melhores do que padres pedófilos e pastores adúlteros. No entanto, têm a proteção de sua igreja e com ela estão identificados e a outros negam identidades alternativas. Enquanto isso, todo o rebanho vai-se perdendo para a pobreza, o crime, o racismo, a corrupção...

Foi Ferreira Gullar quem disse: "A democracia não tem nada a ver com isso". Você acredita?

 

 

 

 


Autor: Chauke Stephan Filho


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