Um caso de adultério



Dausiza era feliz  até seu marido morrer, depois, tudo ficou complicado, o filho pequeno para criar, a seca que não perdoava nada, o custo das coisas, que chegava caro demais e a escola que o filho teve que largar para trabalhar na fazenda de laranja.

Dausiza queria casar novamente, poder educar seu filho, ir para cidade grande talvez, por isso não dava bola para nenhum marmanjo, ela era uma mulher direita e ia permanecer assim, nem que tivesse que gastar as mãos lavando roupa e apodrecesse naqueles cafundós.Mas um dia o professor Adeodato começou a reparar nela. Era uma mulata bonita, cabelo comprido, empinada e aquele ar de séria, não perdia a pose, mesmo com a bacia de roupa na cabeça. E de tanto reparar, ele apaixonou; era só ela passar que ele já imaginava como seria lhe tirar a roupa, acariciar suas coxas torneadas, e vê-la sorrir de prazer. Mas Dausiza nunca sorria.

O professor começou a cortejá-la.Dauzisa agüentou firme por um bom tempo, mas o professor era um cara legal, era limpinho e além do mais era estudado, sabia fazer poesia, tocava violão, mas o diabo é que era casado.Ela conhecia a mulher dele, era brava pro marido, não gostava da coisa, derrubou ele da cama muitas vezes, ela sabia porque as lavandeiras comentavam.O diabo da vida era assim mesmo, quem tinha a sorte de encontrar um homem bom, decente, não dava valor. E de tanto pensar nessas coisas, Dausiza começou a ceder, e depois o professor se ofereceu pra ensinar o Luisinho e ela não tinha dinheiro, o que ganhava dava mal para pagar a comida.Ela tinha que pagar! Seu menino ia aprender a ler, era o sonho dela; ia pagar por isso. Então ela cedeu.

Foram amantes durante muito tempo, as pessoas até começaram a sussurrar, o Luisinho, aprendeu a ler, e queria até virar doutor, desses de cuidar de doente, mas para isso, ela tinha que ir morar na cidade grande, e lá era ainda mais difícil. Depois ela era católica, não estava certo o que fazia, nem tinha mais coragem de ir a missa, nem nas novenas; até de rezar a ave Maria ela tinha vergonha; por Deus nosso Senhor, ela tinha que parar com aquilo! E depois o Luisinho já sabia ler mesmo...

Um dia passou um ricaço nas redondezas, Dauzisa subia a ladeira com a lata d’agua na cabeça, a bunda empinada, o cabelo batendo nas cadeiras e o ricaço apaixonou, levou Dausiza pra cidade grande, casou e o Luizinho hoje é doutor lá nas Clinicas.

O professor Adeodato? Quase morreu de tristeza, mas hoje, ele é diretor de um colégio lá na capital. Indagaram a ele certa vez o que o fizera sair dos cafundós, e ele respondeu tristonho: é quando a gente percebe que está só, meu amigo, ai, você tem que andar. 

Lela Souza.

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Autor: Aurelinda Bomfim De Souza


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