Entre abismos e florestas



Entre idas e vindas. Andanças ou devaneios filosóficos, alguns desalmados usam a razão para proclamar as suas verdades ou crenças. René Descartes é personificado como o deus da razão e o homem (inventado por ele) como o senhor e dominador da natureza. Proclamando o Iluminismo como a força que rompera com a ignorância e o obscurantismo medieval, com isso, criaram um homem sem limites, senhor e dominador da natureza, mas escravo de si. Nietzsche veio justamente para romper com a racionalidade lógica do pensamento cartesiano, impondo ao homem sua própria morte, e rebaixando a condição de animal, como um ser que faz parte de uma natureza plena e vaidosa, ele é o filósofo, senhor do martelo que desconstrói as absolutas certezas (não tão certas assim) que foram estabelecidas pelo benefício da dúvida. Que são pronunciadas com tamanha veemência e convicção por idealistas nefastos, que não conhecem nem a si mesmo. Que bom, que podemos afirmar que Nietzsche tem um paladar filosófico aguçado, capaz de colocar no divã todos os lógicos e sua brutalidade descabida diante da vida natural.

São estas descabidas afirmações de verdades e absolutismos, que temos como sacrilégio, cometidos contra a existência. Os racionalistas, afirmam uma crença desvairada no progresso racionalizado, no desenvolvimento das forças produtivas da razão, por meio da aniquilação da vida e de todos os seus adjetivos naturais. Quando dizem que a verdadeira natureza reside na possibilidade de um passado de triunfo do próprio bem contra o mal, estão colocando o homem em uma esfera inferior aos interesses do progresso, negando o direito de vida e morte para o homem e os elementos constituídos ao seu redor. Diante disto, ficam perplexos quando a natureza se revolta e demonstra que a racionalidade é frágil e nunca estará a serviço do homem, pelo contrário, o homem se tornou escravo da razão e dela não pode libertar-se, apenas sofrer as conseqüências de domínio e poder da sua subjetividade lógica e abstrata, que tentam desesperadamente trilhar os caminhos da linguagem, como forma de criarem a falsa impressão de que existe uma verdade absoluta e que não poderá ser contestada.

O homem racionalizado, não é senhor de si, apenas escravo do progresso de uma aristocracia, seja ela econômica ou intelectual. E tudo que está a sua volta, existe para servir os caprichos destes moribundos da razão.

Com a destruição da natureza, imprimida de forma irracionalizada pelo progresso aristocrático, não destruímos apenas os recursos de produção, produzimos além da nossa capacidade de consumo e matamos também toda a irracionalidade constituída em forma de natureza. Sim, se não somos capazes de entendê-la ou convivermos pacificamente com ela, então podemos dizer que ela é irracional, com toda sua potencialidade de reconstituir-se novamente, mas, sempre será irracional do ponto de vista da razão. Por que somos capazes de enxergar nela o nosso ser.

Uma árvore morta, á antes de tudo, uma vida que jamais retornará do mundo das cinzas, e não se fará sombra entre o sol escaldante. Por mais que a lógica cartesiana afirma que exista outra chance, não podemos duvidar da força irracional de uma natureza em fuga, fugindo do grito da razão, com seu corte certeiro, bem no tronco, é uma ida sem volta.

Destruir a floresta é niilismo. Salve Nietzsche! Pois, sem a sua filosofia do martelo, não poderíamos defender a vida (em todos os sentidos) como o fundamento e mandamento primeiro de todo Ser. Precisamos proclamar Zaratustra, resgatá-lo do fundo de sua caverna ou do lugar mais longe da terra, entre abismos e floresta, para dar belas lições aos homens que pensam com o estômago e só olham para o próprio umbigo. Também precisamos parar de construirmos altares para os ídolos (deuses) altamente racionais, e ponderarmos um pouco no sopro da bestialidade e adorarmos a natureza como sendo parte de nós, como sendo nós.

Que magnífico. As ilusões perdidas, nas andanças por varadouros, nos fazem calejar o coração de tanto sofrimento, é a morte do homem. Cego de tanta convicção, e ciente de tamanha certeza, é imponderável e dominador, faz apenas o que determina a lógica do progresso, por isso, é incapaz de enxergar a si próprio no tronco de uma seringueira. Que progresso é esse? Que razão é essa? Que futuro estamos construindo?

Cuidado com os progressistas, com suas deduções lógicas, e suas relações de força e poder, querem manipular a vida do seringueiro através da construção de uma verdade inexistente.


Autor: Leonildo Dutras De Oliveira


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