Alteridade Sombria



“Olhamos a estrela como olhamos o fogo, sabendo que são uma mesma substância apenas diferindo na distância em que a si mesmos consomem”.

                               (Mia Couto; um rio chamado tempo, uma casa chamada terra). 

     Geralmente, o modo de vida que a atualidade nos impõe nos obriga a ter uma visão precoce de tudo, onde, para ter a segurança de conhecer rápido, registra-se a primeira impressão que chega, pouco importando se essa visão é equivocada ou se traz consigo os nossos fantasmas, os nossos medos ou nossas frustrações, jogando tudo no outro, que, inocente e estupefato nada pode fazer para mudar essa opinião, pois ela já está construída na convicção do que julga. Porém, quando vemos os defeitos alheios, vemos uma parte de nós mesmos e quando há o mínimo de consciência disso, quando temos um vislumbre da nossa face no que consideramos inadequado e impuro, ficamos chocados e descontamos toda essa frustração naquele que foi vitima dessa proeza. E esse é talvez um dos grandes problemas da relação humana, as pessoas jogam nos outros as culpas e responsabilidades por seus próprios defeitos e isso se torna uma coisa paradoxal, pois não há o mal ou o errado em si, há apenas aquele que atiça nosso medo e nossa angustia, aquele que com sua simples presença e seu modo de ser têm o poder de desconstruir totalmente nosso mundo perfeitamente forjado. Em defesa o que ocorre é a negação e conseqüentemente a oposição veemente a esse comportamento tido como “anormal”.            Ser totalmente contra aquilo que vemos nos outros, mas que no fundo é apenas uma visão de nós mesmos gera conflitos pessoais e sociais que perduram apenas por medo de mudar, mantendo assim as convenções sociais esperadas. Seria tão mais simples se o julgamento da existência alheia coubesse apenas a cada um. Porque adquirimos o fardo injusto de julgar os outros para não julgarmos a nós mesmos simplesmente por medo do veredicto que pode ser dado.    


Autor: Marcelo Cavalcanti


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