Salvemos A Infância



Hoje ser criança não significa estar na infância. As palavras criança e infância têm se dissociado cada vez mais. É como se uma coisa não tivesse a ver com a outra. As crianças são podadas, impedidas de viverem essa fase. Algumas são lançadas na marginalidade, outras recebem uma série de responsabilidades; umas sustentam a família, outras cuidam dos irmãos; umas vão escola, outras ao trabalho, enfim, a infância, que deveria ser vivida pela criança, simplesmente passa por ela.

Estamos em uma nova era, século XXI, onde deveríamos estar cuidando melhor de nossos infantes e de nós mesmos. Mas não, estamos maltratando nossas crianças, dizimando o nosso futuro. Ainda as surramos, abusamos delas sexualmente e as colocamos no mercado de trabalho informal. Isso é imperdoável para os dias atuais, ou pelo menos deveria ser. E o pior de tudo isso, é que continuamos assistindo a toda essa violência de braços cruzados.

Há crianças que vivem no seio de suas famílias, têm pai e mãe que velam por elas. Elas vão à escola, à aula de natação, à escolhinha de futebol, à aula de inglês, ao balé, à aula de música, à aula de informática (dominam o computador e conversam com os amigos através do menseger) e outras coisas mais.

E há aquelas que não têm proteção de pai e mãe, vivem à margem da sociedade e precisam trabalhar para sustentar a família. Não vão à escola, mas ao sinal de trânsito pedir esmolas, fazer malabarismos e cheirar loló... Há crianças que são maltratadas, que não recebem um beijo, um abraço, mas pancadas. São espancadas e abusadas, na maioria das vezes, dentro da própria família.

Aonde nos perdemos? Cadê as petecas, as bolas, as brincadeiras de roda, de pega-pega, de esconde-esconde, os quebra-cabeças? Cadê a história contada à hora de dormir? Cadê o sonho, a imaginação fértil? Onde ficaram os horários de almoço e jantar? Onde ficaram os porquês? Onde ficaram os limites?

Não sabemos. Precisamos resgatá-los. Não importa que hoje os tempos sejam outros, que seja uma outra era, um outro momento. Pois se continuamos os mesmos, ou piores do que ontem, de que vale um novo tempo? É necessário que nos adequemos. Modernizar sem perder, sem ferir, sem matar.

É mister que busquemos meios de salvar o nosso amanhã, e são elas, as crianças são o nosso futuro. Somente elas podem garantir que haja um novo mundo. Elas significam a possibilidade de uma nova história, de um novo tempo. Não podemos mais roubar das crianças esse período da vida. Criança tem que brincar, tem que viver, tem que ser feliz!

Não quero que pensem que criança não deve ter responsabilidades, mas cada coisa deve ter seu tempo. É óbvio que criança tem que ir à escola, tem que ter atividades, mas nada que lhe sobrecarregue e a impeça de correr ao ar livre, de fazer amigos, de pôr os pés na terra, de sujar as roupas, de ter tempo de brincar, de viver a infância.

Criança precisa ser educada e amada. Precisa aprender a ter limites, a respeitar seu próximo, a amar-se e reconhecer-se como alguém importante dentro de um todo.

Não deixemos que a infância se perca. Descruzemos os nossos braços e lutemos em prol de uma causa muito importante para o mundo: as nossas crianças.


Flávia Rocha David, formada em Letras pela FAPA-Faculdades Porto-Alegrenses.

Autor: Flávia Rocha David


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